Capitulo 4
Obs1:Capitulo dedicado a Fernanda Destro que saiu do hospital a pouco tempo e graças a Deus já está melhor!Bjux Fer!!!Se cuida!!!
CAPITULO IV
‘Terceiro dia: terça-feira’
“Agora seu homem ficou mais atento a você, demonstrando afeição por meio de atos simples, como o de segurar sua mão ou manifestar preferência por sua companhia. É chegada a hora de incrementar a campanha.”
‘Fisgue Seu Homem’
Depois de uma longa noite se virando na cama, enfrentando sua própria imaginação, cheia sonhos que haviam se tornado eroticamente selvagens, Hermione ouviu o despertador tocar a seu lado.
Desligou-o com rapidez, sentando-se na cama.
A alvorada começava a dar os primeiros sinais de luz pela janela, e um bando de pássaros cantarolava nas árvores das redondezas. Apesar da visão de uma manhã tão bela, sentiu-se tola por haver se deixado levar, na noite anterior.
Havia agido como uma adolescente irresponsável, e o pior era ver-se obrigada a admitir que adorara cada instante.
Seu único consolo era que Harry havia se portado de forma ainda mais idiota do que a sua. Ele não percebera em momento algum como a estava afetando, nem mesmo depois daquele beijo incrivelmente terno.
O que o levara a fazer aquilo? Teria sido o efeito do vinho e da música? Ou uma consequência de ela haver seguido o conselho do livro, e usado um vestido que mais parecia uma cara peça de roupa íntima?
Lembrando-se de que seguira a orientação de ‘Fisgue Seu Homem’, cobriu a cabeça com o travesseiro.
Porém, logo se convenceu de que não havia tempo a perder. Rolando para o lado, alcançou o telefone. Harry atendeu no primeiro toque, e pareceu cheio de alegria ao falar:
—Bom dia, querida!
Hermione franziu o cenho.
—Sou eu, Harry. Não Dominique.
—Oh, sei disso muito bem — afirmou ele, com mais entusiasmo ainda.
Alegria e entusiasmo? Aquelas não eram as características matinais do humor de Harry. Com certeza havia algo alienígena na situação.
—Oh... — murmurou ela, atónita.
—Dormiu bem esta noite?
—Tanto quanto se poderia esperar. Consegue se aprontar em meia hora?
—Na verdade, já estou pronto. Vou fazer uma parada rápida na mercearia e passarei aí para pegá-la. Gosta do seu café com pouco açúcar, não é?
Hermione vacilou um instante, olhando para a base do telefone sem fio sobre a mesinha-de-cabeceira, e depois para a unidade móvel em sua mão.
—Quem é você e o que fez com Harry Potter? —indagou ela, em tom ironicamente ameaçador.
Ele riu do outro lado da linha.
—Ora... Posso ser tão gentil quanto qualquer cavalheiro. Deixe-me provar isso a você.
—Não se dê ao trabalho. Lembre-se apenas de que precisamos estar no aeroporto em menos de uma hora. Tenho certeza de que vou lamentar estar dizendo isso, mas eu concordo. Faz mais sentido você passar aqui para me apanhar, já que está pronto e minha casa é mais perto de nosso destino. Só não se esqueça de que deve vir direto para cá.
—Sim, senhora capitã! — respondeu Harry.
Hermione tinha certeza de que, se pudesse vê-lo, ele estaria prestando continência, do outro lado da linha. E provavelmente com a mão errada.
—Então venha logo.
—Só mais um detalhe: chocolate, caramelo ou geléia?
— O quê?
—Sua preferência por bolinhos, meu anjo.
Anjo? Hermione quase deixou cair o telefone.
—Oh...
— Os três? Excelente escolha. Estarei aí em vinte minutos, no máximo.
Ela ainda estava boquiaberta quando ouviu-o colocar o aparelho no gancho.
Hermione estava linda, e deliciosamente provocante, quando o atendeu à porta. Os cabelos cacheados ainda pingavam sobre os ombros do robe branco, fechado do pescoço até os tornozelos, permitindo ver apenas as pontas de seus pés.
Harry não deixou de fantasiar sobre como ela seria por baixo do tecido atoalhado.
—Hum... Parece que estou vendo uma ninfa que acabou de sair de uma cachoeira encantada.
Hermione virou-se de costas para ele, caminhando sala adentro.
— Entre, e pode guardar sua lábia para outra vítima. Vou apenas me vestir para podemos seguir para o aeroporto.
—Ei, tome o desjejum primeiro. Não se sinta menos à vontade por minha causa. Adoro ficar sentado em frente a uma mulher quase sem roupa.
Hermione parou em frente à porta e se virou, fazendo uma careta para ele.
—Está bem. E se eu disser que o café vai esfriar se não tomá-lo agora? — sugeriu Harry.
—Estarei de volta em cinco minutos — disse ela, antes de fechar a porta do quarto.
Ele quase riu ao ouvir aquilo. Julgava impossível uma mulher se vestir em menos de meia hora. De fato, a maioria demorava em torno de uma hora para se arrumar.
Ao vê-la sair do quarto em menos tempo do que o prometido, Harry quase se engasgou com o bolinho que estava comendo.
Hermione seguira o mesmo estilo dele. Vestira jeans e uma blusa de seda verde, arrumada por dentro da calça.
Aquela era mais uma prova de que sua amiga de infância estava mesmo se escondendo em roupas largas. Com os trajes normais de trabalho e com as peças que Hermione costumava usar para frequentar a casa dos pais, era impossível notar aquele quadril bem desenhado e aquela cintura fina. Nem mesmo o vestido minúsculo da noite anterior lhe dera tal noção.
Sorte que Hermione não o flagrou a observá-la. Ela estava olhando a caixa cheia de bolinhos, aberta sobre a mesa.
—Espera mesmo que eu coma metade de tudo isso? Não sei de onde tirou a ideia de que sou insaciável.
—Insaciável? — perguntou Harry, arqueando as sobrancelhas.
—Por doces — salientou ela, pegando um bolinho. — Sabe, acho que devemos ir com minha caminhonete, em vez de usar seu carro. Além de ser mais espaçoso, chama menos atenção. Afinal, ficaremos quase uma semana fora, e nenhum estacionamento está livre de ladrões. Seu conversível será chamativo como uma isca.
Ele estava com a mente distante, observando os movimentos sensuais que Hermione fazia ao comer, finalizando cada mordida ao levar os dedos à boca, para tirar o açúcar. Dominique tinha o mesmo hábito, mas fazia aquilo de modo estudado, olhando-o constantemente, com o objetivo real de seduzi-lo.
Hermione, por outro lado, não tinha a menor ideia do efeito que causava nele. Nem sequer estava percebendo o que fazia, pois havia se entretido com a leitura de uma lista de tarefas que colocara sobre a mesa.
— Por que não está comendo, Harry? Considerando que insistiu tanto em trazer o desjejum, achei que estivesse faminto.
E estava mesmo, mas não por bolinhos...
A situação tenderia a piorar ao longo do dia, pois estariam confinados em um espaço mínimo no banco do avião. Céus, suas pernas roçariam a cada mudança de posição.
Sem sentir o sabor do bolinho nem do café, ele acabou de comer, conseguindo apenas sonhar de olhos abertos. Cenas de uma cama onde Hermione o chamava eram as mais repetitivas, acompanhadas de momentos em que faziam amor com intensidade frenética.
—E então? O que acha? — insistiu ela, acabando de comer.
Esforçando-se para voltar à realidade, Harry se recordou das ultimas palavras ditas e tentou pensar em uma resposta.
—Oh... Sim. Creio que tem razão. Meu carro é mesmo pequeno e chamativo demais. Enquanto acaba de se arrumar, vou levar sua bagagem e transferir a minha para a caminhonete.
—Pode deixar que levo a minha parte, pois vou ajeitar mais umas coisinhas. Além disso, só vou colocar os sapatos e estarei pronta.
"Só faltam os sapatos?", pensou ele, olhando para os cabelos molhados de Hermione. Também não havia o menor sinal de maquiagem no rosto delicado.
Notando a direção do olhar dele, Hermione se adiantou e passou a mão pelos cabelos, dizendo:
—Eles secarão no caminho, se é isso que o preocupa. Odeio secadores.
Na verdade ele estava imaginando como seria a sensação, de tocar aqueles cachos úmidos. E se o fizesse, qual seria a reação de Hermione.
—Harry? — chamou ela, ao vê-lo paralisado.
—O quê? Oh, sim. Desculpe-me. Acho que não estou tão acordado quanto pensei. Quer mais um desses doces? — improvisou ele.
—Não, já acabei de comer. Você é que está atrasado. Acabe logo e vamos embora. Podemos levar o restante dos bolinhos recheados para os rapazes?
"Rapazes!", pensou Harry ao se lembrar dos outros. Hermione seria a única mulher na viagem. O restante da equipe consistia em um representante de vendas, um perito em relações públicas e um pesquisador do setor de promoções, famoso por ser também professor de musculação. Todos haviam sido escolhidos não apenas pela qualificação profissional, mas também por serem jovens, atraentes, extrovertidos e por terem dentição perfeita.
E, no momento em que os tais rapazes pousassem o olhar sobre Hermione, vestida com um traje um pouco mais justo, seria como o momento da criação de um novo inferno para Harry.
—Não. Deixe que eles mesmos consigam seus doces.
E se alguém demonstrasse interesse em sua doce Hermione, seria melhor arrumar um médico.
Hermione sempre gostara de morar a sudoeste de Ohio, mas não apreciava ter de fazer baldeação de aviões, para onde quer que fosse. Apesar disso, a chegada até o aeroporto, onde se encontraram com Mick, Kurt e Steve, e o primeiro vôo, até Chigago, foram um sucesso.
Os problemas começaram meia hora depois da segunda parte da viagem.
Ao lado dela, Harry fingia estar dormindo para evitar falar em Dominique. Antes, a desculpa havia sido a rapidez do primeiro vôo, depois o fato de estarem servindo bebidas. Havia menos de cinco dias de prazo para a resposta final, e apenas Hermione parecia estar consciente disso.
Em lugar de enfrentar os fatos, ele inventava todo tipo de assunto para evitar qualquer menção à Dominique.
De repente, a voz da comissária de bordo ecoou pelo sistema de alto-falantes:
—Senhoras e senhores, lamento informá-los de que o capitão acaba de comunicar que estamos com uma pequena falha mecânica na aeronave. Em vez de continuar o vôo para Las Vegas, vamos pousar no aeroporto local. Embora ele já tenha solicitado que um novo avião seja preparado, estamos contando com um atraso de pelo menos uma hora. Seremos gratos por sua compreensão e paciência.
Como Harry continuava fingindo, Hermione o chamou com um leve toque de cotovelo.
—Acorde, "belo adormecido". O avião está caindo. Só lhe restam dois minutos para fazer as pazes com Deus.
Bocejando, ele se ajeitou na cadeira, endireitando-a.
—Não pode ser Dominique chegando, isso não... — murmurou ele, fingindo que estava tendo um pesadelo.
—Senhoras e senhores, o capitão acendeu o aviso para apertar os cintos de segurança. No momento, solicitamos que todos endireitem os encostos de seus acentos e se preparem para a aterrissagem — disse a comissária de bordo, em um tom de voz calmo e tranquilo.
—Pensei tê-la ouvido dizer que estávamos caindo — protestou Harry, virando-se para encarar Hermione.
—Eu menti, e sabe disso muito bem. Mas, falando em Dominique...
—Sim. Ela e acidentes de avião têm muito em comum— concordou ele.
—Você já adiou o assunto por tempo demais. Na noite passada, ouvi-o dizer que não sabia se a amava, mas não falou o que sentia por ela. Está sentindo falta de Dominique agora?
—De jeito nenhum. Ela estaria reclamando comigo por tê-la colocado em um avião com problemas mecânicos. Não é bem o que eu gostaria de estar ouvindo agora, se é que me entende.
—Se estivéssemos mesmo vivendo nossos últimos minutos de vida...
—Você gostou mesmo dessa ideia da queda do avião, não é? — perguntou Harry, incomodado. — Já pensou sobre seus próprios minutos finais, Hermione? Que tipo de vida estaria passando diante de seus olhos? Algum arrependimento sobre algo que não tenha feito?
—Coloque o cinto de segurança — recomendou ela. —Por que eu teria algum arrependimento? Fiz tudo o que uma pessoa de quase vinte e cinco anos poderia ter feito.
—Tudo? Algumas mulheres da sua idade já têm filhos.
—E outras irão tê-los com numa faixa etária muito mais avançada. Além disso, não vou ser mãe, lembra-se? Sou candidata à posição de tia favorita.
—Poderia ser ambas as coisas — sugeriu Harry.
Hermione lançou um longo olhar na direção dele, deixando claro que não estava gostando do rumo da conversa. Ele se mexeu na cadeira, parecendo pouco à vontade.
—Sobre Dominique. Nesse momento, está sentindo falta dela?
—Não — respondeu Harry, virando-se para fitá-la diretamente nos olhos. — Quando estou com você, não consigo nem mesmo pensar nela.
—Eu já havia percebido — murmurou Hermione, com ar incrédulo.
—Ei! Estou sendo sincero. Não era isso o que queria? — protestou ele.
O que mais um homem poderia fazer quando pressionado contra a parede? Mentir? De jeito nenhum. Não para Hermione.
—Sei, sei.
—Escute aqui, Hermione. Por acaso já esteve apaixonada?
Já amou alguém? Caso contrário, pode ser que não tenha a mínima ideia de como é tal sentimento, e isso a desqualificaria para me ajudar a resolver meu dilema. Não que eu planeje encontrar outra pessoa...
—Sim, já me apaixonei — respondeu Hermione, antes de ele parar de falar.
—...para me aconselhar, mas... O que disse?
—Falei que já me apaixonei. Sei o que é amar, portanto, não precisa se preocupar com minha qualificação como sua analista não-oficial.
—O que quer dizer com isso? Já esteve apaixonada? — perguntou Harry, arregalando os olhos e demonstrando uma expressão de choque.
—Parece-me que fui bastante clara. Perguntou se eu havia me apaixonado e respondi que sim. Agora seguimos em frente. Vamos lá. Quando olha para Dominique...
—Quando?
—Quando o quê?
—Quando se apaixonou?
—Oh. Algum tempo atrás — respondeu Hermione. — Dominique o faz sentir algo diferente, como uma pressão no peito?
—Na verdade, sinto isso quando meu time perde um jogo. Quem era ele?
—Quem era quem?
—O homem por quem se apaixonou. Eu o conheço?
O avião estava atravessando uma densa camada de nuvens e o clarão de um relâmpago iluminou toda a aeronave. Hermione olhou pela janela e viu a tempestade que estava se formando. A visão parecia tranquila perto do que ocorria com ela no momento.
—Você não vai conseguir me fazer sair do assunto outra vez, Harry. E, caso tenha esquecido, o objetivo desta conversa é seu futuro com Dominique.
—Então eu o conheço — murmurou ele, olhando de soslaio para os lugares onde estavam Mick, Kurt e Steve.
Seria algum deles? Ou alguém da companhia? Talvez do time de minibeisebol. Quem sabe um daqueles rapazes que ficavam colocando o braço sobre os ombros dela na lanchonete, depois do jogo. Tudo parecia uma brincadeira amigável, mas quem poderia saber?
Hermione beliscou o braço dele.
—Ai! — protestou Harry, surpreso. — Por que fez isso?
—Por tudo! Está me deixando louca. Primeiro diz que quer minha ajuda, e então muda o assunto de sua vida amorosa para a minha falta de uma. O que faço não é problema seu. Sua situação sim, é séria.
—Não acho, se for mesmo verdade o que disse sobre não existir romance em sua vida — insistiu ele. — Creio que seu problema seja ainda maior. Vamos discutir isso. O que aconteceu com o rapaz por quem se apaixonou?
Ao vê-la ficar extremamente tensa e apertar os dedos contra o couro do apoio dos braços, Harry julgou que seria mais seguro não pressioná-la mais naquele momento. Sem saber se o motivo de tanta alteração era ele próprio ou o assunto sobre a paixão dela no passado, só lhe restava tentar pensar em quem poderia ter sido tal homem.
A cada rosto que visualizava, Harry inadvertidamente cerrava os punhos mais e mais.
—Senhoras e senhores, o capitão acaba de me informar que teremos um atraso de aproximadamente duas horas até conseguirmos outra aeronave — falou a comissária de bordo, assim que o avião, já pousado, aproximou-se do portão. — Pedimos a todos que desembarquem. Para aqueles que preferirem outras conexões, o...
Harry se virou e deu um tapinha no braço de Mick.
—Ei, rapazes, o que acham de irmos lamentar o atraso do vôo no bar mais próximo do portão de desembarque?
—Para mim, está ótimo — respondeu o especialista em relações públicas, assim que o avião parou de se mover.
Harry soltou a trava do cinto de segurança e começou a se levantar.
—Ótimo. O último que chegar paga a conta.
Mick pegou a carteira no bolso da calça e pagou as bebidas da primeira rodada. O barman pegou as notas e voltou para o outro lado do balcão, onde estava assistindo à reprise de um episódio de Columbo.
—O que aconteceu com Hermione? — indagou Mick, olhando na direção da multidão. — Será que não vai se juntar a nós?
—Está perguntando isso só porque teve de pagar a conta? — perguntou Harry.
—Não é isso... — respondeu Steve. — Ele está interessado nela.
A mão de Harry ficou paralisada, mantendo o copo a alguns centímetros dos lábios. Mick pegou o próprio copo de cerveja e sorveu um generoso gole.
—E o que isso significa? Nada. Ela nem mesmo percebe que estou vivo.
—Não leve isso a sério, companheiro — murmurou Kurt, olhando com ar triste para sua bebida. — Hermione nunca percebeu que metade dos homens do departamento acompanham cada movimento dela.
—Metade dos homens do departamento? — repetiu Harry, com a voz tensa.
—O desejo coletivo é tão intenso que quase se torna palpável, e ela faz que não percebe — indignou-se Kurt.
—Não é fingimento. Hermione é tão inocente que não faz a menor ideia de que está nos deixando loucos — explicou Mick.
—Hermione?! — questionou Harry.
Claro que ele estava se sentindo muito atraído nos últimos dias, mas não pensava que houvesse uma epidemia em andamento, no que dizia respeito a ela.
—Não esperamos que entenda — assegurou Kurt, olhando para Harry. — Com uma princesa daquelas como namorada, nada disso deve fazer sentido para você.
Depois do ultimato, Dominique já não se parecia com uma princesa, mas sim com a bruxa malvada.
—O mais frustrante é que Hermione não nos dá o tratamento de frieza. Nossa musa simplesmente ignora que quase todos nós gostaríamos de ter uma relação muito além da profissional com ela — falou Steve.
—E isso é o que mais a torna atraente — disse Mick, soltando um suspiro. — Sabe aquele conjunto que ela estava usando ontem?
—Sim — respondeuu Harry, inclinando-se para frente.
—Aquele me enlouquece... — confessou Mick. — Cobre-a todinha do pescoço para baixo, e passo a maior parte do dia imaginando como ela é, sob toda aquela roupa.
—Oh, sim. O tecido é justo o suficiente para incendiar meus sonhos, mas não me deixa ter certeza de nada — concordou Steve.
—Certa vez — disse Kurt, abaixando o tom de voz —, Hermione tirou o tailleur para trabalhar, quando estavam concertando o ar-condicionado.
—E se debruçou sobre a prancheta de desenho? — indagou Mick, cheio de esperança.
—Sim, e por um longo tempo — respondeu Kurt.
—Assim você me mata — concluiu Mick, resmungando.
Harry olhou-os atentamente, um de cada vez, e balançou a cabeça.
—Algum de vocês já experimentou convidá-la para sair?
—Cheguei a tentar uma vez — falou Kurt. — Fui até lá e disse: "Hermione? Tenho dois ingressos para o jogo do Red e estava pensando se...", e ela nem me deixou terminar.
—Dispensar uma chance de assistir um jogo do Red? Não é possível — duvidou Harry. — Hermione adora beisebol.
—Acha que não sei disso? Não há muitas mulheres que sejam tão entusiastas quanto ela sobre esportes. Tanto que pensei que estava seguro com aqueles ingressos na mão.
—E então, o que aconteceu? — insistiu Harry.
—Hermione me deu um daqueles apaixonantes sorrisos casuais...
—Provocantes — completou Mick.
—Devastadores — terminou Steve.
—...e disse: "Não se esqueça de levar sua luva para pegar as bolas que forem para a arquibancada, Kurt." Então me perguntou algo sobre a cor de uma embalagem de detergente que estávamos desenvolvendo no departamento. Perdi a coragem de insistir e voltei para minha mesa.
Mick e Steve brindaram em memória de Kurt, que se fingiu de morto sobre o balcão.
—Ela não tem a menor ideia de nada disso — falou Steve. — Hermione nos trata como se fôssemos apenas colegas, e não como homens e possíveis pretendentes. Mas acho que sabe como é isso, Potter. O seu caso é ainda pior.
—É mesmo — concordou Kurt. — E como se você fosse um eunuco.
—Um o quê? — Harry engasgou com a cerveja.
—Você sabe. Inofensivo. Ela até o toca — explicou Mick.
—Tenho observado muito vocês dois.
—Está falando do beliscão que levei há pouco, no avião? —perguntou Harry, esfregando o braço na região atingida.
—Disso e muito mais. Há também as carícias... —citou Mick.
—É mesmo — concordou Steve. — A mão dela sobre seu joelho ou seu braço. O modo como ela se inclina na sua direção para chamar-lhe a atenção...
—Hermione só faz essas coisas com você, companheiro — ressaltou Kurt. — Provavelmente porque se conhecem desde a infância.
—É por isso que ela o considera um eunuco — insistiu Mick. — Eu não trocaria de lugar com você por nada neste mundo, Potter.
Hermione ficara pasma em seu assento, observando seus companheiros de trabalho e de viagem saírem correndo por causa da aposta. Homens!
Como podiam agir de forma tão inútil e infantil? O mais difícil era compreender o que a levara a ter tantos amigos do sexo masculino. Só poderia ser uma tendência ao masoquismo.
Dali por diante, preferiria amigas do sexo feminino. Alguém como Sally, que era honesta, direta...
Se bem que sua cunhada estava usando o livro ‘Fisgue seu Homem’ para levar Josh para o altar. Aquilo não parecia muito sincero.
Claro que não era algo flagrante, como as atitudes de Dominique, mas mesmo assim era uma postura manipuladora.
Não seria tão fácil conseguir amigos que não dessem tanto trabalho.
Isso a levava de volta ao problema de Harry.
Teria de arrumar uma maneira de fazê-lo decidir algo sobre o que sentia por Dominique, ou o prazo se esgotaria e a decisão seria tomada às pressas. E com certeza seria errada.
Ao chegar perto do bar onde os rapazes estavam, percebeu que seria a última a chegar e teria de pagar a conta. Assim sendo, seguiu direto e foi até o jornaleiro, logo adiante. Estava folheando a terceira revista quando percebeu Harry se aproximando.
—Você sumiu — observou ele.
—Sim. Por que não experimenta fazer o mesmo?
—Ainda está magoada comigo?
Hermione mudou a página da revista, ignorando-o.
—Não faça isso comigo — pediu Harry.
—Do que está falando? — indagou ela, fingindo interesse em um artigo sobre política paquistanesa.
—Do velho jogo feminino do silêncio.
Fechando a revista, Hermione o encarou.
—O que está querendo dizer?
—Você sabe. O tratamento da indiferença. Normalmente você não usa artifícios tão drásticos.
—O gelo está ficando mais fino a cada minuto, sr. Potter. Em seu lugar, eu trataria de patinar em outra direção, antes que seja tarde demais.
Sem prévio aviso, ela colocou a revista no estande, virou-se e começou a andar.
—Hermione?
Mesmo andando mais depressa, ainda podia ouvi-lo atrás de si.
—Hermione? — repetiu Harry.
Ao vê-la parar de repente, teve de se esforçar para não esbarrar nela.
—Afaste-se de mim, Potter. Estou cansada de você.
—Hermione... — murmurou ele, segurando-lhe a mão. — Preciso de você.
Mesmo sabendo que podia se soltar, ela deixou a mão ali, mas ficou em silêncio.
—Admito que andei exagerando — confessou Harry.
—Muito! Exagerando muito!
—E estou arrependido.
—Oh, sim — desdenhou ela.
—Fui um tolo. Mas você é minha melhor e mais antiga amiga. Uma ótima amiga.
—Pois estou abdicando do cargo. É responsabilidade demais.
Ao tentar soltar a mão, Harry não permitiu. Quando ela deu por si, estava com os olhos cheios de lágrimas. Não poderia deixá-lo ver aquela evidência de fraqueza.
Erguendo o queixo, reuniu forças e disse:
—Só lhe restam quatro dias para tomar a decisão. Sei que pode muito bem decidir sozinho o que fazer.
Surpreso com tamanha veemência, Harry entendeu que os três colegas de trabalho estavam errados. Hermione não era indiferente a ele. Aquela expressão em seu olhar não era apenas mágoa, nem simplesmente amizade. Havia algo mais.
Contudo, ao notar que o brilho que se seguiu era o das lágrimas, já era tarde.
"Oh, não...", pensou entristecido. "O que foi que eu fiz?"
—Está bem — concordou, com suavidade. — Decidirei sozinho.
—Está mesmo falando sério? — indagou Hermione, arregalando os olhos, surpresa.
—Eu juro. E sinto muito por tê-la feito chorar, Hermione.
—Sim, está certo — murmurou ela, suprimindo a emoção. — Já deixou bem claro mesmo que esse assunto não é minha especialidade.
—Compreendo que disse uma tolice, está bem? Falei sem pensar... Foi um erro.
—Francamente, pensei que me conhecesse um pouco melhor.
Aquele tom de lamento e de decepção na voz dela estava acabando com seu coração. A ansiedade crescia a cada instante.
—Vai me perdoar?
Hermione deu de ombros, sem encará-lo, ainda olhando para os dedos entrelaçados das mãos de ambos.
—Perdoa ou não? — insistiu Harry.
—Acho que sim.
Notando que ela não estava segura do que havia falado, ele seguiu o instinto. Não poderia deixar de fazê-lo.
—Hermione?
Ao ouvir o tom terno na voz dele, ela ergueu a cabeça para encará-lo. Tinha os lábios entreabertos e o olhar surpreso.
Com a mão que estava livre, Harry passou os dedos pelo rosto dela, erguendo-o ao tocá-la no queixo.
Sem questionar o rumo dos acontecimentos, levou os lábios aos dela, com a intenção de demonstrar carinho e confiança. Mas uma chama de desejo se acendeu, e o beijo se tornou longo e sensual. E não houve rejeição.
Pelo menos não a princípio, pois, dali a algum tempo, Hermione se sobressaltou, tentando afastá-lo. Só então ele ponderou se havia cometido ou não um grave erro.
Soltando a mão quase à força, ela o encarou.
—Não vá pensando que só porque demonstro meu lado feminino de vez em quando, você tem o direito de me tratar como uma das suas desmioladas namoradas!
Harry sabia que era melhor não dizer nada.
—Por que tinha de fazer isso?
—Porque tive vontade de fazê-lo — explicou Harry.
—Deveria ter me avisado primeiro.
—Na próxima vez, prometo que aviso. E então? Amigos outra vez?
—Sim — concordou Hermione.
—Prove — desafiou ele. — Vamos jogar uma partida no videogame "Comandos no Espaço".
O sorriso dela expressou um certo ar de incredulidade.
—E como isso vai provar que somos amigos? Vou vencê-lo outra vez. Sou a campeã absoluta na lanchonete do Fletch.
—Andei praticando. Cuidado com seu título!
Hermione hesitou por dois ou três segundos, antes de responder:
—Feito! — Estendeu a mão para ele.
Porém, em vez de trocar um aperto de mãos, Harry preferiu segurá-la e puxá-la na direção da sala de jogos do aeroporto.
—Se você ganhar, não precisa mais bancar minha analista no caso da Dominique. Se eu ganhar, não faço nenhuma pergunta sobre o ultimato que recebi — sugeriu ele.
—Está mesmo me liberando dessa responsabilidade? Completamente?
—Bem... Só neste caso — concordou Harry. — Da próxima vez em que me vir encrencado, vou querer sua ajuda.
—Você tem o hábito de se encurralar em cantos estreitos — afirmou Hermione.
—Preste atenção: se um dia você estiver com qualquer tipo de problema ou apuro...
—Sim, eu o procurarei — prometeu ela, sorrindo.
Mick, Kurt e Steve estavam certos em pelo menos uma coisa: o sorriso casual de Hermione era mesmo lindo, provocante e completamente devastador.
Mas a pergunta que valia um milhão de dólares era a seguinte: por que ele demorara tanto tempo para perceber isso?
Obs2:Oi pessoal!!!!Capitulo postado!!!Espero que tenham curtido!!!!Logo logo tem fic nova na área!!!Bjux até a próxima!!!
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!