A Garota-Que-Amou



N/A: Pessoalmente, amo esse período da história. Infelizmente, tinham tantas outras coisas que eu queria incluir, mas não queria fazer outro capítulo. Tive que decidir que as coisas extras (Tonks/Lupin, interação com Draco, mais Luna, mais Neville, talvez até insinuações Neville/Luna) tinham que ser deixadas de lado pelo bem de seguir com a história.
Tenho certeza quase absoluta de que já consegui tudo que queria para seguirmos para o Relíquias da Morte. O seguimento de tal livro deve ter entre 3 ou 4 capítulos. Depois disso, não planejo mais do que 1 ou 2 capítulos. Então, façam publicidade da história, deixem um comentário se se sentir à vontade, e, sem mais a adicionar, apresento a você o capítulo doze de “Nas Palavras de Gina Molly Potter”...



Capítulo 12 – A Garota-Que-Amou



- Parte I -

Quando voltamos do feriado, muito pouco mudara. Hermione, apesar de minhas súplicas, recusava-se a falar com Rony. Rony, que se negava a falar com Hermione, voltara a beijar Lilá a qualquer oportunidade. Harry, que estava preso entre os dois, continuava olhando em minha direção a qualquer oportunidade que tinha.

A única coisa que tinha mudado fora Dino e eu. Não foi uma transformação muito grande, mas sim uma bem sutil. Ele estava ressentido que não tínhamos conseguido nos ver durante o feriado e, para tornar a situação ainda mais desconfortável, tinha pego Harry me observando no Salão Principal.

“Ele está fazendo de novo”, Dino sussurrou para mim, durante o jantar, certa noite, “Ele não consegue ficar com os olhos longe de você por um segundo?”

“Talvez ele não esteja olhando para mim”, respondi, bebericando meu suco de abóbora, “Talvez ele esteja olhando para o nada e eu aconteça de estar no meio”

“Toda a santa vez?”, Dino perguntou. Ele enfiou a colher em seu pudim e tirou uma colherada de lá, “Não gosto que ele passe tanto tempo com sua família durante os feriados”, enfiou o pudim na boca.

“Com quem mais ele passaria? Seus tios são horríveis”

Ele ignorou minha pergunta, “Você passa muito tempo com ele?”

Revirei meus olhos, “Ficamos na mesma casa, isso não seria óbvio?”

“Você entendeu o que eu quis dizer”

Talvez tenha sido o último momento íntimo que Harry e eu dividimos na neve; talvez fosse o fato de que eu estava começando a considerar que Harry poderia estar gostando de mim; talvez eu estivesse uma vez mais percebendo que Dino era um amigo melhor do que um namorado, mas eu estava ficando cada vez mais e mais perturbada com ele a medida que o novo ano nos abraçava.

Hermione parecia gratamente distraída dos seus problemas com Rony depois da lição de Harry com Dumbledore, em janeiro. Ela gastava uma boa quantidade de tempo na biblioteca, analisando livro atrás de livro.

Juntei-me a ela diversos dias em suas pesquisas enquanto os ventos de inverno assobiavam fortemente do lado de fora das janelas da biblioteca. Na mesa estava um conjunto de livros velhos. Suas capas estavam rasgadas e empoeiradas. O único fator em comum entre todas as publicações era que eles estavam ligados à magia negra.

Fechando o último livro de sua coleção com força, ela soltou um grunhido exasperado quando o próprio livro grunhiu. Pelas aparências, o que quer que ela estivesse pesquisando não podia ser encontrado em lugar algum na coleção colegial, legal ou restrito.

“Precisa de ajuda, Hermione?”, perguntei a ela, pegando o menor livro com o título em uma língua que eu não conhecia e folheando-o. Dei uma olhada numa horrenda figura ilustrando as entranhas de um homem sendo puxadas de seu abdômen. Fiz uma careta e fechei o livro rapidamente.

“Bem”, Hermione falou, “Você devia saber, a essa altura, que não posso lhe dizer”

Embora eu não tivesse ciência que aquela pesquisa em particular tinha relação com as lições de Harry, eu sabia que ela não tinha permissão para me contar o que Dumbledore estava ensinando a ele. Não que eu não tenha tentado tirar dela, mas a garota é teimosa quando queria.

“Mas vendo que NENHUM desses livros tem me ajudado DE MANEIRA ALGUMA”, gesticulou para as pilhas de livros depositadas ao lado dela, na mesa, “Não tem nem o que não te contar!”, ela soltou um grito abafado e bateu com os punhos nos livros. Derrotada, deitou a cabeça na mesa. Não estava costumada a ser deixada pelos seus livros.

O livro que ela estivera lendo estava depositado ao lado dela com um pedaço de papel rasgado dentro, marcando uma página. Fiz pouco barulho enquanto o alcançava e ainda menos barulho ao escorregá-lo pela mesa. Na capa, estava escrito Magias Mais Horríveis. Abri na página marcada e passei os olhos pelo conteúdo.

Só havia duas coisas na página... A Maldição Horblio, nomeada em homenagem ao primeiro homem que a usara e explicando em detalhe como explodir várias partes do corpo... e Horcruxe... onde se lia “da Horcruxe, mais perversa das invenções mágicas, não falaremos nem daremos instruções”.

Claramente Hermione não estaria frustrada se estivesse procurando sobre a Maldição Horblio, porque existiam alguns parágrafos bem longos dedicados a ela. Relendo a explicação da Horcruxe, pensei que se encaixava perfeitamente com o Lorde Voldemort. Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado usando a Magia-Que-Não-Deve-Ser-Descrita.

“Horcruxe”, murmurei para mim mesma. Enquanto fechava o livro, Hermione agarrou-o de minhas mãos e sorri timidamente para ela, “Alguma idéia do que é?”

“Gina, desencana”, falou, colocando o livro que eu tinha lido em sua bolsa e fechando-a, “Você provavelmente nem deveria saber a palavra. Se quer me ajudar, ajude-me a colocar esses livros de volta nos lugares deles”

Agarrando uma pilha de livros, ajudei-a a colocar todos eles em seus lugares. Percebi que ela falou sério sobre o ‘desencana’, então imaginei que teria que descobrir por mim mesma. Não ousei discutir o assunto com qualquer professor e me recusava a colocar os planos de Dumbledore, se é que poderiam ser ditos assim, em risco ao discuti-lo com outros alunos. Parecia que uma boa bisbilhotada funcionaria melhor.

“Horcruxe”, murmurei para mim mesma, “Até o nome soa malévolo...”


- Parte II -


No começo de fevereiro, os sexto-anistas, Dino incluso, começaram suas classes de Aparatação. Isso significava que eu tinha uma manhã livre para colocar a lição de casa em dia e até mesmo tempo para praticar algumas novas manobras de Quadriboll que tinha certeza que impressionaria algumas pessoas.

Esperei por Dino do lado de fora do Salão Principal como ele tinha pedido enquanto uma multidão de pessoas passava por mim. Pensei em quão eficiente seria aprender Aparatar. Rony e Harry passaram apressados por mim, conversando entre si, e nem me notaram.

“Não quer aprender a Aparatar?”, Rony perguntou ao Harry.

“Não estou muito animado, mesmo, prefiro voar”, Harry respondeu, olhando por cima do ombro.

Eles se apressaram e os vi partir. Tentei ignorar o fato de que eles não tinham me notado, porque tinha um monte de gente no corredor e eles não esperavam me ver lá. Mesmo assim, não consegui ignorar o fato de que Harry, que teria notado se eu piscasse mais do que o natural, não tinha nem mesmo...

“Caçulinha do Rony!”, Simmas me chamou, parado ao lado de Dino à porta. Dino socou-o no braço e reclamou com ele por usar o seu apelido para mim, apesar do fato de que Dino não o usava há muito tempo, e apesar de que era melhor que ele não me chamasse dessa forma depois de se amassar comigo por algum tempo.

“Olá, garotos”, falei, deslizando minha mão para a de Dino, “Como a Aparatação foi?”

Dino e Simmas me contaram a história de como Susana se partiu no meio e depois foram para o maravilhoso passo de bailarina de Ernesto. Dino mencionara que Harry parecia distraído e não pude evitar notar contentamento em sua voz.

Mudei o foco da conversa antes que tivesse a chance de me irritar, “Mas como vocês dois foram?”, perguntei.

“Espero que melhoremos a medida que as semanas passarem. Francamente, acho que não senti nada”, Dino disse.

“E não sentirá”, veio uma voz às nossas costas, revelada como a voz de Harper. Na última vez que nos encontramos, eu o tinha vencido na quadra de Quadriboll, “Não esperaria que seu tipo de pessoa conseguisse fazer tal coisa”

“E tenho certeza que você é bem melhor”, falei para ele, revirando os olhos. Harper tinha um outro ano inteiro antes de ter a chance de aprender como aparatar.

“Está tudo bem, Gina”, Dino disse, levando a mão ao bolso, só para o caso de ter que usar sua varinha contra o sonserino.

“Para sua informação, meu pai tem me ensinado como aparatar”, Harper disse, sorrindo como o idiota que era, “Poderia pedir ao seu pai”, gesticulou para Dino, “mas quase esqueci que você não tem um”

Não foi Dino quem se mexeu. Não fui eu quem avançou. Foi Simmas, correndo e socando Harper no rosto com tanta força que ele caiu no chã, gemendo de dor. Simmas fitou Harper que começava a se colocar de pé, “Fale isso novamente, Julius, e você não vai mais conseguir se levantar”, Simmas gesticulou para que Dino e eu saíssemos.

“Senhora Finnigan, estou surpreso”, a voz de Snape veio do Salão Principal, “Se alguém fosse duelar como trouxas comuns, teria presumido que seria o senhor Thomas...”

E não ouvimos mais nada enquanto Dino e eu caminhávamos de volta à Torre. De mãos dadas, chequei o rosto de Dino e percebi que ele não parecia perturbado, “Aquilo lá atrás não o incomodou?”, perguntei.

Dino sacudiu a cabeça, “Nunca conheci meu verdadeiro pai”, respondeu, “Quando era um bebê, ele partiu. Mamãe nunca soube o porquê e se casou novamente alguns anos depois”

Eu sabia que sua mãe era uma trouxa, mas sempre fui curiosa em relação ao seu pai biológico, “O seu pai... seu pai era um bruxo?”

Dino deu de ombros, “Se ele era, minha mãe nunca soube”

Chegando à Mulher Gorda, falamos a senha e entramos. Passando por debaixo da moldura, Dino tentou me ajudar a passar, “Já passamos por isso, Dino”, falei, “Não preciso da sua ajuda para passar pelo buraco”

Foi preciso uma tragédia para finalmente reconciliar Rony e Hermione. Depois de Rony se tornar a vítima não-intencional dos planos de Malfoy, Hermione mal saiu do lado da cama de Rony. Rony ficaria bem, graças ao Harry... sempre graças ao Harry... ele tinha salvado nossa família muitas mais vezes do que poderíamos contar.

Quando Harry e Hermione saíram com Hagrid, beijei minha família e resolvi encerrar o dia. Enquanto eu caminhava para o Salão Comunal, vi a última pessoa que queria ver, sentado no sofá, aguardando ansiosamente.

“Como está seu irmão?”, Córmaco perguntou, levantando o corpo pesado do sofá, “Vi-o sendo levado para a Ala-Hospitalar. Ele provavelmente não vai jogar no próximo jogo, vai?”

Estava perplexa, “Ele quase morreu”, guinchei, “Como você pode pensar em Quadriboll? Você é tão insensível assim?”

Córmaco franziu o cenho e voltou a se sentar no sofá, “Esperarei pelo Harry, então”, resmungou, “Toda a noite, se for preciso”

Passei por ele e pisei no primeiro degrau, em direção ao dormitório. Congelei, olhei para ele, e saquei minha varinha. Murmurando uma azaração, coloquei o idiota para dormir. Com mais um aceno da varinha, apaguei as velas. Com sorte, o feitiço funcionaria até Harry estar dentro do dormitório, à salvo. Eu sabia que era inevitável a substituição de Rony, mas Harry não teria que lhe dar com aquilo naquela noite.

Lilá estava furiosa que ninguém tinha se incomodado em lhe contar sobre Rony e parecia que Rony estava surpreendentemente cansado toda vez que ela ia visitá-lo, pois ela ainda não o tinha encontrado acordado. Hermione, por outro lado, parecia estar em um humor bem melhor desde que ela e Rony voltaram a se falar.

“Preciso te perguntar algo, Hermione”, falei para ela, enquanto nós duas caminhávamos em direção à quadra de Quadriboll para o jogo contra a Lufa-lufa.

“Claro”, ela respondeu. Ela estava sorrindo bem mais ultimamente, levando-me a crer que ela e Rony tinham feito bem mais do que só conversar.

Foquei-me no seu recém-bom humor e perguntei, “Você e Rony estão...?”

“Não”, ela respondeu rapidamente, “Estamos só nos falando de novo. Acho que alcançamos um tipo de compreensão...”

“Você acha?”

Ela corou.

Córmaco passou correndo por nós, sua vassoura erguida, e berrando, “Abram caminho!”, estremeci quando pensei que éramos forçados a jogar com ele naquele dia. Sabia que Harry não tinha escolha, então não era como se eu pudesse ficar brava com ele...

“Na verdade, eu queria te fazer uma pergunta”, Hermione disse, “Tenho notado que um certo bruxo tem lhe dado mais e mais atenção”

“Quem?”, perguntei, sabendo muito bem a quem ela estava se referindo.

“Você sabe quem”, falou, “E aposto como você notou bem mais do que eu”

Abri minha boca para justificar, mas tudo parecia repentinamente bobo em minha cabeça. Como eu poderia explicar aquilo sem parecer uma colegial apaixonada? Quase justifiquei por dizer que era coisa da minha cabeça, mas se Hermione também notara, talvez não fosse só imaginação.

“Bem?”, ela perguntou.

Respirei fundo e expliquei à ela o que estava acontecendo desde o começo do ano letivo. Falei de todas as vezes que surpreendi-o olhando para mim, e a reação cada vez que tocava nele. Informei-a sobre suas ações quando Rony e ele tinham me flagrado beijando Dino no atalho. Falei como mesmo Dino tinha percebido e tinha começado a insultar Harry.

Ela tinha uma expressão pensativa enquanto digeria minhas palavras. Finalmente, disse, “Ele tem agido meio estranho, ultimamente...”, deu uma nova pausa, pensando nos últimos meses, “E... sim, faria sentido... Bem, então, Gina, a única questão é o que você vai fazer”

“O que eu vou fazer?”, perguntei, “No caso de você ter esquecido, sou namorada do Dino”

“Você sabe muito bem que pensa em Dino mais como amigo do que como namorado”, lembrou-me, “E é do Harry que estamos falando”

“Não posso fazer isso com o Dino”, falei, suavemente. Ele era um garoto maravilhoso e me sentiria tão culpada se eu terminasse com ele só para poder sair com Harry, que eu nem sabia, naquele momento, se aquela era uma opção plausível. Esqueça o fato de que eu pensava em Dino como um amigo muito bom. Esqueça o fato de que Dino e eu estávamos nos estranhando de vez em quando. Esqueça o...

“Como você pode não se importar?”, Hermione perguntou.

Não me importar?”, guinchei, enquanto as pessoas à nossa volta começavam a encarar. Agarrei-a e, rapidamente, puxei-a para uma sala vazia, “Como você pode dizer que eu não me importo?”

“Gina, eu não tive a intenção...”

Cortei-a, o rosto vermelho, “Hermione, você alguma vez se perguntou por que Fred e Jorge deram o Mapa do Maroto? Eu os convenci a dá-lo ao Harry”, apontei para mim mesma, “Já se perguntou por que Cedrico encontrou Harry na noite do Baile de Inverno e deu-lhe a dica para a Segunda Tarefa? Lembrei do que você disse e contei a Cedrico que ele estava tendo problemas com aquilo”

“Gina, eu não...”

“E quando Barto Crouch Júnior pegou o Mapa, pergunto-me como se você chegou a concluir com ele conseguiu-o de volta? Sem mencionar o inferno pelo qual passei quando conversei com Cho...”

“Gina, por favor...”

As lágrimas tinham começado a se formar, e limpei-as, com raiva, dos meus olhos, “Não ouse me dizer que eu não me importo. O problema é que eu me importo demais!”

“Gina, se você contar ao Harry... Quero dizer, você tem esperado por isso...”

“Não”, falei, lágrimas quentes queimando minhas bochechas, “Não posso continuar fazendo isso comigo mesma. Esperei anos para que ele me notasse, e se, de alguma forma, por algum milagre, Harry gosta de mim, então é uma pena...”

“Gina...”

Ele vai ter que esperar!”, berrei, girando e chutando uma mesa próxima. Recusava-me a sucumbir às lágrimas. Elas não iam me vencer. Não ia chorar por Harry novamente, “Lembre-se”, sussurrei, “Desencanei do Harry”, mas meu tom de voz não era tão convincente quanto eu queria.


- Parte III -


Hermione suspirou, sabendo que eu não estava brava com ela, “Você não fala sério”, falou, colocando as mãos nos meus ombros, “Nunca soube que você fez tudo aquilo por Harry”, ela me girou para me abraçar, e permiti, “Prometa-me algo, por favor”

Assenti.

“Vou dar uma checada nesse lance do Harry”, falou, usando seus dois dedos para limpar duas lágrimas das minhas bochechas, “Sei que Dino é um cara legal, mas vocês não foram feitos um para o outro”

“Hermione, eu...”

“Deixe-me terminar”, disse, “Se vocês tiverem um desentendimento, prometa-me que não vai fazer algo que não lhe seja característico para arrumar a relação”

Encarei-a, incrédula, “Não posso prometer uma coisa dessas...”, sussurrei, mas sabia que era exatamente o que eu faria. Se Dino e eu tivéssemos uma briga feia, eu não iria tentar acertar as coisas.

Lá estava eu, horas depois, do lado de fora da Ala-Hospitalar, encarando a porta. Duas das pessoas mais importantes da minha vida estavam detidas no quarto, recuperando-se de ferimentos. Rony e Harry, o último sendo retido há uma hora e meia atrás.

Por que me sentia tão culpada por visitar Harry?

Era uma pergunta fácil de ser respondida. Tudo começou durante a partida. Nosso goleiro, o maravilhoso McLaggen, tinha tomado para si a tarefa de ensinar aos batedores como se faz o trabalho deles... no meio do jogo... resultando no nosso Capitão sendo acertado por um balaço travesso.

Eu estava muito longe para alcançar Harry. Graças a Merlim, Coote e Peakes tiveram o bom-senso de pegá-lo em meia-queda. Assistir o corpo sem vida de Harry flutuando em direção ao solo deve ter sido uma das cenas mais aterrorizantes da minha vida.

Mas esse não é o motivo pelo qual eu estava me sentindo culpada. Muito pelo contrário, isso só teria me dado mais razão para visitá-lo. Não, o culpado da minha culpa de consciência era o Dino. Ele decidiu que todo o ocorrido tinha sido hilário. Até um idiota entenderia o que ele estava fazendo. Ele estava enchendo o saco do Harry há meses e eu estava cansada disso.

Deixei-o alerta disso, também. Mandei-o calar a boca e parar de agir como um sonserino maldoso. Ele estava lívido, acusando-me de ficar ao lado de Harry ao invés do dele e depois me acusou de gostar do Harry... Aí estava; tinha finalmente chegado àquilo... Se Simmas não tivesse se imposto entre nós dois, eu teria propriamente o apresentado a uns amigos morcegos e, muito provavelmente, não teria mais um namorado. Trovejando para fora do Salão Comunal, encontrei os olhos de Hermione e ela piscou para mim.

A porta que eu estava encarando se abriu e, lentamente, Lilá saiu. Ela parecia tão frustrada. Ela ergueu os olhos na minha direção e ofereceu seu melhor sorriso, “Nenhum deles está acordado”, falou, “Na verdade, Rony nunca está acordado quando venho visitá-lo”

“Rony, seu covarde”, pensei, “Talvez você esteja sem sorte?”

Ela deu um sorriso de escárnio e se afastou de mim, murmurando algo sobre Hermione. Observei-a descer o corredor, sua cabeça baixa, observando o chão.

Abri a porta e fui cumprimentada pelo som de um ronco. Concedido, Rony normalmente ronca, mas já que cresci com o garoto, sabia quando ele estava fingindo. As cobertas foram puxadas acima de sua cabeça e, ao lado dele, estava deitado o corpo imóvel de Harry, bandagens envolvendo sua cabeça como um turbante. Meu estômago se contraiu.

Madame Pomfrey me cumprimentou com um sorriso. Com o passar dos anos com amigos e familiares habituados a se machucar, ela e eu tínhamos desenvolvido uma relação interessante. Ela gostava e acreditava em mim.

“Ginevra, poderia me fazer um favor?”, perguntou. Quando assenti, ela prosseguiu, “Tenho que entregar um recado. Quando o despertador tocar”, ergueu uma pequena estátua de ela mesa e depositou-o na cadeira, “dê aos garotos as poções medicinais deles”, ela apontou para uma saleta dentro da sala, “Dois frascos depositados no canto ali. Um para cada um deles”

Quando ela terminou de falar e saiu, Rony estava sentando na cama e parecia satisfeito de ver que era eu e não Lilá, “Imaginei que você estaria caçando McLaggen à essas alturas”, falou.

Fiz uma careta, “Não preciso”, retruquei, “O resto do time já tá cuidando disso. Pessoalmente, acho que você vai ter mais um colega de sono até o fim da noite”

Rony tentou esconder a satisfação com a notícia. Embora ele não goste do perigo pelo qual Harry passara, adorava a idéia do Córmaco ferido, “Com sorte, Harry e eu estaremos fora daqui amanhã”, falou.

“Então, você pode fingir que é sonâmbulo quando Lilá estiver por perto”, provoquei, rindo quando Rony evitou contato visual. Suspirando, disse, “Sabe, nunca pedi desculpas pelo o que disse para você em Outubro. Eu estava brava”

“Mas você estava certa”, Rony falou, suavemente.

Fazia muito tempo que Rony e eu não nos falávamos daquele jeito. Antes de Hogwarts, ele se esgueiraria para o meu quarto e falaríamos sobre muitas coisas, “Acho que quase arruinei suas chances com Hermione”, falei.

Rony se moveu, inconfortável, na cama, “Quê? Eu... Do que você...?”

Revirei os olhos, “Já falou com ela?”, ele balançou a cabeça lentamente, “Rony, fale com ela, por favor”

Antes que ele pudesse reagir, a pequena figura de Madame Pomfrey falou, anunciando que era a hora de dar as poções medicinais de Rony e Harry. Dei um tapinha no ombro do Rony e fui para a saleta de poções.

Os dois frascos estavam sobre a mesa. Agarrei cada um e fui para a porta, mas vi Hermione parada ao lado da cama e ouvi desagradável ronco de Rony novamente. Esgueirei-me para fora de vista e ouvi Hermione anunciar quem era. Rony parou de roncar e suspeitei que tivesse se sentado.

Inclinando-me contra a parede, notei quão freqüentemente encontrava-me bisbilhotando coisas. Por mais que eu me esforçasse para parar de ouvir as conversas alheias, mais do que constantemente me encontrava no lugar certo, na hora certa. “Vamos, dois, FALEM!”.

“Não posso ficar muito tempo aqui”, Hermione disse, “Só queria entregar uma coisa para você. Cheguei a conclusão que você deve estar entediado aqui”

“Com quem eu vou jogar xadrez aqui, Hermione?”, Rony perguntou.

“Harry vai acordar, Rony”, ela falou, “Acho que vai poder jogar com ele, então. A não ser que você esteja dormindo... ouvi dize que você tem dormido muito ultimamente”

Silêncio... “Vai, Rony!”

“Sabe, se você está cansado da Lilá, deveria informá-la”

“Não é tão fácil”, Rony murmurou. Hermione deve ter se levantado, porque Rony perguntou, “Para onde você vai?”

“Falei que não ia ficar por muito tempo”

“Mas...”, falou, não sabendo muito bem o que dizer, “Quero que fique”

“Por quê?”

Imaginei Rony olhando, desconfortável, para o chão da enfermaria, sem responder.

“Rony, você não tem jeito”, Hermione murmurou. Ouvi os passos se afastando da cama dele e xinguei Rony baixinho.

“Porque senti sua falta”, Rony falou, alto, e os passos pararam. Rony continuou, “Pensei que soubesse disso... e... sinto muito...”

“E?”

“Esse é o seu momento, Rony!”

“E...”, Rony disse, “Te magoei muito. Tenho agido como um idiota... estou feliz que nós somos amigos de novo... er...”

Amigos?”, murmurei para mim mesma. Ele era mesmo tão cego? Hermione tinha passado os últimos cinco meses ignorando Rony, porque ele estava sugando o rosto de Lilá. Ele achava mesmo que essa era uma reação amigável?

Nenhum deles falou por alguns segundos. Finalmente, Hermione quebrou o silêncio, “Sim, Rony, estou feliz que nós voltamos a ser amigos, também”, tinha tanta tristeza em sua voz quando disse aquilo.

“Espere, Hermione...”, Rony chamou, “Temos que falar sobre isso, não temos?”

A porta se abriu e Hermione cumprimentou Madame Pomfrey, “Falarei com você mais tarde, Rony”, falou, e a porta se fechou às suas costas.


- Parte IV -


Rapidamente sai da saleta e entreguei o frasco ao Rony, enquanto Madame Pomfrey brigava comigo por atrasar as poções. Rony engoliu a sua com um gole e ela pegou o segundo frasco de mim e ajudou o inconsciente Harry a tomar o seu.

Encarei Harry, deitado lá, sem se mover. Imaginei-me por um segundo, inclinada sobre seu corpo e confessando a ele meu amor incontrolável por ele, mas afastei o pensamento de minha mente quando Rony me chamou. Desviei meus olhos de Harry e olhei para Rony, “O quê?”, perguntei.

“Te chamei três vezes”, falou, dando um sorriso de quem sabe de tudo, “Ele vai ficar bem, Gina”

“Eu sei”, falei, tentando não corar perante o fato que meu irmão tinha me pegado encarando o seu melhor amigo. Fazia um bom tempo que ele não o fazia, “Ele tem estado tão distraído ultimamente. Quase perdeu o começo da partida”

“Mesmo? Ele falou onde estava?”

“Falou que se encontrou com o Malfoy”, respondi.

“Quero descobrir o que ele tem planejado tanto quanto qualquer um”, Rony retrucou, “Mas você não acha que ele está se tornando um pouco... obsessivo?”

Dei de ombros. Ele estava ficando muito distraído e não só com Malfoy. Não era a primeira vez que ele estava distraído demais para perceber um balaço. Durante os treinos, juraria que ele se safara de um ferimento por muito pouco, mas suspeitava que aquilo não tinha muito a ver com o sonserino loiro. Na verdade, eu achava que poderia ter a ver com uma grifinória ruiva.

“Está olhando para ele de novo”, Rony comentou.

Duas vezes na mesma noite. Ou eu estava perdendo o jeito ou Rony estava ficando melhor. Corei para valer dessa vez e caminhei para o outro lado da cama, entre Rony e Harry.

“Não pense que não tenho notado”, Rony disse, cerrando os olhos na minha direção. Colocou o jogo de xadrez debaixo da cama para ser jogado mais tarde, “Ele não é muito de esconder seus sentimentos, esse aí”, apontou para Harry, “Mas pode ser que ele ainda nem tenha percebido”

Sacudi a cabeça, “Tenho um namorado, Rony”

“Não foi você quem me disse para conversar com Hermione? Bem, talvez pudesse usar o próprio conselho”

Madame Pomfrey nos interrompeu, “Sinto muito, Ginevra, mas não posso permitir que fique por muito mais tempo. Harry precisa de paz e silêncio”, falei que tudo bem e ela voltou para sua saleta.

“Gina...”, olhei para Rony, achando que ele falara meu nome, mas Rony apontou para a outra pessoa ferida naquela sala. Harry, falando em seu sono, tinha dito meu nome. Analisei-o, mas ele não se moveu e não falou meu nome novamente. Considerei o acontecimento como uma coincidência já que Pomfrey tinha dito meu nome e cheguei a conclusão que Harry tinha apenas repetido-o.

“Melhoras, Harry”, sussurrei.

Dino e eu passamos a maior parte dos nossos últimos dias juntos, falando sobre nossos problemas. Pode ser desnecessário dizer, mas as coisas não iam tão bem. Ao invés de conversar, nos berrávamos o tempo todo. Na última noite de nosso relacionamento, caminhávamos pelos jardins, discutindo, e ele sempre voltava para o mesmo assunto. Harry... Harry... Harry...

“Dino, cala a boca!”, ordenei, “Nunca terminaria com você para ficar com Harry, mas a idéia parece cada vez mais tentadora porque você é um idiota!”

Discutimos por horas. Perto do toque de recolher, caminhamos barulhentamente em direção à Torre da Grifinória. Enquanto berrávamos, professora Sprout saiu de seu escritório e lançou um olhar estranho para cada um de nós.

“Tudo bem, senhorita Weasley? Senhor Thomas?”, perguntou, puxando sua capa sobre suas roupas empoeiradas. Ela nos olhou, com suspeita, enquanto puxava seu cabelo acinzentado da gola das roupas.

“Ah, estou bem”, respondi, fuzilando Dino com os olhos.

Cautelosa, a professora Sprout disse, “Preciso correr para os jardins antes que o sol se ponha. Se virem o professor Slughorn, podem pedir para ele descer para se encontrar comigo?”

Dino rosnou e eu respondi que sim. Sprout saiu correndo pela porta com o saco balançando por cima do ombro. Deixando Dino parado ali, apressei-me e abri a porta para a Torre da Grifinória. Teria empurrado Dino pelas escadas, mas quando passava pela porta, colidi com a barriga proeminente de Slughorn.

Ele gargalhou alto e me cumprimentou ainda mais alto, ignorando Dino que tinha acabado de me alcançar, “Senhorita Weasley, que prazer esbarrar com você. Queria lhe dizer o quanto gostei de sua redação sobre a Aspiração da Paz. Trabalho esplendido, realmente esplendido”

“Obrigado, professor”, falei, também ignorando Dino, e contente por ter uma desculpa para escapar da discussão, “Eu devo lhe dizer que a professora Sprout está nos jardins esperando pelo senhor”

“Está?”, Slughorn exclamou, esfregando a pança, “Estava procurando por ela. Ela me prometeu algumas Folhas da Noitinha. Tenho certeza de que é óbvio que o melhor momento para recolhê-las é agora”

Quando Slughorn partiu, Dino rosnou e olhou para mim, bravo, “Tem que fingir que eu não estou aqui, não tem?”

“Suponho que é a minha falta que o Slughorn não tenha te notado”, guinchei. Marchei em direção às escadas da torre, passando pelo atalho no qual Rony e Hermione tinham nos encontrado beijando, anos antes, “Como também é minha falta que Harry preste tanta atenção em mim?”, berrei para ele, que estava um pouco atrás na escadaria.

Dino e eu discutimos a cada degrau, e quando finalmente chegamos ao buraco do porta-retrato, ele me agarrou, virou-me para ele, e me beijou com força nos lábios.

Empurrei-o para longe, “Se afaste de mim!”

Dino sacudiu a cabeça, “Onde estamos, Gina? O que está acontecendo?”

Suavizei minha expressão, percebendo que a pergunta significava algo. Tinha chegado àquilo e eu não tinha certeza se estava preparada para fazer o que sabia que precisava ser feito. Engolindo em seco, virei-me e percebi a Mulher Gorda aguardando ansiosamente pela minha resposta, “Firewhiskey”, falei estupidamente para o quadro.

“Tudo bem”, a Mulher Gorda retrucou, “Estrague minha diversão”

O quadro se abriu e Dino entrou ao meu lado. Minha mente repentinamente imaginou Harry e não consegui descobrir o porquê. Sem muito tempo para pensar no pensamento repentino que Harry estava assistindo, senti alguém esbarrar em mim, “Não me empurre, por favor, Dino”, falei, irritada, “Você sempre faz isso, posso passar muito bem sozinha”

Dino jogou as mãos pelo ar, “Não posso suportar mais isso! Por que você é tão difícil?”, berrou, “Não agüento mais. Nós não agüentamos mais. Está acabado!”

Antes que pudesse responder, a voz de Lilá ecoou por todo o Salão Comunal, “O QUE TE TORNA TÃO ESPECIAL?”, olhei na direção da entrada do dormitório masculino. Lilá parecia furiosa, enquanto ela encurralava Hermione e Rony. Hermione parecia tão enraivecida quanto a outra. Rony parecia aterrorizado, “O QUE TE FAZ TÃO PERFEITA?”


- Parte V -


Uma pequena multidão de curiosos se juntaram por trás de alguns sofás e cadeiras para se protegerem de qualquer feitiço e para testemunhar a cena à suas frentes. Lilá estava com o rosto vermelho; ela devia estar gritando por algum tempo. Suas mãos estavam cruzadas sobre o peito e ela não estava olhando para Rony, mas para Hermione.

Hermione, que normalmente evitava conflitos, lançou um igualmente impressionante olhar irado de volta à garota. Ela não estava a fim de deixar Lilá assustá-la, “Não sou perfeita”, Hermione berrou, “Mas conheço Rony melhor do que você jamais poderá!”

Eu sou a namorada dele!”

“Você nem mesmo conhece o Rony!”, Hermione gritou, “Me diz, Lilá, qual é o time de Quadriboll favorito do Rony?”

“Em que isso importa?”

“Quantas vezes Rony venceu você no xadrez?”, Hermione perguntou, “Ou você não sabia que ele é o melhor jogador de xadrez da Grifinória?”

Era óbvio que Lilá não tinha idéia. Ela embaralhou-se nas palavras para se defender, murmurando de maneira incoerente sobre ser a namorada de Rony.

“Você sabia que ele não tem uma comida favorita? E pode entendê-lo quando ele está falando com a boca cheia? Ele reclama sem parar de seu coruja, mas você sabe que ele ficaria devastado se perdesse Pichentinho? Você já notou que quando ele tenta entender algo, ele franze as sobrancelhas, revelando uma covinha acima do seu olho esquerdo?”

A mão de Rony se ergueu na direção de seu olho esquerdo, procurando pela suposta covinha. Ao encontrá-la, sorriu.

“E...”, Hermione disse, voltando-se de Lilá e olhando para Rony. Continuou suavemente, “Você sabe que ele está pensando, provavelmente: Caraca, eu não sabia que Hermione sabia tanto sobre mim

Os olhos de Rony se arregalaram, talvez pensando que Hermione aprendera Legilimência. Ele olhou dos olhos suaves de Hermione para Lilá, assentindo.

Lilá tremeu de raiva, abrindo sua boca várias vezes para retrucar, mas, por fim, baixou os braços para os lados do corpo. Os espectadores podiam ver com clareza quem era a vencedora da briga. Derrotada, Lilá disse, “Se é o que você quer, Rony... ESTÁ TUDO ACABADO!”, com isso, ela caiu no choro e saiu correndo do Salão Comunal.

Depois daquela noite, Hermione e Rony ambos pareciam apreciar um pouco mais a vida. Estava surpresa que eles não tinham começado a se agarrar depois de anos de amor não-correspondida, mas Hermione estava certa: eles tinham alcançado um tipo de compreensão. Foi então que percebi que se eles fossem algum dia decidir aprofundar a relação, não seria por uma razão estúpida. Primeiro e mais importante, eles eram amigos e isso era mais importante do que todo o resto.

Minha vida, também, tinha tido uma melhora geral. Podia falar, rir, olhar e passar tempo com Harry sem me sentir culpada e parecia que Harry estava procurando por qualquer desculpa para passar tempo comigo, colocar uma mão no meu ombro, ou lançar um olhar na minha direção. Tenho certeza de que o balaço que o atingiu durante os treinos aconteceu porque ele estava olhando para mim.

Para melhorar tudo, Kátia Bell retornara, o que significava que a situação estranha que poderia existir entre Dino e eu fora resolvida. Treinos com todos que Harry escolhera a princípio provou ser o melhor em meses. Se não vencêssemos o campeonato, surpreenderia a todos nós.

Alguns dias antes da partida, aterrissei na quadra depois que Harry deu o treino por encerrado, sorrindo à melhoria que Rony apresentava. Parecia que uma inspiração, chamada Hermione, tinha lhe dado o chute de confiança que ele realmente precisava.

Quase imediatamente depois do meu pouso, Harry encontrou o solo à minha frente. Ele olhou em volta, buscando alguém, encontrou-me, e esperou que me juntasse a ele. Sorri, porque ele estivera fazendo isso depois de todos os treinos para que pudesse conversar comigo.

“Você pode começar a querer prestar mais atenção ao real pomo”, provoquei-o, pressionando a palma contra seu ombro, onde o balaço tinha o atingido e quase o derrubado da varinha. Senti a familiar tensão de seus músculos, “Não quero ter que visitá-lo na ala hospitalar de novo”

“Sou o capitão”, Harry respondeu, “Tenho que manter os olhos em todo mundo”

“Todo mundo, hum?”, falei, “Viu aquele giro que Kátia fez? Ou aquele chute louco que Rony deu? Ou Peakes e Coote quando os dois acertaram o balaço?”, quando ele sacudiu a cabeça, perguntei, “E quando voei em círculos, em volta de Rony, para confundi-lo?”

Ele gargalhou alto, confirmando que tinha visto aquela. Lancei-lhe um olhar sagaz, duvidando dele, com meus olhos, de que tinha prestado atenção no time todo. Ele notou, mas deu de ombros, sem negar o que eu tinha insinuado.

“O que está esperando, Harry?”, pensei. Tinha quase cem por cento de certeza de como ele se sentia em relação a mim, mas não conseguia entender porque ele não tomava a iniciativa. Estava solteira a quase duas semanas, dando a Harry tempo o suficiente para me chamar para sair. “Talvez”, pensei, “ele nem saiba ainda como se sente”.

Lancei outro olhar e achei tanta suavidade em seus olhos, como se ele estivesse olhando para mim pela primeira vez. Não, ele definitivamente sabia como se sentia. Estava ali, em seus olhos. Ele me adorava.

Eu podia jogar o jogo de espera se isso era o que ele queria fazer. Eu tinha esperado seis anos e podia esperar um pouco mais. Eu não ia a lugar algum, apesar do fato de que alguns garotos, incluindo Colin, Peakes, Coote, até mesmo Miguel, provavelmente depois de outro término com Cho, me chamaram para sair. Para o azar deles, meu coração pertencia a um garoto, mas ele estava levando um bom tempinho com isso.

“Harry!”, Rony chamou, nos alcançando. Ele tinha um timing impecável. Essa podia ser outra razão porque Harry estava tão relutante em revelar seus sentimentos. Ele e eu mal tínhamos tempo o suficiente para um papinho satisfatório, muito menos uma conversa cheia de emoção sobre revelações amorosas.

Toquei Harry no braço e lancei o melhor sorriso possível, “Te vejo no jantar, Harry?”

“Sim”, ele respondeu, olhando para Rony e de volta para mim, desapontado que eu não ficaria para participar da conversa.

“Guardarei um lugar para você”, pisquei para ele e sai correndo.


- Parte VI -


Sem dúvidas, Harry estava fazendo isso muito mais difícil do que o necessário. Não tenho certeza de como ele envolveu sua cabeça na idéia de que eu não gostava dele. Não era como se eu estivesse sendo discreta em relação a isso. Eu me desviava da minha rotina para falar com ele e passar tempo com o trio. Tomava cuidado para que ele me pegasse o observando. Dava indireta, depois de indireta, depois de indireta...

Sei o que você está pensando... mas me nego a dar o primeiro passo. Conclui que tenho desejado ele por anos e era a vez dele de sofrer um pouco, faria bem a ele. Além do mais, qualquer garoto poderia ver onde eu estava. Hermione concordou comigo, dizendo que era melhor que Harry desembaralhasse seus sentimentos sozinhos.

Quando ele soltou a novidade de sua detenção com Snape, negou-se a olhar nos meus olhos. Eu não estava brava, mais para desiludida, porque eu estava convencida de que nossa vitória estaria interligada com a nossa união, quase como se a euforia de vencer fosse influenciar Harry em meu favor. Enquanto Harry falava com o time, prometi para tudo dentro de mim que nós íamos vencer e eu ia pegar aquele pomo.

Eu, francamente, não senti como se tivéssemos uma chance, mas quando nossos artilheiros agiram com tanta habilidade e precisão, nossos batedores defenderam com tanta exatidão, e Rony defendia com tanta determinação que parecia que não podíamos errar. Capturar o pomo não seria problema.

A celebração começou na quadra e ecoou pelos corredores até, enfim, chegar no Salão Comunal da Grifinória. Antes que eu sequer tivesse a chance de tomar meu primeiro copo de cerveja amanteigada, estava intrigada, tentando erguer meu próximo plano de ação em relação a Harry. Eu não sabia o que mais fazer a não ser agarrá-lo e jogá-lo contra a parede, berrando com todo o meu fôlego para admitir que gostava de mim, e eu não ia fazer isso.

“Foi um ótimo vôo lá fora”, Dino disse, dando um tapinha no meu ombro. Essa tinha sido a primeira vez que ele falava comigo desde que terminamos, duas semanas atrás, “Ouça, queria que você soubesse que sinto muito”

“Sem ressentimentos, Dino”, respondi, dando um tapinha no ombro dele também.

“Você acha que poderíamos tentar de novo?”, perguntou, segurando dois copos de cerveja amanteigada em suas mãos e entregando um para mim, “Uma segunda chance?”

Sacudi a cabeça, pegando o copo e colocando-o na mesa, “Nós só teríamos o mesmo problema, Dino”

“Não, não”, ele retrucou, “Prometo não acusar Harry, ou você, ou...”

“Dino”, falei, erguendo minha mão para silenciá-lo, “Nunca teria terminado com você só para ficar com o Harry, mas acho que você estava certo. Acho que ele gosta mesmo de mim”

“Gina, eu não me importo...”

“Mas eu também descobri outra coisa”

Hermione me acotovelou, “Gina”, cantarolou e gesticulou para a porta, bem a tempo de ouvir Rony anunciar para alguém que tínhamos ganhado. Olhei pela multidão, vendo o rosto familiar do nosso capitão. Ele não estava prestando atenção em Rony, mas olhando pela multidão, procurando por algo.

Ou melhor, alguém...

E antes que pudesse sentir, empurrei Dino para longe de mim e pulei do meu assento, correndo com toda a rapidez em direção ao garoto no buraco do quadro. Seus olhos pararam de buscar e se fixaram em mim, um olhar intenso que deve ter combinado com o meu. “Vencemos, Harry! Vencemos, vencemos, vencemos...”, continuava repetindo isso com cada passo, pronta para berrar isso assim que encontrasse seus braços. Pulei diretamente para o seu corpo, abri minha boca para dizer, “Nós...”

Ele... estava... me... beijando...


- Parte VII -


Um sonho; tinha que ser um sonho. Um muito realista, mas não me importava. Não queria que ninguém me beliscasse. Se era um sonho e eu estava dormindo, esperava além de qualquer coisa que pudesse ficar nesse devaneio para sempre.

Mas não era um sonho, era verdade. Suas mãos eram reais enquanto seguravam minhas costas. Seus lábios eram reais quando se colocaram, ansiosamente, sobre os meus. Seu corpo era real enquanto ele me puxava para mais perto. Eu era real, beijando Harry, beijando Harry! Aquele momento era real e não importava que cinqüenta outras pessoas estavam assistindo, não importava que um deles era meu namorado, não importava que um deles era meu ex-namorado... tudo o que importava era Harry, eu, o beijo, e o outro que, com certeza, estava por vir.

Eu poderia ter continuado beijando-o, se ele não tivesse se afastado. Mantive meus olhos fechados, choraminguei levemente que minha fonte de vida tivesse sido retirada de mim de maneira tão sem cerimônia. Pude sentir os olhos de todos encarando a gente, alguém tossiu, e senti as mãos de Harry deslizar diretamente para a minha e ele me guiou para fora do porta-retrato. Acho que ouvi algumas salvas, e imaginei o olhar admirado de Hermione, o olhar aturdido de Rony, e o olhar não-acredito-no-que-acabou-de-acontecer do Dino.

Quando o porta-retrato se fechou às minhas costas, soltei as mãos de Harry e apoiei minhas costas contra o quadro da Mulher Gorda que tinha feito uma pequena viagem para um barril de vinho a algumas molduras de distância. “Tanto por abstinência”, pensei, olhando em direção a ela. Soltei um longo e pesado suspiro, ainda tentando entender o que tinha acabado de acontecer.

Harry parou na minha frente, mal olhando para mim, ficando mais vermelho a cada segundo. Ele parecia adorável, corando sob o fato de que tinha finalmente superado uma montanha e me beijado na frente de todo mundo, “Desculpa, Gina”, disse, “Eu... não sei o que aconteceu comigo... eu...”

“Ah, cala a boca!”, sussurrei, agarrando-o com os braços, girando-o e pressionando-o contra o quadro. Beijei-o com força e ímpeto, permitindo que seis anos de adoração enjaulada se libertasse. Era uma criatura selvagem, desesperadamente satisfeita de ter se soltado de sua prisão, e tenho quase certeza que uma vez que estava fora, não havia como colocá-la para dentro de novo.

Afastando-me de Harry para recuperar o fôlego, disse, “Quis te beijar, Harry Potter, desde o primeiro dia que te conheci. Não ouse pedir desculpas por algo que eu obviamente queria que você fizesse”

Será que ele ia parar de sorrir? Ele me encarou com tanta admiração em seus olhos. Lá, normalmente, tinha tanta tristeza escondida por trás daqueles óculos, mas eu não mais a via. Tudo o que eu via era meu rosto refletido em seus olhos. Eu poderia me acostumar com isso.

“Acabei de beijar você na frente de todo o Salão Comunal”, falou lentamente, talvez finalmente percebendo com precisão o que tivera feito. Ele riu.

Sorri, “Sim, você beijou”, respondi, passando minha mão pelas suas mechas escuras, “Por que é que você demorou tanto?”

“Bem, você sabe como o Snape é”, respondeu, seus olhos brilhando, “Teria chegado aqui antes, mas ele insistiu que eu ficasse...”, fiz, brincando, uma cara de emburrada, informando-o que isso não era o que eu queria saber. Ele deu de ombros, inocente, insinuando que sabia muito bem ao que eu me referia, “Não sei. Sinceramente, não sei”

Ele pegou minha mão e gesticulou, com a cabeça, para a escadaria. Uma boa e longa caminhada parecia apropriada, pensei, já que estava tão ensolarado e lindo. OK, OK, seria um dia perfeito mesmo se estivesse chovendo e trovejando. Lado a lado, descemos as escadas. Não conversamos sobre para onde iríamos e não achei que importasse.

Não pude segurar um longo suspiro e uma risadinha feliz. Existiam tantas coisas que eu queria apontar para ele, como o convite para Hogsmeade, a oferta para sentar comigo no trem, os momentos juntos no verão, mesmo naquele momento passado em que precisava falar com Sirius... poderia mesmo ter acontecido tão antes? Mas haveria tempo para discutir tudo. Não precisava me apressar.

“Quis machucar o Dino quando o vi beijando você”, falou, referindo-se àquele momento meses atrás, “Estava tão confuso. Pensei...”

“Que estava agindo como um irmão mais velho”, terminei por ele.

“É, como você sabe?”

“Vi o olhar que você nos deu”, respondi, “E tentei dar a mesma justificativa. Não queria acreditar que você tinha finalmente caído na minha”

“Não queria acreditar?”, ecoou, “Por quê?”

“Estava tentando desencanar de você, Harry”, falei, balançando a cabeça de um lado para o outro, “Obviamente, considerando os recentes acontecimentos...”, ergui nossas mãos entrelaçadas que nos unia tão perfeitamente, “Fui tristemente malsucedida”

“Malsucedida, hum?”, repetiu, apertando minha mão, e desviando os olhos numa raiva de brincadeira, “Você pode ficar desapontada, mas estou grato que você tenha falhado nisso”

“Ah, não falhei”, respondi, brincando, “Só para o caso de você não ter notado, desencanei completamente de você. Sem sentimentos nem nada que o valha”

“Certo”

“Não acredita em mim?”, perguntei, dando de ombros, “Ótimo. Me beije e você verá”, parei no corredor e apontei para minha boca, tocando meus lábios algumas vezes, “Vá em frente”

Harry se inclinou, beijando-me novamente, e dividimos o terceiro beijo daquele dia, mas pareceu ser a primeira vez de novo. Eu podia, facilmente, me ver desperdiçando meu tempo, deixando ele aproveitar, deixando-me aproveitá-lo. Ah, isso não seria nada bom já que meus N.O.M.s estavam se aproximando.

Foi só quando ouvimos uma pequena tossida que nos afastamos do agarro. Dumbledore, em suas roupas roxas e óculos meia-lua, estava parado à nossa frente. Ele estava sorrindo, também? Olhei para nossas mãos e Harry, rapidamente, soltou a minha.

“Não, não”, Dumbledore falou, seus olhos cintilando, “Não tive a intenção de invadir seu corredor deserto”, gesticulou para as várias salas que estavam lá, “Estava me dirigindo ao Salão Comunal para parabenizar você e, talvez, se ainda tivesse alguma, aproveitar um copo gelado de cerveja amanteigada”

“Se quer um pouco, é melhor subir lá rápido”, respondi, “Rony parecia estar com uma sede horrível”

“É claro”, Dumbledore respondeu enquanto Harry escorregava sua mão de volta para a minha, “É uma pena que você tenha perdido o jogo hoje, Harry”

“Eu queria muito estar lá”, Harry falou, “Mas Snape insistiu...”

Professor Snape, Harry”, Dumbledore retrucou, “Mas você ficaria orgulhosa da sua substituta lá fora, hoje”, gesticulou para mim, “Voou com excelência e demonstrou verdadeiras qualidades de liderança na sua ausência”

“Ela será capitã quando eu sair”, Harry disse, eu corei.

Dumbledore assentiu, pensativo. Ele passou por nós e acenou um adeus. Antes de se virar, ele falou para mim, “Senhorita Weasley, estou satisfeito em ver que você soube traduzir o coração corretamente”


- Parte VIII -


“Obrigada, Diretor”, sem outra palavra, Dumbledore afastou-se de nós e continuamos nossa própria caminhada, “Acho que ele percebeu antes de você”

“Você acha que ele leu minha mente?”

Sacudi a cabeça e repeti o que ele dissera a mim em Outubro, “Sem ofensa, Harry, mas você foi dolorosamente óbvio”

“Exceto para mim mesmo e você”

Notei o quão parecidos éramos. Enquanto caminhávamos pelo colégio de mãos dadas, continuamos a falar abertamente sobre nossos sentimentos, rimos e provocamos um ao outro sobre o quão cego o outro realmente era. De alguma maneira, sem realmente planejar, estávamos ao lado do lago, embaixo da árvore... meu lugar em Hogwarts quando eu precisava de um local para refletir. Quão apropriado que tenhamos encontrado aquele local em particular.

Encarando um ao outro, ele colocou a mão na minha bochecha. Fechei os olhos, aproveitando a sensação da pele dele contra a minha. Ele pegou uma longa mecha de cabelos ruivos que estava contra a minha bochecha e arrumou-o atrás de minha orelha. Ele falou, suavemente, “Você está sempre mexendo com essa mecha. Faz isso, principalmente, quando está trabalhando nas suas lições de casa”

Empurrei minha curiosidade para o lado. Ele tinha mesmo me observado bastante. Era muito doce que ele tivesse notado algo tão banal, “O que mais você notou sobre mim, senhor Potter?”, perguntei.

“Não come tanto café da manhã quanto deveria. Ao invés disso, pega sua vassoura para um vôo”, falou, quase embaraçado por ter sido pego me espiando, mas extremamente satisfeito de estar revivendo o momento, “Eu sabia porque metade do tempo eu não conseguia dormir. Parecia tão livre lá fora, o vento levando todos os seus problemas embora”

“Você se sente do mesmo jeito”, rebati, “Lá em cima, nada pode nos alcançar, nem mesmo os pesadelos. Notei isso esse ano, quando você conseguia tirar os olhos de mim e se focava no pomo”

Pego novamente, ele disse, “Acho que foi você quem deixou o telescópio de brinquedo no meu quarto. Sabia que eu precisaria de uma boa gargalhada. Me fez pensar no que você fez por mim, quando quis falar com Sirius. Me fez pensar no que mais você deve ter feito por mim esses anos”, cerrou os olhos para mim, curioso por mais do meu envolvimento em sua vida.

Dei um sorriso maroto, satisfeita que ele tivesse descoberto alguns de meus segredos, “Você ficaria surpreso, Harry”, me aconcheguei contra o corpo dele e senti seus braços me abraçarem. Nada poderia superar aquele momento.

Ele respirou sobre mim e, repentinamente, exclamou, “Esse cheiro!”

Inclinei-me para trás, olhando para os seus olhos, “O que foi?”, perguntei, tocando meu cabelo e cheirando-o, “Eu cheiro mal?”

“Não”, ele disse, rindo. Ele deu um tapinha na própria cabeça e assumiu uma expressão aturdida, “Você sempre cheirou a flores?”

“Sim”, falei, confusa. Eu tinha me banhado com o mesmo sabão e shampoo por muitos anos. Era um presente de Mamãe todos os aniversários e natais. E era todo meu porque era muito feminino para os meus irmãos.

“Na primeira aula de Slughorn, ele nos mostrou quatro poções”, Harry contou, seus olhos brilhando, “Felix Felicis, Veritaserum, Polisuco e...”

“Amortentia”, terminei por ele, lentamente compreendendo onde ele queria chegar, “Não me diga que...”

“Senti”, ele falou, respirando a essência do meu cabelo e se perdendo no armo intoxicante, “Tem um cheiro diferente, dependendo do que te atrai mais. Não posso acreditar que não percebi”, ele grunhiu e balançou a cabeça, incrédulo.

“Percebeu agora, e é tudo o que importa”, falei, sentindo seu peito subir e descer contra o meu, “Agora que você é meu namorado, me certificarei de que recuperemos o tempo perdido”

“Namorado?”, ele ecoou, “Um pouco presunçosa, não é?”, ele me deu uma pontadinha, divertida, nas costelas e eu estremeci, torcendo para que ele não percebesse que era ali onde eu sentia mais cócegas, “Além do mais, pensei que tivesse desencanado de mim. Sem sentimentos nem nada que o valha...”

“Bem, sim, mudei de idéia. Algum problema com isso?”

“Nenhum”

Passamos o resto da tarde sob a árvore, perdendo o jantar, no processo. Antes que pudéssemos perceber, o toque de recolher soou e nos apressamos em direção aos nossos dormitórios. Mais felizes do que estivemos em muito tempo, nos demos um beijo de boa noite por vários minutos e depois cada um foi para sua cama. Caminhando em direção ao dormitório, notei que não tivemos a chance de falar sobre o jogo, mas antes que eu tivesse outro momento para refletir, Hermione me agarrou, puxou-me para o seu quarto e me fez contar todos os detalhes.


- Parte IX -


Ser a namorada de Harry era um sonho realizado, uma vitória para todas as garotas apaixonadas por um ídolo; um triunfo para a pequena menina ouvindo histórias de Harry Potter enquanto crescia e prometendo para sua mãe que ele seria sua vida. Minha paciência valeu a pena e não era porque eu tinha impressionado o garoto ou o ganhado como alguém que eu não era. Capturei seu coração sendo eu, afogueados cabelos-carmesin Ginevra Molly Weasley.

A caminho do jantar, uma semana mais tarde, Harry me puxou para o atalho para a Torre da Grifinória. Notei que aquele tinha sido o local onde ele tinha me pego beijando Dino apenas alguns meses atrás... beijando quem? Não conseguia acreditar que eu tinha beijado qualquer outra pessoa que não fosse o Harry.

“Hermione brigou comigo por estar distraindo você”, Harry falou, enquanto seus lábios se ajustavam perfeitamente sobre os meus por alguns segundos, “Ela disse que você precisa estudar”

“Preciso”, falei, nada convincente, “Mas não é hora de estudo que estou perdendo, é a hora do jantar”, beijei seus lábios ansiosamente e notei que não poderíamos suportar perder mais uma refeição. Pelo jeito que estávamos, Harry e eu estaríamos desnutridos graças a todas as refeições que estávamos perdendo. Deixando seus lábios, observei, “Falei com a professora McGonagall hoje sobre minha carreira”

“Como foi?”

Dei de ombros. Visualizei o cartão de Guga Jones que estava no meu criado-mudo, “Você não precisa de N.O.M.s para ser jogadora de Quadriboll. É isso o que quero fazer”

Harry concordou, “Aposto que sua mãe vai adorar”

“Ela ficaria exultante”, pensei sarcasticamente. Expliquei que McGonagall tinha dito que eu deveria ter um plano de emergência para o caso de ser uma jogadora profissional não desse certo. Ela sugeriu que eu trabalhasse no Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, o que fazia bastante sentido. Eu só precisava de três N.I.E.M.s para conseguir um emprego lá e resolvi que poderia conseguir.

“Quer almoçar às margens do lago amanhã?”, Harry perguntou.

Franzi meus lábios, pensativa, “Por mais tentador que seja, eu preciso mesmo estudar. Assim que os exames acabarem, prometo que pararemos de desperdiçar válidos tempos de amasso”

“Posso ajudar você a estudar”, Harry respondeu, tentando encontrar um jeito de passar o tempo comigo, “Para cada questão que você acertar, você ganha uma recompensa”

Eu tinha uma suspeita secreta de que adoraria a recompensa. Falei que contanto que ele prometesse me ajudasse a estudar, o almoço às margens do lago seria permitido. Ele respondeu ao me beijar novamente.

“Sabe, Harry”, falei, olhando pelo corredor, “É perigoso ficar beijando aqui. Irmãos mais velhos podem nos pegar”

“Vou dar um jeito nisso”, falou. Puxando de seu bolso, ele tirou uma capa prateada das profundezas de suas roupas. Ofeguei, maravilhada, enquanto ele jogava a capa de invisibilidade sobre nós, “Melhor?”, ele perguntou.

“Eu sabia que essa coisa seria útil, um dia”, sussurrei.

No dia seguinte, Harry tinha espalhado um cobertor embaixo de nossa árvore. Com um almoço composto por sanduíches e batatas, nos deitamos à margem do lago, aproveitando a sombra que nos protegia do calor crescente do clima. Ele folheou os cartões que Hermione tinha, graciosamente, criado para mim.

“Onde estão Rony e Hermione?”, perguntei, mastigando algumas batatas com minha cabeça apoiada em seu peitoral. Olhei na direção do lago e vi uma sereia submergir.

“Visitando Hagrid, acho”, Harry retrucou. Parou de folhear os cartões e leu, “Quem é o único criador conhecido da Pedra Filosofal?”

Aquela era fácil. O trio tinha salvado a pedra de Voldemort em seu primeiro ano, atrasando seu retorno em vários anos, “Nicolau Flamel”, respondi, “Agora, minha recompensa”

Ele se abaixou e me beijou gentilmente nos lábios. Ele pegou o próximo cartão e leu, “Qual é o nome da feiticeira que tentou derrotar o Rei Arthur e acredita-se que seja sua meia-irmã?”

Aquela era um pouco mais difícil. Tentei lembrar do que o professor Bins tinha falado sobre o Rei Arthur e a história de sua vida, mas era difícil prestar atenção em sua aula. Derrotada, dei de ombros.

“Morgana”, Harry falou e eu fiz uma nota mental para me lembrar dela. Passou para o próximo cartão, “Qual mago perverso foi derrotado pelo Harry Potter de um ano de idade...”, ele se interrompeu, não querendo terminar a pergunta.

Passar o tempo comigo fizera com que Harry se distraísse de seu destino. Tinha sido um golpe duro lembrar o que teria que ser feito para que pudessem viver em paz. Peguei os cartões de sua mão e coloquei-os ao meu lado. Sentei-me e abracei-o com força, trazendo-o para mais perto. Depois de beijar sua testa, olhei dentro de seus olhos, “Não tem que carregar tudo isso sozinho”, falei, “Estou aqui. Deixe-me carregar um pouco do fardo”

Ele não fez contato visual. Ele não estava ciente do quanto eu sabia, quanto eu entendia. Não estava ciente que eu sabia sobre a profecia e que eu percebia que nós poderíamos estar amando em um momento inoportuno. E tanto quanto eu sabia que ele precisava desvendar seus sentimentos por mim, também sabia que ele teria que me contar o quanto quisesse.

“Não posso”, murmurou, “Por favor, não fique brava comigo. Eu...”

“Shh”, coloquei meu dedo indicador sobre seus lábios para silenciá-lo, “Sei que tem coisas que você não pode me contar. Acredite em mim, tentei tirar de Dumbledore e Hermione, mas eles não falam. A propósito, você tem que me ensinar a conjurar aquele feitiço. Todo aquele zumbido nas orelhas é irritante”

Harry pareceu se divertir, “Tem tentado ouvir escondida?”

“Você não saberia metade do que sabe se não o fizesse”, falei, piscando para ele, “Tudo o que quero que você faça é me prometer que quando você tiver acabado com o que quer que você tenha que fazer com Voldemort, sem mais segredos”

Parecendo quase doente do estômago, ele disse, “Gina, eu nem mesmo sei...”

Cortei-o, sabendo que ele ia dizer que nem sabia se conseguiria sair daquela vivo, “Quando estiver acabado, sem...”, beijo, “...mais...”, beijo, “...segredos...”

“Prometo, Gina”, respirou fundo, soltou um suspiro, pensando em seu futuro, “Quanto você sabe, de qualquer forma?”

Meus olhos brilharam, “Você tem os seus segredos, eu tenho os meus”

Pressionei minha testa contra a dele e mergulhei em seus olhos. Suas pupilas cintilaram, combinando com as minhas. Uma rajada de vento fez com que meus cabelos abraçassem sua cabeça. Naquele momento, queria falar para ele o quanto me importava com ele, o quanto o amava apesar do pouco tempo de namoro, e com quanta força eu tentava mantê-lo comigo por tanto tempo quanto possível.

“Você é fantástica”, falou, imitando a minha expressão. Segurando cada uma das minhas mãos nas dele, ele parecia querer se expressar do mesmo modo que eu pensava. Ele falou, sua voz repentinamente rouca, “Gina, eu am...”

“Harry!”, Rony chamou de longe. Olhando na direção dos morros, Rony e Hermione estavam andando na nossa direção, carregando seu próprio cobertor e cesta de piquenique. Hermione acenou.

Grunhi e sussurrei para Harry, “Eles tem um senso de oportunidade perfeito, não acha?”, dei um selinho e sentei de novo, respondendo o aceno.


- Parte X -


Momentos roubados em Hogwarts, a vida que eu procurava viver, a vida que fora arrancada das páginas da história de outra pessoa e clamava ser minha. Éramos nós beijando, rindo e amando, mas ainda assim, não poderia ser a gente. Com certeza não poderia ser a gente.

Era bom. Finalmente passar tempo com o Trio era bom. Me agarrar com Harry depois de longas horas de estudo era bom. Ver as expressões satisfeitas de Rony e Hermione era bom. Harry tentar, em vão, me assustar por baixo da capa de invisibilidade era ainda melhor.

“Olá, Harry”, falei para o ar à minha frente. Olhei por cima do meu livro de poções em direção ao outro lado da mesa.

A cabeça sem corpo de Harry apareceu ali. Ele fez uma carranca e, com a mão, ajustou os óculos no nariz, “Como você faz isso?”

Dei de ombros, virando a página do meu livro, “Não sei, eu só sinto você”, falei, enquanto ele ocupava o lugar de frente para mim, “Minha mãe sempre me disse que pessoas apaixonadas compartilham uma conexão mágica especial, além da relação normal. Já esteve em um casamento bruxo?”, quando ele sacudiu a cabeça, continuei, “O noivo e a noiva são unidos pela vida inteira, não só fisicamente, mas magicamente”

“Apaixonados?”, Harry repetiu, deixando a capa cair na cadeira em volta dele, revelando o resto de seu corpo, “Casamento bruxo? Gina Weasley, você está me pedindo em casamento?”

Ri, pressionando meu pé contra o dele, “E se eu estiver?”

Eu não poderia pedir por mais, gastando tempo com Harry, usando esses momentos na biblioteca e nos corredores. Era bom. Era perfeito.

Eu deveria saber que não duraria.

Parei ao lado de um corpo sem vida. Olhei para ele. Harry estava deitado no chão, sangrando, morrendo, morto. Olhei em volta e percebi que estava de volta na Câmara Secreta.

Ouvi uma risada sinistra pulsando à minha volta.

Olhando em frente, Harry estava parado ali, mas como poderia? Estava morto aos meus pés, mas esse Harry era transparente. Era um fantasma? Uma alma vagueando pela Terra na forma de um fantasma? “Gina”, Harry chamou, “Você me deixou morrer. Voldemort me matou”

“Não! Não foi minha culpa”

“Você não me salvou!”


“NÃO!”

Sentei-me na cama. Hermione se aproximava cautelosamente e encarei-a, confusa, “O que foi?”, perguntei, tentando ler a expressão dela, “Ele está aqui?”, gritei, lembrando do pesadelo, “Voldemort está aqui?”, ainda estava tentando separar realidade da fantasia.

“Não”, ela sacudiu a cabeça, entregando-me um pequeno frasco de vidro, “Harry quer que você beba isso. Pediu que eu me despedisse de você por ele, porque...”

Despedisse?”, berrei em pânico, “O que quer dizer? Onde está Harry? O que está acontecendo?”, minha mente se focou no que vi, Harry morto, deitado no chão, e eu não consegui salvá-lo.

“Acalme-se!”, Hermione berrou, “Beba isso e me siga. Explicarei tudo o que puder”

Horas mais tarde, a mecha de cabelo que nunca se deixava domar estava unida à diversas outras. Manchas escuras atravessavam meu rosto. Chequei minhas roupas só para encontrar buracos de queimaduras onde os feitiços tinham errado a mira. Graças ao Harry. Sempre graças ao Harry.

Parei centenas de pés de distância da Marca Negra desvanecendo. Observei uma das torres cair no chão, mais uma vez absorvendo a cena que se desenvolvia à minha frente. Harry estava agachado ao lado de um corpo, uma figura familiar com cabelos e barba platinados, vestes roxas e óculos meia-lua ainda em seu nariz torto. O corpo imóvel parecia ter caído muito. Hagrid estava parado ao lado de Harry, sua mão em seus ombros, tentando fazer o garoto acompanhá-lo.

Por alguns momentos, esqueci quem tinha me mandado ali e porquê. O choque de ver meu diretor esparramado na terra úmida como um boneco quebrado tomou o controle dos meus sentidos. Alguém falou e foi então que percebi que uma pequena multidão tinha se juntado à minha volta.

“Vamos, Harry...”, Hagrid falou, puxando a manga de Harry para afastá-lo daquela cena horrível. Ele parecia tão desamparado apesar do fato de que ele poderia levantar Harry sem qualquer problema.

“Não”, suas palavras foram frias e distantes, muito parecida, mas também muito diferente do modo como ele falou após a morte de Cedrico e como ele falou depois que Sirius caiu pelo véu. Não eram palavras do garoto que eu tinha beijado nas últimas semanas.

“Você não pode ficar aqui, Harry”, Hagrid disse, desesperado, enquanto lágrimas do tamanho de punhos caírem na grama, “Vamos, agora...”

“Não”, Harry repetiu, segurando com ainda mais força as vestes de Dumbledore.

Ele precisa de você”, pensei, “Sai dessa!”. Me liberei do choque, separei-me da multidão e agarrei a mão de Harry, “Harry”, sussurrei em seu ouvido, “Vamos”, puxei-o para cima e ele obedeceu assim como eu sabia que faria.

Depois que todas as histórias foram contadas e recontadas, Madame Pomfrey expulsou todos da Ala Hospitalar para deixar que os feridos descansassem. Por pura curiosidade, não retornei imediatamente à Ala Hospitalar, em vez de ir para lá, voltei para o local onde o evento noturno ocorrera.

Parte do teto estava caído no chão. Locais onde feitiços erraram de mira e ricochetearam estavam chamuscados ou com pedras rompidas. Desviei de poças de sangue que manchavam o chão, andando cautelosamente em meio aos destroços e parando à escada.

A magia protetora negra teria se esvaído há muito tempo, mas lembrei-me vividamente de como Neville tinha sido atirado para trás. Ainda assim, hesitei, preocupada que um Comensal da Morte tivesse ficado para trás para continuar com o caos, talvez para localizar Harry e fazer duas vítimas aquela noite. Ignorando o medo, subi as escadas para o andar de cima.

Estava completamente silencioso e não dava indício algum. O que quer que tenha acontecido entre as paredes dessa torre, a sala recusava-se a mostrar. Não tinha sinal de luta, nenhuma marca mostrava que algo significante ocorrera e nenhuma simpatia pelo derrotado. As estrelas observaram pela abertura no teto, iluminando o céu. Se elas se importavam, não demonstraram. Estremeci apesar de nenhum vento desagradável tenha entrado na torre.

Não tinha certeza do que queria encontrar. Talvez estivesse procurando uma resposta, um brecha que ninguém tinha notado. Talvez consolo, talvez o mesmo conforto que alguns sofredores procuravam quando iam à Godric’s Hollow e escreviam mensagens na Casa dos Potters.

Imaginei que, anos à frente, uma placa seria colocada naquele recinto, indicando aos futuros estudantes o que tinha acontecido, escrito, “Aqui caiu o Maior Mago e Diretor de Hogwarts, Alvo Dumbledore, o único que Lord Voldemort temeu...”.

Aquilo não importava mais. O único que ele temia tinha partido e agora ele não temia ninguém. O que o impediria de subir ao poder? O mago que se colocava tão poderosamente em oposição jazia partido e quebrado com muito pouco esforço. Quem se oporia agora?

Sabia a resposta antes mesmo de fazer a pergunta. Harry se oporia. Voldemort fora responsável por tantas perdas em sua vida e eu sabia que Harry não descansaria até que fizesse algo a respeito. O que quer que ele e Dumbledore estavam tramando, Harry teria que fazer por si próprio e ele não me permitiria ir com ele.

Inclinei-me contra a parede e comecei a chorar. Lágrimas quentes transbordaram dos meus olhos enquanto pensava em Dumbledore, Harry e o que estava por vir, que estava iminente. Escorregando pela parede até encontrar o chão, não quis admitir para mim, naquele momento, mas sabia que Harry não só não me permitiria acompanhá-lo, ele iria...

Meus pés roçaram contra um pano no chão, mas nada estava ali. Colocando minhas mãos no ar vazio, senti o reconhecível material suave da capa de invisibilidade de Harry. Segurando-a com firmeza, só uma coisa me importava. Devolver a capa ao Harry poderia parecer com uma vitória frágil, mas eu precisava entregá-la a ele, quase como se eu devolvesse aquele objeto familiar da vida de Harry, estaria restaurando um pouco do que ele perdera naquela noite.


- Parte XI -


Envolvi meu corpo trêmulo com a capa, apesar de duvidar que alguém se importasse com o fato de eu estar andando por ali. Era para o meu próprio bem, porque eu não queria falar com ninguém ou responder pergunta alguma. As notícias se espalhariam rapidamente de que Harry tinha testemunhado os eventos daquela noite e já que eu era sua namorada, seria suposto que eu sabia também.

Ainda havia várias pessoas no Salão Comunal quando entrei pelo retrato. Se eles se importavam de que ninguém tinha entrado, não demonstraram. Dino mal olhou para a entrada vaga antes de voltar à sua conversa com Simmas. Lilá e Parvati sentaram juntas, choramingando no chão.

Quando entrei na ponta dos pés no quarto do Harry, pude ouvir o ronco de Rony, seu ronco verdadeiro. Não ouvi qualquer outra respiração pesada e sabia que Harry ainda não tinha dormido. Antes que eu pudesse anunciar minha presença, Harry sussurrou, do silêncio, “Olá, Gina”, uma luz se acendeu na varinha e vi seu rosto cansado.

Abaixei a capa e me revelei. Meio sorrindo, perguntei fracamente, “Como você sabia que era eu?”

“Senti você”, respondeu, com simplicidade. Abriu a gaveta de seu criado-mudo e jogou algo em seu interior. Metal encontrou com madeira quando ele soltou o objeto e gesticulou para que eu me juntasse a ele.

“Peguei sua capa de volta”, falei, depositando-a no chão e me aconchegando próxima a ele, na cama. Pressionei minha cabeça contra o peitoral dele enquanto ele fazia um som de compreensão, “Precisava te ver”

“Não consigo dormir”

Assenti, compreensiva. As imagens, aquelas imagens horríveis deviam estar passando e repassando em sua mente. Eu queria desesperadamente limpar sua mente de todos os pensamentos e possibilitar um sono sem sonhos, mas aquilo era algo que Dumbledore nunca permitiria...

“Depois que você me resgatou da Câmara”, falei, sem saber de onde vinha a força para falar, “Dumbledore me visitou na Ala Hospitalar. Pensei que era fraca por ter confiado no diário, mas ele se negou a permitir que eu pensasse isso. Ele falou que eu estava destinada para coisas maiores... e disse que você também estava”

Senti uma lágrima pingar na minha cabeça, que deve ter escorrido de sua bochecha, “Ele sempre sabia o que dizer para me fazer sentir melhor”, Harry sussurrou, “Sempre conseguia fazer tudo fazer sentido. Como posso fazer isso sem ele?”

Agarrei-o para mais perto de mim, com medo de que, se o soltasse, ele fosse se esvair entre meus dedos e nunca mais o seguraria. Ele me abraçou com mais força com que jamais abraçara antes: muito aterrorizado para relaxar, porque não queria perder outra pessoa que amava tanto. O abraço enfraqueceu a parede emocional de nós dois e, antes que sentíssemos, estávamos soluçando incontrolavelmente, juntos. Desespero líquido escorria de nossos olhos num fluxo violento e jurei que nunca mais conseguiria controlar aquele incontrolável rio de sensações.

As lágrimas logo se tornaram demais e não podíamos mais chorar. Meu cabelo estava úmido e seu peitoral estava molhado onde nossos olhos derrubaram seu sangue incolor. Não era mais preciso de palavras, o silêncio era mais convidativo.

Solucei, quebrando o silêncio, e senti que era apropriado falar novamente, “Ouvi todas as histórias sobre você quando estava crescendo”, sussurrei, “Sobre como você era um grande bruxo com poderes extraordinários”

“Esse é o motivo porque você tinha uma queda por mim?”, ele perguntou, suavemente.

“Quando vi você pela primeira vez, no King’s Cross, você parecia tão perdido e adorável”, falei, lembrando da cena como se tivesse acontecido ontem, “Quando olhou para mim pela primeira vez, meu coração perdeu uma batida”, a memória me deu esperança, “Não foi sua cicatriz, não foi seu poder, e não foi porque você era famoso...”, mudei de posição para fitar seus olhos, “Acho que foram seus olhos”

Suas pálpebras estavam pesadas e sua respiração estava mais profunda. Abaixo de suas bochechas avermelhadas, um sorriso lentamente apareceu. Murmurou, “Fique... comigo esta noite”, antes de fechar completamente os olhos e não dizer mais nada.

Ergui-me e tirei seus óculos, cuidadosamente. Abrindo a gaveta, coloquei-os ao lado de um medalhão e o fitei, curiosamente. Peguei-o e deixei-o balançar, entre meus dedos. Era isso o que ele estava segurando quando entrei no quarto, esta noite? Trouxe a varinha acesa de Harry para mais perto e, cuidadosamente, abri-o. Dentro não tinha nada mais do que um pedaço de pergaminho. Engolindo em seco, tirei-o de lá e li o recado:

“Ao Lorde Das Trevas,
Já estarei morto há muito tempo antes que você leia isso, mas quero que saiba que fui eu quem descobriu seu segredo. Roubei a real Horcruxe e pretendo destruí-la tão cedo quanto o possível. Encarei a morte na esperança de que, quando encontre seu oponente, você seja mortal novamente.
R.A.B.”


Lá estava a palavra de novo: Horcruxe. Ajudou em muito pouco para entender mais sobre o que era, mas aquela frase “você seja morta novamente” mandou arrepios pelo meu corpo. Não era o tempo, decidi, para me preocupar com isso. Assim que consegui me acalmar, consideraria melhor a informação. Dobrei o recado e guardei-o de volta no medalhão, coloquei-o dentro da gaveta de novo, e extingui o feitiço da varinha de Harry.

Beijei meu namorado nos lábios bem suavemente e me aconcheguei ainda mais perto dele. Estava dormindo, o que merecia mais do que qualquer outro naquela noite. Suspirei pesadamente, puxei a capa de invisibilidade por cima de mim, e adormeci em seus braços.


- Parte XII -


Enquanto os dias passavam, Harry, Hermione, Rony e eu passávamos todo o tempo juntos. Duas noites antes do funeral de Dumbledore, acordei e encontrei Harry sentado no Salão Comunal, encarando o fogo, sua mão segurando algo que eu supus ser o medalhão.

“Estivemos pensando, não?”, perguntei, colocando-me ao seu lado e o abraçando, “Acordou na noite passada, não acordou?”

Harry assentiu com a cabeça e guardou o objeto dentro do bolso da calça jeans, “Imediatamente depois que você saiu”

Assenti e lembrei de Rony na noite anterior. Ele agitou-se em seu sono a noite inteira e não achei que fosse uma boa idéia estar deitada na cama de Harry quando o irmaozão acordasse. Esgueirei-me para meu próprio quarto cerca de meia hora depois de colocar Harry para dormir.

Ergui minha mão e afaguei um pouco de cabelo, tirando-o dos seus olhos. Meus dedos passaram pela cicatriz e Harry estremeceu. Ele fechou os olhos e respirou fundo, talvez lembrando do que precisava fazer. Engolindo em seco, reabriu-os e olhou para mim.

Estava esperando por esse olhar desde a noite que Dumbledore morrera. Ele ia terminar comigo, porque achava que era sua culpa que Cedrico tivesse morrido, que Sirius tivesse morrido e que Dumbledore tivesse morrido, e ele se negava a me colocar em perigo por ser meu namorado.

“Gina, eu...”

Coloquei meu dedo contra seus lábios, “Ainda não”, sussurrei.

Ele fechou os olhos e assentiu, tremendo, tentando permanecer forte, porque me deixar significaria que ele estava deixando sua melhor fonte de conforto, a única que poderia colocá-lo para dormir à noite sem o uso de mágica, o amor que ele tinha buscado o ano inteiro.

Quando encontrei Hermione sozinha, mais tarde, sentei-a e pedi pela milionésima vez para que ela revelasse tudo o que sabia sobre Harry e as Horcruxes. Como esperei que ela fizesse, ela negou e disse que nada tinha mudado, mesmo que Dumbledore tivesse partido.

“Ele vai terminar comigo, Hermione”, falei, monotonamente.

Hermione assentiu, notando que ela tinha percebido o mesmo olhar dele, “Não acho que ele vá voltar ao colégio. Dumbledore deu a ele uma missão para fazer”

“Deu a ele?”, ecoei, “Juro, Hermione, se ele não me deixar ir, é melhor você não deixar ele ir sozinho. Não posso perdê-lo para a morte, também”

“Rony e eu já falamos sobre isso”, falou, “Nós vamos, quer ele peça ou não. Você tem que ficar. Você tem que dar a ele algo pelo que esperar, algo pelo que voltar”

Um homem maravilhoso morreu aquele ano. Alvo Dumbledore, o bruxo mais poderoso que conheci, foi enterrado naquele junho em frente a uma multidão de milhares. Dumbledore, um homem que sempre escutava, um homem que sempre encorajava, um homem que sempre esteve lá para nos salvar, e não podia ser salvo.

Chorei, não por Dumbledore, pois sua batalha estava terminada, mas para os que foram deixados para trás, que teriam que lutar sem sua liderança; pelos estudantes de Hogwarts que nunca experienciariam sua sabedoria de poucas palavras, e por Harry que estaria embarcando em uma jornada que levaria sua sanidade ao limite. Chorei, porque como todos à minha volta, eu não entendia.

E o momento que eu tinha temido por dias, finalmente chegara. Harry, com olhos brilhando, finalmente olhou para, depois que o serviço estava terminado. Eu já tinha parado de chorar àquela altura e retornei seu olhar, tentando imitar a mesma expressão da qual ele gostava tanto. Não podia fazê-lo adiar muito mais; teria que ser naquele momento.

Eu sabia que ele estava certo e sabia que não podia ser de qualquer outro jeito, mas isso não facilitava as coisas. Ouvi-o, sabendo muito bem que eu tinha o poder de fazê-lo mudar de idéia, se eu apenas o beijasse por tempo o suficiente, ele esqueceria sobre o que precisava fazer e fugiria comigo. Mas mesmo tendo esse poder, neguei-me a usá-lo.

Assisti-o se afastar de mim sem um beijo, ou um abraço, ou mesmo um aperto de mãos. Mesmo o toque mais leve meu derrubaria o que ele tinha sido corajoso o suficiente para fazer. Tinha tanto que eu nunca tivera a chance de fazer... desejar boa sorte, discutir nossas vidas em detalhes, ou mesmo informá-lo de que o amava.

Luna sentou-se ao meu lado, colocando uma mão sobre meu ombro, e limpando algumas lágrimas das minhas bochechas. Ela olhou para o meu recém-ex-namorado e perguntou, “Está esperando pelo Harry?”

Eu sabia a que ela se referia. Ele estava ocupado falando com Rufus, provavelmente recusando-se a obedecê-lo novamente. Luna estava meramente perguntando se eu estava esperando até que Harry terminasse com o Ministro. Mas para mim, enquanto eu sorria, a pergunta era mais profunda e significativa, “Sim”, respondi, “Estou espero pelo Harry”

E chorei, não por causa de um coração partido, mas porque Harry poderiam morrer. E eu era forte, porque era isso o que ele precisava que eu fosse. E eu era compreensiva, porque ser qualquer outra coisa, seria egoísmo.

Eles o chamavam de Escolhido, aquele destinado a destruir Voldemort, mas para mim, ele era Harry. Eles também o chamavam Menino-Que-Sobreviveu, apesar do fato que ele nunca pudera viver livremente.

E eu o amava e continuaria a amá-lo enquanto esperava por ele, e amaria-o até o dia de minha morte. E se ele morresse naquela guerra, visitaria seu túmulo todos os dias e deixaria flores e meu coração sobre a terra gramada. Nunca amaria outro, e quando eu morresse, faria com que me enterrassem ao seu lado, e todos saberiam que Ginevra Molly Potter morrera apaixonada.

Eles o chamavam o Menino-Que-Sobreviveu...

... pode me chamar de a Garota-Que-Amou...


Continua...


N/T: AH MEU DEUS!

Posso falar que estou com lágrimas nos olhos?

Esse capítulo é o MAIS BONITO de todos.

(Seca as lágrimas discretamente)

Espero que estejam gostando tanto quanto eu!

Por falar nisso, nosso amigo
thejealousone, vulgo Justin, está escrevendo uma nova história fantástica. Já está tudo acertado e começarei a traduzi-la assim que terminar essa! :D

Estão gostando?

O que acharam?

Respondendo aos comentários do capítulo anterior!


Janaina Potter - Essa fanfic é mesmo o máximo! O que achou do beijo? Gostou? :D
Lola Potter - A Gina é muito safadinha! Mas foi tão triste o final desse capítulo!! O que achou deste capítulo? Feliz ano novo para você também!!
NATALIA REIS - Eu também amo H/G! O que achou dos dois nesse capítulo?
Fl4v1nh4 - O Harry é mesmo tudo! O que achou das cenas dos dois juntos?? Eu sei que eu amei demais!!
jessica - Bom, o Rony e a Gina são irmãos, né? Suponho que devem ser parecidos. Hauiahuiahiuah. Gostou do beijo? Fico contente! Estou mais atenta depois do seu comentário! ;D Será que você vai conseguir viver sem um mês sem net? Eu acho que não conseguiria XD
Naty L. Potter - Não tem problema! Pelo menos, você voltou! Gostou dos novos capítulos?
Daiana Braga Pereira - Atualizei!!
Gina_ - Aqui está o novo capítulo!
Carolz - Novo capítulo postado! Gostou??


Quero mais comentários, OK?

Obrigada por estarem acompanhando!!

Beijos,

Gii.

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