Traduzindo O Coração



Capítulo 11 – Traduzindo o Coração



- Parte I –


“Ele está me olhando de novo, não está, Arnoldo?”

Sentei no ocupado Salão Comunal uma noite depois do jantar, brincando com o meu Mini-Pufe no tapete. Dino já tinha subido para o dormitório para terminar a lição de casa e eu estava ouvindo Harry, Rony e Hermione falarem sobre Malfoy e seu suposto plano. Depois de alguns minutos discutindo, o trio ficou em silêncio e tive a estranha sensação de estar sendo observada.

Arnoldo grunhiu suavemente, seus olhos me encarando inocentemente. Ele saltou das minhas mãos para o chão e esfregou minha perna. Coloquei uma mão na criatura e afaguei-a, afeiçoada.

Aquela não era a primeira vez que desconfiei de Harry olhando para mim. Houve algumas vezes nas últimas três semanas nas quais achei que ele estava olhando na minha direção, mas ignorei a maior parte delas. E eu não ia me virar só para checar.

“Alguém mandou para ele por coruja, então”, Harry finalmente disse, quebrando o silêncio e seu olhar em minha direção.

Depois que Harry e Rony se retiraram para o dormitório, ouvi Hermione me chamar. Segurando Arnoldo em minhas mãos, me levantei e sentei ao lado da minha amiga, na mesa, “E aí?”

“Tenho certeza que ouviu a maior parte, certo?”, Hermione perguntou.

Assenti, “Não posso pensar em nenhuma explicação também”

“Porque não existe nenhuma”, Hermione retrucou, “A não ser a que Malfoy não está fazendo nada. Eu queria que Harry deixasse isso de lado”

Vi Lilá e Parvati se levantarem da mesa e seguirem em direção ao dormitório feminino, cada uma com um risinho animado ao passarem pelo dormitório dos meninos. Lembrando-me do que elas falaram no trem, contei a história para Hermione.

“Como se eu não tivesse notado”, Hermione resmungou, fazendo uma careta aos recentes eventos, “Ela não têm sido exatamente discreta, tem? Oi, Rony! Boa sorte, Rony!”, ela até tentou imitar as risadinhas de Lilá, “Pensa que é tão especial quando fui eu quem ajudou Rony...”, ela se interrompeu.

“Ajudou Rony a quê?”, perguntei, curiosa, vendo seu rosto ficar rosa claro, “Hermione, você realmente enfeitiçou Córmaco nos testes de Quadriboll?”

“Bem...”, ela disse, embaraçada.

“Eu bem que desconfiei!”, retruquei, perplexa. Estávamos falando da Hermione, que odiava burlar as regras e trapacear. Supus que quando o assunto é Rony, Hermione estava sempre disposta a dobrar um pouco sua moral.

“Sinto muito...”

“Sente?”, ecoei, “Não sinta! Não quero um idiota como Córmaco no time. Tá bem mais para obrigada!”

Hermione, buscando por um jeito de parar de falar sobre sua culpa, mudou o assunto para Dino e eu, e perguntou como estávamos indo.

Expliquei que estávamos indo bem, mas não era exatamente o que eu esperava. Não estávamos nos tratando da maneira que costumávamos quando éramos amigos e que era o que me atraíra tanto nele. Na verdade, eu tinha me sentindo bastante desconfortável perto dele na última semana.

Ela me aconselhou a segurar o relacionamento e não desistir tão facilmente se eu pensava que era algo que tinha potencial. Quando o assunto acabou, ela começou a reclamar sobre o estúpido livro de poções que Harry estava usando. Defendi Harry, uma vez que o livro parecia bastante inofensivo.

Quando a multidão se dispersou do Salão Comunal e Arnoldo estava adormecido em meus braços, desejei uma boa noite para Hermione e fui dormir.

Na metade de Outubro e antes da nossa primeira viagem para Hogsmeade, eu estava saindo da aula de DCAT para pegar um livro que tinha esquecido. Esperando que eu pudesse tomar o café da manhã rápido para trabalhar em algumas lições de casa de último minuto, virei-me em direção ao Salão Principal e passei correndo pela gárgula que dava a entrada para o escritório de Dumbledore.

Enquanto eu passava, a escadaria desceu e o próprio Dumbledore saiu e cumprimentou-me com um sorriso, “Gina!”, ele disse, sua voz soando bastante como a do avô que ele parecia, “Faz muito tempo que nos falamos! Antes de mais nada, parabéns pela sua posição de artilheira. Ouso dizer que você pode chegar a competir com os talentos de seu irmão Carlinhos?”

Sorri e sacudi a cabeça, “Não vai acontecer tão breve, diretor”

Seus óculos meia-lua brilharam sobre seu nariz torto, “E como o time tem andando esse ano?”

Pensei em Rony e sua insegurança. A maior parte dos treinos tinham sido fracassos até agora e eu estremeci em como pareceríamos no primeiro jogo, “Nós... er... estamos mostrando potencial”

“Claro que, como professor, não devo mostrar favoritismo pelo time de nenhuma casa”, comentou, os olhos azuis brilhando, “Mas tenho certeza que não falará uma palavra de que estarei torcendo pela Grifinória”

“Seu segredo está a salvo comigo”, respondi.

Comecei a me perguntar porque Dumbledore tinha me parado no meio do corredor. Não é que eu não gostasse de falar com o diretor; é só que normalmente ele tinha uma razão para tudo que fazia além de conversações amigáveis.

Respondendo minha questão, ele enfiou a mão no bolso e retirou um pequeno pedaço de pergaminho de lá de dentro, “Gina, você seria gentil e entregaria isso ao Harry?”, ele estendeu o papel para mim em seus longos e esticados dedos.

Peguei o papel dele e conclui que se tratava da data para a próxima aula deles. Curiosidade me tomou e olhei para o homem com longos cabelos prateados, “Professor, posso perguntar o que está ensinando ao Harry?”

“Ah”, Dumbledore falou, “Um pouco disso, um pouco daquilo”

“Tem algo a ver com a profecia?”

Parecendo extremamente divertido, ele disse, “Eu tinha a impressão de que a profecia tinha se partido e ninguém a tinha ouvido, mas seria tolice minha pensar que você acreditaria em tal meia-verdade”

Isso quer dizer sim?”, perguntei-me. Tantas coisas passaram pela minha mente e queria perguntá-las todas. Rolando o pergaminho até formar um rolo, guardei o papel dentro do bolso do meu uniforme, “O senhor se lembra de quando perguntei sobre o diário?”

“Vividamente”

“Conseguiu descobrir como V-Voldemort conseguiu voltar por meio daquilo?”, perguntei, e prossegui, “Como voltou à vida?”

“Acredito que estou bem mais próximo de resolver o quebra-cabeça”, Dumbledore respondeu.

“Pode me contar?”

Dumbledore suspirou pesadamente e pareceu extremamente dividido, considerando se eu devia saber da informação, “Perdoe-me, Gina”, ele disse suavemente, “Com o tempo, você entenderá porque não posso passar a informação para você”

Eu estava sinceramente magoada. Foi eu quem Tom Riddle possuiu. Fui eu quem ele tinha tentado usado para voltar ao poder. Por que eu deveria ser deixada às cegas? “Diretor”, disse, não fazendo contato visual, “Não permitiu que Rony e Hermione soubessem?”, quando ele assentiu, prossegui, “Posso ajudar Harry, também”

“E ajudará”, Dumbledore disse, seus olhos distantes parecendo bem mais divertidos do que alguns segundos antes, “Quando o tempo chegar, você ajudará Harry de uma maneira que Rony e Hermione não poderão”

Meus olhos se ergueram do chão e encararam suas sábias pupilas. Perguntei-me se ele conseguia ver a mudança no comportamento de Harry em relação a mim e o estava interpretando de maneira diferente da minha, “Diretor, o que isso significa?”

“Minha querida”, Dumbledore respondeu, “Uma pessoa não precisa ler mentes para traduzir o coração”, sorriu, deixando-me compreender o que dissera, “Se me dá licença, Professor Slughorn me convidou ao seu escritório para tomarmos um café da manhã”, deu um tapinha no meu ombro e passou ao meu lado.


- Parte II -


Fiquei parada lá por alguns segundos, vendo as roupas roxas de Dumbledore esvoaçando com o vento proveniente da janela, antes de sair em direção ao Salão Principal. Ele era um homem estranho, decidi, e tão secreto. O que as últimas palavras significavam? Ele tinha lido a mente de Harry e descoberto algo que eu desconhecia?

Analisando a conversa, cheguei ao Salão Principal e localizei o Trio Dourado. Puxei o pergaminho do meu bolso e entreguei-o ao Harry, “Hey, Harry, eu tenho que te entregar isso”

Ele parecia maravilhado em me ver, “Valeu, Gina!”, disse, desenrolando o papel e passando os olhos por ele, rapidamente, “É a próxima lição com Dumbledore. Segunda à noite!”, ele sorriu ainda mais largo, “Quer ir com a gente para Hogsmeade, Gina?”

O quê? Ir com vocês? Junto com vocês três?”, Quanto tempo fazia que eu queria me unir ao Trio Dourado? Quanto tempo fazia que eles tinham me deixado para trás? E quando eu finalmente aceitara isso e encontrei outros com quem me juntar, me convidam?

Irritada com minha falta de sorte, eu disse, “Estou indo com o Dino... Talvez a gente se veja por lá”, acenei para eles e sai, mas não sem antes ver quão desapontado Harry parecia. Se não o conhecesse melhor, acharia que ele estava esperando pela visita para que pudéssemos ir juntos...

“Não”, pensei, “Harry não gosta de você”

Logo depois do café da manhã, Dino e eu andamos de mãos dadas em direção a Hogsmeade. Eu estava nervosa sobre esse nosso encontro que ele queria tanto que acontecesse, não porque eu não quisesse ir, mas porque eu estava apavorada que ele fosse tentar me beijar.

Nós estávamos namorando há três meses e eu ainda não o tinha beijado. OK, nós tínhamos beijado, mas não tínhamos beijado, se é que você me entende. Eu daria uma bicota carinhosa em sua bochecha, ou um selinho, mas o ato não tinha durado mais do que alguns segundos. Parecia estranho agir de outro modo.

E essa era eu, e eu amava beijar.

O clima estava horrível aquele dia. Tinha nevado mais cedo naquela manhã e uns pontinhos brancos empoeiravam o chão. Eles disseram que tinha probabilidade de geada, também. Empacotados nas nossas vestes mais quentes, olhei para Dino.

“Para onde estamos indo?”, perguntei.

“Madame Puddifoot’s”, ele respondeu.

Ótimo”, pensei sarcástica. Ele ia me levar ao local mais romântico de Hogsmeade e esperar que eu o beijasse, e beijasse, e beijasse de novo. Eu não podia agüentar esse tipo de pressão. Talvez tudo o que ele queria fosse um dos seus famosos sundaes. Claro, era provavelmente isso.

Tentando desviar minha mente de futuros eventos, eu disse, “Você acha que teremos tempo de encontrar Rony e eles mais tarde?”

“Não sei”, Dino replicou, “Veremos”

“E quero mandar uma carta para Mamãe antes”, eu tinha mesmo dito isso? Eu não precisava ter feito aquilo. Eu estava meramente tentando acabar com qualquer clima romântico. “Você é uma covarde, Gina”, disse para mim mesma.

Dino não tinha agido muito como ele mesmo ultimamente. Nós costumávamos fazer piadas e nos divertir um com o outro, mas aquelas tinham sido umas semanas estranhas. Acredito que tenha acontecido pouco depois dos testes para o time de Quadriboll. Eu tinha sido escolhida e ele pode ter se sentido excluído, vencido pela própria namorada. Depois, tinha o fato que ele não tinha tentando se amassar comigo. Muitos garotos tentariam, ao menos, uma aproximação.

Falamos muito pouco um para o outro a caminho do correio. Quando chegamos, procurei pelo meu bolso e reclamei ter deixado a carta no meu quarto. Considerei voltar e pegá-la, mas Dino estava ficando ansioso.

Quando passamos pela Dedos-de-Mel no caminho de volta, olhei pela janela e vi Slughorn conversando com Harry. Sorri, pensando que Harry tinha se livrado de mais um dos jantares do professor de poções. Depois franzi o cenho, pensando que eu era forçada a comparecer naquela segunda-feira.

“Você está bem?”, Dino perguntou, apertando a minha mão.

“O quê?”, perguntei, “Ah. Estava pensando em como vou ao meu segundo jantar do Slughorn desde o começo do ano letivo. Harry vai se encontrar com Dumbledore, então ele não poderá colocar nenhum treino no mesmo horário”

“Slughorn não é tão ruim assim”, Dino comentou, “É um homem excêntrico, mas um ótimo professor. Já te contei o que ele nos mostrou no primeiro dia?”

“Não”, passamos pela Zonko’s e me entristeceu que o antigo dono a tenha abandonado. Encarando as janelas obstruídas por tábuas, ouvi Dino falando novamente.

“...acho que Hermione sentiu o cheiro do Rony”, Dino respondeu. Ele devia estar falando sobre a poção do amor Amortentia que Slughorn mostrou ao sexto ano. Hermione teria, de fato, sentido o aroma madeireiro da Toca que os homens da família Weasley têm como uma fragrância natural? “Sabe o que eu senti?”

Chegamos à bifurcação do caminho que levava ou de volta ao castelo ou para Madame Puddifoot’s. Estremeci com o ar de Outubro e apertei ainda mais o casaco em volta de mim. Parei abruptamente e olhei para Dino, que esperava por mim para participar da conversa.

“Gina, não temos que fazer isso se não quiser”

Franzi o cenho, “Não... eu quero...”, mas engoli em seco nervosamente.

Dino sacudiu a cabeça e largou minha mão, “Por que isso tem sido tão estranho, Gina?”

Então, ele tinha reparado. Pisquei algumas vezes antes de responder, tentando descobrir o melhor maneira de abordar, “Não sei, Dino”

“Você gosta de mim?”

“Claro que sim!”, respondi, “É só que é...”

“Estranho”

“É”, concordei, “Achei que fossemos bons juntos, sabe?”

“Sempre nos divertimos muito”, Dino disse, “Éramos bons amigos”

“Exatamente!”, respondi.

“Nos conhecemos há anos e só estamos namorando faz três meses. É claro que vai precisar de um tempo para adaptar”, Dino falou.

Aquilo fazia sentido. Brinquei com isso em minha cabeça por um tempo. Claro que esse era o problema. Nós só precisávamos de um tempo para adaptar a relação. Sorri para ele docemente e fechei minhas mãos enluvadas sobre as dele.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos. A geada estava começando a cair. Gelo começou a se acomodar em seu gorro. Seu rosto sereno lentamente transformou-se em um sorriso maldoso e ele rapidamente se abaixou no chão. Ele formou uma bola de neve enlameada e disse, “Gina, se eu fosse você, começaria a correr”

“Seu safadinho!”, guinchei. Esgueirei-me para longe dele enquanto ele jogava a bola de lama em mim. Ri, vitoriosa, quando a arma congelada me errou. Virei-me, vi Dino se abaixar para fazer uma outra bola, e corri em sua direção com toda a rapidez.

“Oumpf!”, ele grunhiu quando o derrubei no chão. Ele foi direto para o chão e escorregou um pouco de onde estava.

“Haha!”, berrei, “Vitoriosa!”

Dino se levantou, se limpou e pareceu bravo. Minha comemoração foi interrompida e comecei a me desculpei, mas o garoto me enganou. Ao invés de raiva, seu sorriso irrompeu, divertido, e ele me perseguiu.

Quando ficou muito frio para lutar com o clima, nos abraçamos, e Dino esfregou minhas costas para me aquecer. Finalmente senti como se pertencesse aos braços dele. Erguendo meus olhos para seus olhos escuros, comecei a me inclinar em direção ao seu rosto, fechando minhas pálpebras lentamente. Centímetros de distância...

“Você está sendo estúpida, Kátia!”


- Parte III -


Interrompida, virei-me para ver quem tinha falado. Era a Lena, uma garota do sétimo ano, e estava andando ao lado de Kátia Bell. Kátia, outra jogadora do time da Grifinória, segurava um pacote nas mãos.

“Você não entende”, Kátia disse, mas não parecia com ela. Ela parecia distante, como se seu eu verdadeiro estivesse a quilômetros de Hogsmeade.

“Você não pode levar isso para o castelo!”, Lena berrou mais alto dessa vez.

Dino sussurrou para mim, sua respiração fazendo pequenas nuvens de fumaça na minha frente, “Vamos entrar antes que elas cheguem no Filch. Aposto uma corrida com você no três”

“JÁ!”, berrei antes que ele tivesse a chance de contar. Afastando-me de Dino rapidamente, deixei as garotas discutindo e meu namorado às minhas costas. Rindo o mais forte que pude, nunca esperei que a cena que abandonamos fosse levar a um desastre, uma conspiração Imperius para tentar assassinar Alvo Dumbledore.

Kátia tinha sido seriamente machucada. Boatos dizem que se ela tivesse tocado o colar com mais de sua pele, teria morrido. Foi mandada para o St. Mungos e estávamos com uma artilheira a menos em um time completo de Quadriboll.

Claro, Harry suspeitou que Malfoy estivesse por trás do ataque, mas de acordo com a versão de Hermione, o sonserino estava em detenção com a professora McGonagall. Se eu conhecia Harry, ele não deixaria que esse pequeno detalhe anulasse suas suspeitas.

Infelizmente eu tinha acabado de entregar a Harry seu mais recente horário de aulas com Dumbledore e acontecia de ser a noite do jantar de Slughorn. Resmungando e desejando ter perdido o papel, considerei usar o caminho da Sonserina e correr da desgraça, mas Hermione insistiu que eu gostaria de ir naquela noite.

“Além do mais”, Hermione disse enquanto caminhávamos juntas em direção ao escritório de Slughorn, “Você me deve. Tenho vindo a esses jantares sozinha. Tem Córmaco demais para uma única garota agüentar”, ela estremeceu ao pensar no gigante grifinório.

Tive de me impedir de vomitar o almoço. Se aquele garoto chegasse a achar uma posição permanente no time, eu sairia. Não poderia jogar com um idiota daqueles. Felizmente, uma certa bruxa que deve permanecer sem nome tomou aquele problema com as próprias mãos e agora temos Rony como nosso goleiro. Ele podia não ter sido o mais talentoso, mas ele era certamente mil vezes melhor como colega de time.

“Córmaco gosta de você, Hermione?”, cantarolei, apesar de saber que a resposta poderia me causar repulsa.

Hermione me lançou um olhar enojado, “Não quero pensar sobre isso”, disse, “Apesar de ele ter me perguntado se eu queria ser sua acompanhante na festa de Natal”

“Você disse não, claro”, perguntei. Quando ela assentiu, foquei minha atenção na outra parte de sua observação, “Uma festa de Natal?”

“Acho que era muito popular quando ele era um professor em tempo integral. Qualquer um famoso o suficiente que tenha intimidade com Slughorn foi convidado”, Hermione disse, “Ouvi que Eldred Worple e Joanne Rowling estarão lá esse ano...”

“Joanne Rowling?”, repeti, “Mamãe costumava ler para mim aquela história que ela escreveu... Coelho e senhor Abelha... Mas quem é Edward Wimple?”

“Eldred Worple”, ela corrgiu e olhou meu rosto confuso, “Francamente, Gina, abra um livro de vez em quando. Ele escreveu Irmão de Sangue: Minha Vida Entre Os Vampiros

“E podemos levar acompanhantes?”

“Sim”, Hermione respondeu.

“É melhor se apressar se quer ficar na frente de Lilá. Você vai levar o Rony, não vai?”

“É uma possibilidade”, ela disse, casualmente. Viramos o corredor e nos encontramos na frente da sala de Slughorn. Podíamos ouvir as pessoas lá dentro conversando, “Ele não marcou a data ainda, principalmente porque Harry lá. Acho que ele não vai conseguir se livrar desta”

Eu ri. Harry tinha sido sortudo o bastante para evitar tais jantares. Se fosse ele, faria a mesma coisa. Odiaria ter pessoas me bajulando por um passado significantemente duro que me fizera famosa.

Hermione abriu a porta e me introduziu antes de ela. Os alunos do Clube do Slug estavam reunidos no centro da sala, conversando com uma pessoa bem conhecida, obviamente. Olhei para Hermione e ela deu de ombros, travessa.

“Gina!”, Slughorn cumprimentou. Apressando-se em minha direção, seu papo balançou e seu bigode sacudiu-se para frente e para trás, “Harry não mudou de idéia, então?”, ele olhou de mim para Hermione que sacudimos a cabeça, para sua tristeza, “Que pena. Eu tinha um tratamento especial para todos os meus jogadores de Quadriboll esta noite”, ele gesticulou para a multidão de colegas nossos, “Senhorita Jones”, ele disse, direcionando-se a multidão.

A multidão se dividiu. No centro estava uma mulher alguns centímetros mais alta que eu. Reconheci-a imediatamente. Seus cabelos escuros e proeminentes olhos brilhantes eram inconfundíveis. Tinha-a visto muitas vezes em Quadriboll Ilustrado. Parada à minha frente estava a capitã das Holyhead Harpias, Guga Jones.

“Gostaria que você conhecesse uma donzela um tanto quanto fascinante”, Slughorn disse, acompanhando-a em minha direção, “Gina Weasley”

Atordoada, apertei sua mão, “Oi”, consegui dizer. Aquela era a Guga Jones, batedora de um time internacional de Quadriboll. Tinha levado o time para o terceiro lugar ano passado e, pelo jeito, estavam com tudo esse ano. O time parecia perfeito.

“Horácio tem estado ocupado falando sem parar sobre você e Harry Potter”, falou, “Dizem que Harry é o melhor apanhador que essa escola viu em anos”

Assenti, “Ele é”

“Mas também dizem que você tem habilidade nata com vassouras”, disse. Ela segurou um omnóculos, “Horácio foi bondoso o bastante para me providenciar uma amostra”, ela ergueu o objeto na altura dos olhos e olhou lá dentro, “Sim, entendo o que eles dizem”

“Obrigada, senhora Jones”, falei, sem saber muito bem o que dizer.

“Me chame de Guga”, retrucou, e depois perguntou, “Você tem ainda dois anos de colégio?”, quando confirmei, ela continuou, “Só pode melhorar”, ela enfiou a mão no bolso e tirou de lá de dentro um cartão. Entregou-o a mim, “Quando se formar, assegure-se de nos procurar. Podemos precisar de suas habilidades”

Peguei o cartão e estudei-o. Em letras douradas brilhantes, seu nome estava no topo, seguido pelo status de capitã, sua posição no time e endereço. Estava muda enquanto virava o cartão em minha mão. Uma jogadora profissional de Quadriboll me considerou talentosa e me deu a possibilidade de seguir uma vida que eu só podia sonhar com.

“É uma pena que eu não pudesse conhecer Harry Potter esta noite”, ela disse, sorrindo da minha fascinação com o cartão, “Eu gostaria de dar-lhe um cartão”

Eu não queria ser grossa e lembrar-lhe que seu time era composto por mulheres, algo que ela com certeza já sabia. Ela deve ter identificado minha confusão, porque sorriu, “Conheço alguns times que adorariam tê-lo, embora tenha que admitir que me sinto tentada a burlar a regra só-para-mulheres”

Sorri de volta para ela. Todas as matérias sobre a mulher observavam o quanto ela adorava competição. Se ela desejava passar Harry para outro time, devia ser verdade. Mas tinha um problema, “Ele vai ser auror”, eu disse.

Guga assentiu, compreensiva, “Não esperava menos dele”

Horácio interrompeu e nos lembrou que o jantar esfriaria rápido. Seguindo sua direção, Guga e eu nos sentamos próximas uma da outra, mastigando um pedaço de torta de carne de fígado e bebericando nosso suco de abóbora. Trocamos histórias sobre Quadriboll e contos sobre vôos a noite inteira, rindo juntas e aproveitando a atmosfera agradável. Perto do fim da refeição, tiramos várias fotos juntas.

Deixando a festa naquela noite, eu estava eternamente grata que Hermione tivesse me forçado a ir ao evento. Ainda segurando o cartão em minha mão, virei-me para ela e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela falou, “Eu não disse que você iria querer vir?”, sem qualquer palavra, abracei minha amiga.

Harry precisou de algum tempo para substituir Kátia. Quando finalmente convidou Dino, ele estava exultante em fazer parte do time. Eu estava contente por ele, também, embora Simmas não tenha gostado muito da idéia. Ele afirmava que tinha treinado Dino e que não era justo. Pensei que suas reclamações eram infundadas, já que Dino foi melhor nos testes.

O primeiro treino com Dino foi muito bem... a não ser por Rony. Eu não conseguia entender como meu irmão podia estar ficando pior depois de todo os treinos que tivemos. Quando ele fez a boca de Demelza sangrar, Harry terminou o treino alguns minutos depois.

Depois de sair do vestiário, Dino e eu saímos de mãos dadas. Ele conversava animadamente sobre o jogo porvir e o gloriei por um trabalho bem feito. Sorri. As coisas estavam andando muito bem com ele desde a nossa conversa em Hogsmeade. Já não era mais estranho quando estávamos juntos.

Pegando um atalho para a torre da Grifinória, Dino me parou no corredor deserto. Envergonhado, ele tirou um pedaço de papel de sua roupa e desdobrou-o, “Eu queria dar isso a você, Gina”, disse, entregando-me o papel.

Perdi meu fôlego. Era maravilhoso e cheio de detalhes. Parecia que eu estava olhando um espelho. Ele tinha captado a cor exata do meu cabelo e mesmo a mecha que sempre ficava solta e caía na minha bochecha. Ele tinha lembrado de cada uma das minhas sardas mais proeminentes, “Isso é lindo”, sussurrei. Observando o retrato, perguntei se ele usara mágica para captar aqueles intrigantes detalhezinhos.

“Não”, ele respondeu.

“Onde aprendeu a fazer isso?”

“Aula de artes, no primário”, retrucou, “Apesar de eu sempre ter tido facilidade para isso, mesmo antes da minha mãe me mandar para o colégio trouxa”

E naquele momento, olhando para aquele memorável retrato de mim mesma, sabendo que deve ter sido preciso horas para criá-lo, sabendo que ele deve conhecer meu rosto tão bem para desenhar cada pequeno detalhe, quis beijá-lo. Dobrando o desenho o mais rápido que pude e guardando-o no meu bolso, empurrei-o contra a parede e o fiz.

E não pensei que estava beijando meu amigo. Não pensei que era estranho. Lá, no corredor silencioso, nada mais importava. Ele era meu namorado e eu era sua namorada e queria beijá-lo... queria...

“Oi!”


- Parte IV –


Minutos mais tarde, fechei a porta da entrada da passagem com tanta força quanto possível. Enxuguei lágrimas de raiva dos meus olhos, negando-me a me submeter perante tal sentimento que eu não conseguia nem começar a entender. Ser pega me agarrando por meu irmão e Harry não estava na lista de coisas que eu queria fazer antes do fim da minha vida.

As palavras de Rony não tinham sido diferentes do que ele normalmente falaria, mas aquele momento era diferente. Ele tinha interrompido uma cena íntima e eu estava furiosa por vários motivos. Um, ele não tinha o direito de falar com de quem eu devia ou não gostar, namorar, beijar, me agarrar, mesmo transar se fosse o que eu quisesse. Dois, ele era muito covarde para juntar a coragem e convidar Hermione para sair e lá estava ele, bravo, e eu estava feliz...

Me dirigi às escadarias que davam acesso ao porta-retrato, pisando duro nos degraus de pedra enquanto repassava as coisas que tinha dito ao Rony em minha cabeça. Furiosa, percebi que tinha passado uma linha que eu não estava preparada para passar. Se eu estivesse mentalmente calma, teria conseguido fazer Rony entender o meu ponto de vista, mas eu estava furiosa e minhas palavras não podiam ser controladas.

E Rony tentando constantemente me enfeitiçar não ajudou em nada para acalmar minha raiva. Ele tinha sorte de eu não ter uma visão clara dele. Ele pode ter errado a pontaria, mas eu não faria o mesmo. E ele devia se considerar sortudo por Harry tê-lo empurrado contra a parede...

“Harry...”, e aí estava o terceiro motivo pelo qual eu estava tão furiosa. Eu nunca quis que Harry me visse beijando Dino – ou qualquer outra pessoa, sob essa perspectiva -, mas isso não era o que mais me afetava como a terceira causa da minha fúria.

Quando Dino e eu nos separamos do beijo, Harry tinha uma expressão muito curiosa no rosto. Enquanto Rony me acusava pelo meu suposto comportamento indecente, Dino tinha tentado apelar para Harry, dando-lhe um sorriso semi-macho do tipo criança-pega-com-a-mão-no-pote-de-biscoito. Harry não o retornou e Dino optou por sair.

A expressão não abandonou seu rosto enquanto Rony e eu discutíamos. Harry não disse uma palavra sequer até que Rony quase me insultou, e Harry me defendeu. Harry não se moveu até que Rony sacou sua varinha na minha direção, e Harry se colou entre meu irmão e eu. Harry não agiu até que Rony quase me atingiu com um feitiço laranja, e ele empurrou Rony com tanta força contra a parede que eu podia jurar que era outra pessoa.

Cheguei ao quadro da Mulher Gorda e ela estava sentada lá, dormindo. Murmurei a senha para ela, mas ela não acordou. Aceitando sua hesitação, pensei no olhar que Harry me lançara outra vez. Eu não podia suportar, o olhar que eu não podia decifrar, o olhar que nunca vi lançar na minha direção antes, o olhar que eu jurava só poder significar ciúmes...

“Cala a boca, Gina... ele não está com ciúmes... nunca esteve, nunca estará...”

“Pó de fada!”, berrei e a Mulher Gorda quase pulou para fora da moldura. Ela pareceu que ia reclamar, mas depois de olhar para meu rosto furioso, ela murmurou algo e o porta-retrato se abriu.

Trovejando Salão Comunal adentro, Dino estava esperando por mim. Tentei desejar boa noite para ele rapidamente, mas ele pegou minha mão e tentou me acalmar. Eu não queria ser grossa, então apertei sua mão e desejei boa noite novamente. Virei-me para o dormitório, com minhas costas voltadas para ele, e ele disse algo que me paralisou.

“Você viu o olhar que Harry me lançou?”, Dino perguntou, “Você acha que ele gosta de você?”

Sem me virar, forcei uma gargalhada e tentei ignorar a sensação que essas palavras me passavam, “Sem chance, Dino”, retruquei, “Ele me vê como a uma irmã. Se você está preocupado, acho que eles vão voltar logo”

Sem outra palavra, subi as escadas. Abrindo minha porta com certa violência, não gastei tempo para tirar as vestes de Quadriboll e jogá-las no canto do quarto. Remexi a gaveta e encontrei meus pijamas, o tempo inteiro repassando os eventos pela minha mente perturbada.

Harry gosta de mim.

Não gosta, não.

Mas aquele olhar que ele estava lançando a você...

Era o olhar que um irmão lançaria.

Mas Rony não olhou para você daquele jeito.

É, mas o Rony é um idiota.

Excelente observação.

Eu não podia me permitir pensar daquela forma. Desde que encontrei Harry na estação King’s Cross, eu mantive esperanças tolas, esperando irracionalmente que ele me notasse e gastando tempo demais analisando mais do que o necessário cada mísero olhar, cada mísera palavra, cada porcaria de mísero ato dele. Estava cansada disso.

Deitada na cama, encarando o teto, decidi que o olhar, o olhar tão curioso, era nada mais do que Harry olhando para alguém que ele considerava uma irmã mais nova e querendo protegê-la. Simples assim. Nada mais, nada menos...

Mas quando fui levada pelos meus sonhos, contei uma história diferente. Encontrei-me naquele mesmo atalho novamente, mas não com Dino, com Harry. Harry, e não Dino, estava me beijando e aquilo era algo que irmãos não faziam... Ah, era fácil trair meus pensamentos conscientes, mas fazer o mesmo com sonhos eram impossível.

Os dias seguintes, em relação a Rony, foram horríveis. Toda vez que passava por mim, ele olhava para frente e se negava a olhar para mim. Eu não achei que fosse possível que Rony piorasse de novo, mas no treino foi tão horrível, chegando até mesmo a reduzir Demelza às lágrimas. Eu jurava que ele estava prestes a dar um soco na cara do Harry.

Eu esperava que Rony reagisse às minhas palavras. Estava preparada para sua raiva direcionada a mim, que nunca durava mais do que alguns dias, mas eu não esperava que Hermione recebesse o pior da raiva de Rony. Rony não tinha tido nenhuma motivação em relação a Hermione.

Quando Hermione me procurou, quase às lágrimas, na noite anterior ao nosso primeiro jogo de Quadriboll, fiquei relutante em lhe contar o porquê de Rony estar agindo tão diferente. Quando finalmente contei a ela o que acontecera alguns dias antes, ela ficou quieta e não falou por alguns minutos.

“Você tinha que falar para ele sobre o Krum?”, Hermione sussurrou, assoando o nariz com um lencinho, “Faz mais de um ano. Não significa mais nada”

“Eu não estava pensando direito. Desculpe”, falei. Me sentia tão horrível, pensando no quanto eu tinha aumentando os obstáculos para Hermione.

“Por que ele tem que ficar tão bravo comigo?”, Hermione perguntou, voltando-se para ninguém mais do que eu. Ela sacudiu a cabeça e se levantou para partir. Quando perguntei para onde ela ia, ela falou, “Preciso ficar sozinha”, ela saiu do quarto, mal olhando para mim. Não podia culpá-la por estar brava comigo. Eu estaria brava comigo.

Mas Hermione esqueceria completamente sua raiva em relação a mim na noite seguinte.

Rony entrou no Salão Comunal parecendo irritado. Enquanto ele fechava o buraco do porta-retrato, os grifinórios o aclamaram e até mesmo o encontrei para dar um tapinha nas costas congratulador. Ele tentava desesperadamente esconder a satisfação de ser o centro das atenções. Agarrando a mão de meu irmão, falei para ele, “Eu posso ainda estar brava com você, mas aquele foi um jogo excelente”

Antes que Rony pudesse dizer qualquer coisa, Lilá ficou do meu lado e sorriu impetuosa. Ela se inclinou na direção de Rony e sussurrou algo em sua orelha e depois de alguns segundos, o sorriso de Rony era maior que o corpo de Córmaco. Ele me olhou zombeteiro enquanto assentia para Lilá. Ela agarrou sua mão e o guiou para longe de mim. Eles se sentaram na cadeira mais próxima e começaram a se beijar com entusiasmo.

O Salão Comunal ficou mortalmente quieto por cinco segundos, enquanto eles assistiam a estranha cena à sua frente. Quando Harry entrou, os ânimos estavam uma vez mais ativos e envolveu o capitão em clamores e berros de júbilo. Parei ao seu lado, esperando falar com Harry uma vez mais antes de encerrar o dia.

Olhei para meu irmão e sua parceira de beijo e meu estômago revirou. Quando Harry se livrou de todo mundo, falei com ele brevemente e dei o fora, deixando-o meditar sobre as ações do melhor amigo. Virando-me, a vi.

Hermione estava paralisada entre Romilda e Córmaco, encarando Rony e Lilá. Seu rosto deixando clara a sua aflição. Sua boca estava levemente aberta, movendo como se ela quisesse dizer algo e seu lábio inferior começou a tremer. Seus olhos cintilaram quando a luz das velas iluminou suas pupilas, e eu não conseguia entender como as lágrimas não tinham caído ainda. Eu estava indo confortá-la quando uma mão me puxou.

“Bom jogo, Gina”, Dino disse, beijando-me nos lábios, e entregando-me um momento de distração. Soltei-me dele rapidamente, mas Hermione tinha saído. Apesar de não saber para onde, vi Harry saindo pelo buraco do retrato e conclui que ele deve tê-la seguido.

“Meu irmão é o maior idiota que conheço”, murmurei, voltando os olhos para meu namorado.

Ele deu de ombros, “Não era como se ele e Hermione estivessem namorando, era?”

Eu não queria dizer nada. Duas das pessoas mais importantes da minha vida não estavam em termos amigáveis comigo naquele momento e eu não precisava de uma terceira com quem me frustrar. Formei o melhor sorriso possível que pude dar, disse a Dino que ia dormir, e sai do Salão Comunal, despedindo-me de todos.

Hermione rapidamente me encontrou, no dia seguinte. Quando a vi caminhando em minha direção, esperei que começasse a falar sobre Rony instantaneamente. Ao invés disso, ela me abraçou, pediu desculpas por ter sido tão fria comigo e começou a falar sobre a festa de Natal que estava porvir. Eu mal ouvi, tentando entendê-la. Ela estava agindo como se nada tivesse acontecendo, e fazendo um ótimo trabalho.

As semanas seguintes não melhoraram em nada a situação. Rony e Lilá estavam unidos pelos lábios a cada chance que tinham – o que era, aparentemente, uma quantidade absurda. Qualquer um próximo a Rony se sentia extremamente desconfortável e aposto que Harry, pela primeira vez, estava feliz por estar nas aulas, então os pombinhos não podiam ficar agarrados. Eu estava secretamente feliz que os gêmeos não tenham inventado Lábios Extensíveis ao invés das orelhas.

Hermione os evitava a todos os custos, o que era fácil de fazer quando eles estavam juntos. Eu ainda não tenho certeza de como ela conseguiu viver com Lilá no mesmo dormitório. Imaginava ela tentando dormir enquanto Lilá e Parvati fofocavam sobre Rony, o tempo todo tentando abafar os ouvidos com o travesseiro. Talvez ela tenha usado um feitiço Imperturbável.

“Será que dá para desistir, Gina?”, Hermione sussurrou para mim, na biblioteca. Eu tinha tentado, em vão, convencê-la de falar com Rony, “Não vou falar com ele quando não fiz nada para merecer esse tratamento, exceto por beijar Vítor Krum”

Distrai-me olhando para a mesa, “Eu sinto muito mesmo”, falei, tentando me redimir pela brecha que dera semanas atrás. Eu podia ter acabado com todas as chances de Hermione ser minha cunhada e me sentia horrível.

“Já falamos sobre isso!”, ela rosnou, folheando o seu livro de Encantos enquanto eu ouvia Pirraça cantarolando um cântico natalino nos corredores, “Você não poderia saber como Rony reagiria. Não a culpo por nada. Rony é perfeitamente capaz de ser um idiota sozinho”

Assenti, mas não conseguia expulsar o sentimento de responsabilidade. Queria dizer mais sobre o assunto, mas Hermione me silenciou novamente e mudou de assunto.

“Além do mais”, ela disse, “Precisamos nos preocupar com o Harry agora”


- Parte V -


Meu coração acelerou. Eu omitira os detalhes do olhar de Harry quando contei a ela sobre Rony e ele me flagrando beijando Dino e eu ainda tinha que discutir essa atitude de irmão mais velho recém adquirida por Harry. Tinha deixado esses detalhes fora das nossas conversas, porque eu não queria incomodar Hermione enquanto ela estava fervendo em fúria com Rony. Fiquei satisfeita em constatar que ela notara sem que eu dissesse nada.

“Ouvi um grupo de garotas, no banheiro, falando em fazê-lo beber uma poção do amor”, Hermione respondeu, destruindo minha teoria de que ela tinha percebido as atitudes de Harry em relação a mim, “Ele terá grandes problemas se não convidar alguém logo”

Imaginei-me, por um segundo, aceitando o convite de Harry para a festa e caminhando de mãos dadas para o escritório de Slughorn. Expulsei aquela imagem da minha mente e juntei minhas coisas, inventado a desculpa de que eu precisava encontrar Dino.

Indo rapidamente em direção a saída, virei o fim do corredor e esbarrei direto com Draco Malfoy. Meus livros voaram para todas as direções enquanto o sonserino loiro dava um sorrisinho rouco. Abaixei-me para recolher minhas coisas e ergui os olhos para ele. Ele parecia não ter tido uma boa noite de sono em semanas.

“Veja por onde anda, Weasley”, zombou, pisando em um dos meus livros em direção à entrada da biblioteca. Não disse mais nada enquanto se esgueirava para dentro do recinto.

Resmunguei algumas palavras em sua direção e encarei a biblioteca, pensando em todas as maneiras que poderia azará-lo na próxima vez que nos encontrássemos. Voltei-me para a minha tarefa e encontrei-me encarando o mais fantástico par de olhos esmeralda que eu já tinha visto.

Harry estava abaixado na mesma altura que eu, segurando meus livros de Poções na minha direção. Ele me deu um sorriso envergonhado, “Tudo bem, Gina?”

Assenti e tudo pareceu derreter enquanto eu me perdia em seus olhos, “Só derrubei minhas coisas”, sussurrei, esquecendo de qualquer filho de Comensais da Morte que cruzara meu caminho.

Entregando-me o último livro caído, nós dois nos levantamos, “Estou procurando pela Hermione. Ela está aí?”, perguntou.

“Cansado de ser a platéia do Rony?”, questionei.

Assentiu, “Eu gostaria que eles só voltassem a ser amigos novamente”

“Você sabe o quão teimosos eles são”, rebati, “Veja há quanto tempo eles gostam um do outro”, eu sabia que estava entrando em águas perigosas, revelando um pouco dos sentimentos pessoais de Hermione, mas eu não achava que ainda era um segredo. Harry ou tinha falado com Rony sobre isso ou notado o mesmo, porque concordou.

“Então, vai levar o Dino para a festa?”, Harry perguntou, e pensei ter visto um brilho nos seus olhos quando pronunciou o nome de Dino, mas assumi tê-lo imaginado.

Assenti, quase odiando por informar-lhe tal coisa. Apontei para ele e disse, “Tem uma fila de garotas esperando para ser convidada pelo famoso Harry Potter. Qual chamou sua atenção?”

Harry pareceu que ia ficar enjoado. Ia perguntar se ele estava bem, mas Pirraça interrompeu, gargalhando e berrando, “Weezy e Potty!”, berrou, apontando para acima de nossas cabeças, na direção do teto, “Melhor não quebrar as tradições natalinas”

Ambos olhamos para cima e vimos o azevinho que não estivera ali segundos atrás. Pirraça tinha obviamente colocado-o lá enquanto estávamos distraídos. Ri nervosamente enquanto olhava para Harry, que parecia estar começando a ficar enjoado uma vez mais.

Enquanto Pirraça dançava em nossa volta, segurei nervosamente o livro em minhas mãos, esperando derrubá-los novamente em antecipação. Claro que eu sabia que ele não ia me beijar debaixo do azevinho por muitas razões, a primeira e principal sendo que ele não tinha desejo algum de beijar alguém que ele via como sua irmã mais nova, mas eu não podia evitar pensar...

“Dino!”, quase berrei, vendo meu namorado andando pelo outro extremo do corredor. Dando um tapinha no ombro de Harry, quase corri para Dino. Fiquei levemente corada como se tivesse sido pega no flagra. Não tinha motivo para me sentir culpada. Não era como se eu tivesse planejado o encontro embaixo do azevinho.

“Aquilo era um azevinho?”, Dino perguntado, olhando para a entrada da biblioteca. Olhei para trás e não vi Harry, mas Pirraça agarrou o objeto e saiu flutuando na direção contrária.

Atropelando as palavras, tentei explicar a situação para ele. Dino simplesmente sorriu quando entendeu o que acontecera. No final da minha história, Dino falou, “Não estou bravo com você. Era o Pirraça”, acrescentou, tentando acalmar minha expressão preocupada, “Não importa o que você diga, Gina. Harry não pára mais de olhar para você”

Depois do comentário esclarecedor de Dino, comecei a estudar ainda mais o comportamento de Harry. Era definitivamente suspeito. Por exemplo, sempre que pegava com Harry olhando na minha direção, ele fingia que não estava olhando para mim, e ele continuamente tentava encontrar momentos de contato físico, mas se afastaria logo depois, como se tivesse cometido algum tipo de pecado mortal.

Uma das evidências mais significantes de que Harry estava começando a gostar de mim foi seu convite à Luna para a festa natalina de Slughorn. Sem qualquer ofensa à Luna, porque ela é uma pessoa absolutamente adorável, ela não é o tipo de pessoa que a maioria dos garotos estenderia a mão romanticamente. Harry ir com a Luna para a festa era equivalente a Harry levando sua irmã (se tivesse uma). Ela era uma opção segura.

O que significava que Harry não podia convidar quem ele realmente queria. Continuei analisando-o intensamente para descobrir se qualquer outra garota causava nele aquele olhar ansioso que ele costumava ter quando olhava para Cho, mas ele não estava olhando para ninguém... OK... risca isso... ele estava olhando para mim.

Com tudo isso ocupando minha mente, precisava falar com Hermione. Ela não me guiaria na direção errada e seria uma chance excelente de distraí-la de sua recente discussão com meu irmão. Ao invés disso, ela me surpreendeu com a informação de que tinha aceitado o convite de Córmaco para a festa de Natal.

Você o quê?”, perguntei, perturbada, esquecendo completamente de Harry por um momento, “Hermione, você só está fazendo isso para deixar Rony com ciúmes”

“Ah, não estou”, e riu, não como um riso da Hermione, mas um riso eu-sou-uma-colegial-tentando-me-vingar-do-garoto-que-eu-gosto, “Além do mais, você não pode falar nada. Você tem tentado fazer ciúmes no Harry há mais de um ano”

Como é que é?”, perguntei, incrédula, “Acontece que eu gosto muito do Dino. Pode dizer o mesmo em relação ao Córmaco?”

“Claro que posso”, ela disse de uma forma não muito convincente, “Ele é forte... e ele é muito bom em Quadriboll...”

“Você não se importa com Quadriboll!”, gritei, histérica, “Você se importa com o Rony! Francamente, Hermione, você é a melhor no colégio, mas quando se trata de problemas do coração, você é tão cega quanto ele”


- Parte VI -


Mais tarde naquela noite, Dino e eu estávamos bebendo ponche numa boa mesa afastada, no canto da festa de Slughorn. Enquanto ele falava sobre seus planos para as férias, me diverti com os relances de Harry salvando Luna de situações desconfortáveis.

“Ela realmente seguiu em frente”, Dino disse, apontando para o casal um tanto quanto estranho formado por Hermione e Córmaco. Ela parecia aterrorizada por estar perto dele, “Você acha que ela gosta mesmo do idiota?”, me perguntou.

Escarneci e sacudi a cabeça, negando. Enquanto assistia os dois, Córmaco apontou avidamente para um azevinho. Antes que Hermione pudesse reagir, ele tinha colado seus lábios nos dela. Cobri minha boca com a mão, numa mistura de nojo com diversão.

“Isso é revoltante”, Dino disse, fingindo vomitar.

“Bem feito”, retruquei, assistindo-a escapar do amasso babado de Córmaco e fugindo pela multidão. Senti-me levemente deprimida pela situação por um momento, venho que tinham sido minhas palavras que começaram esse fiasco Rony-Lilá-Hermione-Córmaco. Recuperei-me do pensamento imediatamente. Não era minha culpa que Rony tivesse interpretado minhas palavras da forma que interpretara e não era minha culpa que Hermione escolhera um idiota babão para conseguir fazer sua vingança.

“Não é essa a Rita Skeeter?”, Dino questionou, apontando na direção da jornalista papeando com uma mulher de meia-idade.

“O que essa repórter idiota está fazendo aqui?”, rosnei. Pensei que ela não fosse aceita nos terrenos de Hogwarts. Esperava que ela não estivesse pesquisando por novas maneiras de arruinar a vida de alguém. Ela me aborrecia apesar do fato de ter parcialmente se redimido Fevereiro anterior.

Aparentemente, um cavalheiro baixo estava se perguntando a mesma coisa. Ele correu até ela na companhia de um homem alto um tanto mal encarado e proclamou alto, “Rita? O quê, diabos, você está fazendo aqui?”

“Horácio me convidou, Eldred. Já que fui re-contratada pelo jornal, ele tinha esperanças que eu escrevesse um bom artigo para inflar seu ego”, Rita retrucou.

Eldred...?”, perguntei para mim mesma. Aquele devia ser o autor sobre quem Hermione falara. Perguntei-me se ela conseguira encontrá-lo. Olhei para o homem que acompanhava o escritor. Esfomeado, ele me encarou.

“Você acha que ele é o vampiro que falaram que viria?”, Dino perguntou, “Ele parece com um, pelo menos”

Silenciei-o. Tinha acabado de ouvir Eldred mencionar o nome de Harry.

“... e lhe disse que poderia fazer muito dinheiro. O garoto recusou”, Eldred falou, perturbado, “Tem que me dizer, Rita, como você conseguiu aquela entrevista exclusiva com o garoto no inverno passado?”

Rita reposicionou os óculos, “Ele a estava fazendo para ser nobre”, revirou os olhos enquanto continuava, “O garoto não veria uma oportunidade de negócio nem que ela a estivesse encarando de frente”

“Acho que precisamos de mais pessoas com ele, então”, a outra mulher finalmente se pronunciou.

Eldred voltou-se para ela, extremamente surpreso que houvesse outra pessoa na conversa, “Tivemos o prazer de nos conhecer?”

“Essa é Joanne Rowling”, Rita apresentou-a, “Ela é uma autora, também, mas nem de longe tão conhecida quanto você. Talvez se lembre de seu conto infantil? Coelho e senhor Abelha?”

Eldred esticou a mão e sacudiu a mão estendida de Joanne, “Meu filho adora a história”, Eldred retrucou, “Mas escreveu aquilo anos atrás, Joanne. Certamente está planejando algo”

“Viajando muito”, Joanne falou, “Fiz muitas universidades trouxas no exterior. Eles têm uma cultura fascinante”

“Joanne aqui é o que chamamos no mundo jornalista de puritana”, Rita disse, “Acha que uma história deve ser contada para o bem das pessoas”
Joanne olhou para Rita, irritada. Presumi que aquilo fosse uma discussão que elas tiveram antes. Joanne falou, “E você acha que uma história só deveria ser contada se valesse um galeão”

“Tenho bocas para alimentar”, Rita rebateu. Voltou sua atenção para Eldred que parecia se divertir com a discussão, “O que pensa?”

“Francamente”, Eldred disse, “Eu não escreveria algo que eu soubesse que não faria meus bolsos ficarem mais pesados”

Joanne sacudiu a cabeça, desapontada, “Essa é uma política crescente pelo mundo”, falou, “Autores, repórteres...”, listou, “O Profeta Diário é um ótimo exemplo”, deu uma pausa, enquanto tentava recordar da próxima informação, “Na verdade, o mundo trouxa está indo pelo mesmo caminho. Ainda na semana passada, falei com um repórter do New York Times e ele me disse a mesma coisas que vocês dois disseram”

New York Times?”, Rita questionou.

“O jornal trouxa dos Estados Unidos”, Joanne replicou, “Decaindo rapidamente, na minha opinião”

“Vocês viram Hermione?”

Pulei quando Córmaco pareceu surgir do nada. Rapidamente fingi ter visto minha amiga perto da porta e falei isso para Córmaco. Ele rapidamente sumiu pela multidão, mas ocupando o lugar dele estava o vampiro que tinha feito seu caminho na direção da nossa mesa.

“Sanguini, falei para não andar por aí!”, Eldred berrou, agarrando o vampiro e escoltando-o para longe da nossa mesa. Mantendo a mão firme em seu convidado, Eldred olhou para Joanne, “Gostaria de conhecer Harry Potter?”

Joanne imediatamente assentiu, mas depois balançou a cabeça, “Já está tarde e tenho que ir...”

Os quatro desapareceram. Olhando na direção da porta, vi Harry se esgueirar para a Capa de Invisibilidade. A porta abriu aparentemente sozinha e depois se fechou. Sem mais distrações, voltei minha atenção para Dino.

“Me concede essa dança?”, Dino perguntou, enquanto a música Celestina Warbeck começou a chegar aos nossos ouvidos. Era uma música adorável e o momento oportuno.

“Claro”, falei, colocando minhas mãos nas dele.

Nos levantamos, e sem nos importar se mais alguém estava dançando ou não, nós acompanhamos a música lentamente nos braços um do outro, e aproveitamos o resto da festa de Slughorn. Talvez, se tivéssemos a chance, poderíamos acidentalmente passar por um azevinho.


- Parte VII -


O feriado de Natal chegou e eu estava triste que Rony e Hermione ainda não tivessem se reconciliado. Aquilo significava que ela provavelmente não iria nos visitar no feriado. Sentada no meu quarto, embrulhando presentes de natal para minha família, ouvi minha porta se abrir e me voltei para ver quem era.

“Fred! Jorge!”, berrei, derrubando as caixas e correndo na direção dos meus irmãos a quem não via desde o verão. Abracei os dois e falei o quanto senti sua falta.

Fred e Jorge olharam, por cima do meu ombro, a pilha de caixas depositada na minha cama, “O que é que você está fazendo, querida irmã?”, Fred perguntou, me rodeando e checando os papéis de embrulho e presentes.

“Embrulhando presentes”, respondi.

“Algo para nós?”, Jorge questionou, observando a calculadora trouxa que tinha encontrado para Papai no vilarejo local.

“Felizmente, eu já embrulhei o presente de vocês”, falei, apontando para duas caixas coloridas bem embrulhadas no topo da pilha das caixas arrumadas. Cada uma delas tinha uma garrafa de saliva de Droxy que eu tinha encontrado nos porões de Hogwarts. Os gêmeos tinham me falado que estavam ficando sem e precisavam de mais.

Fred e Jorge pegaram suas respectivas caixas e deram uma boa sacudida, mas não houve barulho algum. Pedi a Mamãe que fizesse um feitiço anti-sacudidas nas caixas para mim. Desapontados, os gêmeos desistiram e centraram sua atenção em mim.

“Ouviu as boas novas?”, Fred perguntou.

“Mamãe deve ter te dado o presente de natal adiantado”, Jorge disse.

“O quê?”

“Pode ser que ela faça você dividir o quarto com Fleur”, Fred falou.

Rosnei. Isso faria o meu Natal tão maravilhoso, pensei sarcasticamente. Como se passar o verão inteiro com Fleur não fosse tortura o suficiente, agora eu teria que dividir o mesmo quarto com ela. Rezava para que Mamãe mudasse de idéia.

“Por que ela não pode ficar com Gui?”, perguntei-me em voz alta, “Eles vão se casar”

“Você sabe como a Mamãe é”, Jorge rebateu.

Das antigas”, pensei. Expulsei os pensamentos de ficar no mesmo quarto que a francesinha da minha mente e perguntei-me se eu devia dar algo a ela de Natal. Não tinha pensado sobre isso e certamente não pensaria mais no assunto.

“Como a loja está indo?”, perguntei, mudando de assunto.

“Nós tivemos uma quantidade impressionante de pedidos de Hogwarts antes do feriado”, Fred comentou.

“Vinte poções do amor para vinte mocinhas ávidas”, Jorge falou.

“E sinceramente esperamos que você não seja uma delas”, Fred acrescentou.

Ri. Para que precisava de uma poção do amor, quando tinha Dino? “Talvez tenha sido assim que Lilá se apaixonou por Rony”, murmurei.

Os gêmeos me olharam animados e perguntaram o que eu quis dizer com o comentário. Ri, contei a história a eles e supliquei que eles tirassem sarro dele por isso. Eles concordaram, mas expressaram suas surpresas por Rony ter escolhido Lilá como companheira de amasso e não Hermione.

Depois de toda minha observação sobre Harry nos últimos quatro meses, em algum lugar nesse meio tempo eu tinha tornado um jogo de satisfação pessoal de tocá-lo a toda oportunidade. Por uma desculpa qualquer, eu dava um tapinha em seu ombro, divertidamente bater na sua perna, mesmo tirando aquele pó de seu cabelo, só para ver a reação que receberia. Notei que qualquer contato físico com ele resultava na mesma resposta tensa e tenho vergonha de admitir que eu tinha algum tipo de nociva fascinação ao ver os arrepios subindo o seu braço.

Estava pronta para roçar meu pé no de Harry uma vez mais no jantar de Natal quando Mamãe viu nosso irmão a muito perdido, Percy, pela janela, caminhando em direção a entrada com o Ministro. Percy ainda não tinha se reconciliado conosco e duvidei que sua aparição fosse muito mais do que uma desculpa para trazer o Ministro com ele.

Estava certa. Assim que Rufus teve a oportunidade, convidou Harry para dar um passeio com ele, lá fora, para observar o jardim. Embora Mamãe abordasse um desconfortável Percy, o resto de nós, à mesa, sentamos num silêncio de pedra, como se tivéssemos sido petrificados.
Depois de alguns minutos disso, empurrei minha cadeira para me retirar, mas Mamãe me lançou aquele olhar e parei no meio da ação. Tremendo de raiva, voltei a sentar e olhei para Fred e Jorge que pareciam tão irritados quanto eu.

“Está se dando bem em Londres?”, Mamãe perguntou. Recusei a pensar que Mamãe estava alheia ao verdadeiro motivo porque Percy estava em pé na nossa cozinha depois de um ano e meio de pouco para nenhum contato.

“Sim”, Percy disse, nervosamente, tentando esconder o desconforto. Colocou a mãos nas costas da cadeira vazia de Harry e segurou-a firmemente, os nós de seus dedos tornando-se brancos. Harry, notei, apesar da falta de cabelos ruivos e sardas, fazia mais parte da família do que Percy.

“Está trocando suas roupas de baixo todos os dias?”, Fred perguntou, seus olhos cerrados para o nosso irmão, “Sempre teve problemas para se lembrar delas”

O rosto de Percy ficou branco. Mamãe paralisou no ato, lançando olhares perigosos a Fred, desafiando-o a arruinar a volta ao lar.

“Junte-se conosco para o jantar, Percy”, Jorge disse, olhando a mesa, buscando por algo. Pegou a própria faca e continuou, “Ainda temos a faca com a qual vocês nos apunhalou. Quer que eu a fie para uma nova rodada?”

Mamãe colocou as mãos no quadril e berrou o nome de Jorge tão alto que me encolhi. Não querendo ser excluída da humilhação de Percy, abri minha boca para dizer algo, mas Mamãe me lançou um olhar tão poderoso que não ousei falar. Ao invés disso, deslizei minha varinha para fora do bolso e apontei-a para a mesa. Murmurando um feitiço, uma colher de uva passa se ergueu da tigela.

Duas colheres se uniram à minha e eu soube que Fred e Jorge tinham gostado da idéia. As três colheres flutuaram no ar por um segundo, mofando de Percy e ignorando Mamãe. Com um aceno de nossas varinhas, a comida se espalhou por todo o rosto de Percy.

Ele recuou, cuspindo a comida de sua boca e limpando-a de seu rosto. Irado, ele nos encarou e disse, “Eu sabia que essa era uma péssima idéia”
Mamãe começou a berrar conosco enquanto Percy saía da casa. Não me importei. Valeu por qualquer punição que viríamos a receber. Apesar de Mamãe normalmente poder gritar por horas de uma vez só, se debulhou em lágrimas e saiu da cozinha. Os gêmeos se entreolharam e logo a seguiram para consolá-la.

Gui e Fleur se retiraram da mesa e olhei para Papai que tinha colocado na colher o resto de seu pudim e estava levando, ansiosamente, a colher à boca. Era como se ele estivesse alheio a toda a cena.


- Parte VIII -


Rony remexeu a comida em seu prato com a faca. Olhando em volta e descobrindo que Harry não tinha voltado para a casa, perguntei a Rony se ele ia buscar por ele. Rony sacudiu a cabeça, disse que Harry não ia fugir e que ficaria bem. Retirei-me, agarrei minha capa do cabide e sai da casa.

Quando saí da Toca para a varanda, quase tropecei em Harry. Ele tinha se sentado no último degrau, encarando distraidamente a noite de inverno. Acima de nossas cabeças, nuvens cinzentas lançaram uma sombra escura sobre o gramado e lançou um novo bombardeio de neve para se unir às já caídas e amarronzadas que cobriam o solo. Uma rajada repentina de vento cortante tomara conta do balanço da varanda que Harry e eu havíamos dividido tantos meses atrás, balançando-o para frente e para trás como se um usuário invisível estivesse sentado nele.

Pedindo desculpas, ele se levantou para sair de perto de mim. Ele deu um passo para fora da varanda, pisando na neve fresca e branca do jardim e deu o fora. Fiquei parada nos degraus, assistindo Harry se afastar. Depois de alguns passos, mal conseguia discernir a silhueta de Harry. Suspirando, cogitei em não segui-lo, mas não podia deixar o garoto vagar sozinho; pensando por si próprio.

Pulei da varanda e segui suas pegadas para que eu não precisasse fazer as minhas próprias. Pisando cuidadosamente dentro de cada um dos seus rastros, grunhi enquanto esticava as pernas para igualar suas passadas. Depois de alguns momentos, Harry parou a frente e voltou-se para mim, tentando entender o que era aquele barulho todo.

“O que está fazendo, Gina?”, perguntou, rindo do meu esforço.

“Estou... tentando... alcançar... você”, respondi, pulando de pegada em pegada, “Mas você é muito mais alto que eu e não é fácil seguir os seus rastros”

Ele esperou que eu me juntasse a ele. Quando finalmente o alcancei, a neve caía com intensidade. Os flocos se amontoavam em nossos cabelos e ri da visão de Harry parado ali, neve derretendo contra o calor de sua pele. Ele parecia ter açúcar salpicado em seu cabelo.

“Encontro ruim com o ministro?”, perguntei, gesticulando para que ele me seguisse de volta a varanda para sairmos da neve que caía.

Nós dois andamos mais lentamente do que o normal, Harry assentiu, olhando para além da quadra de Quadriboll congelada. Tenho certeza de que ele estava desejando que o clima não estivesse tão miserável para que ele pudesse liberar um pouco de seu estresse voando. Ele esfregou as mãos uma na outra e explicou sobre o que ele e Rufus tinham conversado.

“Ele me chamou de homem de Dumbledore”, Harry falou, os olhos brilhando com o pensamento.

“Pensou que era um insulto, não pensou?”, perguntei, notando quão fácil era, para mim, manter Harry sorrindo, “Então, você está do lado ruim do Ministério? Como você se sente em relação a isso?”

Harry deu de ombros. Ele, obviamente, não poderia se importar menos com o que o Ministério pensava sobre ele, “Devastado, é claro”, respondeu. Limpando mais neve de seu rosto, perguntou, “E como o jantar com Percy foi? Não quis interromper a reunião”

Gargalhei, lembrando da máscara de comida que demos a ele, “A primeira coisa que ele devia ter feito era pedir desculpas”, falei, fazendo uma careta descontente, continuando com a história. Ele achou que os comentários de Fred e Jorge foram grossos, mas engraçados, e adorou a refeição que, graciosamente, fornecemos ao nosso irmão, “Fred e Jorge foram atrás de Mamãe quando ela começou a chorar e vim procurar você”

Harry parecia espantado por eu tê-lo procurado, “Por quê?”, perguntou, suavemente.

Estremeci e tirei a neve que se prendera na minha sobrancelha. Tinham muitos motivos porque o tinha procurado, mas principalmente porque eu teria feito a mesma coisa se fosse ele e eu desejaria a companhia de Harry, “Ao contrário do ministro”, comecei, “existem muitas pessoas aqui que gostam de você. Rony, meus pais, os gêmeos...”, não pude evitar tocar seu braço e continuar, “e eu”

Ele estremeceu e suspeitei que não tinha muito a ver com o vento frio que estava cortando nossos corpos. Antes que ele pudesse reagir, coloquei meu pé no primeiro degrau da varanda e, porque a neve tinha caído lá também, escorreguei e cai de costas, na neve.

“Gina!”, Harry berrou, tentando me alcançar, mas não conseguindo. O garoto podia me salvar da memória de Tom Riddle, mas não de um degrau escorregadio? Ele parecia preocupado, mas se acalmou quando ouviu minha gargalhada. Olhando para meu rosto encantando, um sorriso irrompeu e ofereceu sua mão a mim.

Apesar dos flocos de neve estarem gelados contra minha bochecha, não pude parar de rir. Peguei a mão de Harry, mas não tentei levantar. Ao invés disso, puxei-o para a neve ao meu lado, mas suspeitei que ele poderia ter resistido mais.

“Rony e eu costumávamos esperar ansiosos pelo inverno”, falei, movendo meus braços num movimento de leque, “porque fazíamos anjos de neve em todos os lugares”, movi minhas pernas da mesma forma. Enquanto fazia meu anjo de neve, olhei para Harry que parecia entretido demais me observando, “Vai”, falei, jogando um pouco de neve em seu rosto, “tenta”.

Harry pareceu relutante, mas bati minhas pestanas e ele deu de ombros, na neve, e me imitou. Depois de alguns movimentos de braços e pernas, nós dois nos colocamos de pé para darmos uma olhada nas nossas obras-primas. Lado a lado, nossos anjos sem rostos nos encararam.

Foi então que notei a coisa mais instigante, talvez criada pelo acaso ou pelo ato inconsciente de nossas mentes. Dando um largo sorriso, apontei para nossas criações e comentei tão inocente quanto pude, “Olha só, Harry, nossos anjos estão de mãos dadas!”

Como eu suspeitava, Harry reagiu da mesma maneira que tinha reagido todo o feriado, talvez do mesmo jeito desde o verão. Virando-se para a varanda para entrar na casa, não pude resistir dar-lhe outra palmadinha no braço e uma pergunta inocente, “Estou indo para a cama. Você vem?”

“O quê?”, sobressaltou-se, tirando seus olhos dos anjos.

Ri de novo e subi a escada, deixando um Harry aturdido no frio. Fechando a porta, pensei em Dino e não pude evitar me sentir culpada por onde meus pensamentos estavam me levando. Estava envergonhada que, como durante o verão, não senti falta do meu namorado como eu sabia que deveria. Apesar da melhora do nosso relacionamento, senti uma vez mais como se estivesse voltando para Hogwarts para ver meu amigo, não meu namorado.

Olhando pela janela, a neve caindo estava menos intensa, quase como se tivesse caído só para nós, só para aquele momento. As nuvens cinzentas estavam começando a se afastar e o céu noturno estava começando a ficar claro. Algo diferente estava acontecendo entre Harry e eu e, ao contrário do céu, esse algo não estava claro ainda.


Continua...



N/T: Mais uma vez, não temos N/A, mas parece que cada capítulo é melhor que o anterior! Vocês não têm essa impressão também?
Os sentimentos do Harry pela Gina são tão lindos! Eu adorei as conversas dele e o jeito como ele reage a ela...
Bom, só para atiçar vocês um pouquinho: no próximo capítulo, temos o beijo!
Gente, só para quem está interessado: no youtube tem um vídeo chamado “HBP Sneak Peek (with H/G)”quem estiver interessado em dar uma olhada, tem uma cena muito fofa dos dois! E, se alguém conseguir, me esclareça se, na cena em questão, eles estão – ou não – se afastando de um beijo:D
Eu ainda adoro o Dino, vocês sabem.
Mas esse Harry é tão lindo...
E a difamada volta do Percy?
Gargalhei muito com os gêmeos!
Respondendo aos comentários...


Janaina Potter - Ah, eu gosto do Dino. O único problema é que ele não é o Harry! :D Também adoro esse livro!
Penny Lane - Fico contente que você tenha gostado do último capítulo! Sinceramente, acho que esse foi um dos capítulos que mais gostei de traduzir! Acho que o Remo surgirá em breve! ;D
Lola Potter - Eu também amei a “corrida pelo pomo”, e acho que todas as conversas do Harry com a Gina são lindas! Aqui está o novo capítulo! ;D
Fl4v1nh4 - É o Smith é um pé no saco! Hauiahuiah Mas eu gosto do Dino! :( Mas gosto mais do Harry! :D
NATALIA REIS - Eu também achei a idéia maravilhosa!!! Gostou do capítulo novo??
Jessica - Não, estou sem beta e sinto muito pelos erros! Hauahuiah. Vou procurar por uma beta, sim! :D Fico contente que a tradução tenha chamado sua atenção! O que achou do novo capítulo??

Espero que estejam gostando!
Aqui está o novo capítulo!
Por favor, comentem para dizer o que estão achando!!
Gii

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.