≈ - O espelho e o futuro
Era fim de janeiro, a neve já descongelando nos telhados de Hogwarts. Harry, Hermione Rony estavam sentados no chão da sala comunal, em meio a confusão de livros, pergaminhos, penas e tintas.
- Dez centímetros... - disse Rony alegre, relendo a sua redação. - ... Agora só faltam... quarenta e cinco! - ele desanimou.
- Ah, Rony, deixa disso! - exclamou Hermione. - As redações do Slughorn não são complicadas!
- Você diz isso, porque é uma sabe-tudo! - rebateu Rony indignado, mas em um segundo sua voz mudou para um tom agradável. - Termina pra mim?
- Não. Não é certo.
- Ah, por favor, você pode...
- Calem a boca!! Não consigo me concentrar! - Harry se jogou para trás, deitando no chão e tampando o rosto com o livro.
- Harry, pra quê você tá lendo...
- Oi!
Rony foi interrompido por uma garota loira de olhos azuis que o olhava de cima. Ele sorriu constrangido, passando a mão nos cabelos.
- Oi Amanda, eu...
- Quer ler a minha redação? - ela o interrompeu mais uma vez. - Você vai precisar de uma idéia se quiser terminar isso aí até amanhã - ela apontou para a redação dele.
Hemione revirou os olhos e sumiu por trás do livro.
- Valeu, obrigado, Mandy! - ele pegou o pergaminho que ela lhe estendia, entusiasmado.
- De nada. Estudou?
- Pra quê?
- O teste, Rony!
Desse vez foi Hermione que falou, seus olhos faiscando. Rony deu um tapa na própria testa.
- Me esqueci...
- Infelizmente eu não vou poder te ajudar - Amanda disse, preocupada. - Mas boa sorte. Tenho que ir.
- Tchau Mandy.
- Tchau Harry, tchau Mione... - ela se despediu.
- É Hermione Granger, pra você - disse Hermione rispidamente.
Por uma fração de segundo os olhos delas se encontraram. Hermione não escondia sua raiva. Amanda não demonstrou nenhuma reação e foi embora.
- Mandy, é? - caçoou Hermione, se virando para Rony. - Já está chamando ela assim?
- É - respondeu Rony. -, o apelido dela, Mione. - ele pronunciou lentamente a última palavra.
- Daqui a pouco ela vai querer te chamar de Uon-Uon...
- Ciúme, Hermione??? - gritou Harry, erguendo os olhos para ela, implicante.
- Não viaja Harry! - exclamou ela, irritada, levantando-se e saindo em seguida.
- Esclerosada - resmungou Rony. - Será que ela se ofendeu com alguma coisa, Harry?
- Hum... - hesitou ele. Era óbvio, embora ela não demonstrasse.
- Esquece - disse Rony, consultando seu caderno. - Essência de Murtisco, próxima aula... Tem um vidro pra me emprestar?
- Tenho - disse ele se levantando. - Vou buscar.
Harry não gostava de Rony e Hermione brigando, mas era evidente que ela estava com ciúmes da amizade entre Rony e Amanda. Rony dizia que Amanda era uma garota legal, e eram apenas amigos. Porque Hermione estava agindo daquele jeito?
Ele abriu o malão, desanimado com a bagunça de meias emboladas, livros antigos, roupas e artigos para quadribol. Ele procurou ás cegas algum frasco no fundo do malão.
Ele sentiu uma dor aguda e retirou a mão instantaneamente, esfregando-a no lençol. Alguma coisa no fundo do malão o cortara. Ele começou a retirar todos os objetos dali até que o viu.
O espelho que Sirius lhe dera no ano anterior. Havia sangue na borda quebrada do espelho, que não estava totalmente destruído. Porém alguma coisa chamava atenção.
No espelho se refletia uma névoa espessa, embaçando-o como um vidro em dia de chuva.
- Sirius?
Harry agora via o seu próprio reflexo no espelho.
A névoa desaparecera.
Amanda andava pelos corredores de Hogwarts, meia hora antes dos testes. Muitos alunos do sexto ano estudavam de última hora, os menos preocupados discutindo táticas (in)falíveis para colar. Para se livrar da multidão que empacava nos corredores, ela entrou na primeira porta que encontrou.
Não havia ninguém ali. Era um banheiro quase abandonado, com pias circulares e espelhos sujos. Se perguntou há quanto tempo alguém não entrava ali.
Ela foi até a pia e lavou o rosto com a água gelada da torneira, se enxugando com a manga das vestes. Ergueu os olhos para o espelho rachado a sua frente.
Há quanto tempo não reparava em si mesma? Ela não sabia ao certo;seus cabelos estavam maiores do que o normal. Fitou seus olhos azuis límpidos. Eram os olhos de uma estranha.
- Já faz quase um ano... - ela murmurou para si mesma. - Por que você me abandonou?
Ela deslizou lentamente a mão molhada pela superfície do espelho.
- Eu tenho que fazer você voltar pra mim de algum jeito...
Imagens sem sentido começaram a aflorar em sua mente, espontâneas. Coisas de um passado que ela não pertencia. Ou talvez pertencesse? Não via mais seu próprio reflexo no espelho, e sim...
Amanda não queria pensar nisso. Acordava gritando quase todas as noites, sempre o mesmo sonho, no qual a mesma mulher que via no espelho a sua frente aparecia. Olhos prateados, garras afiadas sujas de sangue... e uma voz ameaçadora, que lhe dizia uma única palavra antes de desaparecer:
- Assassina.
20 minutos... Amanda consultou seu relógio de pulso ao sair do banheiro, com uma repentina dor de cabeça.
Duas garotas vinham na direção contrária, colidindo sem querer com Amanda.
- Olha por onde anda! - falou rispidamente uma garota de óculos de aros coloridos , que ela conhecia como Vallery. Alexy, alta e loira de cabelos compridos, olhou Amanda de cima a baixo.
- eu tenho que olhar por onde ando? - debochou Amanda. - Será que você é tão idiota a ponto de usar óculos e não enxergar quem está na sua frente?
As mão de Amanda e Alexy foram rápidas. Num instante elas empunhavam as varinhas para o rosto uma da outra.
- Repita... - disse Alexy com os dentes cerrados. - E você vai desejar nunca ter nascido!
Amanda olhava da ponta da varinha para o rosto dela, cautelosa.
- Não estou falando com você - ela se virou para Vallery, mas não ousou dizer nenhuma palavra na frente dela.
- Repete, cadela!
- Chega, Alexandra.
Alexy se calou. Olhou para Vallery, ofendida.
- Val!
Vallery não lhe deu atenção. Observava Amanda silenciosamente.
- Você tem coragem, garota. - sibilou Vallery para Amanda. - Mas é bem melhor você segurar a sua língua, se não quiser se ferrar - ela virou-se para subir as escadas, girando a varinha nos dedos. Alexy guardou sua varinha no cós da saia.
- Você ouviu.
- Não tenho medo de vocês.
Alexy franziu a testa. Ali estava uma garota difícil de intimidar.
- Se não quiser ter problemas, é melhor ficar na sua. - ela disse e seguiu Vallery pelas escadas.
Amanda parou por um instante. "Melhor você segurar a sua língua, se não quiser se ferrar..." ela pensou nas palavras de Vallery. Acreditava nela.
Ela parou em frente a sala onde aconteceriam os testes, o mesmo tumulto habitual. Um garoto moreno da Lufa-Lufa distribuía papeizinhos com respostas aos colegas, entre eles Mia Dawson. Amanda se aproximou dele.
- Não tem problema dos professores pegarem? - perguntou ela espantada, interrompendo-o.
- Ham? - ele virou-se bruscamente, dando as costas aos amigos indignados.
- Ah, me dá mais três? - insistiu Mia, batucando no ombro dele.
- Maiara! Você já tem oito! Chega! - ele voltou sua atenção para Amanda, que comia uma barrinha de chocolate. - Seu nome?
- Mandy.
- Dante - ele fez uma reverência.
- Não tem perigo dos professores...? - ela repetiu.
- Bem... Os testes não são fortemente protegidos por feitiços anticola, mas bem pense em colar no N.I.E.M ! Você vai se dar mal... - ele mostrou para ela dois minúsculos pedaços de pergaminho, contendo todas as respostas possíveis.
- Bem... inteligente! - disse ela rindo.
- A não ser que você se sente atrás da Hermione Granger, é melhor ficar com um desses. Uma garota tão bonita não devia ficar reprovada...
- Obrigada - ela puxou a cola das mãos dele. - Talvez algum amigo precise... Vou ficar com um por precaução.
- Sei, sei... - resmungou ele entediado. - Só não esqueça de quem te ajudou -acrescentou, cheio de segundas intenções.
- Não esquecerei, pode apostar - disse ela, virando as costas e se esquecendo completamente dele no minuto seguinte.
- Muito bem, alunos - a voz da professora McGonagall soou bem mais alta do que o normal. - Os alunos do sexto ano de todas as casas deverão efetuar os testes em trinta minutos. Haverá um professor em cada sala.
Aconteceu uma correria e cadeiras foram arrastadas para todos os lados. Rony conseguiu com muito esforço um lugar ao lado de Hermione, ao que parecia, todos os alunos queriam ficar perto dela.
Amanda sentou-se atrás de Vallery, do lado de Natalie Smith, uma corvinal de cabelos ruivos, que viu algumas vezes ao lado de Mia.
- Podem começar!
Nos primeiros minutos só se ouvia ruídos de penas arranhando os pegaminhos. Amanda ergueu os olhos. Não está difícil, pensou ela. Mas nem todo mundo pensava assim.
Na sua frente, Vallery deu um suspiro. Mexia nos cabelos, riscava algumas frases, batia os pés no chão, impaciente. A ruiva ao seu lado escrevia tranquilamente, as vezes trocando olhares ansiosos com Vallery, como se quisesse ajudá-la de algum modo.
Amanda queria pôr seu plano em prática. Que plano? pensou ela, desconcertada.Inventar algum? Ela passeou os olhos pela sala,até onde estava a professora, uma bruxa de aspecto cansado, que parecia que iria dormir a qualquer momento. Houve um estranho brilho no olhar de Amanda quando ela encontrou o que procurava: uma taça de cristal. Puxou um papel milimetricamente dobrado, fechou os olhos e se concentrou...
Um estouro ensurdecedor e todos os alunos olharam para a frente,assustados. A taça tinha se espatifado sozinha.
No momento em que a bruxa se virou para verificar o que se quebrara, Amanda bateu na mesa de Vallery, deixando ali a cola que o garoto da Lufa-Lufa havia lhe dado.
- Você? - perguntou Vallery atordoada, apanhando o pedaço de pergaminho. Amanda levou o dedo aos lábios, pedindo silêncio.
- O que você quer... - ela falou baixinho, mas parou repentinamente. Um frasco de vidro atrás da professora se espatifou. A professora desesperada tentava acalmar os alunos, enquanto Amanda segurava o riso.
- São as almas do além! Elas vieram nos mataar!!! - gritou Lilá apavorada, se escondendo atrás do seu pergaminho.
- Se acalme, srta. Brown! - exclamou a professora, parecendo a beira de um ataque de nervos.
- Foi você que fez isso? - Vallery perguntou para Amanda, seus olhos brilhando. Ela não respondeu e voltou a atenção para o seu teste, embora o riso no seu rosto denunciasse tudo.
Vallery desdobrou o pergaminho : todas as respostas estavam ali. Conferiu com o seu teste : indênticos. Ela riu também, dobrando o pergaminho e colocando no decote da blusa, de um modo que só ela poderia vê-lo. Pelo menos seu teste estava garantido.
Amanda terminou, virando o teste e fitou curiosa os outros alunos, depois de já terminada a confusão que havia armado. Não tinha noção do que acabara de fazer. Eu ajudei a pessoa menos digna de ajuda, ela pensou. Algo dizia que estava no caminho certo.
Ela afastou os cabelos da testa e olhou pra frente. Uma garota lhe chamou atenção.
Natalie, a ruiva sentada ao lado de Vallery, tinha os olhos vidrados, como se estivesse em estado de choque. Alguma coisa estava acontecendo com ela, embora ninguém notasse.
Nem a própria Natalie poderia dizer por que estava daquele jeito. De repente a sala saiu de foco, ela mergulhou na escuridão que a aguardava...
Natalie fazia uma idéia do que aconteceria a seguir.
Quando Natalie deu por si estava em um lugar com muitas árvores, de onde se podia ver o céu estrelado por entre as folhas. Ela se virou lentamente, sentindo uma repentina sensação de desespero. Que lugar é esse? Como eu vim parar aqui?
Ela enterrou as unhas nas mãos. A Floresta Proibida.
Seu coração parou subitamente. Não estava sozinha. Uma menina corria por entre os arbustos, apavorada e se escondeu atrás de uma árvore. Natalie a seguiu, sem direção ao certo. Do quê ela estava correndo?
Ela descobriu tarde demais. Olhou para trás, prendendo a respiração. Uma outra pessoa, de vestes negras esvoaçantes estava a uma curta distância da menina. Natalie vislumbrou um par de olhos prateados e vorazes por debaixo do capuz.
- A culpa foi sua - soou uma voz fria e gutural que lhe causava arrepios.
- Não! Eu não fiz nada! - a menina gritava. Havia cortes profundos em sua pele, as vestes estavam rasgadas. Estava avançando cada vez mais... ela não tinha saída...
Natalie fechou os olhos. Nada disso é real, ela murmurou para si mesma. Você já passou por isso... seja forte...
Ela abriu os olhos. Continuava perdida. Isso não é uma visão comum...
Os gritos da menina se tornaram mais altos. Ela tentou correr, mas foi derrubada. Natalie tentou gritar para avisá-la, mas gelou.
- Não! Não me mate! Não!
Tudo ficou frio e escuro. Natalie bateu no chão de mármore como em câmera lenta. Se sentia desnorteada. O último grito desesperado da menina ainda ecoava na sua mente.
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