≈ - Acerto de contas.
Era no fim do inverno, a espessa camada de gelo já se dissolvendo. Era um dia triste, o céu cinzento, cinzentas as ruas da velha cidade. Cor de cinza também eram os olhos do homem de vestes escuras que caminhava em passos largos e decididos em direção á Travessa do Tranco.
Ele abriu com um estrondo a porta de uma grande loja de bruxos mal iluminada. Com a varinha em punho, correu os olhos pelos estranhos objetos das trevas nos mostruários de vidro. O local estava extremamente sujo e empoeirado. Abandonado, é isso que ele quer que eu pense.
Estreitou os olhos para uma pesada porta de carvalho no fundo da loja. Deu um soco no balcão, com um gesto de impaciência. O silêncio continuava.
Com uma onda de fúria ele apontou a varinha para trás, em direção as prateleiras. Houve um lampejo vermelho e vários objetos explodiram com um barulho ensurdecedor.
- O que é que está acontecen...?
Um homem encurvado, de cabelos oleosos saiu da porta, empunhando uma varinha. Se calou imediatamente ao ver o brilho maligno nos olhos do homem a sua frente.
Recuou um passo, ao mesmo tempo que o outro saltava sobre o balcão e avançava diretamente para ele, apontando a varinha para sua garganta.
- O que... você fez com ela? - o homem de olhos cinzentos perguntou, rangendo os dentes e agarrando com violência a frente das vestes dele.
- Eu fiz o que o senhor mandou! - disse com a voz estrangulada, respirando com dificuldade. - Não imaginei que o senhor ficaria livre tão rápido!
- Pensou que não ia me ver tão cedo? - os olhos dele se estreitaram. -
Depois de me entregar para o ministério, achou que eu me esqueceria de você? Pelo contrário. A cada minuto em Azkaban eu imaginava se você estaria cumprindo os minhas ordens. Temos contas pra acertar. - e acrescentou - O que aconteceu com a Mandy?
- Ela está bem, morando com a avó bruxa em um subúrbio de Londres - ele falou, tentando se acalmar. - Ela não tem contato com mais ninguém, mas receio dizer que não está dando certo...
- O que não está dando certo, seu inútil? - gritou o homem, enfurecido. - É tão difícil pra você, controlar uma menina de dezesseis anos?
- Não é isso! - ele gritou, mas logo em seguida se arrependeu, pois ele o apertou ainda mais contra a parede. - A avó dela... está enlouquecendo, a garota mexe com a mente dela, a faz ter pesadelos... - ele tremia. - explode todo o tipo de vidro que tem na casa, quase a matou - e acrescentou, tomando fôlego. - Amanda tentou o suicídio três vezes quando a avó a trancou no quarto...
- E você deixou isso acontecer? - o homem alteou a voz, cravando as unhas no pescoço dele. - Eu confiei ela a você, seu imprestável! - rosnou, atirando-o com extrema força no chão.
- Eu fiz o que pude, senhor, eu juro! - choramingou ele. - A alguns meses eu fui lá, Amanda estava bem, até conversou comigo! - disse com voz trêmula. - O tipo mestiço dela é perigoso, mas nada impossível de controlar...
- Ela é filha da Kate, o que você esperava? - ele abaixou e segurou ele pela garganta. - Eu adoraria que aquela completa vagabunda da Kate te matasse... Pouparia o meu trabalho.
- Kate foi a mulher mais incrível que eu conheci! - gitou ele, se soltando das mãos do homem, com uma coragem repentina. - Eu a salvaria mesmo que tivesse de arriscar a minha vida, assim como eu salvei a filha dela das mãos de um filho da puta como você!
- Crucio!
Ele soltou um grito de dor, se contorcendo no chão.
- Nunca mais - os olhos cinzentos dele tinham se reduzido a fendas. - Fale comigo desse jeito.
Ele engoliu em seco, enxugando o suor do rosto com as mãos. Sentia uma raiva profunda por aquele homem, ainda mais por ter falado mal da Kate... Maldito!
Um filete de sangue escorria pelo canto da sua boca. Ele fervia de ódio.
- Você defende ela... - o outro disse sarcasticamente, girando as duas varinhas nos dedos. - Mas quando você foi lá, aposto que roubou as relíquias dela... Kate tinha tantos objetos das trevas quanto você.
- Não deu tempo, eu estava muito ocupado, salvando você - ele colocou o máximo possível de desgosto nas duas últimas palavras. - O ministério confiscou tudo, mas eu guardei um colar amaldiçoado, que tive que vender porque precisava de dinheiro: o dinheiro que você usou para tentar fugir.
- O que você fez foi...
- Agora você vai me ouvir, senhor - interrompeu ele, se levantando apoiado na parede, indiferente a varinha que o outro apontava para o seu peito. - Era pra você ter morrido,mas eu te salvei. Me arrependi e te mandei para Azkaban. Pode me matar agora, porém não vai dar em nada. Amanda está segura e bem longe de você. Cumpri a minha promessa.
- Aí é que você se engana - o homem tirou do bolso das vestes um frasco de poção. - Vou fazer uma pequena visita pra Mandy...
- Como você pretende fazer isso? Poção Polissuco? - debochou ele.
- Isso mesmo - disse, agitando o frasco diante dele. - Não vou fazer mal a ela, só vou alterar algumas lembranças...
- Quando eu disse que Amanda está segura, quis dizer que você não vai poder chegar nem perto dela - disse ele alegre ao ver a cara de espanto do outro. - Ela não está mais na casa da avó. Saiu há meses. Ela foi mandada para Hogwarts!
Seus joelhos cederam, mal tinha acabado de falar. Olhou para baixo. Havia um buraco no seu peito de onde saía sangue que sujava as suas vestes. Ele caiu no chão frio, se sentindo desnorteado. A porta da loja se fechou comum estrondo. Lá fora, o homem desaparatou.
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