O Primeiro Equívoco
- Eu to dizendo, cara! Ela brigou comigo só porque hoje ia chover.
- Isso não faz o menor sentido, Rony – disse Harry incrédulo com a atitude da amiga. – A Hermione não seria tão irracional assim. Mesmo porque o dia está lindo.
- Eu sei. Mas o pior você ainda não sabe: ela não veio trabalhar. Passei no escritório dela e a secretária me informou que ela havia mandado uma coruja dizendo que não viria hoje.
- É o segundo dia como chefe do departamento e ela falta?
- Estranho, não é? E eu fiquei lá agüentando o olhar irônico daquela estagiária como quem diz: “coitadinho, nem sabe onde a própria esposa está”.
Harry andou até a lareira pensando em como ajudar o amigo. Talvez a pressão do novo serviço estivesse estressando Hermione?
- E se você desse um tempo a ela? – sugeriu Harry. – Eu sei que vai ser difícil agüentar ela te ignorando ou explodindo por qualquer coisa, mas das duas uma: ou ela se acostuma com a pressão do novo cargo ou vai ver que está magoando você.
Rony assentiu com a cabeça e decidiu seguir o conselho do amigo. Deu o tempo que Hermione precisava. E teve a pior semana de sua vida. Pior até do que quando foi caçar horcruxes ao lado dela e de Harry.
O humor da mulher não melhorou e ela parecia um explosivim, tendo ataques a toda hora. Uma hora era porque Rony havia atrasado para o jantar, outra porque ele leu o Profeta Diário antes dela e um dos mais graves quando ele deixou os chinelos virados para baixo.
Hermione sempre o acusava de insensível, caia no choro e o colocava para fora do quarto. E nada do que ele fez foi suficiente para aplacar o cansaço e a raiva da morena.
Depois de sete dias de tentativas, incluindo flores, cafés da manhã na cama (que ela sempre se recusava a comer) e presentes, Rony percebeu que aquela situação iria acabar com seu casamento e, após uma outra conversa séria com Harry, chamou a esposa para sair.
Ela aceitou de bom grado, arrumou-se e acompanhou o marido a um restaurante que ambos gostavam muito, fora do centro agitado de Londres.
Durante o jantar, Rony tocou no assunto que tanto o estava incomodando, do jeito mais sutil que conseguiu:
- Sabe, amor, faz tempo que a gente não fica assim, não é?
A mulher, que levava uma taça de vinho aos lábios, interrompeu o movimento para encará-lo curiosa.
- É, desse jeito tranqüilo, em paz. E eu notei que você está meio diferente...
- O que quer dizer com isso? – indagou Hermione, controlando os nervos.
Ela tinha consciência de que andava meio irritadiça nos últimos dias. E Rony era o principal alvo de seus ataques. Mas seus hormônios estavam descontrolados, e guardar aquele segredo só entre Gina e ela, era peso demais para carregar. Ainda não havia encontrado uma forma de contar a Rony, explicar a ele que havia sido um acidente, e pensou que aquele jantar poderia ser a oportunidade que tanto esperava. Mas alguma coisa no tom de voz com que ele se dirigia a ela parecia indicar que ele já sabia, ou ao menos desconfiava de algo. .
- Eu andei conversando com o Harry – continuou ele – e acho que sei o que está acontecendo com você.
A cor sumiu do rosto da jovem. Será que Gina havia contado ao marido o seu segredo? E mesmo se tivesse, Harry não tinha o direito de se meter na vida deles. Não daquele jeito indiscreto. Ela torceu os dedos debaixo da mesa, nervosa.
- E o que você acha? – perguntou firmando a voz, disfarçando o nó na garganta que parecia aumentar.
- Se eu puder ser sincero, acho que você deveria abrir mão disso.
Hermione fechou os olhos, querendo acreditar que o marido não havia dito aquilo. Abriu os olhos de novo, já com aquele mesmo brilho magoado de antes e o encarou, com uma expressão dura e ofendida.
- Não me leve a mal, amor. Só estou pensando no seu bem e no bem do nosso casamento – ele continuou.
- E você acha que isso vai destruir o nosso casamento?
- Claro que vai! Pensa bem, Mione. Olha como você está? E isso porque é só o começo. Imagina daqui uns meses? Vai ficar insuportável a situação. Agora, que tem pouco tempo, você pode abrir mão sem grandes conseqüências e deixar para pensar nisso de novo só daqui uns anos.
- Eu não quero pensar nisso daqui uns anos, seu... seu estúpido! Eu nunca pensei que você fosse capaz de uma coisa dessas! Já pensou que isso pode ser o que eu sempre quis na minha vida?
- Querida, acalme-se! Não estou pedindo nada demais...
- Nada demais? – interrompeu-o levantando da mesa, jogando o guardanapo sobre o prato ainda cheio de comida e levantando a voz de modo que todos os presentes puderam ouvi-la. – Se você não pode ficar feliz com isso, é sinal que não me ama do jeito que diz amar! Eu pensei que te conhecia, Ronald Billius Weasley. Mas agora vejo que você não é só um legume insensível, mas também um grande porco egoísta.
Ela correu para fora do restaurante e aparatou antes mesmo que ele pudesse reagir. Quando percebeu o que havia acontecido, jogou um dinheiro qualquer sobre a mesa e aparatou atrás da esposa.
Mas para sua infelicidade, mais uma vez ela não voltara para casa. Preocupado com o estado em que ela estava ao deixar o restaurante, foi de casa em casa, passando pela casa dos sogros, depois na Toca e finalmente a encontrando na casa de Harry e Gina.
Foi a ruiva que abriu a porta quando ele tocou a campainha. E quando viu o irmão parado na soleira, com cara de cachorro abandonado, tratou de enxotá-lo do jeito mais rude possível.
- Se veio atrás da Mione, perdeu seu tempo. Ela já deixou claro que não quer ver você. E se é pra ser sincera, eu também não. Portanto, trate de sumir daqui.
- Eu não vou embora até falar com a minha esposa.
- Ótimo! Então durma na calçada, pois na minha casa você não entra!
Ela bateu a porta e Rony só conseguiu ouvi-la murmurando um feitiço de imperturbabilidade. Mesmo que ele chamasse todos os gigantes das montanhas para sapatear ali, ninguém lá dentro ouviria.
E ele não teve o que fazer a não ser voltar para casa de cabeça baixa e ombros curvados.
O dia seguinte foi o mais penoso no Departamento. Harry não foi trabalhar porque acompanharia Gina ao medibruxo que cuidava da gravidez da jovem. Entediado e aborrecido, Rony arrumou diversas maneiras de passar perto da sala de Hermione, mas a porta estava sempre fechada.
Quando conseguiu ver a porta aberta, aproximou-se com cautela e percebeu que ela não estava sozinha. Conversava com a secretária e a instruía a mandar todas as suas correspondências para a casa de seus pais, onde ela pretendia ficar por uns tempos.
Ele sentiu o coração doer mais do que nunca e voltou abatido para o Departamento, onde um grande rolo de pergaminho havia sido entregue em sua mesa.
Sentou-se abatido e desenrolou o papel, lendo cada linha duas vezes para ter certeza de que aquilo era verdade. Mas a letra inclinada do Ministro da Magia era inconfundível.
Prezado Ronald B. Weasley,
Tendo em vista seu excelente desempenho como auror e seu visível interesse em sempre aprimorar seus conhecimentos, o Ministério da Magia o convida para representar a Inglaterra na Conferência Internacional de Combate à Arte das Trevas, a se realizar dentro de uma semana na sede da Confederação Francesa dos Bruxos, em Paris.
Peço-lhe, gentilmente, que preencha a ficha de inscrição em anexo e remeta ao endereço sub-escrito para confirmar sua participação.
Após o evento, que durará duas semanas com palestras e workshops, o senhor deve procurar Jean Michel Tryev que lhe dará mais informações sobre os planos do Ministério.
Atenciosamente,
Kingsley Shackelbolt
Ministro da Magia
Ele não podia acreditar no que lia. Aquele evento era o mais esperado por todos os aurores, e apenas um de cada país era selecionado. Nunca pensou que tivesse alguma chance, sendo colega de trabalho de Harry James Potter.
Preencheu a ficha o mais depressa possível e a enviou, temeroso de que o Ministro percebesse que havia cometido um engano e tirasse dele a oportunidade tão desejada.
A euforia com o curso passou no instante em que pensou que, se Hermione não fosse tão cabeça-dura a ponto de preferir aquele cargo estúpido no Ministério ao casamento dos dois, poderia viajar com ele para Paris.
Já fazia três dias que a esposa havia saído de casa, quando ele finalmente conseguiu algum tempo para conversar com Harry, embora o amigo se mostrasse arredio.
- Já lhe disse, Gina me proibiu de falar com você – explicava constrangido.
- Mas como ela pode saber se você falou comigo ou não? – rebatia Rony indignado.
- Não sei... Mas com ela nesse estado, eu não consigo mentir ou negar qualquer uma de suas vontades. Você tem notícias da Hermione?
Rony balançou a cabeça negativamente, e olhou para o amigo como se esperasse que ele lhe desse tais notícias.
- Nem adianta me olhar com essa cara. Ela saiu lá de casa na manhã seguinte e não voltou mais. Eu até pergunto à Gina, mas ela diz que a minha intromissão na vida de vocês já causou problemas demais. E olha que eu nem sei o que fiz.
- Eu vou para Paris na próxima semana, Harry – soltou Rony mudando de assunto bruscamente. – Na convenção de aurores.
Harry olhou admirado para o amigo. Estava sinceramente feliz por ele e agradecia não ter sido chamado para o evento, pois assim poderia ficar mais tempo perto da esposa.
- Eu só queria falar com a Hermione antes de ir. Me despedir, sabe?
- Eu queria poder ajudar, cara.
- Sei disso. Mas acho que só tem um jeito de fazê-la falar comigo.
Rony não explicou a Harry o que faria a seguir, mas pegou uns papéis e saiu da sala, tomando o rumo do departamento em que a esposa trabalhava. A secretária de Hermione não estava, certamente teria ido despachar alguns documentos, de modo que ele se aproximou da porta, mas estancou quando ouviu a voz da irmã lá dentro.
- Ah, deixa de bobagem, Hermione. O Erick é ótimo! Você vai ficar encantada com ele.
- Mas, Gina, eu não sei. Ainda não estou me sentindo muito bem, depois dessa briga com seu irmão... Você acha mesmo que eu deva ir vê-lo?
- Lógico, quanto mais cedo fizer isso, melhor. E esquece o Rony. Ele é quem vai sair perdendo, e depois vai passar o resto da vida arrependido.
Rony não executou seu plano de falar com a esposa. Nem voltou ao departamento de aurores. Saiu dali e foi direto para casa.
Sua cabeça demorou a voltar ao lugar. Ouvira bem Hermione falar sobre um tal Erick, e sua irmã dando forças e mandando a amiga esquecê-lo. Não imaginava que a crise entre eles fosse tão séria a ponto de sua própria irmã já arrumar novos encontros para sua esposa. Porque, se ele bem se lembrava, Hermione ainda era SUA esposa.
Não dormiu aquela noite imaginando quem seria aquele tal de Erik. Algum colega do time de quadribol talvez, já que Hermione gostava tanto de jogadores? Abriu a última garrafa de vinho dos elfos que tinha em casa e bebeu-a inteira.
Na manhã seguinte teve a maior ressaca de sua vida. Ressaca da bebedeira e ressaca moral. As palavras de Gina ainda ecoavam em sua cabeça: esquece o Rony, ele quem vai sair perdendo.
Com a cabeça latejando e os olhos brigando com a luminosidade, mal falou com Harry. Deixou o amigo cumprir a promessa que havia feito à mulher e se pôs a arrumar todos os papéis e documentos necessários à viagem que faria em dois dias.
E foi essa a única maneira que encontrou de não remoer o fracasso de seu casamento: enfiando a cara no trabalho. Foi o último a sair do departamento aquela noite e o primeiro a chegar no dia seguinte. Acatava todas as missões de última hora e se oferecia para preencher a papelada dos colegas.
Harry notou a mudança e, de certa forma, achou-a benéfica. Pelo menos Rony não tinha apelado pra uma fossa de bebedeira como ele havia visto acontecer com Harley, o rapaz das correspondências. Quando a mulher o abandonou, Harley passou a beber e dois meses depois foi despedido.
A vontade de Rony, na verdade, era fazer o mesmo que Harley. Mas a possibilidade de ir para o congresso lhe dava uma vaga esperança que longe de Londres, ele esqueceria Hermione, assim como ela já havia feito com ele.
Talvez os ares de Paris lhe fizessem bem e quando ele voltasse, duas semanas depois, poderia muito bem conversar com ela de um jeito civilizado e eles acertariam a situação, na presença de um advogado se fosse necessário.
Antes de partir, pensou em deixar uma carta para Hermione, mas desistiu e sequer se despediu de Harry. Como imaginava, Paris era uma cidade incrivelmente bela e parecia, de um jeito que ele não soube explicar, bem mais quente e aconchegante do que a fria Londres.
No centro de convenções do Ministério da Magia francês as paredes eram enfeitadas com obras de arte e as cadeiras estofadas com o mais nobre veludo. A janela encantada da recepção dava vista para a Torre Eifel.
Em poucos instantes, entre os bruxos mais brilhantes de todos os países da Europa, Rony esqueceu seu drama pessoal e passou a absorver cada ensinamento passado ali, sem imaginar que em Londres as coisas haviam tomado um outro rumo.
Comentários (3)
Nossa que bela fic, que tensooooooo
2012-12-03Eu estou adorando!!!! coitado do Rony como a Lana disse desvebturas em serie kkkkkkkParabens!!!
2012-07-01Poderia chamar de desventuras em serie porque....vai pegar fogo...
2011-11-23