Como as Crises Começam



No dia seguinte, Ron levantou decidido a acertar as coisas com Hermione. Foi até a cozinha e preparou um café da manhã do jeito que a esposa gostava: torradas crocantes, geléia de frutas vermelhas e leite fresco e gelado.

Para se certificar de que ela aceitaria o mimo e amolecer ainda mais o coração dela, conjurou uma linda rosa branca para enfeitar a bandeja. Ajeitou o cabelo o melhor que pode, observando seu próprio reflexo no vidro da cristaleira, estampou seu mais humilde e apaixonado sorriso e abriu a porta do quarto.

A decepção que ele sentiu ao ver a cama arrumada aumentou a ponto de quase soterra-lo. Percebeu que Hermione não só tinha acordado como também já havia ido para o serviço sem nem ao menos se despedir.

Duas horas depois ele entrava duplamente irritado no Departamento de Aurores, primeiro pela situação com a esposa, e segundo porque dificilmente poderia desabafar com Harry, já que a causa da discussão com Hermione foi justamente a crítica que ele fez ao cunhado e à irmã.

- Bom dia! – disse Harry animado.

Rony grunhiu uma resposta qualquer e sentou em uma mesa para analisar alguns relatórios de rotina.

- Hoje é você que não me parece bem! Aposto que brigou com a Mione – comentou Harry.

- E teria outro motivo para me fazer ficar emburrado? – retrucou com grosseria.

- Ei, calma, tá? A briga é com ela e não comigo. O que foi dessa vez? – tornou Harry de modo enérgico, instigando o amigo a se abrir.

Após anos de convivência, Harry sabia que nada fazia mais mal a Rony do que insistir em guardar seus sentimentos só para si.

O ruivo ainda vacilou entre se abrir com o amigo ou não, mas acabou optando por fazê-lo, cuidando, é claro, de poupar as críticas mais sérias que fez ao casal.

- E depois disso ela surtou! Me chutou da cama, tacou o travesseiro na minha cara e me pôs pra fora do quarto. Hoje de manhã, saiu sem me avisar ou se despedir e me deixou fazer papel de bobo com aquela bandeja de café da manhã nas mãos - concluiu desgostoso.

- Bem, a minha vontade também é chutar você depois de saber o que pensa de mim, mas eu não vou fazer isso. E, em minha opinião, ela só saiu de casa mais cedo porque sabia que você levaria o café pra ela.

- Por que você diz isso?

- Porque é exatamente isso que você faz todas as vezes que brigam. Levanta mais cedo, prepara o café e tudo fica bem. Acho que dessa vez ela quis garantir que ainda vai sentir raiva de você por algum tempo.

- Isso é loucura!

- Por que você não vai até a sala dela e tenta uma abordagem diferente?

Os olhos de Rony se iluminaram e ele saiu apressado da sala sem nem ao menos agradecer a idéia de Harry. Seu trabalho era tão diferente do da esposa que muitas vezes ele esquecia que trabalhavam no mesmo prédio.

Chegou ao Departamento e só então se lembrou de que era naquele dia que Hermione começaria como chefe da seção. Recompôs a aparência e cuidou de não parecer afobado para não constrangê-la diante de todos.

Ela ainda não tinha secretária. Não gostava que ninguém tentasse organizar suas coisas, e cuidava de sua agenda pessoalmente. Mas o novo cargo exigiria a ajuda de alguém e o processo de seleção para contratar uma auxiliar seria naquela tarde. A porta do escritório estava aberta e Hermione ajeitava alguns detalhes em sua nova sala.

Havia mudado a cor das paredes, antes tão austera, para um tom pastel de amarelo. Os móveis estavam impecavelmente limpos, com um vaso de flor decorando uma mesa de canto. No chão, um tapete com desenhos geométricos e, diante da mesa, duas poltronas confortáveis de veludo caramelo.

Era tudo perfeito e combinava decididamente com a personalidade dela. Rony não conseguiu deixar de invejar a sorte da esposa em trabalhar num lugar tão arrumado e confortável, enquanto o Departamento de Aurores era uma verdadeira confusão de papéis, fotos de bruxos procurados, pergaminhos e relatórios espalhados pelas mesas, cadeiras e até dentro do armário de casacos.

Quando Hermione viu o marido parado na porta da sala, apenas falou sem entusiasmo:

- Bom dia.

- Oi! Linda sua sala!

- Obrigada – respondeu ainda como se estivesse entediada. – Precisa de alguma coisa do departamento?

- Não, só queria saber se está bem. Você saiu de casa sem falar nada.

- Estou sim, só vim mais cedo porque hoje é meu primeiro dia como chefe e preciso dar exemplo de dedicação e pontualidade - ela passou as mãos pelos cabelos e massageou a própria nuca em seguida, suspirando, antes de continuar – Agora, sem querer ser rude, eu preciso terminar isso aqui.

- Sim, claro! Vou deixar você trabalhar – respondeu insatisfeito, mas antes de sair tornou a perguntar – Você tem certeza que está bem? Parece tão cansada!

- Sim, Ronald. Eu estou ótima! Fui dormir depois das 2 da manhã porque briguei com o legume insensível com quem eu tive a infelicidade de me casar e levantei às 5 da manhã pra estar aqui no serviço. São quase onze horas e até agora eu não tomei café, além de ter mudado esses móveis de lugar mais de vinte vezes e ainda não estou satisfeita com o jeito que ficaram. Ou seja, meu dia está exatamente do jeito que eu gosto! Agora vá cuidar do seu serviço que eu preciso cuidar do meu!

Ela levantou da cadeira e com um gesto de varinha tocou Rony para fora da sala. Ele ouviu a porta bater atrás de si assim que alcançou o corredor.

- E aí? Deu certo? – perguntou Harry assim que o amigo voltou para o departamento.

- Certo? Ela quase me espancou. Agora eu voltei a ser o legume insensível de antes! Não sei mais o que fazer!

- Ah, deixa quieto. Hoje o dia vai ser muito tenso para ela. É só isso. A noite, você chega, faz uma massagem especial e ela vai ficar uma seda com você. Por hora, esqueça isso, pois temos umas casas para checar. Atividade criminosa ligada a feitiçaria pesada.

Rony pegou o relatório e seguiu o companheiro de serviço, aparatando no local indicado. Passou a tarde inteira e o começo da noite na missão. Quando voltou para o Ministério, passou em frente a sala de Hermione, mas ela já havia saído.

Tratou de aparatar em casa o mais rápido possível, mas encontrou o lugar às escuras e sem nenhum sinal de que a esposa pudesse ter passado por ali antes dele. Não sabia onde procurá-la e optou por esperar em casa. Tomou seu banho, colocou os pijamas e os chinelos de quarto e sentou na cama com um relatório para revisar para o dia seguinte.

Hermione chegou quase duas horas depois dele, e fazia forças para não demonstrar o contentamento que sentia. Cumprimentou-o de qualquer jeito e correu para o banho. Saiu do chuveiro depois de mais de meia hora e vestia a velha camisola de flanela, nada charmosa, porém muito confortável.

Rony tentou não se irritar com o pouco caso com que a esposa o estava tratando desde a noite anterior e puxou assunto:

- Onde estava? Parece mais animada agora.

- Estava com sua irmã, mas acho melhor não falar nesse assunto, já que você não gosta nem um pouco dele.

- Não é que eu não goste do assunto, amor – contemporizou – é só que acho que Harry e Gina, assim como nós, são muito novos para ter um filho. Quanto mais dois!

- Bom, não vou perder meu tempo tentando fazer você enxergar o quanto está sendo ridículo, mas Gina está feliz e saudável. E nós fizemos muitas compras para o bebê.

Rony tentava ainda não se entusiasmar com a gravidez da irmã, que ele considerava imprudente, mas não resistiu e perguntou:

- Ela já sabe o que é?

Hermione olhou o marido com mais desprezo ainda, querendo puni-lo pelo desinteresse inicial, e respondeu:

- Nós duas temos nossos palpites. Mas preciso dormir, pois amanhã vou para o Ministério às seis e meia. Boa noite.

Deu um beijo rápido na bochecha de Rony e virou para o lado, fechando os olhos e respirando profundamente.

O auror sentiu-se menos tenso, pois mesmo que tenha sido na bochecha, um beijo é sempre um beijo, e ele não teria que dormir no sofá mais uma noite. Isso, decididamente, era um bom sinal.

Hermione levantou cedo para se arrumar e Rony acordou junto dela. Tinha certeza que as coisas começariam a melhorar entre eles se pudesse ao menos acompanhar a esposa ao serviço. Ele se arrumou rápido, enquanto ela preparava um café. Enquanto ele comia, ela entrou no banheiro, arrumou-se e foi procurar um lenço de seda para prender os cabelos, particularmente bem mais rebeldes naquela manhã.

Rony entrou no banheiro da suíte para escovar os dentes e saiu logo em seguida, segurando uma espécie de termômetro na mão, comentando com a esposa, que acabava de prender a ponta do laço próxima à nuca:

- Que divertido! Eu adoro esses aparelhinhos que os trouxas inventam para medir o tempo. Mione, dois tracinhos é tempo bom ou ruim?

Hermione virou subitamente e vendo o que o marido segurava, ficou pálida. Ele havia falado DOIS tracinhos?

Quando recuperou-se do susto, ela atravessou o quarto com passos rápidos, tomou o “termômetro” da mão do marido e examinou, com cuidado, onde estavam os tracinhos que ele havia mencionado. Vendo que ele não havia se confundido, ela olhou magoada para ele e respondeu, antes de aparatar, com lágrimas nos olhos:

- Dois tracinhos, Ronald, significa tempestade!

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Comentários (2)

  • Andye

    Rony, seu legume insensível...

    2012-03-12
  • Lana Silva

    Tadinha da Mione kkkkkkkkkkk aposto que é um teste de gravidez...Tá não precisa ser um gênio pra advinhar...Rony vai pirar!

    2011-11-22
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