A Marca na Torre



Capítulo 08 – A Marca na Torre


 


O jorro de luz verde saiu da varinha de Dolohov e atingiu uma das garotas nas costas. Harry sentiu uma lágrima escorrendo por seu rosto enquanto observava a garota cair a alguns metros dele. A quantidade de informações que invadia a sua mente era enorme, ele já não conseguia entender o que era presente ou passado, sua cabeça parecia estourar. Não era verdade. Gina não podia estar morta. Depois do turbilhão de informações passar, ele se acalmou, e nenhuma outra lágrima escorreu por sua face. Inexplicavelmente, ele sentia uma ponta de esperança no peito.


— Dolohov, você está doido! – Draco entrou na frente do comensal, impedindo-o de fazer qualquer outra coisa – Eu disse que não era pra matá-la agora! E se você tiver matado a errada?


— Ah! Cale a boca, bebezinho. A chinesinha já tinha passado para o outro lado! – Dolohov empurrou Malfoy para o lado, pronto para desferir mais um feitiço.


Harry sentiu o medo voltar a preencher seu corpo, entretanto, antes que o comensal pudesse fazer qualquer coisa, a Gina que ainda estava de pé pegou sua varinha e correu para o lado. Dolohov lançou outro raio verde, errando por centímetros a perna dela.


— Você não vai fugir, não, boneca! – Mais um raio voou pela câmara, atingindo uma pilastra perto do corredor e jogando pedaços do que era uma cobra de pedra pelo chão. A garota correu para a passagem, se escondendo na escuridão. – Desgraçada... Volte aqui! Draco, vá ver a garota no chão! E preste atenção no Potter.


Malfoy assentiu com a cabeça foi na direção da garota deitada. Ela estava estática, estirada no chão, morta. Chegando mais perto ele percebeu um movimento e se assustou, segurando a varinha à frente. Instantes depois ele percebeu que não era a garota que se movia, mas sim sua pele. Bolhas imensas e deformações se formavam pelo rosto e ao longo dos braços descobertos da ruiva no chão. Na verdade ela já não era mais ruiva, seu cabelo estava escurecendo rapidamente. As sardas de seu rosto sumiam, o nariz achatava e os olhos se alongavam. Depois de alguns segundos, a transformação concluiu-se e Draco viu Cho Chang deitada no lugar em que havia uma Gina Weasley, sem vida. O garoto se agachou ao lado dela, passando a mão pela franja da garota, observando-a por completo. Friamente ele deu dois tapinhas na bochecha dela. – Não valia à pena. Você foi muito burra. Mas isso eu já imaginava.


Ainda amarrado, Harry viu a transformação de Chang e sentiu seu coração batendo feliz novamente. Sabia que não era certo ficar feliz pela morte da garota, mas isso significava que sua Gina ainda estava viva, portanto sentia-se realmente aliviado. Ele já tinha sentido que ela estava viva, entretanto, a certeza era reconfortante. Agora restava esperar que Gina derrotasse o comensal. Se ao menos ele conseguisse soltar aquelas malditas cordas e ajudá-la. Tentava com todas as forças romper aquele pedaço de couro, aparentemente indestrutível. Sua varinha jazia caída a alguns metros dele. Queria poder fazer feitiços sem a varinha, como Dumbledore, assim poderia invocá-la e se libertar. Dolohov já tinha sumido no corredor, indo atrás de Gina. Ouvian-se gritos das duas vozes e barulhos dos feitiços rebatendo nas paredes. Draco agora estava voltando para sua direção, com um sorriso no rosto.


— Deu sorte, ein, Potter. Ficou feliz com a morte da chinesinha? Aposto que sim. Mas não adianta ficar alegre por muito tempo, logo Dolohov vai voltar com o corpinho da sua amada. Você ainda vai ver, vamos nos divertir muito ainda essa noite.


— Malfoy, eu te juro, assim que eu sair daqui, eu vou tirar esse sorrisinho idiota da sua cara com as minhas próprias mãos. Você vai descobrir se ainda pode ser tão risonho com o nariz quebrado e sem alguns dentes.


Malfoy fechou a cara, se aproximando do garoto preso. – Você acha que me põe medo, é, Potter? – O loiro deu um soco forte no rosto do outro, fazendo-o cair para o lado. Ele o pegou pela gola da camisa e o levantou, dando outro soco. Um filete de sangue escorreu pelo canto da boca e Harry, que tentava com todas as forças se soltar, recebeu mais um soco no rosto, indo ao chão novamente. Quase não tinha mais forças para tentar se libertar quando, como que por milagre, as cordas cederam e sumiram. Draco não tinha percebido, pois continuou batendo em Harry sem dar atenção aos movimentos mais soltos dele. Este, segurou a mão de seu oponente, quando ele tentava mais um golpe, e torceu seu braço. Com uma joelhada entre as pernas, Harry o jogou para o lado, fazendo-o cair gemendo, com as mãos entre as pernas. Tomando ar, Harry limpou o sangue da boca e se levantou com dificuldade. Arrastou-se rapidamente para cima de Draco e agarrou o pescoço dele com a mão esquerda. – Eu não te disse? Agora vamos ver como fica seu sorriso. – Harry começou a desferir vários socos no rosto do rapaz, com toda a força e a raiva acumulada por todos os anos que os dois se conheciam. Ele sempre tinha sonhado com aquele momento de vingança. Draco já tinha o rosto ensangüentado e o nariz quebrado duas vezes, quando Gina apareceu, saindo correndo do corredor.


— Harry! Harry? O que você está fazendo, Harry? Pára, você vai matar ele assim! – Gina vinha correndo na direção dos dois. Como se saísse de um transe, Harry parou de bater no loiro, levantando o tronco e olhando para a garota que vinha ao seu encontro. Sua mão estava ensangüentada com o sangue de Draco. Aquele sangue, sim, ele achava ruim.


Levantou-se foi ao encontro de Gina. Os dois se abraçaram como se não se vissem há anos, ele não queria deixá-la sair de perto dele nunca mais. Gina, que por tanto tempo e por tantas vezes segurara o choro, deixou algumas lágrimas caírem silenciosamente por seu rosto, encontrando o ombro do namorado. Harry sentia aquele perfume de flores que tanto adorava, aqueles cabelos macios, o coração dela pulsando acelerado. No entanto, não conseguiu sentir aquilo tudo por muito tempo.


Draco aproveitou seu momento livre e pegou sua varinha, caída ao seu lado. Virou-se de bruços e depois se ajoelhou, sentindo a cabeça latejar de dor. Apontou a varinha para os dois, que agora estavam abraçados e, mal conseguindo balbuciar, exclamou “Impedimenta”. Não podia matá-los, o lorde não ficaria nada feliz. Precisava apenas afastá-los, para que tivesse tempo de fugir e completar a outra parte da missão. Os dois voaram, caindo perto de uma parede do outro lado da câmara. Com as forças que lhe restava, Draco levantou-se e tentou correr, muitas vezes quase caindo, para a saída do local.


O raio azulado atingiu Harry e Gina em cheio, lançando-os para o fundo da sala. Harry caiu de bruços, batendo o rosto no chão e sentindo que seu joelho não quebrara com o impacto por pouco. Gina tombou por cima, com as pernas sobre das costas dele, batendo a parte de trás da cabeça em seu próprio braço direito. Ficaram alguns instantes daquele jeito, semi-conscientes, até que Harry conseguiu se levantar com dificuldade. Viu Malfoy cambaleando já na entrada do corredor, não havia mais tempo para ir atrás dele, mais uma vez o desgraçado conseguiria fugir.


Gina estava caída ao seu lado, mexendo a cabeça, ainda tonta. Ele se ajoelhou ao lado dela, levantando sua cabeça. Ela ainda piscava o olho, sem ver muita coisa. Por sorte, seu braço, que agora doía intensamente, amortecera a pancada na cabeça, caso contrario, ela poderia ter até morrido com o trauma. Harry virou-a olhando em seus olhos semicerrados, que ainda traziam algumas lágrimas, e colocou a cabeça dela em seu colo, afagando os cabelos ruivos, pedindo para ela acordar. Após alguns instantes ela abriu os olhos completamente, fixando-os nos olhos verdes e intensos do namorado. Ela sorriu e levantou o tronco. Harry a abraçou novamente e a beijou, num beijo aliviado, feliz. Os dois transmitiam a alegria de estarem novamente juntos. Gina sentia-se mais segura do que nunca nos braços de seu amor. Apesar de ambos estarem bem machucados, nenhum deles queria sair dali, queriam ficar eternamente naquele momento. Os minutos passaram parecendo horas, Malfoy já devia estar bem longe dali, fazendo alguma coisa ruim, mas isso não importava. A única coisa que importava para eles era ficar ali, abraçados, sentindo um ao outro.


— Nunca mais me dê um susto desses, viu? – disse Harry descolando sues lábios dos dela e sorrindo. Gina também sorriu.


— E você, nunca mais saia correndo assim para me salvar.


Eles riram e se abraçaram, sentindo-se. Harry finalmente reconheceu a energia que vinha dela, da verdadeira Gina. Ali ele não se sentia vazio, não se sentia frio. Sentia-se completo, cheio de felicidade.


— Sabe o que é estranho? Quando eu vi Draco te arrastando, digo, arrastando a Cho, eu morri de medo, pensando que era você, pensando no que ele ia fazer com você. Mas quando eu encontrei ela aqui em baixo, eu percebi que algo estava estranho, eu sentia que não era você, não tinha a mesma energia, eu não me sentia tão bem como eu me sinto com você. – Gina abriu um sorriso largo e jogou os braços em cima dele, o beijando novamente.


— É por isso que eu fiz tudo isso por você... – disse ela entre os beijos. Harry já ia quase se esquecendo de contar, mas, quando lembrou, parou o beijo.


— Eu me lembrei!


— Se lembrou? Do quê?


— Me lembrei! Quando o Dolohov lançou a maldição da morte, eu fiquei com tanto medo de te perder que a minha cabeça deu um estalo. Eu me lembrei de tudo! O fim do ano passado, esse ano, o nosso beijo depois do jogo... Me desculpe, Gina, eu não sei como eu pude esquecer tudo, como eu pude te esquecer... – Gina colocou um dedo na boca dele.


— Você não tem que se desculpar de nada Harry, você não teve culpa, a culpa foi do maldito Comensal que lançou aquele feitiço em você. Que bom que você se lembrou, você não sabe como eu fico feliz. Eu é que devia te pedir desculpas, fui injusta em ficar brava com você, afinal você não...


— Ei, ei! Agora eu que digo, você não tem que pedir desculpas nenhuma também, eu te entendo. Agora vamos esquecer isso, certo? Já é passado. – ele segurava o queixo dela e olhava em seus olhos – Nem importa se eu lembrei alguma coisa, aquele feitiço não apagou o que eu sentia, e nada vai apagar. Eu te amo. – A frase saiu sozinha, Harry não conseguiu evitá-la, tinha que dizer aquilo que guardava há tanto tempo.


Gina o enlaçou em mais um beijo, murmurando um ‘eu também te amo!’ enquanto os dois corpos se uniram em um abraço. Ela o beijava intensamente, mostrando aquele sentimento que eles finalmente deixaram fluir. Já começavam a se empolgar quando Gina bateu sua perna no joelho dolorido de Harry e os fez voltar à situação em que estavam.


— Ai! Gina, meu joelho...


— Ah, desculpa, eu não vi!


— Não tem problema. – ele disse, massageando o joelho e sorrindo – Escuta, é melhor a gente sair daqui. Malfoy já fugiu faz um tempão e nós não sabemos o que ele vai fazer. Ele pode até estar trazendo alguém para cá.


— Você tem razão. – disse ela, saindo de cima do rapaz e sentando ao seu lado – Podem ter mais Comensais no castelo, não é?


— Podem, e eu apostaria minha vassoura que têm. – Harry se levantou, estendendo a mão para sua namorada – Mas, falando nisso, como você se livrou do Dolohov?


— Eu ainda não sei como tive tanta sorte. – ela segurou na mão do namorado e se levantou. Os dois seguiram, de mãos dadas, para o corredor – Parecia que nenhum feitiço dele podia me atingir, tudo batia nas paredes, nas pilastras, nada me acertava. Quando ia pra cima de mim, eu conseguia rebater com o feitiço-escudo. E foi assim que aconteceu, ele lançou uma Maldição da Morte e eu usei o escudo. A maldição rebateu e voltou contra ele mesmo. Ele morreu.


— Caramba... Realmente, foi muita sorte.


— É estranho isso, sabe... – a voz dela se entristeceu – Eu, tecnicamente, matei um homem. Está bem, o feitiço era dele, eu sei, mas eu que rebati, por culpa minha ele morreu. – os dois já tinham chegado ao salão de entrada da câmara e agora rumavam para o túnel que subia para o banheiro feminino.


— Eu imagino como é, mas não se preocupe com isso – ele apertou mais forte a mão dela –, aquele Dolohov era um monstro, não um homem. Ele deixou de ser quando resolveu servir a Voldemort. Você só estava se defendendo, ele te mataria se você não fizesse isso. Foi melhor assim.


— Eu sei. Você tem razão...


— Hey. Não fica preocupada, viu? – ele olhou para ela, que tinha o olhar vago – Vamos, segure-se forte em mim que a gente vai subir.


Concordando com a cabeça, Gina abraçou Harry por trás e o apertou com força, para não se soltar. Com um braço Harry segurou os braços dela, com o outro ele apontou a varinha para o alto do túnel, gritando “Ascendio”. Os dois foram puxados para cima como um míssil, bateram várias vezes na parede do túnel, mas chegaram à saída dele, sendo jogados no chão molhado do banheiro feminino. Harry levantou-se, bateu a sujeira da roupa, ajeitou seus óculos e ajudou Gina a se levantar.


— Vamos, do jeito que ele fugiu, já deve estar saindo da escola. Se demorarmos, vai conseguir desaparatar.


Gina meneou a cabeça positivamente e os dois saíram banheiro, andando rápido para o saguão de entrada. Desceram as escadas do segundo andar, passaram pelo corredor de armaduras no primeiro e chegaram ao saguão. Logo ao entrarem, ouviram um estrondo alguns andares acima deles. Preferiram ignorá-lo, pois precisavam achar Draco. Saíram e se depararam com os jardins, vazios, sem ninguém à vista. Provavelmente, ele teria escapado. Desceram mais alguns degraus e olharam à volta. Ninguém. Foi então que Gina cutucou Harry.


— H-harry... – ela gaguejou como se tivesse visto um fantasma e ficou olhando para o alto – olha pra aquilo.


— O qu... – Harry se virou e olhou para o que ela estava vendo. No topo da Torre de Astronomia flutuava um gigantesco crânio, com uma cobra saindo de sua boca: A Marca Negra. – Maldição! Gina me espera aqui, ou melhor, vai pra sala comunal e avisa quem você conseguir avisar...


— Não! – Gina segurou o braço do garoto, que já se preparava para correr – Eu não vou me separar de você de novo!


— Gina, por favor... Eu não quero correr de novo o risco de te perder.


— E não vai! Harry, agora a gente vai estar junto, você viu o que aconteceu lá embaixo enquanto você estava sozinho.


— Mas, Gina...


— Harry! Eu vou com você. Eu tomei o Felix Felicis, nada estava me atingindo. Não quero te deixar de novo.


— Mas... – Harry não concluiu a frase, Gina olhava pra ele com aquela cara intimidadora, igual à de Molly, que o convenceu a não tentar convencê-la – Tá, tá. Tudo bem, mas vamos log... – Novamente ele não concluiu a frase, mas dessa vez foi por causa de um barulho que ouviu acima da cabeça deles. Três vassouras passavam, zumbindo, indo para a Torre de Astronomia. Apesar da altura delas, Harry percebeu que a que vinha na frente trazia Dumbledore, sua barba prateada era inconfundível. Ele se espantou quando percebeu quem vinha junto com ele: Rony e Hermione, voando lado a lado, estavam logo atrás do diretor. Rony trazia sua cara característica de pavor, olhando para a Marca Negra. Antes que Harry pensasse em fazer qualquer coisa, os três pousaram na torre e saíram do campo de visão dos dois. Correram até o pé da torre e tentaram chamar os três, mas não tiveram resposta nenhuma. Ficaram mais alguns segundos tentando, até que ouviram um estrondo e o barulho de feitiços sendo lançados. Logo depois, viram uma varinha voando e caindo na grama, ao lado deles. Harry a pegou e a reconheceu na hora. Era a varinha de Dumbledore. Então ele finalmente se lembrou do fato mais recente, do que ele ouvira na floresta negra, e então ele paralisou. Toda aquela conversa que ele ouvira, a causa dele ter perdido a memória. Tudo voltou à tona. Dumbledore corria imenso perigo.


— Não, droga! Vem, Gina, a gente tem que correr!

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