Souvenirs
Thomas continuou a andar a esmo pela praia até chegar ao pequeno porto, onde barcos e lanchas particulares estavam presos firmemente, evitando roubos e acidentes. Olhou para a costumeira lanchonete ao longe e simplesmente desejou que ela estivesse aberta, para que ele pudesse entrar e devorar um sunday, um mero sunday. Sentou no banco da praça e repassou mentalmente como suas pequenas férias de natal tinham sido.
Lá estava ele a puxar sua mala com dificuldade até onde as carruagens esperavam os alunos, que os levariam a uma vila próxima, onde poderiam pegar um trem que os deixaria em Londres. O céu estava tão cinza e frio quanto os flocos de neve que caíam livre e despreocupadamente no território e nos arredores da escola. Thomas atravessava o gramado sem nenhuma companhia, ninguém a lhe tagarelar no ouvido sobre os planos do feriado ou o que esperava ganhar de natal. Agradeceu mentalmente por isso, nenhuma voz estridente e nem comentários irritantes. Mas ao mesmo tempo, desejou que alguém estivesse ali, mesmo que em silêncio, só para saber que alguém realmente gostava de sua companhia. Pensou se a irmã não estaria ali por perto, mas lembrou-se que mesmo que estivesse provavelmente estaria cercada por seus colegas quartanistas. Apressou o passo ao ver que somente uma carruagem permanecia totalmente livre e todas as outras já estavam parcialmente cheias. Passou o portão e entrou na carruagem estacionada logo em frente, que parecia totalmente vazia. Mas ao contrário de sua suposição, estava ocupada e por quem ele menos queria ver. A menina que estava sentada e que olhava vagamente para através da janela possuía lindos olhos verdes e cabelos lisos de uma perfeição só. Ainda trajava as vestes da escola e o livro que estava aberto em cima de suas pernas parecia estritamente de lazer, apesar de ela não estar lendo-o. Quando notou a entrada de uma pessoa na pequena carruagem, seu rosto já branco conseguiu ficar ainda mais e os vestígios de um sorriso desapareceram. Ela murmurou um oi tímido e quase inaudível, voltando logo a se concentrar em sua leitura. Thomas, porém, notou que seus olhos estavam parados. Ele considerou a possibilidade de sair dali, mas além da extrema grosseria, já era impossível, pois os animais que puxavam a carruagem já haviam começado a andar. “Encare seus medos, covarde”. Ela ergueu a cabeça procurando pelo olhar do seu ex-companheiro, que tantas vezes a ajudara e confortara, estimulando-a com carinhos e palavras doces. Ele olhava pela janela, tentando ignorar as palavras que ele sabia que vinham a seguir.
- Olha, Tom, eu nunca quis...
- Sério, Liv, a gente não precisa falar sobre isso agora.
- Quando, então?
- Ahn?
- Quando que você vai olhar pra mim e aceitar minhas desculpas?
- Que tal no dia que você lançar um Diffindo na minha cabeça e aparar os chifres? Eu tenho batido muito a cabeça ultimamente.
Em questões de segundos, Olívia estava erguendo a varinha e apontando-a para o garoto, que desavisado não se protegera do feitiço.
- DIFFINDO!
Um barulho de tecido se rasgando espalhou-se pela carruagem e Thomas olhou indignado, tentando arrumar o enorme corte em seu sobretudo preto escolar.
- Você que pediu, meu bem.
- Olívia, você continua burra como antes, não consegue entender uma frase irônica.
Thomas já estava se irritando com toda aquela situação incoerente. Ele fora traído, levara o chifre, terminara gentilmente com ela e ainda tinha suas vestes de primeira mão rasgadas? Onde isso poderia ser considerado justiça? Vendo que ela ficara ofendida com o comentário e que se recolhera ao silêncio, sentiu pena dela. Sim, era estúpido mesmo. Mas não podia deixar de lembrar o bom ano que passara com elas, os momentos, os risos e toda a felicidade que ela lhe proporcionara. Lembrou-se que quando viu ela com o Pete da Corvinal deu a chance para ela mesma contar. Quando isso não aconteceu, foi contar-lhe que sabia que os dois tinham ficado. Lembrou-se também, e com vergonha, que pensara em esquecer tudo, apagar a noite em que passou pelo terceiro corredor, e fingir que estava tudo bem entre ele e Olívia. Voltou ao presente e viu, ou imaginou ter visto, olhos úmidos, forçados a não demonstrar a verdadeira fraqueza e tristeza através de lágrimas.
- Liv, sério, vamos deixar isso pra trás.
- Vamos sim. É o que eu mais quero, deixar pra trás. Mas antes preciso te dizer algo que você não me deu chance até agora. Eu te amava muito, ok? Mas nós não estávamos... no mesmo lugar, ao mesmo tempo, entende? Às vezes eu tenho a sensação de que você tá muito mais na frente, no seu próprio mundo. E o meu mundo é... é... sei lá. Eu só fiquei com o Pete porque já não sentia você junto a mim.
- Você não me sentia próximo, pois estava sempre me afastando.
- Eu te afastando? Eu tava te mantendo por perto, pelo amor de Merlim; perto de mim e de todas as outras pessoas que você geralmente ignora.
Thomas desceu da carruagem com sua mala sem nem se dar o trabalho de responder Olívia. Nada justificava e por mais que ela falasse, o conceito final dele não mudaria. Dirigiu-se ao trem, passando pela multidão de alunos e logo conseguiu uma cabine, que por extrema sorte, estava vazia. Guardou sua mala e esperou que o trem se movimentasse, o que ocorreu uns cinco minutos depois, com um forte solavanco anunciando o início da viagem, que se passou rapidamente, já que Thomas estava no seu décimo quinto sono.
Ele levantou. Demoraria um século pra chegar em casa se não começasse a andar logo. Andar. “Mas que desgraça”. Desejou, pela milésima vez, que tivesse passado no exame de aparatação. Lembrou, com um grande pesar, que só deixara de passar por ter errado o local em uns 70 metros. Isso não era nada, se considerasse que Jenna Hawtown errara o local por mais de três quilômetros e ainda por cima se perdera. De pé, seguiu seu caminho com as mãos no bolso e com ar pensativo.
- Acho melhor você não ir nessa festa, Cath. – disse Thomas, com jeito de irmão protetor, enquanto a menina acabava de passar a sombra no olho direito.
- Que mal pode ter, Tom? Só vou me divertir um pouco. Assim como você tem feito quase todo dia, por sinal.
- Não sei, essa pessoal é manipulador e não se deve confiar.
Catherine parou com o rímel no ar, a meio caminho do olho, e olhou para o irmão. Ao ver que ele estava falando sério deu uma gargalhada estridente e espalhafatosa.
- Sim, claro, porque a nossa família é a que ajuda os outros e é muito confiável.
- Haha – riu o garoto cinicamente – Você não precisa ser como eles. Você pode ser melhor.
- Ok, primeiro, cadê meu irmão? Esse alien aí dentro não ta sendo muito discreto. Segundo, como diabos você foi parar na mesma casa que eu? Tá parecendo até um grifinório. – respondeu ela com ar superior.
Thomas, ao ouvir, ruborizou levemente e ligou o rádio com um aceno de varinha para disfarçar. Tocava uma música animada do The Train, uma de suas bandas mágicas preferidas. Catherine notou que algo estava estranho. Seu irmão não respondera e ainda tentara disfarçar.
- Thomas? THOMAS!
- Ok, ok. Depois de sete anos é inevitável te dizer. O chapéu não sabia em que casa me colocar, ok? E por uma fração mínima de segundos ele considerou a possibilidade de me mandar pra Grifinória. Também considerou a Corvinal. Mas no final decidiu-se pela Sonserina mesmo.
Catherine estava pálida como a neve e tão surpresa que sua boca se abrira em um gesto de choque e só se fechara quando ela resolveu falar.
- Bom, isso... isso explica muita coisa, não é? – Tentou fazer uma brincadeira, não conseguiu. Ainda estava surpresa – Olha, eu não me incomodo. O que importa é a decisão final do chapéu. O que ele disse?
- Não fique chateada se eu não te contar isso. É pessoal. Agora anda, termine de se arrumar que eu vou te levar lá.
- Me levar lá? Quantos anos você pensa que eu tenho?
- Quatorze. E não é o suficiente pra deixar você sair andando assim.
- Ahá. Você foi convidado também, não é? Só quer um pretexto para ir à festa, aposto. Vai você se arrumar, eu te espero.
- Não, tenho outra festa pra ir.
- Outra? De quem?
Thomas não respondeu.
- Ah não, outra dessas festas trouxas?
- As festas trouxas são muito mais animadas. Essa festa aí que você vai é só blábláblá entre as pessoas, um copo de champanhe e talvez você conheça um cara da alta sociedade que só vai gostar de você por causa do seu sobrenome e ah, provavelmente vai te exibir por isso.
- Esse é o nosso mundo, Tom, e sinceramente? Eu adoro ele. Agora anda, não quero me atrasar.
- Como quiser, pequena.
E com isso ele saiu para pegar sua jaqueta e um pouco de pó de flu, que os levaria a um bar bruxo perto da casa onde a festa estava sendo sediada.
Thomas estava tão despreocupado que nem sentia suas pernas doendo em protesto à distância andada. Já perto de casa, olhou para o sol que raiava e viu os vestígios de um belo dia chegando, o céu rosado e as poucas nuvens, e de imediato, sentiu vontade de se jogar na piscina gigante da casa, quase nunca utilizada. Meia hora depois, ele estava lá, de calça mesmo, na piscina, em cima de um colchão inflável. Cenas que ele tentava lembrar constantemente, voltaram a sua mente.
Gritos alegres e gargalhadas cortavam a tarde ensolarada daquele domingo e a água da piscina transbordava, molhando os arredores da piscina. Uma linda mulher de 25 anos, com cachos castanhos agora molhados e olhos verdes que irradiavam alegria, estava na piscina com seus dois filhos pequenos nos braços. Um deles era a própria imagem dela, só que 19 anos mais novo. A outra puxava a beleza clássica do pai, tendo os cabelos louros e cumpridos, os olhos azuis e um rosto pontudo, típico da família do pai, mas que combinava perfeitamente com a beleza da menina de 3 anos. A tarde se fechava enquanto o tempo passava e com os dedos já murchos, a mãe e seus filhos resolveram sair da piscina. Com a repentina muda de tempo, o vento soprava e sair da água quentinha era quase como tortura. A iniciativa foi de Sofia, a mãe, que saiu e pegou duas toalhas para os filhos. Gotas de chuva começavam a cair. As crianças, com frio, batiam o queixo e Sofia puxou os dois para um abraço e os três juntos, se esquentaram.
O dia amanhecia e Thomas estava dormindo no colchão inflável, sem imaginar a ira de seu pai caso visse-o ali.
N/A: Heey! Terceiro capítulo *-*
Sei que tinha dito que colocaria ele logo, mas deu problema na (grande bosta) net. Então to colocando só hoje :’) Maaas, olhando pelo lado bom (sempre há um) eu fiquei entediada o fim de semana e já escrevi o quarto e o quinto capítulo inteiro e comecei o sexto. Só peço alguns comentários pra postar, ok? Motivação é sempre necessário.
XOXO
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