Declaração ou confissão?
Flashback
Foi relembrando o beijo trocado naquela tarde que o sono encontrou Hermione. Como não poderia deixar de ser, seu sono foi povoado por sonhos, sonhos nos quais Rony aparecia quase sempre...
Ela estava nervosa, ansiosa, com um certo medo de sair do dormitório, medo do que achariam dela, não sabia se estaria vestida apropriadamente para aquele evento, mas afinal, não tinha tempo de se arrumar novamente. Com as mãos um pouco trêmulas ela abriu a porta do dormitório e seguiu para o Salão Principal. Alguns rostos se voltaram para ela quando chegou, o que só aumentou seu nervosismo. Parada no alto da escada, tentando não notar os casais ao seu redor, ela procurava seu par, mas ele parecia não estar em lugar nenhum. Até que uma mão pousou suavemente em seu ombro. Aliviada por saber que seu par não havia desistido do convite ela se virou. Mas não encontrou os olhos castanhos do rapaz que a convidara, e sim os olhos azuis de Rony. Sem saber o que dizer ela apenas aceitou que ele tomasse sua mão, e ela não pode deixar de notar quão delicados estavam os gestos dele naquele dia, e a beijasse. Feliz por estar aproveitando o Baile de Inverno exatamente com quem ela queria, Hermione se deixou conduzir pelos passos ágeis de Rony -‘Quando Rony aprendeu a dançar?’ - durante aquela valsa. Fechou os olhos para aproveitar a sensação de rodopiar segura em seus braços. Sentindo-se tonta ela abriu os olhos e percebeu que já não estavam na festa, estavam na Sala Precisa.
_Tudo bem, Hermione? – Rony perguntou preocupado.
Sem entender nada ela olhou para o próprio corpo e viu que não usava mais o belo vestido de festa, mas o uniforme de Hogwarts. – ‘Não acredito que estou sonhando!’ – pensou decepcionada.
_Será que o meu feitiço fez efeito dessa vez?! – Rony perguntou esperançoso.
_Não fez nem cócegas, Ronald! – ela respondeu sabendo exatamente o que deveria fazer. – É assim que se faz! – ela tomou posição de duelo e desferiu um feitiço atordoante nele, mas ele não surtiu o efeito desejado.
Ao invés da esperada luz branca que a varinha deveria emitir, uma revoada de pássaros amarelos apareceu da ponta da mesma. Mas eram tantos pássaros que eles tamparam a visão dela.
Quando eles finalmente se afastaram e ela pode enxergar novamente se viu de volta ao Salão Principal. – ‘Outro baile?’ – Mas dessa vez seu vestido não era azul, era creme, e ela não era mais a garota ansiosa de 14 anos, era praticamente uma mulher. – ‘O baile de formatura!’
_Você está linda, Hermione!
Ela não se surpreendeu dessa vez, era por ele que ela esperava: Rony Weasley. Foi por ele que ela esperara nos últimos anos, mas ele não viera, ou viera? Ela não tinha certeza, mas também não queria pensar naquilo àquela hora, queria apenas aproveitar a companhia dele.
_ Eu sou seu namorado... – ele falou de repente e o sorriso dela se alargou mais ainda.
Os raios de sol que entraram pelas frestas da cortina encontraram o rosto de Hermione esboçando um sorriso satisfeito. Sentindo a claridade no quarto ela começou aos poucos a despertar. O sonho que tivera com Rony aparecia em sua mente em forma de flashs. Ela não tinha vontade de abrir os olhos para que o sonho não escapasse de suas lembranças.
Ela esticou os braços e as pernas espreguiçando-se gostosamente. Abriu finalmente os olhos e sorriu. Sentiu um calor tomar conta de seu rosto. A parte do sonho em que Rony dizia que a namorava não saía da frente de seus olhos. Com o coração estranhamente satisfeito ela deixou o quarto e foi tomar o café da manhã com seus pais. Como havia recebido licença médica por alguns dias graças ao acidente não tinha muita coisa para fazer, então resolveu ir até a Toca.
_Com licença! – falou colocando apenas a cabeça para dentro da casa silenciosa. Silenciosa demais para uma casa onde moravam seis pessoas. – Ola-á! Tem alguém em casa? – ela entrou finalmente. – “Será que eu deveria ter mandado uma coruja antes? Mas eu tinha certeza de que Gina e Rony estavam de férias!”
_Senhorita Granger! – uma voz a abordou de repente e a fez dar um salto surpreendente graças ao susto que levou.
_Meu Deus! – ela exclamou levando uma das mãos ao peito. – Vocês querem me matar de susto?! – perguntou aos gêmeos que desciam as escadas sorridentes.
_Suponho que essa fosse a sua intenção, Hermione! – Jorge falou.
_Afinal foi você quem entrou sorrateiramente na nossa casa! – Fred completou.
_Oh... – ela suspirou envergonhada. – Eu achei que teria alguém em casa. Rony me disse que iria tirar férias do time...
_Mas tem alguém em casa! – Fred afirmou indignado descendo alguns degraus.
_Nós estamos em casa! – Jorge completou seguindo o irmão.
_Mas o Roniquinho saiu com a Gininha para comprar algumas coizinhas de que nossa querida irmãzinha estava precisando... – um deles explicou.
_Mas eles já devem estar voltando! – o outro falou. – Sabe como é... Mamãe não quer que ela saia sozinha por aí...
_E como o namorado dela anda ocupado...
_Roniquinho teve que ser a babá da vez!
_Sei... – ela falou desconfiada com a atitude deles. – Será que eu posso esperar?
_Claro! – Fred falou levando-a até o sofá.
_Nós adoraríamos! – Jorge completou sentando-se ao lado dela.
_Será que você nos faria um favor, Mionezinha?
_Favor? – ela perguntou deixando transparecer toda estranheza a respeito da intimidade dos gêmeos com ela.
_Você provaria esse suco que inventamos para o nosso restaurante? – Jorge praticamente enfiou um copo com um líquido azulado no rosto dela.
_Restaurante?! – ela perguntou desconfiada. – Desde quando vocês dois têm um restaurante?
Fred e Jorge se entreolharam assustados. – Como assim?
_Você se lembrou?
_Me lembrar do quê?! – ela cruzou os braços, impaciente.
_Hermione! – Gina exclamou da porta. Acabara de chegar das compras com Rony em seu encalço.
_Mione? – ele se surpreendeu. – Não sabia que você viria para cá hoje!
_Nem eu... – ela respondeu tímida lembrando-se do sonho que tivera. – Decidi de repente. Espero não estar atrapalhando nenhum plano de vocês.
_Você não atrapalha na... – mas ele não terminou. Os irmãos o olhavam com caras divertidas e ele, ficando com as orelhas vermelhas, não completou a frase. - O que é isso aí? – ele mudou o assunto.
_Isso o quê? – Jorge tentou esconder a poção, mas não foi tão rápido.
_Eu não acredito que vocês tentaram de novo! – ele explodiu. – Parem de se aproveitar do problema da Hermione, seus crápulas! - largou a sacola no chão e seguiu em direção aos irmãos que, mais rápidos, desaparataram no mesmo instante.
_Eles não são os únicos... – Gina murmurou. Hermione a olhou sem entender o que acontecia.
_Você não tomou aquele negócio, tomou? – Rony voltou esbaforido.
_Claro que não! – ela falou divertindo-se com a cara dele. - Não se preocupe. – sorriu docemente.
_Hum, hum... – Gina pigarreou para chamar a atenção para si. – Que bom que você veio, Mi! Rony tinha mesmo algo para te dizer... – ela pegou as sacolas do chão e seguiu para seu quarto para guardar as compras.
Hermione olhou para Rony esperando o que viria a seguir, mas se espantou com o extremo rubor que tomara conta dele. Com dificuldade escondeu um sorrisinho. Permaneceu onde estava e decidiu não dizer nada, para não pressioná-lo. Seu coração batia acelerado com a expectativa.
Rony, por sua vez, não sabia onde enfiar a cara. Seu coração batia acelerado num misto de ansiedade, culpa e raiva da irmã. Não tinha coragem de olhar para a amiga, não sabia por onde começar. Sabia o que deveria fazer, mas não queria. Estava contente com a situação, com tudo que acontecera no dia anterior. Não estava pronto para voltar a sua vida de antes, vida de amigo. Melhor amigo.
_Rony? – ela achou melhor perguntar já que ele parecia que entraria em órbita a qualquer momento. – Tudo bem? – ela se aproximou preocupada.
Rony tomou fôlego e olhou para ela. Hermione o encarava com ar de preocupação. Deu um leve sorriso encorajando-o a dizer o que quer que fosse, mas ele não falou nada, apenas retribuiu o sorriso. Era incrível para ele ter Hermione ali, em sua frente, pronta para ouvi-lo confessar alguma coisa, e não vê-la com o olhar desconfiado, as feições denunciando a formação de um sermão interminável. Ao invés disso ela apenas esperava, sem pressa, era incrível!
_Gina adora um suspense! – ele sorriu mais confiante aproximando-se dela. – Eu só queria saber se você topa dar uma volta comigo por aí? Sabe, poderia ser bom para a sua memória passear um pouco pelos lugares que costumávamos freqüentar juntos... – ele segurou as mãos dela e aproximou seus lábios, num selinho suave.
Completamente ruborizada Hermione perdeu a fala.
_Que foi? – Rony perguntou.
_Eu vou... – ela respondeu meio abobada. – Claro...
_Que bom! – ele respondeu. Afastou-se um pouco, deu uma rápida olhadela para o andar de cima. Como não viu nada, aproximou-se dela novamente e a tomou para mais um beijo, que foi plenamente correspondido, assim como o beijo do dia anterior.
_Por onde começamos? – ela perguntou depois de se afastar sofregamente dos lábios de Rony.
_Que tal o Beco Diagonal? Você consegue aparatar?
_Claro! Foi assim que eu cheguei aqui.
_Ótimo! – Rony segurou a mão dela e gritou para o andar de cima: - Eu e a Mione vamos sair! – ele ouviu a porta de um quarto se abrir urgentemente, mas para não arriscar, aparatou de uma vez.
_Eu não acredito nisso! – Gina bufou chegando à sala tarde demais. Sem pensar duas vezes ela rabiscou um bilhete e enviou por Píchi. Estava muito brava.
Rony e Hermione aparataram no Beco Diagonal. Andaram pelas ruas movimentadas de mãos dadas. Rony apontando e comentando todos os lugares que foram visitados por eles para compra de materiais escolares durante Hogwarts. Para sua sorte não encontraram nenhum conhecido e, para maioria dos transeuntes, não passavam de um jovem casal aproveitando um dia frio para tomar um sorvete quente da Florean Fortescue.
_E aí, Mione? Não se lembra de nada? – Rony perguntou num misto de esperança e medo.
_Hum... Não sei... Tenho certeza de que já estive aqui antes, mas se você me perguntar por algum evento em especial eu não me lembro de nada. – dizia desapontada.
_Que pena... Olha só! – ele exclamou puxando-a pela mão. – Foi aqui que você comprou aquele gato estúpido no nosso terceiro ano! – resmungou.
_Ah, Rony! Não fala assim dele! Bichento é um ótimo gato de estimação! Ele te salvou do Perebas! – ela falou admirando a grande loja cheia de animais nada comuns.
_O quê?! – Rony se espantou.
_Ora... Harry me contou! – ela explicou.
_Ah... Bom, acho que já te mostrei tudo por aqui. Vamos para Hoagsmead?
_Vamos! – e os dois aparataram.
Em Hoagsmead Rony não teve muito sucesso também. Hermione dizia reconhecer vagamente os lugares, mas não lembrar nada que já tivessem vivido ali. Perto da hora do almoço eles foram até o 3 Vassouras. Mme Rosmerta veio atendê-los sorridente. Cumprimentou-os se lembrando dos jovens amigos de Harry Potter, mas não fez nenhum comentário a respeito de estarem os dois ali sozinhos. Não demorou para que um belo almoço fosse servido aos dois, que permaneceram ali conversando ainda por um bom tempo.
_O que foi, Gina? – Harry perguntou preocupado ao aparatar n’A Toca algum tempo depois de receber a carta da namorada.
_É o Rony! Eu tive uma conversa séria com ele hoje. Ele me prometeu que ia contar toda verdade para Hermione, mas não contou. Os dois foram passear juntos!
_E o que você quer que eu faça, Gi? O Rony gosta dela...
_Mas Harry! Você sabe que isso está errado! Você sabe que...
_Eu sei! Eu também já tentei convencer o Rony, mas ele não me ouve. Ele ficou tão apavorado com a idéia da Hermione morrer que agora não quer perder nenhuma chance com ela...
_Eu sei. Sempre torci pelos dois, mas não pode ser desse jeito. Se ele não contar a verdade agora vai ser pior. O fim do curso já está aí e você sabe...
_O que você quer que eu faça? – perguntou desiludido.
_Conversa com ele! Ele te escuta...
_Não escuta, não...
_Mas você precisa tentar! Você sabe que o fato de ser irmã dele não me ajuda quando eu tenho que dar conselhos. Ele não me ouve... Mas você é o melhor amigo dele, e da Hermione também! Nós temos que fazer alguma coisa, Harry!
_Você sugere o quê? Que nós contemos para ela?
_Se ele não contar... Acho que seria o mais certo!
Hermione observava, divertida, Rony devorar sua segunda taça de doce de abóbora. Com os cotovelos sobre a mesa e a cabeça apoiada nas mãos ela refletia sobre aquele momento: ela e Rony Weasley almoçando juntos no 3Vassouras, sem ninguém para atrapalhar. Jamais imaginara algo do tipo e resolveu aproveitar o momento.
_Rony? – ela chamou.
_Hum? – ele respondeu ainda com a boca cheia de doce.
_Me fale mais de nós dois.
Ele tossiu por alguns segundos. Rindo mais ainda, Hermione segurou no ar a colher que ele deixara cair no seu ataque de tosse. Depois conjurou um copo d’água que ele bebeu lentamente, para ganhar tempo.
_Como assim? – ele perguntou vermelho por ter engasgado e por ter sido pego de surpresa.
_Me fala como foi que começou... – ela disse aproveitando a colher dele para roubar um pouquinho de doce.
_Como começou o quê? – ele perguntou preocupado.
_Nós dois! Como foi que começamos a namorar? Queria ter lembranças dessas coisas, sabe? – falou triste.
_Hum... – ele tentava ganhar tempo. Não sabia por onde começar, ou melhor, não tinha por onde começar. – Bem...
_Ah! Encontramos vocês! – Gina entrou no bar olhando feio para Rony, acompanhada de Harry.
_Essa é boa! O que você quer agora, Gina?! – Rony perguntou impaciente.
_O que eu quero?! Você sabe o que eu quero, Ronald! – ela falou com as mãos na cintura e uma cara nada boa.
_Oi Harry! Tudo bem? – Hermione cumprimentou para quebrar o clima.
_Oi Mione. Tudo bem com você?
_Tudo... Por que não se sentam conosco? Vocês já almoçaram?
_Ainda não! – Harry respondeu lembrando-se que estava mesmo morrendo de fome. Já ia puxando uma cadeira quando viu as caras mal-humoradas de Rony e Gina. – Ah, qual é Gina! Você me arrancou de casa e eu nem pude almoçar. Estou com fome! Senta aí e relaxa!
_Harry! – ela exclamou estupefata.
_E aí, Rony?! – ele perguntou sem dar ouvidos a Gina.
_Hum... – ele grunhiu contrariado. Sabia que não conseguiria se livrar dos dois agora.
Brava, mas se convencendo de que seria melhor assim, Gina se acomodou também. Em pouco tempo Mme Rosmerta veio pegar os pedidos dos dois. Hermione aproveitou para pedir uma sobremesa de abóbora igual a de Rony.
_E então? – Gina começou. – Não interrompam a conversa por nossa causa! – falou cinicamente para Rony. Ele apenas lhe dirigiu um olhar assassino.
_Rony ia começar a me contar como foi que começamos a namorar, sabe? Eu não me lembro... – falou calmamente.
_É mesmo? – Gina perguntou. – Como foi, Rony? Eu nunca fiquei sabendo realmente como isso começou!
Rony lançava-lhe olhares cada vez mais perigosos, mas agora não sabia como escapar da situação que ele mesmo criara. Olhou várias vezes para Harry em busca de apoio, que era freqüente na maioria das enrascadas em que ele se metia, mas que não estava presente agora.
_Bom... – ele começou constrangido com toda atenção que despertara. – Foi quando... – mas Mme Rosmerta os interrompeu com a chegada dos pedidos.
_Obrigada! – Hermione respondeu por todos. – Então, Rony? Faz quanto tempo que nós estamos namorando?
_Ãh... Faz... Faz... Algum tempo...
_Eu sei que faz algum tempo! – respondeu. – Quero saber quanto? Você disse que nos conhecemos desde os 11 anos, quando foi que começamos a nos interessar um pelo outro? – ela nem prestava atenção ao seu doce.
Gina e Harry não tiravam os olhos de Rony, embora Harry tivesse uma expressão de pena bem diferente da que Gina dispensava ao irmão.
_Olha, Mione... Será que não poderíamos conversar sobre isso depois? Só nós dois? – implorou.
_Por que, Rony?! – Gina se intrometeu. – Não há nada que eu e o Harry não possamos saber, há? Nós podemos até te ajudar no que você, eventualmente, não se lembrar!
_Ah, é mesmo?! – Rony perguntou irritado. – Se é assim! Não queremos que Hermione perca nenhum detalhe, não é? – ele sorriu nervoso. – Olha Mi, há quanto tempo você gosta de mim eu não sei, mas eu gosto de você desde o nosso quinto ano! – falou de uma vez só. – Na verdade acho que foi desde o quarto ano, ou terceiro, sei lá! Só sei que a coisa ficou mesmo feia quando você aceitou o convite de um cara para ir ao Baile de Inverno na escola. Eu fiquei bem bravo mesmo, só que não sabia por que...
Gina e Harry olhavam para ele estupefatos. Sabiam que aquilo era uma confissão verdadeira, só não imaginavam que ele tivesse coragem de admitir daquele jeito. Hermione o olhava, meio embasbacada. Gina podia jurar que seus olhos estavam marejados.
_Nossa! – ela falou finalmente. – Então faz tempo...
_Faz... - ele respondeu sem coragem para olhá-la. – Mas eu nunca tive coragem de falar para você... Achei que você nunca ia gostar de alguém como eu, sabe? Nossa relação nunca foi muito... fácil... – Harry fez um muxoxo de concordância. - Nós discutíamos o tempo todo. Eu achava que você me odiava, para falar a verdade! Sempre achei que você continuava falando comigo por causa do Harry!
_Por causa do Harry? – ela se espantou, Harry também.
_É... Nós três estávamos sempre juntos e eu achei que você me suportava só para não fazer o Harry ter que escolher entre nós dois... – terminou remexendo no seu doce.
Hermione riu: - Isso não é verdade!
_Como? – agora a atenção dos três era dela.
_Ora... Se fosse assim eu não teria aceitado namorar com você, teria? – ela explicou.
_É... Pode ser... – ele concordou incerto. – “Você nunca aceitou realmente!”
_Hum... – ela colocou uma colherada de doce na boca. – Como foi que você veio falar comigo, então?
Mais uma vez Gina o fuzilou com o olhar.
_Hum... Foi... Foi muito tempo depois, sabe? Eu tive outra namorada antes de você...
_Nem me fale! – Harry deixou escapar.
_Ah é?! – Hermione perguntou meio irritada. – Mesmo gostando de mim você namorou outra garota? Por quê?
_Foi... – ele respondeu num misto de arrependimento e confusão com a reação dela. – Mas foi para te deixar com ciúmes! – se defendeu. – Na época você estava saindo com um cara também...
_Sei... – falou perdendo o interesse pelo doce. Antes que Rony pudesse continuar sua confissão, uma coruja invadiu o bar-restaurante e deixou cair uma carta em frente a Hermione. – Oh! É dos meus pais! – ela olhou o relógio. – Meu Deus! Como é tarde! Passei o dia inteiro fora de casa. – ela se levantou apressada. – Tenho que ir, gente! Tenho uma consulta mais tarde.
_Eu vou com você! – Rony se apressou em falar.
_Não precisa! Nos vemos amanhã! Tchau, Harry, tchau, Gina! – e aparatou lançando apenas um beijo no ar para Rony que se sentou novamente pronto para o sermão.
Mas ele não veio. Pelo menos não como ele esperava. Enquanto ele fuçava sua taça em busca de qualquer resquício do doce que estivera lá antes, Gina e Harry se entreolhavam sem saber por onde começar, ou se deveriam começar. Sem ligar para os apelos do namorado, Gina falou:
_Por que você não disso tudo isso para ela antes, Rony?
Ele a olhou sem entender.
_Bom... Tudo que você falou aqui nós já havíamos percebido, desde aquela época. Se você teve coragem de admitir isso tudo na nossa frente, não teria sido muito mais fácil admitir só para ela meses atrás? Antes do acidente? Antes dela...
_Eu não consegui, ok? – ele a interrompeu. – A Hermione de antes me deixava inseguro. Me conhecia demais... – ele desabafou. – Não era você que passava 16 horas por dia recebendo críticas dela!
_Também não era eu que passava 16 horas por dia implicando com ela! – Gina retrucou. – Vocês dois sempre se trataram com hostilidade porque não sabiam o que fazer com o que sentiam um pelo outro. Se você tivesse se declarado para ela desse jeito antes, tudo seria muito mais fácil!
_Não seria, Gina! – ele a encarou. – A Hermione de antes não gostava de mim do jeito que eu gosto dela. A Hermione de agora me aceitou porque não se lembra que não gostava de mim antes!
_A Hermione sempre gostou de você tanto quanto você gostava dela, Rony! – Harry se pronunciou finalmente. – Eu passava o tempo todo com vocês. Eu percebi isso desde o Baile de Inverno, mas achei que não ia dar em nada. A Hermione morria de ciúmes quando você estava namorando a Lilá! Ela vivia te ajudando a fazer os deveres, te encorajava no quadribol...
_Ela também fazia isso por você! – interrompeu.
_Ela enfeitiçou o candidato a goleiro no sexto ano para que você pudesse entrar no time! Por que você acha que ela ficava tão irritada com você naquela época? Ou ficou tão preocupada quando você foi envenenado, ou quando disse que ia atrás do cara que te roubou o anel? A Hermione estava só esperando você dar o primeiro passo, Rony. Mas, assim como a Gina falou, sem saber como agir, vocês acabavam se agredindo!
Gina concordou com um gesto de cabeça.
_Se vocês sabiam o tempo todo, por que não me contaram?
_Por que você nunca admitiria que gostava dela! Assim como ela também não admitiria! Várias vezes eu conversei com ela sobre esse assunto e ela sempre desconversava! – Gina respondeu. – Mas o fato de você gostar dela, e saber agora que ela também gostava de você, não te dá o direito de mentir para ela desse jeito. Inventar um passado que seja cômodo para você. Um dia ela pode se lembrar de tudo e como vai ser? O que você vai fazer quando ela se lembrar que...
_Eu não sei! – respondeu nervoso. – Mas pode ser que ela nunca se lembre!
_E quanto tempo você acha que vamos poder esconder isso dela? – Harry interferiu. – Janeiro está quase chegando!
_Eu sei! Eu sei! – Rony se levantou impaciente. – Eu não sei como vou fazer, ok? Mas eu vou dar um jeito! Eu não vou desistir da Hermione assim!
_Você vai contar para ela então? Ela tem o direito de saber a verdade e escolher!
_Eu sei... Me dêem só um tempo, ta legal? Eu juro que conto para ela! – ele se desesperou.
_Amanhã? – Gina insistiu.
_Não sei...
_Rony!
_Assim que eu a vir de novo, ok? – ele tirou um dinheiro do bolso e colocou sobre a mesa. – Assim que eu tiver coragem... – ele aparatou deixando Harry e Gina para trás.
Mas a coragem não veio tão cedo, e nem viria, Rony sabia disso. Foi por isso que ele decidiu voltar aos treinos do seu time. Só assim ele ocuparia seu tempo e teria uma desculpa boa o suficiente para não se encontrar com Hermione.
Hermione procurou Rony nos dias seguintes, mas não o encontrou. Com o tempo ela voltou a trabalhar na biblioteca da cidade e teve outras coisas em que pensar. Sua rotina voltou ao normal, ou seja, via pouco os amigos, mas trabalhava muito. Ainda assim não conseguia entender o sumiço de Rony. Na sua primeira folga resolveu procurá-lo. Foi ao campo onde seu time treinava e chegou bem a tempo de vê-lo defender uma jogada incrível de um dos artilheiros.
_Ótimo, pessoal! – gritou o técnico. – Por hoje é só! Todos para o chuveiro!
Hermione sentou-se para esperar Rony descer da vassoura. Ele não a viu de imediato, mas a agitação que tomou conta de seus colegas de time chamou sua atenção para a moça que os assistia. O nervosismo que o invadiu quando percebeu que era Hermione quem o esperava foi substituído por um incômodo devido à atenção que os outros jogadores dispensavam a ela. Não havia mulheres no time. Era difícil uma mulher seguir carreira no quadribol.
_Hermione! Está fazendo o que aqui? – perguntou vermelho e ofegante devido ao esforço na partida.
_Oi Rony! – ela cumprimentou sorridente. – Eu vim te ver. Você sumiu!
_Me desculpe... – falou envergonhado. – É que os treinos recomeçaram e eu não tive tempo de te avisar.
_Achei que você estivesse fugindo de mim...
_Por que eu estaria? – desconversou.
_Não sei... Você é que deveria me explicar, não é? – sorriu paciente. – O que você vai fazer agora?
_Acho que vou para casa... Não tem mais treino hoje.
_Vamos dar uma volta, então? – convidou.
_Ah... Não sei, Mione... – ele coçou a cabeça, perdido.
_O que está havendo, Rony? Tem alguma coisa te preocupando, não tem? – ela se aproximou dele, preocupada.
_Não é isso... É que...
_Você se cansou de mim, não foi? Ficou chateado por eu não me lembrar de nada, não é? – perguntou chateada. – Olha, se for isso saiba que...
_Não é nada disso, Mione! – explicou-se rapidamente. – É que... Olha, eu vou tomar uma ducha e então saímos para comer alguma coisa e conversar, tudo bem?
_Então há mesmo algo a ser dito? – ela perguntou apreensiva.
_Tem sim, mas... Eu já venho! – ele se afastou em direção ao vestiário.
Meio insegura Hermione voltou a se sentar e ficou esperando que ele voltasse. Estava preocupada com ele. Sabia que havia algo estranho, pressentia que aquele poderia ser o fim de seu namoro tão curto. Estava tão absorta em pensamentos e possíveis argumentações, que não percebeu as brincadeiras dos jogadores que iam saindo aos poucos. Só se deu conta do que acontecia quando ouviu Rony gritando com um ou outro. Aquele era o Rony que conhecia: completamente explosivo.
_Ah! Vamos embora logo, Mione! – ele a puxou pela mão enfurecido.
Os dois seguiram por algum tempo a pé, de mãos dadas, mas muito quietos. Não tiveram que andar muito para encontrar um lugar para conversar, já que o campo ficava bem no centro de Londres, escondido sobre alguns feitiços antitrouxas.
_E então? – ela começou. – O que está havendo?
_Nada... – respondeu apreciando o menu.
_Como nada? – ela tirou calmamente o cardápio das mãos dele.
_Não é nada, Mi... É sério... – ele não conseguia reunir coragem para contar tudo. Sabia que se arrependeria amargamente se ela se lembrasse de tudo de repente e acabasse, inclusive, com a amizade entre eles. Mas perdê-la agora que eles estavam finalmente namorando lhe parecia um final pior ainda. Pelo menos a curto prazo.
_Você não quer mais namorar comigo, é isso? – ela perguntou chateada.
_Não! – ele respondeu logo.
_Então?
_É que... É que talvez eu não tenha sido completamente sincero com você, sabe? – começou arrancando coragem não se sabe de onde.
_Como assim? – ela perguntou mais aliviada. – Foi sobre aquele almoço no 3 Vassouras? Aquilo que você me falou não era verdade?
_Era! Claro que era!
_Então eu não entendo mais nada! Se você gosta de mim, e eu de você, por que é que você está fugindo?
_Você realmente gosta de mim, Hermione? Não está namorando comigo só porque eu falei para você que éramos namorados antes de você perder a memória? – ele perguntou num misto de alegria e culpa.
_Não, Rony! – ela respondeu ruborizada. – Eu gosto de você há muito tempo... – ela hesitou. – Eu percebi desde a primeira vez, lá no hospital! – completou. – Eu quero continuar namorando você, quero continuar a descobrir esse lado seu que eu não conhecia... Eu estou muito feliz!
_Às vezes você fala como se lembrasse de tudo... – ele falou confuso.
_Claro que não! – ela se recompôs. – Eu quis dizer que foi o que eu senti aquele dia: que já gostava de você há muito tempo. Talvez tanto tempo quanto você disse gostar de mim...
Rony sorriu abertamente. Estava aliviado com as palavras dela. Se ela sentia tudo isso, mesmo sem se lembrar dele, talvez houvesse uma chance da bronca ser menor no fim das contas. – Claro que não se lembrou! A Hermione de antigamente jamais me perdoaria se... – ele parou de repente. Hermione o olhava, interessada. – Mione... Eu quero que você saiba que eu gosto muito de você... Eu acho que... Acho mesmo que eu poderia dizer que... Que eu te amo! – falou corando furiosamente.
Hermione sorriu satisfeita, e Rony se perdeu naquele sorriso. A partir daquele momento não houve mais preocupações, nem dúvidas, apenas a sensação de que independente de como aquela história terminaria, os dois continuariam apaixonados. Hermione se sentiu completamente segura para falar:
_Eu sinto o mesmo por você, Rony... – ela ficou um pouco encabulada. – Eu também... Também te amo...
Com um sorriso de uma orelha vermelha a outra, Rony a puxou carinhosamente e tomou seus lábios num beijo apaixonado. Foi aí que toda sua vontade de continuar com aquela história aumentou mais ainda. Ele não ia se preocupar antecipadamente. Ia aproveitar o momento e aceitar as conseqüências de seus atos quando elas realmente chegassem.
Rony chegou em casa mais tarde que de costume aquele dia e, depois de ser bombardeado pelas reclamações de sua mãe sobre sua falta de consideração com a preocupação dela, foi bombardeado pelas perguntas da irmã que o seguiu até o quarto.
_Você e Hermione se encontraram, não foi? – Gina perguntava impaciente.
_É isso que um casal de namorados faz, não é? – ele respondeu mal-educado.
_Um casal de namorados que realmente namore, sim! Você não contou, então? – ela insistiu.
_Não! E nem vou contar! Agora sai do meu quarto que eu quero descansar!
_Você tem que terminar com isso, Rony! Isso não é certo! Você vai acabar perdendo a amizade dela no final de tudo isso!
_Eu não vou voltar atrás, Gina! Sabe o que ela me falou hoje? – ele a encarou. – Disse que me ama! A Hermione disse que me ama, e que sentiu que me amava há muito tempo, mesmo sem se lembrar de nada! – ele seguiu para a porta, mas ela não o deixou sair. – Sabe o que isso significa, não é?
_Sei! Significa que Hermione reprimiu o que sentia por você há muito tempo e, por não se lembrar da vida dela antes do acidente, esse sentimento veio à tona! Graças a uma mentira sua!
_E o que você quer que eu faça? Eu amo a Hermione e estou muito feliz com isso! Deixe-me em paz, Gina!
_Pare de pensar só em você, Rony! Há mais gente nessa história! Gente que não merece o que você está fazendo e que vai sofrer muito quando descobrir tudo.
_Chega, Gina! Eu decidi que vou aproveitar em quanto eu puder! Vou pensar nas conseqüências depois! Não vou perder essa chance agora! – ele a empurrou e abriu a porta bruscamente.
Gina desceu correndo atrás dele, mas desistiu de continuar a discussão na frente do resto da família. Apesar de não achar certo, ficava penalizada com os sentimentos do irmão, e sabia que se os outros soubessem ele ia levar uma bronca fenomenal. Justamente quando os dois chegaram ao andar térreo a campainha soou. Arthur Weasley a atendeu e deu boas vindas calorosas ao genro.
_Como vai Harry! – ele deu tapas carinhosos nas costas do rapaz.
_Bem, sr Weasley! – ele respondeu simpático. – Boa noite a todos! – dirigiu-se ao resto da família. - Oi Gi! – foi até a namorada para lhe dar um beijo correspondido friamente. – O que houve? – então ele viu a cara de Rony e entendeu tudo.
Durante o jantar uma grande coruja castanha adentrou a cozinha e deixou cair uma carta em frente a Rony. Ruborizando ele viu que a carta era de Hermione. Correu os olhos rapidamente para lê-la antes que alguém fizesse algum comentário.
_Hermione está nos convidando para ir numa feira de livros. – ele dobrou a carta novamente. – Só ela mesma! Que graça tem uma feira de livros?
_São livros trouxas? – Gina arrancou a carta das mãos de Rony que não foi rápido o suficiente. Ela o olhou acusadora quando viu a despedida da carta. (Espero resposta. Com amor, Hermione) Ela devolveu a carta bruscamente. – Acho que deveríamos ir! Vai ser interessante! Essas feiras são ótimas!
_Uma feira de livros? – Harry arriscou. – Me parece bem o tipo de coisa que a Hermione gosta, mas...
_Ora, Harry querido! – a sra Weasley interferiu. – Você e o Rony bem que estão precisando de um pouco de cultura, sabe? Só quadribol não é o suficiente! – disse carinhosamente.
_E vai ser ótimo para mim! Vou poder saber que tipo de livros os trouxas estão lendo ultimamente. Eu vou!
_Então eu também vou! – Rony falou rapidamente.
_É... acho que eu vou também... – Harry falou desanimado, adivinhando que aquele seria um dia e tanto.
A feira aconteceu num galpão enorme que existia no centro comercial próximo. Hermione parecia uma criança perdida numa loja de doces, muito parecida com a Hermione de sempre. Pegava cada livro, folheava cada um deles, comentava com um Harry e um Rony extremamente entediados. Gina estava também muito empolgada. Gastou algumas de suas economias comprando livros de História e algumas obras literárias. Tudo aquilo seria muito importante para seu futuro profissional. Passaram a manhã inteira caminhando entre os estandes de várias editoras e pegando autógrafos de alguns autores. Encontraram até um estande bruxo, disfarçado sobre uma placa de “Em breve nova loja”, e que só bruxos conseguiam enxergar o que realmente existia ali.
_Nossa! Não é incrível? Todos esses livros, e até livros bruxos! – dizia excitada. – Nunca imaginei que bruxos participassem dessas feiras. Se soubesse teria vindo outras vezes.
_Sim... Sim... Foi incrível! – Rony falou prestando pouca atenção a fala de Hermione. – Só não tão incrível quanto a minha vontade de sair daqui e sentar em algum lugar! Meus pés estão me matando e eu não me lembro de ter sido pago para carregar pacotes! – reclamou.
_Você não precisava vir, se não quisesse, Ronald! Portanto não seja grosso! – Hermione respondeu sem notar que agora Harry, Rony e Gina a encaravam espantados.
_Bom... Eu tenho que concordar com o Rony. Por que não sentamos em algum lugar, tomamos alguma coisa, hein? – Harry falou.
_Eu adoraria! – Gina concordou.
_Ah, mas ainda tem tantos livros! – Hermione protestou. – Ainda pode ter um estande bruxo perdido por aí!
_Ah, não! Já chega, Hermione! Você e Gina compraram livros suficientes para dois anos letivos em Hogwarts! Agora chega! – ele a segurou pela mão e a puxou para a saída. – Eu acho que você está se lembrando de algumas coisas, não está? Sua fome por livros voltou com toda força!
Ela o olhou meio assustada com o comentário, mas decidiu não revidar. Os quatro se encaminharam para uma praça em frente ao galpão. Não foi realmente uma boa idéia, já que a neve havia coberto as ruas e os bancos. Secando discreta e magicamente uma mesa de pedra eles se acomodaram. Gina e Harry sentaram-se muito próximos, para se aquecerem. Depois de tomar um gole de seu chocolate quente instantâneo, que nem estava tão bom assim, Hermione se enlaçou ao braço de Rony procurando se esquentar também. Envergonhado com o gesto devido à presença dos outros dois, ele agradeceu o fato de que, pelo menos a vergonha, havia feito o frio diminuir.
_Aquele dia você nem pode terminar de me contar, Rony. Eu fiquei um bom tempo tentando, tentando, mas não consegui me lembrar de nada... Até olhei umas fotos, mas elas não ajudaram muito. – ela tomou mais um gole de chocolate quente.
Rony encarou o outro casal sem saber onde enfiar a cara. Gina o fuzilava com o olhar, Harry tentava não ligar. Ele respirou fundo e mandou o remorso as favas. Pensou um pouco numa boa história, depois começou: - Eu fui falar com você no dia seguinte ao baile de formatura. Nós estávamos nos arrumando para deixar Hogwarts e não sabíamos se continuaríamos nos vendo depois, então... Eu tomei coragem e fui te procurar...
A história não fora realmente uma mentira. Rony foi mesmo atrás de Hermione para lhe confessar seus sentimentos, mas ela estava conversando com outra pessoa e o imprevisto o fez perder totalmente a coragem. Com a certeza de que aquilo seria uma grande perda de tempo ele voltou para o salão comunal para terminar de arrumar suas coisas.
Gina e Harry prestavam muita atenção à história. Harry bem que desconfiava da tentativa de Rony naquele dia, mas decidiu não fazer nenhum comentário devido a cara de decepção do amigo. Ele sabia que Rony demorara demais para tomar a decisão certa. Já havia percebido que era tarde demais.
_Você estava na biblioteca, para variar... – ele riu. – Achei realmente que você sentiria mais saudades daquela biblioteca do que de nós! – falou apontando de si para Harry, sem prestar atenção ao protesto mudo de Gina. – Então eu fui até a mesa onde você estava e...
_Para mim já chega! – Gina se levantou de repente, assustando os três e quebrando completamente o clima. – Eu vou para casa! – agarrou as sacolas e saiu andando. Confuso, Harry foi atrás dela.
Hermione observava, triste, os amigos se afastarem. Mas agora já era tarde. Queria saber como terminaria a historia de Rony. – Continua, Rony... – sorriu carinhosa. – Ela deve ter ficado chateada por se lembrar de Hogwarts!
Rony a olhou com uma pontinha de remorso, mas não se abalou. Tirou alguns flocos de neve enroscados no cabelo de Hermione e, sorridente, mas preocupado, falou: - Você sabe que eu te amo, não sabe?
Ela sorriu satisfeita: - Sei... E eu também te amo... – ela o beijou rapidamente. – Muito!
_Eu nunca faria nada para te magoar, Mione... Se você se recordasse de alguma coisa... Saberia que eu às vezes faço coisas erradas, mas na melhor das intenções...
Ela o observava, meio chateada, mas sem perder o sorriso: - Eu sei...
Ele sorriu.
_Então continua!
_Ai... Ok. Vejamos: - ele começou a formular as coisas em sua cabeça. Tinha planejado tudo para aquele dia. Havia ensaiado as palavras e imaginado as que Hermione responderia. Depois de alguns minutos de hesitação, parado a porta da biblioteca, em que ele imaginou Hermione rindo de sua cara e lhe explicando que ele não era nada mais que um amigo para ela, ele começou a pensar em todos os sinais que ela havia dado naqueles anos e que ele demorara tanto para interpretar. Daí suas expectativas mudaram. Começou a ver Hermione radiante com a notícia, pulando em seus braços e beijando-o com amor, como ele esperava há tanto tempo. – Você estava na biblioteca se despedindo dos livros... – eles riram. – Você estava guardando alguns livros na estante, por sorte numa estante bem afastada. Então eu resolvi te ajudar... Pelo menos esse era o pretexto. Meio inseguro eu comecei a relembrar alguns momentos que passamos juntos na escola em todos aqueles anos. Você ficou com os olhos marejados e eu comecei a me desesperar pensando que não saberia o que fazer se você começasse a chorar de repente. Então você sorriu e me disse que também sentiria muita falta da escola... E de mim... Então eu tomei coragem e te falei que você seria a pessoa de quem eu mais sentiria falta... – ele parou se lembrando que àquela hora ele a imaginara se jogando nos braços dele, emocionada. – Então eu respirei fundo e falei de uma vez só o quanto eu tinha sido estúpido por não ter dito logo tudo que eu sentia por você, e o quanto eu estava desesperado achando que eu poderia te perder para sempre! – ele se lembrou dos dias atormentados que passou esperando que ela acordasse. - Você ficou me olhando meio confusa, então eu tomei a decisão mais imprudente da minha vida: eu te beijei, na biblioteca, no meio daqueles livros que você tanto adorava. E eu estava pronto para ser rejeitado naquele momento. Aliás, eu tinha certeza que era isso o que você ia fazer, mas você não fez... Você me puxou para mais perto e nós nos beijamos... Pela primeira vez... E aí eu tive certeza de que tinha feito a coisa certa... Tive certeza de que era aquilo que eu deveria ter feito há muito tempo... – ele estava com os olhos marejados. Arrependido por não ter tido coragem de fazer aquilo realmente. Arrependido por ter deixado uma simples companhia interferir na sua decisão de se declarar e mudar todo o futuro dos dois.
_Eu aposto que eu teria feito exatamente isso... – ela respondeu também emocionada. Sorrindo ela tomou os lábios dele num beijo apaixonado. Um beijo diferente dos que eles tinham trocado até então. Foi um beijo mais maduro, mais intenso, mais ardente.
Os dois não se demoraram muito mais naquela praça fria, embora frio fosse o que eles menos sentiam no momento. Foram para o Beco Diagonal, mais precisamente para o Caldeirão Furado. Eles passaram o resto daquela tarde fria naquele estabelecimento. Por sorte Tom, o dono do lugar, era muito discreto. Não fez perguntas, nem comentários ou lhes lançou olhares maldosos. Apenas lhes cedeu a chave de um quarto, onde eles passaram horas muito agradáveis, e se entregaram à paixão pela primeira vez, com todo amor e carinho que guardaram por tanto tempo.
Eles nunca haviam chegado tão tarde em casa, embora não fosse um horário absurdo para se chegar de um passeio. Apenas estranho o suficiente para fazer suas famílias começarem a desconfiar de alguma coisa. Rony foi direto para o quarto, depois de um rápido ‘Olá’ para família. Não queria conversar, não queria responder perguntas aborrecidas. Queria apenas ir para seu quarto e se lembrar da tarde maravilhosa que passara. É certo que em meio a felicidade que sentia às vezes surgia um arrependimento, uma sensação de que não deveria ter ido tão longe, mas agora era tarde. Estava feito e nada poderia mudar o que havia acontecido. Ele não queria que nada mudasse.
Hermione também não se demorara muito com os pais depois que chegou. Foi para seu quarto, tomou um bom banho quente e ficou se lembrando dos momentos que passara naquele quarto do Caldeirão Furado. Depois de ter estado ali tantas vezes, jamais imaginara que aquele seria o cenário de sua primeira noite de amor. Mas ao contrário de Rony ela não sentia nenhuma ponta de remorso, apenas felicidade. Ela dormiu pensando naquela tarde. Sabia que certamente sonharia com Rony, mas não sonhou. Teve na verdade um pesadelo, algo muito confuso, mas que ela não se lembrava direito. Não deu importância.
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