Capítulo 6



Cap. 6 O baile.

O pio irritante de uma coruja lá fora acordou a ruiva logo pela manhã cedo. Aquilo era simplesmente insuportável, cobriu a cabeça com o travesseiro mas isso não foi suficiente. E logo, Cissy pulou em cima de seus cobertores.

- Não vai acordar? Tem alguma coisa pra você. - ela falou sonolenta.

Ela parou por alguns segundos para raciocinar do que Cissy estava falando, era meio lenta logo pela manhã principalmente quando era acordada, e mais ainda quando não tinha um bom motivo para isso.

- Anda Morgana, esse maldito pássaro esta realmente me irritando.

Pássaro? Mas a droga da coruja não estava lá fora? Ah, quem se importa; Afinal era hora da coruja criar juízo e ir dormir, coisa que ela estava tentando continuar a fazer.

- Eu vou comê-la, posso comê-la?- disse Cissy soando realmente irritada, ela odiava que a acordassem.

- Hum...? Comer...- a ruiva respondeu finalmente tirando o travesseiro de cima do rosto.

- Essa maldita coruja, não para de piar na janela. – falou ela de mau humor entrando de baixo da coberta da ruiva em uma tentativa de abafar o barulho.

- Coruja...?- ela disse ainda sem entender direito, então se virou para a janela. Havia uma coruja marrom com um pacote um tanto quanto grande mas batendo as asas corajosamente esperando que alguém abrisse a janela.

Ginny foi esse alguém. E assim que abriu a janela a ave adentrou o quarto sobrevoou em círculos, ela não conhecia aquela coruja, definitivamente não era a coruja de sua família, pois se fosse esta ela já haveria sucumbido em vista do peso do pacote. Se perguntou quem mandaria algo para elas.

Como que para responder sua pergunta a coruja pousou em cima da cama de Izzie, e deixou o pacote lá, alçando voou logo a seguir sem esperar por um resposta. Izzie apenas se remexeu na cama murmurando algo inaudível e voltando ao seu sono de pedra.

Ginny sacudiu a amiga para que esta acordasse.

- Pirou Ginny porque me acordar uma hora dessas?- perguntou a outra zangada.

- Alguém pareceu não se importar com o horário, e não fui eu. - ela falou apontando para o pacote na cama da amiga. Izzie pareceu despertar lentamente para o que a ruiva se referia.

- Isso é seu...?- ela perguntou bocejando em dúvida.

- Não querida, acredite se fosse para mim teria chega em um horário mais apropriado.- provocou a ruiva, agora já desperta e levemente irritada por ter sido acordada e quem ganharia presente era a amiga.

- Como assim “para”, você quer dizer que isso chegou aqui via coruja?

- Isso mesmo.

Agora a amiga parecia completamente desperta e a curiosidade brilhando em seus olhos, claramente ela estava se fazendo a mesma pergunta que Ginny fizera mais cedo. Quem poderia ter mandado o pacote.

- Uma coruja acordou a Cissy que por sua vez me acordou que agora estou te acordando porque a coruja deixou isso para você.

Mas Izzie não parecia estar prestando muita atenção, ela olhava examinando cada centímetro da caixa de camurça preta, era muitíssimo elegante por isso quem quer que tivesse lhe mandado aquilo tinha bom gosto. Então ela não agüentou de curiosidade e abriu tirando a fita de cetin preto que envolvia sutilmente a caixa que deveria ter mais ou menos 60cm.

O que quer que estivesse lá dentro estava delicadamente embrulhada em papel de branco, e continha um envelope de pergaminho lá dentro. Ela pegou o envelope em suas mãos e com os dedos ansiosos rompeu o lacre retirando o pergaminho de dentro e lendo seu conteúdo. Aos poucos sua boca foi abrindo em surpresa e incredulidade, ela parecia precisar de alguns tapas e mais cinco minutos para digerir aquela informação.

- Então? Você vai mesmo bancar a amiga malvada e me matar de curiosidade? Quem te mandou esse pacote elegantérrimo?- perguntou Ginny contendo a sua curiosidade.

- Foi o Blás...- falou a outra num fiapo de voz, e a boca escancarada até os ombros ainda sem acreditar, mas as feições de um sorriso já começaram a despontar discretamente nos cantos de seus lábios.- Olha isso.- ela disse dando a carta com os dedos levemente trêmulos.

Pela sua companhia maravilhosa, porque eu sei que você não teve tempo para isso, e eu... Bem pode-se dizer que eu desviei sua atenção de seu objetivo principal, mas creio que este deve se ajustar perfeitamente.

Blás Zabini

Era exatamente este o conteúdo da carta.

As duas não esperaram nem mais um segundo sequer, e tiraram o papel de seda branco da superfície então os olhos de Izzie brilharam, uma belíssimo vestido longo, com um tecido super leve, que parecia esvoaçar ao menor sopro de vento. Izzie o tirou da caixa, levantou-se indo em direção ao espelho mais próximo e o colocou sobre o corpo para ver como se ajustava, ele realmente parecia servir perfeitamente...

Realmente ela não havia comprado vestido algum já que passara o resto do dia com Blás, não que se arrependesse é claro, antes de dormir ela estivera meio preocupada com o fato de que teria apenas o dia do baile para comprar o vestido e todo o resto. Talvez ela não tivesse tempo e aquilo a havia deixando nervosa por alguns segundos, mas estava tão cansada que havia sucumbido ao sono antes que pudesse prever.

- Uau Iz que vestido lindo!

A outra não sabia sequer o que dizer.

- Aposto que vai ficar perfeito em você. - falou Ginny olhando para dentro da caixa e notando que havia mais coisa ali dentro. Uma máscara branca com duas penas compridas e roxas no canto que no rosto ficaria perto das têmporas, e um par de sapatos de salto finíssimos... Ela correu até a onde a amiga estava na frente do espelho ainda cega com o vestido – Iz ele fez trabalho completo veio com a máscara e os sapatos! Ah eu gostei desse cara! Todas deveriam ser sortudas como você.

Passado o primeiro momento de êxtase total, as duas começaram a agitação já estava se sentindo em clima de baile, Izzie experimentou o vestido que precisou de apenas um ajuste na cintura o que ela fez com apenas um aceno de sua varinha... Logo grandes sorrisos iluminavam o rosto das duas e o sono de outrora havia sido esquecido.

Faltavam duas horas para o baile e o quarto das meninas era uma bagunça, Julia e Lucy, havia se juntado a elas, pois afinal, toda mulher sabe que mulher nunca se arruma sozinha... São estudos ainda não concretizados, e até hoje não se sabe exatamente o porque, mas quando se trata de se arrumar para algo importante, retocar a maquiagem, ou qualquer coisa a ver, elas sempre preferem fazer em bando. Receio que seja pelo puro prazer de palpitar a roupa das outras e deixar que as outras comentem sobre as suas... É deve ser por isso mesmo.

Lucy no momento estava com um creme de cor e textura suspeitas no cabelo loiro, coberto por uma toca plástica, ligeiramente parecida com um cogumelo. E estava dando um jeito no vestido de Júlia que por sinal estava em desespero por ter se achado gorda demais no vestido, que já provaram mais de cem vezes. Ginny e Izzie estava acalmando a amiga, as únicas que ainda não haviam começado a se arrumar, e o tempo era escasso.

Para dizer a verdade a única que não havia feito absolutamente nada ali, era Ginny, pois ao menos Izzie, já estava com os cabelos prontos.

- Eu avisei a vocês que era melhor começarmos a nos arrumar mais cedo! Olha só faltam duas horas, e eu ainda tenho que dar jeito no cabelo das três!- disse Izzie correndo até Lucy- Lucy, vá lavar os cabelos já está na hora!

A loira levantou mais do que depressa, deixando o vestido de Julia sobre a cama, e se dirigindo ao banheiro, agora super populoso, que parecia haver encolhido dez vezes. Ah, outro fenômeno que acontece com quando mulheres se juntam para se arrumar, o banheiro nunca é grande o suficiente! É impressionante isso gente!

- Vamos Julia! Você ficou simplesmente linda naquele vestido Azul Royal!- falava Ginny tentando animar a amiga.

- Você fala isso porque tem essa barriga perfeita! Ginny você não sabe o que são celulites!- disse a outra com os olhos marejados.

- Você ainda não olhou a minha bunda...- ela falou mais para si mesma que para a amiga com um suspiro resignado.

- Você quer trocar de vestido comigo?- sugeriu Izzie de dentro do box enquanto massageava a cabeça de Lucy para que o creme saísse.

- Não obrigada Izzie, o seu vestido ficou perfeito em você, eu jamais faria isso.

- Eu posso trocar sem problemas... - falou Ginny sorridente a sua frente.

- Não garotas eu vou com o meu mesmo. - ela falou.

- Então vamos fazer o seguinte, a Lucy já ajeita o que precisava ser ajeitado, o vestido está lindo destacando os seus olhos castanhos em contraste com o azul do vestido. Eu vou arrumar seu cabelo, a Ginny faz a sua maquiagem e você vai ficar realmente uma diva!- falou Izzie animada, atirando uma toalha para a loira.

- Obrigada garotas!- falou Julia grata.

Izzie então passou a cuidar da amiga, enquanto Ginny maquiava Lucy.

- Vamos Lucy, seca o cabelo logo coma varinha. - disse Ginny enquanto procurava os pós e sombras, que iria precisar para passar na amiga.

- Ginny você não precisa de ajuda em nada?- perguntou Lucy notando como a amiga ainda estava de pijama.

- Não, se preocupe comigo Lucy, já provei tudo e separei o que vou precisar desde cedo. Apenas concentre-se em manter os olhos abertos sem piscar. – disse a ruiva, mordendo o canto dos lábios de concentração enquanto passava a maquiagem nos olhos da amiga.

Demorou meia hora até Lucy estar totalmente maquiada e perfumada.

- Pronto Lucy agora vista o vestido!- disse Ginny olhando para a amiga orgulhosa de seu próprio trabalho, Lucy estava realmente bonita. O vestido prateado a deixava parecendo uma princesa, os cabelos loiros arrumados em um rabo de cavalo baixo e preso com um fivela de strass oferecia o contraste necessário entre o dourado e o prata.

Ela se olhou no espelho, e sorriu para a imagem, girou, e olhou para a amiga.

- Ginny! Alguém já te disse que você é a fada madrinha de qualquer pessoa?- ela falou alegre.

Então a voz de Izzie varou a alegria de Lucy por alguns instantes.

- Ginny corre aqui!

Ginny saiu desabalada até o banheiro, não que fosse um grande distancia, mas certamente era uma corrida de obstáculos, a esquerda pijamas, a direita cobertores fora das camas, sapatos, mais a frente, brincos e alfinetes no chão, maquiagem espalhada por todos os criados mudos e fivelas de cabelo em todos os lugares... Estava uma zona! No fim das contas Ginny acabou tropeçando num tamanco que ela sequer sabia de quem ela, e bateu a cabeço na porta do banheiro, mas ela chegou lá consciente e xingando a bagunça e a porta.

- Me ajuda aqui. Segura essa parte do cabelo!- falou Izzie com pressa.

- Lucy pode fazer isso, eu ainda tenho que me arrumar.- falou a ruiva, indo apressadamente pegar uma tolha para poder tomar um banho rápido e sem esperar uma resposta.

Quase gritou de alivio quando sentiu a água quente bater nas suas costas, fazendo seu músculos tensos relaxarem, até que tivesse terminado o banho, depois do xampu e os outros quinze produtos de cabelo, e mais o hidratante, o creme para pés, ah e mais o... Ah sei lá cara, é muita coisa mesmo! Depois disso tudo, já tinham se passado mais meia hora. Bom ai o desespero começou a latejar em suas temporas, não ficaria pronta a tempo.

- Ginny você acabou o banho?- perguntou Julia lá de fora.

A ruiva enrolou-se em uma toalha e respondeu:

- Já.

- Quando você puder me maquiar... - disse a outra como quem não quer nada.

Droga! Ela havia se esquecido literalmente que ainda tinha Izzie e Julia para maquiar. Correu para amiga.

Julia estava toda vestida, o vestido azul royal havia assentado perfeitamente bem no seu corpo, e ela realmente estava estonteante, Ginny ficou impressionada, como Julia e Lucy estavam bonitas, Izzie estava finalmente se vestindo, e Julia estava apenas a sua espera para uma maquiagem que combinasse com tudo. A ruiva suspirou e começou a pensar no que iria usar na amiga.

- Julia, acho que nunca te vi tão linda. - ela falou passando a base no rosto dela. – E Izzie minha amiga, você tem o dom com cabelos.

E começou a produzir Julia. Blush, alaranjado, ou avermelhado... Alaranjado com certeza, dava um tom mais bonito à pele dela que era morena. A sobra seria de um azul claro misturado com um braço que iluminada seu olhar. Agora o delineador... Droga!

- Julia você pode para de piscar um segundo, eu borrei o delineador!- reclamou Ginny.

E começando tudo de novo, essa foi a maquiagem mais complicada que já fizera na vida. Lá se ia mais quarenta minutos do seu tempo, realmente ela jamais iria se arrumar a tempo. Chegaria atrasada.

Assim que terminou com Julia, apressou-se em vestir o vestido. Que por sinal era cheio de amarras complicadas e foi necessária a ajuda de Lucy. Depois passou a cuidar da maquiagem de Izzie que por si só foi fácil, ela terminara como uma fada em seu vestido lilás esvoaçante, estava magnífica, seus olhos verdes se sobressaindo mais luminosos do que nunca, ela se permitiu gastar alguns segundos admirando a amiga. Aquele Zabini era um cara de sorte.

Então sacudiu a cabeça enquanto olhava para o relógio. Ela já estava atrasada!

- Izzie, tem como você fazer meu cabelo urgente?- ela perguntou beirando ao desespero, deixando o tom de urgência lhe escapar pela voz quase esganiçada.

- Claro!- disse a outra.

- Garotas, se vocês já estão prontas acho melhor irem, ou seus pares irão se atrasar. - falou Ginny com um sorriso fugaz.

- Tem certeza? Não precisa da gente em mais nada por aqui?- ofereceu Julia, olhando com leve preocupação para a ruiva sentada na cama.

- Absoluta, podem ir. Ah, divirtam-se garotas.- ela falou com uma piscadela.

Elas pareceram não se convenceram.

- Serio gente pode ir, podem deixar comigo eu cuido para que o Merlin tenha uma noite inesquecível com a ruiva aqui.- falou Izzie.- Ela vai ficar estonteante.

- Se a Iz ta dizendo. – falou Lucy.

- Bom sorte pra vocês também garotas. - completou Julia fechando a porta do quarto atrás de si.

Três segundos depois.

- Certo Iz, agora a gente tem que correr. – falou Ginny.

Vinte minutos depois ginny estava com o cabelo preso em um nó elegante com várias mechas entrelaçadas, e vários pontinhos reluzentes grudados que a fazia parecer um ser sobrenatural. Talvez uma fada de jardim.

Se olhou no espelho, e sorriu.

- Izzie! Você é fantástica!

- Obrigada querida, mas deixe os elogios de lado e comece a se maquiar urgente.

- Não, você não precisa me esperar. O Sr. Zabini deve estar ansioso. - falou a outra correndo até seu arsenal de maquiagem.

- Tem certeza de que pode se virar sozinha por aqui?- perguntou Izzie olhando orgulhosa para o cabelo lindo da amiga que agora parecia uma flor vermelha.

- Meu Merlin! O que vocês estão pensando que eu sou?! Uma completa inválida!- ela exclamou fingindo-se de indignada.

- Certeza que não quer que eu te acompanhe até encontrar o tal Merlin?

Izzie tentou uma última vez.

- Escute eu sei que não sou nada sem você por perto, e que você quer realmente dar uma espiada no Merlin só para saber se eu não sou uma lunática, mas eu prefiro ir só mesmo. - ela disse sorrindo enquanto passava a base no rosto.

Izzie ficou de pé ainda receosa.

- Anda besta, vai se divertir! Ou você quer que eu vá seqüestrar o tal Zabini de você?

- Tudo bom ruiva, você venceu, eu estou indo, boa sorte pra você o Merlin, vamos realmente ver se a lenda de Morgana e Merlin é verdadeira.

Ginny apenas sorriu para ela e a morena saiu pela porta, sem olha rum segunda vez.

Ela então olhou para a sua própria imagem no espelho, Izzie estava certa. Parou por dois segundos imaginando como Merlin estaria. Então tirou os pensamentos da cabeça e apressou-se; escolheu uma sombra preta nos olhos, com bastante delineador, o que reforçaria a expressão de mistério por baixo da sua mascara preta. Um batom avermelhado, gloss, blush... Ah o perfume lógico, rapidamente ela exalava o agradável cheiro de alfazema do perfume que seu irmão lhe dera.

Agora os sapatos, calma para tudo! Onde estava o pé direito do sapato?

Uma faísca de pânico se acendeu no seu peito, ela havia deixado os dois , o par juntinho naquele lugar! Será que uma das meninas teria calçado sem perceber...? Seria cômico se não fosse trágico!

A essa hora Merlin já devia estar impaciente no saguão de entrada do Hotel, é claro se já tivesse desistido de esperá-la e encontrado outra acompanhante! Sua respiração ficou suspensa pro alguns segundos enquanto ela vasculhava o quarto, atrás do maldito sapato.

Saiu catando as coisas do chão e atirando-as para trás, olhou em baixo das camas, dentro dos armários, no banheiro, dentro das malas. Em todos os lugares possíveis já havia desistido, e apenas mandaria uma coruja para ele dizendo que não iria. Seu peito estava comprimido como se um quilo de ferro estivesse em seu tórax.

O que ela estava apensando não poderia simplesmente mandar uma coruja para ele agora! Na hora do baile! De qualquer forma ela já estava meia hora atrasada ele já deveria ter desistido dela. Seus olhos marejaram-se por instantes, porque esse tipo de coisa sempre acontecia com ela?! Estava tudo pronto e então alguma coisa tinha que desabar!

Então uma voz conhecida soou.

- Qual o problema Morgana? Não vai mais ao baile?- perguntou Cissy, da janela.

- Cissy! Graças a Merlin você está aqui!- ela falou virando-se para a esfinge imediatamente.

- Na verdade eu preferia ficar aqui fora mesmo, porque com todas vocês loucas e histéricas andando de um lado par ao outro, eu poderia ser facilmente esmagada.

A ruiva pareceu ponderar o que a esfinge dissera, então sacudiu a cabeça de leve e perguntou.

- Cissy, você que é considerado um ser tão sábio...

- Estou percebendo a sua bajulação Morgana, o que você quer?- ela perguntou parecendo um pouco entediada.

- Você viu meu sapato?

- Está no seu pé.

- Não, o lado direito do par!- disse Ginny girando os olhos.

- Ah, sim... Você está sentada em cima dele.- ela falou com calma.

- O que?- perguntou Ginny levantando uma sobrancelha se perguntando de a esfinge em miniatura tinha escutado direito a sua pergunta.

- Você está sentada em cima dele. Agora além de atrasada você está surda?

Ignorando a provocação ela levantou-se imediatamente da cama e olhou para o lugar onde estivera sentada, tudo que viu foi um travesseiro branco. Atirou o travesseiro no chão aos seus pés e lá estava o sapato preto. “Como diabos Cissy fora saber onde o sapato estivera?” Ela se perguntou por um milésimo de segundo, mas descobriu que não estava muito interessada na resposta agora sentou-se e calçou o sapato mais rápido que podia. Estava pronta.

Algo a deteu no caminho da porta.

E se ele não estivesse mais lá? E se já estivesse ido embora, desistido de esperar, ou simplesmente encontrado outra mulher para ir com ele? Ela iria fazer papel de idiota na porta do saguão de entrada sozinha.

- O que foi? Qual é o problema dessa vez Morgana?

- Eu estou atrasada Cissy.- ela falou.

- Eu sei, e por isso você fica parada em frente porta esperando os minutos passarem rápidos e você se atrasar mais ainda?

- Cissy e se ele tiver simplesmente desistido de esperar por mim?- ela perguntou tentando conter as mãos nervosas que se apertavam se contorciam de maneira aparentemente impossível na frente de seu corpo.

- Chega de drama! Morgana pelo amor de Merlin não seja idiota, ele não desistiu de esperá-la, agora desça imediatamente até aquele saguão.- falou a esfinge perdendo a paciência com a ruiva.

- Como você pode ter certeza?

- Eu o vi!- falou Cissy já irritada.

- Você o viu lá no saguão?

- Exatamente.

- Ele parecia zangado?- ela disse deixando seu receio escapar em sua voz.

- Não, mas ele olhava o relógio muito constantemente, isso quer dizer que ele estava impaciente!

Ela ficou em silêncio por alguns momentos e então.

- Cissy eu te proíbo terminantemente de sair do Hotel! Já pensou se acontece alguma coisa com você?! Meu Merlin que esfinge irresponsável...

- Morgana cala a boca e desce lá agora!- gritou Cissy apontando a pata dianteira para a porta era impressionante como a sua humana a fazia perder a cabeça. Definitivamente aquela era uma raça muito lenta mesmo.

A ruiva se assustou com o grito da pequena esfinge e saiu porta a afora a passos largos.

Será que ela não ia mais aparecer? Ele se perguntava, ou seria simplesmente aquela conhecida mania das mulheres em se atrasar para tudo? A Ansiedade engolia suas tripas sem piedade fazendo seu estômago revirar vertiginosamente em um frio desconfortável. Não conseguia evitar várias olhadas discretas ou relógio caríssimo que carregava no pulso. Sentia-se ridículo ali em pé no saguão do hotel quase totalmente na penumbra, esperado por uma mulher que agora ele não tinha nem certeza se vinha, para falar a verdade ele nem sequer conhecia a mulher! Era a coisa mais absurda que já havia acontecido em toda a sua vida. Ele jamais esperara mulher alguma. Mas como disse Blás ao passar por si com uma mulher elegante vestida de lilás dona de um bonito sorriso “Para tudo se tem uma primeira vez.”

Uma mulher de vermelho acabara de passar por ele os longos cabelos escuros transados e uma máscara tão vermelha quanto o seu vestido trabalhada em pedraria. Bastante atraente. Não lhe negara olhares e sorrisos, ela estava sozinha ele logo constatou com um sorriso predador nos lábios. Mas algo fez com que ele continuasse grudado no local onde estava esperando pela Morgana, e a dama de vermelho passou fugindo do alcance de seus olhos.

Ele se recusava a olhar na direção das escadas ou elevador, e mantinha o olhar fixo na porta do saguão e na rua lá fora, então o já conhecido barulho das portas do elevador se abrindo soaram. Os últimos retardatários deveriam estar indo ao baile, os passos ressoavam no saguão vazio saltos finos batiam contra o chão de mármores irritando seus ouvidos.

Ele olhou mais uma vez no relógio e quando levantou os olhos para encarar novamente as portas do saguão quase totalmente imersas na escuridão que parecia se aprofundar a cada segundo passado seus olhos encontraram um mulher em um vestido verde degradê uma máscara preta que não escondia os olhos castanhos profundos. Um sorriso iluminou o rosto mascarado da dama, o perfume de alfazema embriagou imediatamente seus sentidos, impedindo seus olhos de se fixarem em qualquer outra coisa que não fosse ela.

- Merlin...?- ela perguntou hesitante, a sua voz ressoou no subconsciente dele, sua velha conhecida. Ele conhecia aquela voz.

- Morgana. - ele falou confirmando tanto a sua quando a identidade dela.

O sorriso no rosto dela se alargou com a confirmação.

- Fiquei com medo de não encontrá-lo. - ela falou um pouco sem graça.

- Você está atrasada.- ele falou saindo do transe.

- Eu sei, desculpe, houveram alguns imprevistos, e eu perdi um sapato, mas Cissy falou que você não estaria zangado. Você está zangado?- ela falou atropelando as palavras evidentemente nervosa.

Definitiva era a Morgana, ele sorriu de leve.

- Eu não vi a sua esfinge por aqui.- ele falou.

- Ela disse que havia lhe visto, como você é a única pessoa por aqui, deve ter deduzido que era você.- ela falou.

- Então a senhorita anda me espionando com a sua esfinge...?

Ela não conseguiu evitar o riso.

- O que você está pensando eu sou Morgana afinal...!- ela falou colocando as mãos na cintura.

- Então depois de ter me feito ficar de molho aqui como um palhaço por quarenta minutos, você ainda deseja ir ao baile?- ele perguntou.

-Foram quarenta minutos?- ela falou sentindo-se terrivelmente mal.

-Se você contar com os que ainda estamos desperdiçando aqui devem dar quarenta e dois minutos. - ele afirmou serio.

- Pare com isso você está me deixando com peso na consciência. - ela falou lhe dando um leve tapinha no ombro.

A máscara que cobria o rosto dela deixava a vista apenas a boca delicadamente delineada bom um batom avermelhado, ele mal poderia distinguir o vestido dela do chão, estava realmente escuro. Ginny pôde notar que ele vestia trajes a rigor pretos e uma capa que lhe estava vestida de forma a cobrir apenas um dos ombros, estava abotoada de lado. Sua máscara era branca como as suas, só deixava a mostra os lábios dele que se moldavam em um sorriso de canto e seus olhos ela reconheceu aquele cinza-prateado predominante que vira na noite no circo com um toque quase imperceptível de azul no fundo.

Lembrou-se daquela noite no circo quando ela havia comprado Cissy, ele estava vestido de palhaço porque uma louca do circo havia confundido ele com um dos artistas e ficava gritando com ele o tempo todo... Não conseguiu conter o riso ao se lembrar da situação.

- Do que você está rindo?

- Daquele dia no circo, você vestido de palhaço. - ela falou se contendo para segurar o riso que insistia em escapar de seus lábios contra toda a sua vontade.

Ele bufou ao lembrar daquele dia.

- Nem me lembre. - ele disse seco.

- Você está bem melhor vestido assim. - ela provocou.

- Você acha?- ele falou irônico. – Eu cogitei a idéia de vir vestido de palhaço, pensando bem teria combinado com o personagem interpretado durante seu atraso.

- Ok, acho que eu mereci essa totalmente. - ela falou.

- Que bom que eu não vim de palhaço então, já que você prefere estar roupa.

- Pode ter certeza, mas você poderia ter colocado um nariz vermelho ficaria muito charmoso.

- Obrigada, mas eu dispenso.

- Você vai ou não vai me levar ao baile afinal?- ela perguntou.

Ele respondeu oferecendo o braço a ela. Ela aceitou de bom grado com uma leve reverência e um sorriso. Ele adorava ver quando ela sorria, pensou enquanto a guiou até o salão do baile.

O salão estava escuro, mais escuro que o saguão. As pessoas eram vistas apenas como vultos de vestido e capas, trajes a rigor e máscaras dos mais infinitos modelos. Ele sentiu ela apertar a sua mão, e se aproximar dele, então se lembrou sem evitar um sorriso sarcástico se formando no canto de seus lábios, ela não gostava de escuro. Mas não tinha problema ela estava com ele.

- Realmente esse baile foi feito para que ninguém se reconhecesse mesmo. - ele falou.

- É bem a nossa cara de fato, não acha Merlin. - ela sorriu para ele e depois percebeu, que ele poderia entender como... Corou violentamente e apressou-se em acrescentar sem graça. – Quer dizer, as luzes... Não da pra ver nada... Ninguém sabe quem é quem aqui...

- Eu sei quem é você. - ele falou simplesmente.

O estômago dela deu uma cambalhota, e seu coração quase pulou pela sua garganta. Ele sabia quem era ela! Ele sabia quem era ela! Como poderia?! Ela não fazia mínima de quem era ele, era impossível! Ou talvez não... Será que ele havia gostado de sabe quem ela era? De repente sua mente era só dúvidas e perguntas... Será que a abichara... Feia? Será que sabia mesmo que ela era Ginny Weasley, curandeira do St.Mungus filha de Arthur e Molly Weasley...?

- Quem eu sou?- ela o desafiou nervosa.

- Morgana, bruxa lendária que tem medo de escuro, sem nenhuma pontualidade, de riso fácil e olhos castanhos, usa perfume de alfazema, e ah, não vamos esquecer, que vive com uma esfinge em miniatura de personalidade arisca e questionável com tendência a espiã. - ele falou satisfeito.

Ela suspirou, claro que ele jamais poderia saber quem ela era. Como ele poderia saber o nome dela, seus pais e todo o resto. Tola, mais uma vez, ás vezes se odiava por ser muito ingênua.

- E você é Merlin também um bruxo lendário, reclamão, rabugento, apressado, sarcástico, que gosta de se vestir de palhaço, e nunca está por perto quando se quer mas sempre chega quando é necessário.- ela disse olhando-o.

- Um pouco insondável sua descrição não acha. - ele falou se encolhendo junto a ela para não ser esmagado por alguém bastante gordo que passava ao seu lado. O salão estava lotado de mascarados desconhecidos sem mesas, alguns sentados nos bancos altos do bar, mas a maioria estava espalhada pelo local dançando a música que tocava.

- Em que sentido?

- Não dá pra saber se você gosta de mim ou simplesmente me detesta. De qualquer forma você esqueceu naquela última parte de acrescentar “nunca está por perto quando se quer, mas sempre chega pontualmente quando é necessário.”

- É mesmo, eu esqueci também do “chato”.

- Agora são cinco adjetivos maldosos. – ele observou.

- Não se preocupe Merlin, mesmo se fossem dez adjetivos eu ainda iria gostar de você mesmo assim. – ela falou lhe abraçando.

Ele sentiu um frio no estômago quando ela o abraçou, ao mesmo tempo em que uma sensação agradavelmente morna se espalhava pelo seu corpo. Ele a abraçou de volta. Ele também gostava dela, mesmo que não pudesse explicar.

Neste exato momento um casal mascarado esbarrou neles com força suficiente para derrubar um elefante e os dois cambalearam juntos, até que Merlin conseguiu impedir que os dois batessem de cara no chão.

- Ao menos desta vez eu não rasguei a manga da sua capa. - ela falou achando graça.

- Que bom, fizemos algum progresso.

- Sabe o que eu acho, acho que se a gente não começar a dançar também vamos acabar esmagados. - falou sentindo seu braço ser empurrado por outro casal dançante.

- Concordo.

- Então vamos descobrir se você, Merlin, sabe dançar. - ela falou o puxando até uma brecha onde poderiam dançar.

- Existem poucas coisas no mundo que eu não sei fazer bem.- ele falou orgulhoso, conduzindo-a pela pista de dança com leveza.

Ele tinha razão dançava perfeitamente bem, sabia guiá-la sem esforço algum, ela se sentia maravilhosamente bem dançando com ele. De alguma forma impossível desejou que aquela música não acabasse nunca.

Apoiou de leve a cabeça no peito dele, ele era alto, e ela era baixinha, deveriam forma um casal um tanto exótico, mas ela não estava se importando com isso agora.

Merlin poderia sentir a cabeça dela encostada delicadamente em seu peito e se perguntou se ela poderia ouvir seu coração batendo... Cada vez mais rápido. Sua mão acomodada na cintura dela, o perfume de alfazema que ela usava o embriagando cada vez mais, e cada vez mais, a cada segundo ele queria que ela ficasse mais perto. Com certeza era aquele cheiro, nunca soube que gostava tanto de alfazema. Apertou-a mais contra si e ele sentiu o corpo pequeno de Morgana relaxar em suas mãos.

Então ela levantou a cabeça e o encarou. Ele olhou profundamente dentro daqueles olhos castanhos que pareciam serem feitos de um mel escuro, queria saber o que havia naqueles olhos, nos olhos dela. Então para a sua surpresa ele fixou seu olhar no mar castanho e lá no fundo ele viu seu reflexo pálido pela falta de luzes, a mesma máscara branca e a capa que lhe cobria um ombro. Ele estava nos olhos dela.

Não estava conseguindo pensar direito. O rosto dela estava perfeitamente emoldurado pela máscara preta que lhe dava um tom misterioso, então de repente ele soube pelo modo como ela o encarava ela também estava em seus olhos.

Um sorriso alegre se abriu nos lábios dela, ele realmente adorava quando ela sorria, era o sorriso mais bonito que ele já se lembrava de ter visto, talvez ele simplesmente tivesse esquecido os outros sorrisos que já vira, ou pelo menos a maioria deles.

Neste momento um senhor alto esbarrou nos dois com força se desculpando logo em seguida, mas nem Merlin nem Morgana escutaram o pedido de desculpas, ela estava apoiada nele, literalmente, se ele a soltasse ela se esborracharia no chão já que suas pernas haviam se tornado geléia. Os olhos cinza-prateados dele estava muito próximo dos seu, o rosto dele estava estranhamente próximo, e as duas mãos dele a seguravam pela cintura e emanavam um calor incrível. Os lábios dele formavam aquele já conhecido sorriso de canto tão charmoso, ela senti-se tão perdida quando ele sorria assim.

Ela entreabriu os lábios e tentou falar alguma coisa, talvez pedir desculpas por estar em seus braços, mas nenhum som saiu. Ela achava que toda aquela proximidade conseguia arrancar as palavras de sua garganta fazendo elas se perderem no caminho. Então alguém os espremeu contra uma parede que ela nem sabia existir ali, suas testas coladas agora, ele podia sentir o calor que emanava dela ela o apertou de leve com a mão pequena que repousava em seu ombro. Ele não conseguiu resistir mais. Capturou seus lábios em um beijo faminto sem precisar de um novo empurrão.

O contato pareceu liberar faíscas os braços em seu pescoço e as mãos dele passeando pelas costas do vestido parecia surreal. Logo ela estava na ponta dos pés os olhos cerrados, eles não precisavam ver nada, não queriam ver nada, ambos só precisavam sentir.

Merlin queria sentir Morgana, e a Morgana precisava sentir Merlin.

Quem sabe a lenda não seria verdade, ao menos para eles, naquele momento. Era verdade.

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