Capítulo 9
Cap. 9 O expresso para o hospício
- Izzie, pelo amor de Merlin, você vai me deixar sozinha?- reclamou Ginny, a amiga estava tentando decidir que roupa iria usar esta tarde, ela teria um encontro com Zabini. Ginny seria obrigada a vagar sozinha pela cidade de Gizé. E estava um calor mais insuportável do que em Veneza, mas a ruiva ainda achava a cidade linda.
- Já a convidei para vir conosco.- disse a outra levantando as mãos no como se dissesse “Sou inocente, baby”
- Como se você realmente quisesse que eu fosse!
Blusas voaram para fora da mala.
- Você tem razão.- concordou Izzie sem encará-la com o corpo inclinado sobre a mala remexendo suas roupas.
- Izzie!- repreendeu Ginny.
- Ops! Eu disse isso em voz alta?- ela disse e foi acertada em cheio por uma almofada cor de abóbora.- Desculpe amiga.Estou saindo do sério por não conseguir achar nada para vestir que seja bonito e não me cozinhe dentro e ao mesmo tempo.- ela disse exausta de procurar.
- Vou arrastar Julia comigo então, quer ela queira ou não.
- Faça isso, mas duvido que consiga, elas saíram hoje de manhã e, bem, a pele de Lucy não reagiu muito bem a todo este sol e a mesma está enfaixada com dolorosas queimaduras.
- Oh! Pobre Lucy! Eu não sabia.
- Claro que não, Julia passou por aqui hoje mais cedo e você estava dormindo como uma pedra. Tentamos acordá-la, mas você apenas disse algo sobre pirâmides à meia noite, ou algo parecido.
Ginny corou violentamente, sabia o que significava aquilo. Estava tão ansiosa para encontrá-lo esta noite que simplesmente não conseguia ficar no hotel. Felizmente conseguira uma desculpa convincente pelo seu comportamento de “ quem havia sentado pelada no formigueiro”
Como disse Izzie. Ela havia dito à amiga que queria aproveitar já que passariam pouco tempo lá. Não havia contado uma palavra sequer sobre como havia planejado o segundo apagão, tinha plena consciência de que a outra decretaria pena de morte a ela por esconder uma fato daqueles e provavelmente a penduraria pelo tornozelo no nariz da esfinge para morresse lentamente. Izzie poderia ser bem cruel quando queria ser.
- Ela já procurou um curandeiro? – perguntou ela desviando de imediato do assunto.
- Sim, o Curandeiro do trem veio e cuidou dela.
- Irei no quarto delas ver se precisam de mais alguma coisa e dar uma olhada nestas queimaduras. Não é a primeira vez.- Ginny disse levantando-se preocupada com a amiga.
- Espere! Você não pode me deixar sozinha aqui deste jeito!
Ginny sorriu maléfica.
- Prove do seu próprio veneno medusa!
- Ginny! É serio! Eu preciso vestir algo e você precisa me ajudar a escolher!
- Faz o seguinte, pode revirar a minha mala, e pode pegar emprestado o que você quiser OK? Agora eu tenho que ir ver como a Lucy está. - e sem dar qualquer outra chance para que a outra replicasse ela saiu do quarto.
Ela foi a passos rápidos pelo corredor do trem até o quarto das meninas, em sua mente ralhava com Lucy. A baixinha sabia que sua pele era de uma sensibilidade previsível e esta definitivamente não era primeira vez que aquilo acontecia. Bufou conformada.
Sem perceber o caminho à sua frente acabou por esbarrar em algo e simplesmente caiu com um baque surdo no chão. Deixou um gemido de dor escapar dos seus lábios assim eu sua bunda bateu no chão de madeira lustrosa. Olhou para cima para poder ver em quem havia esbarrado desta vez. Não pôde evitar arregalar os olhos, realmente ela não tinha muita sorte.
Havia acabado de bancar a desengonçada na frente do cara Deus grego, Sr. Sorriso simpatia, que estava saindo coma Izzie. Que, é lógico estava com um daqueles sorrisos super simpáticos apontados para ela.
- Ginny, certo?- ele perguntou estendendo a mão para ajudá-la a levantar-se. Ela confirmou com um aceno da cabeça. - Cuidado se eu fosse uma parede você estaria dizendo adeus ao formato do seu nariz.
Ela segurou na mão dele sorrindo sem graça.
- Creio que você deva estar certo. Mas para ser honesta acho que é meu carma.
- Esbarrar nas pessoas?
- Não, cair e me machucar mesmo.
Ele sorriu do infeliz comentário.
- Bom entre para lista, o meu amigo pegou uma insolação feia.
- Nossa, eu estava indo agora mesmo ver se uma amiga que também sofreu queimaduras de sol precisa de mim, mesmo com a Izzie dizendo que ela já foi examinada por outro Curandeiro.
- Ahh, você é Curandeira?
- Sou.
- Bom, talvez você pudesse dar olhada neste meu amigo, ele foi par a ala hospitalar do trem.
- Ah, claro. Sem problemas, passo lá assim que checar a Lucy, qual o nome dele?
- Draco, Draco Malfoy.
Ele sorriu de canto, ele veria agora se Draco ainda estaria tão chateado, o loiro poderia considerar a ruiva um presente de Zabini para Malfoy. Era um presente e tanto na sua opinião.
Ela engoliu em seco e deu um sorriso amarelo. Porque era sempre ela quem se metia nestas situações desconfortáveis?
- Ta. – falou numa voz esganiçada. - Melhor eu ir então, já que tenho mais um paciente.
- Bom trabalho, e bom se o Sr. Malfoy estiver um pouco chateado, não se intimide ele é assim mesmo quando sente dores, e bom, deve imaginar como é doloroso.
- Tudo bem, não se preocupe. - Ginny poderia imaginar, poderia imaginar perfeitamente. O que ela não poderia imaginar, era sua cara cuidando de Draco Malfoy. Merlin ajudasse e que ele não continuasse tão intragável como era na época da escola ou ela já poderia sentir o cheiro de queimado vindo da pele dele.
E o Sr. Deus-grego-já-com-dona seguiu seu caminho pelo corredor e a ruiva contou até três para seguir o seu no lado oposto.
E por três vezes ela olhou pessoas com as faces muitíssimo vermelhas, e alguns gemidos de dor, se apiedou daquelas pessoas de imediato. O sol deveria realmente estar cruel lá fora, e pelo que ela estava vendo se aquilo não fosse tratado rapidamente poderiam dar febres altíssimas. Bom aí, seria um pandemônio.
Finalmente chegou ao quarto da amiga.
Bateu na porta, ouviu vozes e gemidos, e então com um estalo a fechadura se abriu deixando o rosto de Julia visível. Ela pode notar de imediato que as maçãs do rosto dela também apresentavam um rubor incomum, mas nenhuma queimadura.
- Ginny, graças a Merlin!
Aquela frase a preocupou.
- Como vocês estão?- a ruiva perguntou. Com a expressão preocupada no rosto, as sobrancelhas alinhadas formando uma ruga na testa.
- Eu estou bem, mas a Lucy...
- O que tem ela?
Mas como resposta apenas Julia abriu a porta para que Ginny pudesse ver por si mesma.
Lucy estava vestindo uma blusa uma saia e um cachecol. O Problema é que a blusa estava no lugar onde deveria estar a saia, suas pernas que estavam da cor de pimentas estavam apertadas no local onde deveria estar os braços, a saia estava na cabeça como um habito de freira, o cachecol estava amarrado ao seu busto como um top. Para completar a pasme de Ginny a amiga tentava apanhar os peixinhos do aquário com o sutiã e cantava uma música que nem Deus conhecia.
Ginny ficou sem palavras de imediato, dois minutos se passaram e agora Lucy se agarrava às cortinas gritando desesperada algo sobre enguias maléficas lhe perseguindo ao mesmo tempo em que gemia de dor pela pele dolorida tocada nas cortinas.
- Lucy? Lucy! Você enlouqueceu?- perguntou Ginny abismada.
A loira se virou para ela chorando que daria dó até no pior bruxo das trevas.
- Princesa! Princesa suas enguias! Princesa porque me atirou no fosso?- Ela gritou para Ginny.
Ginny arqueou as sobrancelhas. Princesa? Fosso? Tinha algo muito errado com a sua amiga e se a situação não fosse preocupante seria mais que cômica.
- Julia o que está acontecendo aqui? Que história de fosso é essa?
- Nem me pergunte... A curandeira disse que era efeito da poção e da pomada. - explicou a outra tentando se inocentar.
- O que diabos eram a ela?
- Algo com macácia.
- Macácia?!- exclamou Ginny incrédula.
Julia foi até o criado mudo e pegou um vidro de poção e um pequeno recipiente onde havia um creme rosê.
Ginny reconheceu a pomada, ela já havia usado, certamente não seria aquilo que estaria causando toda aquela loucura de Lucy. Então ela destampou o vidro em que a poção estava, a cor era um azul miosótis e assim que encostou a nariz perto do vidro o cheiro lhe disse tudo.
Porque diabos havia lhe dado aquilo, ela conhecia aquela poção, ela já tivera que receitá-la algumas vezes, mas era apenas se não tivesse outra opção, pois os efeitos colaterais era um pouco desagradáveis, como qualquer um que olhasse Lucy poderia ver. Causava desorientação e confusão, assim como alucinações e delírios de todos os tipos.
- Ginny por Merlin, o que eu devo fazer com ela? Já tentei que ficasse imersa na banheira para aliviar a ardência na pele, mas ela começou com essas alucinações terríveis. E disse que eu era o fantasma da tataravó trouxa dela que havia voltado para castigá-la por ter transformado o seu sapo de estimação em um cizal.
Parte da ruiva gostaria muito de rir histericamente da situação, mas a outra parte sufocava esta e a sensação de pena da amiga prevalecia sobre a vontade de rir estrangulada.
- Porque a curandeira deu isto a ela? Não havia outra poção?
- Ginny eu não sei! Não é costume de ninguém questionar as ordens de uma curandeira!
Julia estava certa, Ginny teria que ir lá conversar com a curandeira.
- Julia, não tem nada que eu possa fazer em relação às alucinações, só nos resta esperar passar...
- Não acredito. Tem de haver algo a ser feito, a Lucy não pode passar o dia inteiro como a rainha dos loucos.
As duas se viraram com o grito de compreensão total e surpresa que a loira havia deixado escapar.
- Ahhh! Então foi para isso que veio princesa? Para me fazer Rainha?- então ela pegou a mão de Ginny com delicadeza, atirando o sutiã para trás e esquecendo as cortinas. - Venha! Este é meu reino, não é maravilhoso? Leonard tome conta das enguias elas estão particularmente ferozes hoje. - ela falou se dirigindo ao guarda-roupa como e ele fosse algo com vida.- Veja esta é minha tataravó, ela não é uma senhora encantadora? Adora cizais, pobre mulher acho que está ficando senil... - ela disse com um muxoxo de desaprovação.
Julia arqueou as sobrancelhas diante da ironia da frase.
- Sim majestade, seu reino é de fato muito glorioso, mas acho que a senhora merece um descanso não acha?- disse Ginny, colocando o seu braço no ombro da amiga.
- É eu realmente mereço, princesa, minha avó anda me deixando louca ela queria contratar stripers! Dá para acreditar...?- Ginny teve que segurar a risada com todas as suas forças assim que olhou a expressão de Julia diante daquela afirmação.
E com as faces coradas pelo riso reprimido ela conduziu Lucy à cama.
- Você fique aqui majestade vou procurar algo para a senhora comer.
- Ah, obrigada princesa, e manda Leonard continuar cuidado das enguias certo?
-Pode deixar senhora.- Ginny disse girando os olhos. Ainda pensava nas enguias.
Então virou-se para Julia enquanto Lucy fingia dormir na cama ao lado.
- Eu vou conversar com a curandeira desta ala hospitalar, se ela estiver medicando da mesma forma todos os que aparecem lá com o mesmo problema da Lucy... Este Trem vai estar mais para o trem do hospício que pra qualquer outra coisa.
- Espera Ginny! Você não pode me deixar sozinha com ela assim neste estado!- disse Julia choramingando.
- Eu tenho Ju! Ou isso aqui vai ficar a gaiola das loucas.
Ela mesmo de má vontade concordou com a ruiva.
- Tudo bem, mas tenta não demorar OK?
- Farei o possível.- ela disse fechando a porta atrás dela antes que Lucy começasse com suas enguias e Princesas novamente
Ela caminhou a passos rápidos para a enfermaria, teria que evitar um pandemônio total. Assim que passou para o próximo vagão e estava na metade do corredor uma garotinha passou correndo e chorando penosamente por ela. A mesma pulou nos braços de um senhor que ela sequer pode vislumbra, pois no segundo seguinte, ela escutou uma voz rouca e desgastada gritar às suas costas.
- Querida! Onde você esteve?! Vamos voltar para a cama! Eu estou pronto para a nossa lua-de-mel!-
Ginny se virou para olhar de onde viriam aquelas frases.
Antes que pudesse esboçar qualquer reação além de esbugalhar os olhos um senhor de no mínimo 90 anos grudou seus lábios aos dela imprensando-a na parede, no que para ele era a idéia perfeita de um beijo avassalador.
Ginny ficou estática ao sentir os lábios daquele homem com idade para ser seu avô pressionando os seus, seus olhos muito abertos de surpresa perceberam a pele vermelha e queimada dele. Ela entendeu então. Ele também estava sob o efeito alucinógeno da poção. Constatou então que não poderia evitar o pandemônio, ele já havia começado.
Suas mãos espalmaram-se nos ombros flácidos do senhor enquanto tentava se livrar do abraço indesejado, mas tudo que conseguiu foi fazer com que os dois girassem. Então seus olhos captaram a menininha, agora estava agarrada como se sua vida dependesse disso em ninguém menos que Draco Malfoy.
- Papai sorvete!- ela gritava enchendo o corredor com seus gritos.
Os olhos dele encontraram os dela e a ruiva corou terrivelmente.
Lutou ainda com mais vigor para se desgrudar do senhor idoso, e quando conseguiu por fim, seus olhos se voltaram onde havia visto o Malfoy, mas ele já não estava mais lá, havia desaparecido com a menina nos braços.
Ginny estava surpresa, não sabia que Draco Insuportável Malfoy seria capaz de gerar uma filha.
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Ele estava apenas indo para a ala hospitalar ver se a curandeira de lá poderia dar um jeito no seu ardor. Aquilo poderia até soar ambíguo, mas ele daria muita coisa para que fosse o outro tipo de ardor. O ardor ao qual se referia era o da sua pele, completamente destruída pelo sol, e a culpa era toda de Blás!
Por que diabos ele tinha que trazê-lo par ao passeio matinal? Que de matinal tinha pouca coisa já que se estendeu até a duas e meia da tarde. Quando ele voltou entrou de imediato no chuveiro e nem sequer olhou no espelho, e pela primeira vez em anos tomou banho com água fria.
Draco Malfoy detestava água fria.
Draco apanhou a toalha e nem sequer enxugou-se direito apenas a passou nos cabelos vestiu-se rapidamente sentindo as gotas de água remanescentes do banho molharem o tecido de suas vestes em uma tentativa desesperada de diminuir a temperatura.
Aquele lugar era o caldeirão do inferno, até mesmo a roupa que tocava a sua pele causava uma sensação quente e áspera. Mal poderia esperar para que a noite chegasse, diziam que durante a noite não era tão quente quanto durante o dia. Ah é claro, e exatamente a meia noite, ele iria encontrar a Morgana. Um sorriso mínimo espalhou-se discretamente em seus lábios. Lembrou-se da última vez que haviam se encontrado, á quatro dias atrás, ela havia deixado todo o trem mergulhado na escuridão para que pudessem se encontrar no mesmo lugar que da primeira vez.
Morgana era meio louca, disso ele tinha certeza, pensou enquanto penteava os cabelos, mas ele gostava da risada dela, o que também era estranho. Normalmente ele não ligava muito para risadas. A e tinha o cheiro dela também, ele gostava disso, mas claro jamais mencionaria isso. Soava patético até mesmo para si.
Ela era incomum, mas ele também não era o tipo de pessoa que se encontra em toda esquina.
Estava com fome, seus pés o guiavam para o restaurante, e ele ainda estava distraído pensando em como faria para chegar ao topo da pirâmide mais alta do vale de Gizé. Ele tinha cada idéia quando estava com ela, estava começando a considerar a possibilidade do escuro prejudicar a capacidade assimiladora do seu cérebro. De qualquer forma ele aparataria no topo da pirâmide de Quéops hoje à meia noite, e ele esperava sinceramente que assim que sentasse por lá, a pedra quente não torrasse sua bunda.
Sorriu da idiotice. E estranhou o som do seu próprio sorriso, sorriu novamente do fato.
Sentiu seus olhos quentes, como se estivesse... Como se... Como se estivesse com febre. Mas é claro que não estava. Devia ser aquele calor todos que parecia ter se incrustado na sua pele.
Sorriu novamente. Que situação, ele não tinha febre desde que tinha 17 anos de idade
- Poderia jurar que estaria remoendo um ódio mortal pelo local logo mais cedo, e aqui o encontro rindo com o vento.- ele reconheceu a vós de Zabini entrando em seus ouvidos, mas não se conteve quando ele colocou a mão no seu ombro.
- Arghhh!- seu ombro ardiam como se estivesse em chamas. Ele se virou para encara o outro. – Ficou maluco?! O que diabos você passou em mim?
Mas então ele leu na expressão de Blás que a culpa desta vez não havia sido dele. No momento em que seus olhos varreram o rosto do loiro sua expressão foi de terror totalmente como se Draco estivesse usando uma máscara de bicho papão ou quem sabe tivesse um terceiro olho ou uma segunda boca. Depois passou para susto como se Blás tivesse se segurado para não pular para trás no momento seguinte. Então ele pareceu compreender o que havia acontecido, “o porque do terceiro olho/segunda boca” e desta vez estava se segurando para não rir.
- Draco eu não passei absolutamente nada em você... e por via das dúvidas você já olhou seu rosto no espelho depois que voltou do passeio?
Ele tocou no rosto e sentiu a mesma sensação horrível, sua pele parecia estar tão frita quanto ovo para farofa.
- Por Merlin o que...?- então ele se virou para as portas de vidro do restaurante, e seu reflexo era tão vermelho quanto um pimentão.
Blás desatou a rir como um cachorro tuberculoso, enquanto Draco simplesmente o ignorava e olhava bestificado para o estado em que toda a sua pele se encontrava. Suspendeu a maga da blusa e constatou que seu braço se encontrava dolorido e vermelho da mesma forma.
- A culpa disso é sua, seu inútil!
- Minha?!
- Se não fosse por você eu não teria ido naquele passeio!
- Mas se pensarmos pelo outro lado, você vem ao Egito e não quer conhecer o lugar?
- Se não fosse por você eu não teria vindo para essa viagem!- ele falou irado.
- E ai não teria conhecido nem pego a sua idolatrada Morgana.- provocou Zabini. Nem sequer o próprio Zabini sabia porque ele sempre provocava na pior hora.
- Não fala assim dela!- Assim como? Draco se perguntou. Droga, nem ele sabia do que estava falando, só sabia que não gostou quando Zabini falou da Morgana.Talvez ele já estivesse de fato com febre. – Blás cala a boca e me diz em qual direção é a ala hospitalar.
- É por ali. – ele disse apontando para um corredor.
Então tudo aconteceu a garotinha havia vindo correndo em sua direção no corredor gritando que ele era o pai dela, e chorando apavorada. E logo que ele a segurou nos braços ela pareceu gritar mais ainda. Ele não sabia o que fazer.
Logo a seguir um velho senhor agarrou a ruiva que vinha pelo corredor, pedindo-a para que voltassem para a lua de mel. E ele havia presenciado uma cena não muito bonita: o beijo dos dois.
Além de tudo ainda achou que fosse vomitar, o velho estava tão queimado quando ele, e imprensava a ruiva na parede, então ele reconheceu. Era a ruiva amiga da tal Izzie com quem Zabini estava saindo! Certamente ela teria idade para ser neta dele. Das duas uma: ou aquele velho era muito rico, ou... OU... Bom, talvez fosse só uma mesmo.
Ele saiu do caminho dos dois enquanto os braços da menina se enroscavam no seu pescoço.
Draco estava com o pescoço dolorido de tanto aquela garotinha loira apertá-lo. Onde estava o pai daquela criança de qualquer forma?
Ele certamente não seria. Era certo de que havia cometido muitos erros, diga-se de passagem, e muito deslizes com mulheres pouco conhecidas por ele, ele tinha certeza com todas as suas forças, ao menos ele esperava, que nenhum destes deslizes houvessem gerado aquela pequena gralha.
Ele podia ver que ela estava no mesmo estado que ele, a pele vermelha e ardendo, os olhos injetados pela febre interna. Sentiu pena da pequena garotinha por dois ou três segundos, então sentiu pena de si mesmo, sua garganta já estava começando a doer, sua pele ardia até com a menor brisa, ele parecia um a pimenta ambulante. A única diferença era que a pimenta não conseguia sentir o seu próprio ardor, e bom, ele sentia, e como sentia!
Amaldiçoou o sol naquele lugar infernal, pela qüinquagésima terceira vez.
- Papai, corra, o cavalo do lago está se aproximando.- a menina dizia enquanto enterrava a cabeça em seu ombro, em um desespero surdo.
Draco estava começando a se desesperar, as unhas da garotinha se enterravam nas suas costas, e ele achou que iria gritar de dor. Onde diabos estaria o pai daquela garota?! Ele se perguntou pela milésima vez.
- Eu não sou seu pai!- ele gritou de volta para a garota.
Mas ela parecia simplesmente não o ouvir, ou resolveu ignorá-lo.
-O cavalo do lago! Pai me tire daqui!
- Escute aqui, não há nenhum cavalo do lago!
- Claro que há pai! Não consegue ver?! Vamos rápido!- ela falou as lágrimas manchando o seu rosto impiedosamente.
- Você está bem garota? Qual o seu problema não há nenhum cavalo do lago!- ele disse tentando desfazer o nó que as mãos dela deram ao redor do seu pescoço.
- Não! Pai, não! Porque você não vê! Eu não consigo matar o bicho papão sozinha!
- O que? O bicho papão?!- ele estava ficando confuso.
- Do armário do Gerard!
- Quem é Gerard?
- Lá vem ele! Corre!- e então ela começou a gritar novamente.
- Escuta aqui garotinha, eu não sou seu pai, por mais que você teime o contrário eu não sei quem é Gerard, e não vejo nenhum bicho papão ou cavalo do lago ou o que quer que seja! Saia de cima de mim!
- Pai por que não acredita em mim...? – ela perguntou parecendo magoada. Se fosse outra pessoa quem estivesse em seu lugar poderia ser até comovente, mas ele era Draco Malfoy, não participava de cenas comoventes. – Ohhh... Minha pele está derretendo! Arrrghhh!- ela gritou olhando para os braços.
Draco olhou entrando em desespero para a menina , do que aquela pequena criatura loira estava falando? Tentou tirá-la com todas as suas forças de um jeito que não fosse machucá-la, mas a menina havia grudado no seu pescoço como um macaco gruda em bananeiras. Porque em nome de Merlin aquelas coisas aconteciam com ele? Porque só com ele a menina macaco aparecia correndo no corredor? Por que justo com ele a insolação.
Então essa hipótese lhe ocorreu: Seria alguém capaz de dar bebida para aquela criança? Porque sinceramente era uma hipótese a ser considerada... A julgar pelo estado em que ela se encontrava.
- Ah! Merlin ele está se transformando! Agora é uma múmia gigante!- ela gritava provavelmente se referindo ao bicho-papão. Ele quase sorriu, múmia gigante seria realmente adequado àquele lugar, pelo que ele via o Egito realmente entrava em você, começando pela sua pele arruinada.
Enquanto a garota gritava coisas desconexas e o chamava de pai com o rosto que representava o próprio dilúvio de Noé, Draco resolveu ignorá-la. Não sabia o que fazer com ela, certamente ela precisava de ajuda, era visível pela sua pele queimada como pelas alucinações confusas que a assomavam.
Deveria estuporá-la? Assim seria mais fácil e menos doloroso levá-la para a ala hospitalar. Porque afinal levá-la até a ala hospitalar era o máximo que ele se imaginava fazendo pro ela. Quem sabe encaminhá-la a uma ala psiquiátrica no trem...
Haveria alguma ala psiquiátrica ali? Ele tinha suas dúvidas.
Descartou a opção de estuporar a garota, afinal um dia ele iria encontrar o pai dela, afinal não era possível que ninguém estivesse procurando por ela, e ele não queria confusão quando a encontrassem desacordada. Então teve que levá-la aos guinchos até lá.
Quando chegou ao local percebeu o grande erro que havia cometido. Duas curandeiras se revezavam como podiam para atender a horda de pessoas tostadas que superlotava o local. E bom, muitas estava no mesmo estado que a garota-gralha. Ou talvez muito pior a julgar pela mão que ele sentia passear sobre o tecido de suas vestes apertando sua bunda.
- Woow!- ele disse dando um pulo e virando-se de frente para a pessoa que o assediava. A garota se sacudiu em seu pescoço como um colar exótico.- Senhorita vá com calma...!- ele falou encarando a mulher a sua frente.
Era uma mulher certamente mas velha do que ele, mas de forma alguma dispensável, os cabelos ondulados caiam soltos em volta do rosto oval de feições bonitas. Pensamentos inadequados certamente passaram pela sua cabeça mas evaporaram na velocidade da luz assim que ela falou:
- Volte para mim Daniel...- ela falou manhosa.
Daniel? Qual era o problema com aquelas pessoas? Todas haviam enlouquecido?
- Não sou Daniel.- ele disse com a voz áspera, dando as costas para a mulher
- Não fuja de mim Daniel...- ela insistiu segurando seu braço e suas mãos ávidas e atrevidas deslizando por lugares os quais até mesmo ele consideraria inapropriados, ao menos em público. E principalmente naquele instante no qual sua pele estava excepcionalmente sensível.
A garotinha gritava agora tentando se livrar da presença da mulher alegando que ela era medusa perversa que uma certa bruxa das trevas havia mandado. Enquanto ele tentava se livrar da mulher tarada ele viu um senhor de idade avançada correr com um lençol agitando nas costas gritando qualquer coisa sobre uma manticora e o fim do mundo. Draco estava começando a concordar com ele sobre o fim do mundo.
O que estava acontecendo com todas aquelas pessoas queimadas terrivelmente de sol? Estariam todos ficando loucos?
- Curandeira! Curandeira o que está acontecendo? – ele disse em desespero passando pela multidão de alucinados - Saia daqui Senhorita! Ele dizia à mulher tarada.- Curandeira! Eu preciso...!- mas a curandeira simplesmente não o escutava.
Tentou vencer as pessoas à sua frente, mas era simplesmente impossível.
Sua pele ardia terrivelmente, seus olhos lacrimejavam, ele sentia-se febril, uma garotinha estava dilacerando seus ombros com as unhas e o chamava de pai gritando todo o tipo de incoerência, uma louca que tinha idade para ser sua mãe, estava insinuando suas mãos por dentro de sua camisa já arruinada pelas lágrimas da criança, seus ouvidos eram perturbados pela balburdia do local. Ele perdeu por fim toda a pouca paciência que lhe restava.
- Silêncio!- ele gritou apontando a varinha a massa de pessoas com a pele vermelha a sua frente.
Seu gritou se sobressaiu a todas as outras vozes e sua garganta ardeu terrivelmente como se ele tivesse engolido uma lixa.
Aqueles que não foram atingidos pelo feitiço foram silenciados pela sua voz.
Ele se virou para a mulher que continuava a agarrá-lo e a empurrou com hostilidade e desprezo:
- A Srta. Safada vai parar de insinuar-se de forma ridícula e vulgar agora mesmo! Não tenho nenhuma intenção de ir para cama com você, ou ser seu Daniel, portanto tire suas mãos inconvenientemente atrevidas de cima do meu corpo!- ele falou e com um aceno da varinha a mulher estava petrificada.
Tentou arrancar os braços da pequena gralha do seu pescoço mas mesmo silenciada ela continuava a agarrar firmemente como se sua vida dependesse disso.
- Eu não sou seu pai!- ele gritou com toda a força que lhe restava e a estuporou.
Respirou fundo aliviado.
Antes que pudesse contemplar trinta segundos de paz sentiu sua varinha voar da sua mão e ele estava desarmado. A curandeira apontava a varinha dela para ele com uma expressão que ele só poderia entender como um sinal de que ela o achava o mais louco de todos os loucos na enfermaria.
- Senhor, acalme-se. O senhor está se sentindo estranho, é um efeito da medicação.- ela disse lentamente se aproximando dele.
- Que medicação? Eu sequer tive a oportunidade de falar com uma de vocês duas!
- Nós entendemos que o senhor possa não lembrar, é normal, é um dos efeitos da poção...
- Ah, então são vocês que estão causando este pandemônio? Não importa eu vim aqui apenas para...- mas ele não foi capaz de terminar a frase, ela agitou a varinha e ele perdeu a consciência.
~8~8~8~8~8~8~8~8~8~8~8~8~8~8~8~8~8~8~8~
- Certifique-se que ele passe isso... Não, melhor ainda aproveite que ele já está inconsciente e passe você mesma.
Ele conhecia aquela voz...
Seus olhos estavam fora de foco como se ele tivesse passado muito tempo sem usá-los, e suas pálpebras pesavam toneladas e se recusavam a abrir de acordo com o comando do seu cérebro. Ele se moveu um pouco no leito enquanto procurava o que havia lhe despertado do seu sono nada natural e relaxante. Tentou levantar-se, mas era como se alguém pressionasse sua testa com uma barra de ferro e instantaneamente ele se sentiu tonto.
- Infelizmente eu só tinha o suficiente para duas poções e bom, minha amiga está usando a outra...- a voz soou como um sussurro.
Ah é mesmo a voz.
- A situação no trem está muito ruim?
Mas não essa.
- Está incontrolável. Sugiro que assim como a poção para aliviar o ardor na pele queimada, você ministre poções do sono. Para reduzir um pouco o caos.- as pessoa sussurrava ao longe, em meio a outro barulhos ao fundo.
Essa voz! Ele tinha certeza que conhecia de algum lugar... Se ao menos pudesse pensar com clareza, sem sua cabeça latejar.
- Bom, creio que esta certa. Não sabíamos que a reação seria tamanha. O que a Senhorita é para ele?
Seria possível! E então como uma epifanía a idéia lhe ocorreu! De todas as chances aquela era a mais improvável... Eles poderia se encontrar em tantos lugares sem se notarem, mas tinha de estar lá justo quando ele estava metade inconsciente metade desorientado e com a pele toda queimada?
- Para dizer a verdade, nada. Só passei pra ter certeza de que ele usasse isso.- a voz agora se tornava mais nítida, e ele desconfiou que não era ela que estava sussurrando e sim sua audição falhando assim como sua visão.
Não ouviu mais a voz dela, ou sequer conseguiu vê-la, tentou levantar a todos os custos, mas sua cabeça ainda estava tonta, e seus sentidos completamente desorientados. Conseguiu com esforço se por de pé, e quase despencou na tentativa.
O que havia feito com ele? Que feitiço aquela infame daquela curandeira havia lançado sobre ele. Ela estaria tão condenada se aquilo fosse qualquer coisa a mais que passageiro.
A curandeira percebeu suas tentativas e o alcançou rapidamente. Com mãos ávidas o fazendo voltar ao leito. Ele resistiu a ela, mas seus reflexos ainda estavam lentos e sua visão só agora começava a entrar em foco sem contar que ela tinha uma varinha.
- Deite-se, por favor.- ela dizia várias vezes, enquanto ele tentava se livrar dos braços dela, mas não sabia para onde se dirigir afinal ele não sabia de onde a voz dela tinha vindo. Conseguiu dar alguns passos incertos, mas o cheiro no ar não era dela, não era alfazema.
Ele ainda lutou um pouco contra ela, até que ela recorreu a suas vantagens.
Não era ela.
Não havia alfazema.
E ele caiu na inconsciência novamente.
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