Capítulo 8



Cap 8 Duas vezes no mesmo lugar.


No café da manhã do segundo dia no trem, Ginny já voltara ao normal, voltara a sua versão falante, alegre, e impaciente. Depois de ter sido submetida a um rígido interrogatório por suas amigas abelhudas, ela sentia-se normal, menos Luna Lovegood. Supunha que aquilo deveria ser saudável.

- Então Izzie para onde estamos indo mesmo?
- O próximo destino é o Egito.- respondeu a amiga enquanto bebericava o seu café.
- Maravilhoso! Sempre quis conhecer as pirâmides. - falou suspirando.
- Cissy finalmente vai sentir-se em casa.
- Nem me fale em algo assim, imagine ela no meio de toda a aquela areia? Já posso até sentir a dor de cabeça por antecipação.

Izzie não conteve uma sonora risada.

- Dê um voto de confiança à sua esfinge, afinal ela não é o animal mais inteligente do mundo à toa.
- Vou tentar, mas cheguei à conclusão de que ela é meio claustrofóbica, está odiando o trem.
- Não se preocupe amanhã devemos estar chegando por lá.

Então as portas do restaurante do trem se abriram, dando passagem ao tal Zabini com quem Izzie havia ido ao baile. Ela não pôde evitar o sorriso maroto que a fez abaixar os olhos quando ele vasculhou o local e seus olhos se prenderam na figura da amiga que estava de costas. Depois dirigiu seu olhar para a mesa onde um loiro estava sentado, era visível a batalha interna que estava sendo travada, qual mesa ele iria visitar primeiro? Eles não haviam se falado desde o baile, a ruiva sabia que aquilo estava matando Izzie, podia ver pela cara dela. Então resolveu sair do caminho para ver se facilitava aquele pedaço de mal cominho a decidir-se pela amiga.

- Izzie, espécime raro à três metro de distância, estou me retirando para dar espaço. – ela disse com um sorriso de canto, e se retirou sem dar tempo para que a outra respondesse. Pegou a bolsa e levantou-se, cruzando as portas do restaurante, não pôde evitar lançar um olhar incentivador à ele, que finalmente foi cumprimentar Izzie.

Ao sair do restaurante, reconheceu uma certa porta que lhe arrancou um leve sorriso dos lábios, não entrou na mesma, não precisava, as lembranças corriam vívidas em sua mente e uma sensação confortável percorreu o seu corpo. Será que voltaria a vê-lo?

Ambos haviam concordado em deixar que o acaso resolvesse o destino dos dois. Ela se perguntava o que o acaso decidiria, não adiantaria tentar negar, ela sentia falta dele, sentia falta de esbarrar em alguém e ouvir uma voz conhecida a chamar “Morgana!”.
O sorriso se alargou.

Era como se ela pudesse ouvi-lo sua vontade era perguntar ao primeiro que aparecesse se conhecia algum Merlin ou se ele seria Merlin. Mas ao que parecia ele só apareceria caso ela precisasse no auge do desespero. Adiantaria algo se ela fingisse-se desesperada? Quem sabe ele aparecesse. Ela duvidava.

Já sabia como deveria ser. Ele nunca estava por perto quando ela queria, mas sempre apareceria quando ela precisasse.

Então seus olhos bateram em algo ao longo do corredor. Uma portinhola de vidro fosco ostentava aberta na parede, um botão. Apenas um. Então com pequenas letras estava escrito “Controle de luz”. Sua imaginação fluiu, e seu sorriso quase tocou as orelhas com o que lhe veio em mente.

Não era de luz que ela precisava era justamente o contrário, se por acaso todas as luzes se apagassem, tudo ficasse imaculadamente escuro, nem sequer uma faísca? Ele apareceria? Na mesma sala. Na mesma hora. Exatamente como da primeira vez?

Com certeza ele entenderia que havia sido ela, com toda a certeza! Era meio impossível haver um apagão duas vezes no mesmo lugar não era? Claro que era! Ele perceberia imediatamente, e certamente viria para o mesmo local!

Porque jamais poderia passar pela sua mente inebriada que Merlin poderia simplesmente achar que havia sido um acidente, ou que o trem teria um problema com a distribuição mágica da luz. Não. Ela estava muito alegre e embevecida com a possibilidade de “vê-lo” novamente para poder pensar em algo o oposto.

Seguiu feliz para o quarto, e decidiu rapidamente não contar a ninguém, certamente as outras a censurariam, qual era a pessoa que causaria toda aquela confusão no trem só para poder encontrar um cara que ela sequer conhecia o rosto? Izzie diria que teria ficado louca, Julia diria que ela estava levando a sério demais, e Lucy não saberia o que dizer.

Ela poderia prever cada uma das reações de suas amigas. Talvez elas até estivessem certas em certo ponto, mas ela não estava se importando muito com aquilo no então momento.



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- Draco, levanta!- disse Blás pela centésima vez.
- Blás eu juro que se você chutar esse colchão mais uma vez, eu vou fazer picadinho de você. - Falou o loiro rabugento sem se dar sequer o trabalho de abrir os olhos.
- Então levante-se bela adormecida. – ele falou provocando-o e chutando o colchão mais uma vez.

Isso era um fato, do conhecimento de todos, inclusive de Draco, que Zabini sentia um prazer imenso em testar a paciência de Draco até o limite. Talvez fosse o segundo prazer de sua vida, bem, diz-se o segundo, porque não é necessária muita imaginação para saber qual seria o primeiro prazer da sua vida.

Ele simplesmente se divertia em ver o amigo, porque era isso que eles eram mesmo Draco sendo o ser mais irritadiço, rabugento, e insuportável da face da Terra, ficar sério, os dentes trincados, e suspirar longamente como se aquilo fosse lhe acalmar, lhe dar mais paciência de alguma forma. Quando ele já estava realmente na beira do penhasco a sua voz ficava fria, e pausada, como se, as palavras “essa é sua última chance” estivessem embutidas no que quer que fosse que ele estivesse dizendo.

E aquela última frase proferida pelo loiro havia sido carregada com as tais características de que ele estava muitíssimo próximo da perda da pouca paciência que Merlin havia lhe dado.

Blás não conseguiu segurar o riso sorrateiro no canto de seus lábios, assim que deu as costas para a cama do amigo sentiu seu corpo ser empurrado contra a parede frente e ele teria quebrado o nariz se não tivesse virado o rosto de lado. Draco estava de pé atrás dele vestido na sua boxer preta e segurando a varinha apontada para o seu pescoço, enquanto o feitiço continuava mantendo-o preso à parede.

- Zabini seu verme, eu posso saber porque, em nome de Merlin, você está me acordando às oito da manhã?- ele falou soando possesso.
- Para ver se você uma vez na vida acorda antes das dez da manhã.- disse ele com a voz abafada contra a parede.
- E qual o objetivo? É bom você ter um muito bom, caso contrário a única coisa que você vai beijar nos próximos longos e dolorosos minutos será essa parede à sua frente.
-Ou você acorda agora, ou vai perder o café da manhã.- ele falou um tanto apressado demais.

Sentiu-se escorregar pela parede, e cair no chão. Draco havia ido ao banheiro lavar o rosto, ele já estava irritado por ser acordado àquela hora, se ficasse com fome, sua irritação se elevaria ao Everest. Se havia algo que o irritava mais que Zabini, era ficar com fome, principalmente porque era algo com o qual ele não estava acostumado.

A porta do banheiro bateu, fechando-se com força, era um banho ou ficar sonambulando pelo trem como um morto-vivo em um filme de terror clássico. Noite passada, ele simplesmente não havia conseguido dormir um segundo que fosse antes das quatro da manhã. Mais uma de suas crises de insônia, e essa noite em especial ele havia sonhado com mascaras, telhados e risadas.

Suspeitava que houvesse algo a ver com a noite do baile, que ele passara com Morgana. Tinha a leve impressão que a risada fluída e sonora que povoava os seu sonhos era dela, o mesmo tom, que ocasionalmente lhe lembrava o barulho de água, um pequena queda d’água, ou simplesmente água corrente. Mas ele sabia que ela não estava ali, não havia alfazema no ar.

Tolices nas quais sua mente ficava vagando enquanto tirar proveito das poucas horas de sono que lhe restavam.

- Então? – ele escutou a voz de Blás vindo zombeteira do lado de fora da porta.

Certamente ele precisaria de outra sessão com a parede para varrer aquele sorrisinho petulante de seu rosto. Talvez mais tarde.

- “Então” o que?- ele devolveu.
- Não vai me contar?
- Não que eu te deva qualquer tipo de satisfação, mas se você for mais específico eu posso discernir qual o assunto sobre o qual você esta mugindo.- ele falou irônico.
- Não se finja de tolo.
- O tolo aqui é você.

Aquela discussão realmente não estava levando á nada.

- Se você prefere assim. Estou me referindo à razão de você estar tão calado ultimamente.
- Não há razão.
- Claro que há.
- Não.
- É a tal Morgana não é? Se você quiser eu posso descobrir quem é ela para você.
- Mantenha sua mente putrefata longe dela!- foi tudo que ele pronunciou de dentro do banheiro, o que de fato não era uma resposta para nenhuma das perguntas de Blás.
- Nossa! Tudo bem se você não quer minha ajuda, mas vocês combinaram de ser “ver”, diga-se de passagem, novamente?
- Não exatamente.- respondeu lembrando-se.
- Qual é seu problema? Você já foi mais articulado Malfoy! Não gostou dela? Achei que estivesse de quatro!

Ele era simplesmente insuportável! Ainda mais cedo da manhã.

Desligou o chuveiro e saiu do banho.

- Como sempre Zabini, você nunca entende o que eu digo.
- O que em nome de Merlin eu não entendi, você pode me dizer? Porque até onde eu sei, você gostou tanto dela que está de quatro dela misteriosa Morgana.
- Eu não estou de quatro. E seu vocabulário grita por uma melhora drástica.
- Não fuja do assunto. O que você quer dizer com “não exatamente”?
- De uma forma ou de outra acho que iremos acabar nos encontrando.
- Como você pode ter tanta certeza? – perguntou o outro incrédulo.
- É o que vem acontecendo sempre. – ele falou escolhendo uma roupa e voltando ao banheiro para se vestir.
- Malfoy o que está acontecendo com você?! Você está bem?! Você não conhece aquela mulher, não sabe o seu nome, não sabe como ela é, não sabe sequer a cor dos olhos da dita cuja, e porque algumas coincidência os uniram algumas vezes você acha que irá acontecer o mesmo sempre que você quiser?! Depois eu sou o tolo aqui! Você andou comendo bosta, ou foi a grama de ontem?

- São castanhos.

Draco falou estático parando de abotoar os botões da camisa branca, suas mãos ainda segurando o segundo botão. Um sorriso indefinido no rosto.

- O que?!- perguntou Zabini confuso.
-A cor dos olhos dela, eu sei a cor dos olhos dela. - ele falou impaciente com a lerdeza do amigo.
- Castanhos?- ele perguntou arqueando as sobrancelhas.
- É, Castanhos.
- Detesto te desapontar Draco, mas isso não é lá muito descritivo, quero dizer metade das mulheres neste trem devem ter olhos castanhos. Não é o que se pode chamar de informação precisa sobre alguém. Ah não, espere um segundo, eu havia esquecido, você sabe mais uma cosia sobre ela! Você sabe que ela tem medo de escuro. Agora você realmente vai encontrá-la com estas informações.- ele disse sarcástico.
- Cala a boca Zabini!- ele disse e continuou a se vestir.
- Agora você terá que esperar que outro apagão aconteça para encontrá-la novamente, de acordo com a sua teoria.- ele continuou girando os olhos.

Draco detestava ter que admitir que as palavras de Zabini faziam sentido, e aquilo o estava fazendo sentir-se estranho, e ele não gostava de se sentir estranho. De forma alguma.

- Cala a boca e vamos comer.- foi tudo que ele disse, seu nível de rabugice crescendo em uma progressão geométrica a cada segundo

Mas Blás de repente estava muito calado, como se estivesse elaborando um pensamento.

Draco já estava irritado o suficiente, a fome lentamente fazia-se presente em seu estômago, para completar as palavras de Blás ressoavam em sua mente, e ele não estava gostando de ouvi-las. Não gostava da idéia de não poder ver Morgana novamente, mas naquela manhã aquilo parecia de repente como uma profecia maligna lançada sobre ele antes que ele pudesse sequer pensar em acordar direito.
Ele simplesmente seguiu pelo corredor até o restaurante, deixando Blás para trás, simplesmente preocupado em sufocar aqueles pensamentos e vozes indesejáveis em sua cabeça.

Demoraram-se alguns minutos até Blás adentrar a vagão do café da manhã com um sorriso maior que o rosto, Draco girou os olhos sentado em sua mesa. Aquilo significava mais uma dose de provocações matinais, que provavelmente terminariam com Blás apressando seu encontro com a parede. Ele havia aprendido que o tamanho e a intensidade do sorriso e Blás era diretamente proporcional à intensidade do seu mau-humor.

Então observou que por incrível que parecesse, ele não estava andando na sua direção, aquele sorriso magnânimo era dirigido para a mulher de cabelos muito negros sentada na mesma mesa que uma ruiva. Então sua memória lhe acudiu e ele pôde lembra que aquela seria a dama mascarada com a qual Blás havia ido ao baile. Ele havia até mesmo feito a jogada do vestido. Que normalmente é uma jóia, normalmente pérolas o que é clássico e a maioria das mulheres gostam, combinada com alguma frase de efeito. Desta vez ele optou pelo vestido, uma cartada interessante, um tanto quanto original e perfeita para o momento.

A ruiva havia levantado da mesa e lhe lançara um olhar, agora ele ela sorriam, divertidos. Observou um garçom que passava ainda com o prato ordenado em chamas, aqueles pratos impressionantes, cortados na hora, feitos na hora, os quais você fica de boca aberta só em vislumbrar, e quando ele chega à sua mesa você pensa: “Realmente vou comer essa obra?”

Exatamente, o garçom parecia orgulhoso de si mesmo por carregar aquela obra prima, e as chamas mágicas soltavam um brilho azulado com algumas faíscas verdes. Bem a maioria das pessoas estaria orgulhosa no lugar dele, afinal, era um trofel! Então quando ele parou na mesa atrás dos pombinhos para entregar o pedido ele estendeu elegantemente a bandeja um pouco para a direita, no exato momento em que a tal garota levantou-se repentinamente.

Seria mesmo necessário descrever o terrível desenvolver dos fatos? Pobre garçom, sua expressão era a de quem acabara de saber que alguém havia atirado na sua própria mãe. Quando a bandeja desequilibrou-se assim que a mulher de cabelos negros bateu com a cabeça na mesma.
O belo fogo azulado tocou a imaculada toalha da mesa e o restaurante parou para observar a cena.

A mesa estava em chamas!

É nessas horas todos parecem esquecer que são bruxos, que possuem varinhas, e que seria muitíssimo simples fazer brotar água da mesma, ou ainda esquecem que sequer possuem córtex cerebral, a famosa massa cinzenta, e simplesmente ficam correndo de um lado para o outro sacudindo os braços para todos os lados, como formigas desgovernadas que enfrentam uma crise de identidade. (Só para constar, elas voltam ao normal depois.)



As pessoas ao redor saíram rapidamente de perto, e o garçom atordoado, parecia simplesmente não acreditar que sua obra tinha fim, simplesmente jazia lá com a boca aberta e os ombros caídos os olhos presos na toalha incendiada.

Quanto a Draco seus olhos seguiram a fumaça negra que se elevava em direção ao teto, e logo antes de sentir as gotas de água gelada em si, ele ainda teve tempo para pensar como aquilo havia acontecido e quem sabe praguejar todos os deuses e senhores do universo existentes no exato instante que as cataratas d’água congelada caíram do teto. Um feitiço anti-incêndio.

Em menos de três segundos todos estava encharcados, e o fogo havia sido completamente e literalmente afogado no que Draco considerava gelo.

A terceira coisa que Draco mais odiava no mundo era água gelada.



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Ele havia simplesmente cuspido a água que havia entrado com sua boca, e passado a mão pacientemente pelos cabelos agora grudados à sua testa atrapalhando sua visão. Levantou-se da cadeira onde estava e encaminhou-se a passos lentos e firmes como se estivesse marchando para a porta que lhe tiraria daquele manicômio, ele sabia que se ele ficasse, Zabini não iria apenas ser prensado contra a parede, ele iria atravessá-la, e quem sabe atravessar as duas outras que viriam depois da primeira, tudo de uma vez.

Porque será que ele tinha a sensação de que era culpa de Blás?


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Depois de tudo estar seco, de Izzie ter pedido milhões de desculpas ao garçom, que pela expressão parecia jamais perdoar nenhum dos dois, os dois saíram explodindo de rir pelo corredor do trem.

Blás estava vermelho e sem ar quando encostou-se na parede do quarto corredor depois do restaurante, ou seria o quinto? Ele havia perdido as contas, de qualquer forma ele não estava contando mesmo, porque se preocuparia. Então novamente seu abdome já dolorido se comprimiu novamente ao encará-la, e ele sentiu mais uma crise de riso vindo, poderosa e incontrolável.

Izzie tentava a todos os custos parar de rir, mas era simplesmente impossível, por mais sem graça que estivesse não conseguia esquecer a cara do garçom sentindo-se mortalmente ultrajado. Como, em nome de Merlin, ela era capaz de se meter em tanta confusão? Bom, isso é uma questão que apenas os senhores do universo poriam responder. Então com um leve tapinha no braço dele disse controlando parcialmente os risos:
- Pare de rir!

Ele gargalhou um pouco mais.

- Desculpe, mas é simplesmente...- sem palavras.
- Nem um pouco engraçado. – ela completou a frase para ele, mas ambos sabiam que não era aquilo, e isso apenas os fez rir mais.

Izzie desistiu de forçar seus desobedientes pés a agüentarem seu trêmulo e risonho corpo, e deslizou com as costas na parede até o chão onde continuou recuperando o fôlego. Ele a seguiu e ficou ao seu lado.

Quando as risadas já estavam abafadas e restava apenas a respiração levemente ofegante, o silêncio caiu por alguns segundos, e ela estremeceu.

- Como diabos você conseguiu causar tamanho pandemônio?- ele perguntou pensativo como se analisasse a situação uma segunda vez.
- Você gosta de me deixar sem graça? – ela respondeu com outra pergunta combinada à um sorriso pequeno e tímido.
- Não exatamente. – ele virou o rosto para ela. – Mas que foi uma confusão você não pode negar.
- Tudo bem, mas nunca mais falaremos nisso de novo. - ela disse virando seu rosto para encará-lo também.
- Por que? Eu falarei.- ele disse com um sorriso atrevido, e desafiador.
Ela estreitou os olhos.
- Porque me deixa sem graça.
- Eu gosto quando você fica sem graça.- ele disse com aquele sorriso para ela.
- Gosta?
- Gosto, você fica encantadora quando está envergonhada, sem contar a diversão.
- Devo estar terrivelmente encantadora agora então.

Ele a olhou, ela estava molhada, a roupa leve por causa do calor, ensopada e grupada ao corpo, o cabelo ainda mais escuro, contrastando-se com a pele clara e os olhos verdes acinzentado mais notáveis que nunca.

- Está.- ele disse tocando seu queixo e se aproximando para um beijo.

Depois de alguns minutos, ele não achou que ela estava tão sem graça assim, mas continuava encantadora.


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Ginny não pôde segurar a ansiedade, chegou ao quarto e simplesmente se pôs a andar de um lado para o outro, cruzando o quarto, indo e vindo, contemplando o lado de dentro das cortinas, e os raios discretos de luz que entravam pelas frestas no tecido marfim bordado em vermelho. Desejou, dar início ao seu plano malévolo naquele exato momento, mas aquela maldita luz do sol, iria estragar tudo! Não adiantaria ela simplesmente teria que esperar.

Enterrou-se na banheira, tentou adormecer no meio das bolhas, mas isso já era impossível para ela, o nível de adrenalina em suas veias já era previamente alto. Conseguiu relaxar aos poucos com o banho, e até fechou as pálpebras recostando a cabeça e os cabelos presos em um coque malfeito na borda da banheira branca.

Até sorriu quando lembrou-se de que Izzie ainda não havia voltado do café, e àquela hora o restaurante já havia fechado a muito tempo.

Finalmente saiu do banho sentindo-se preguiçosa, vestiu-se e atirou-se na cama, Assustou-se quando algo pulou agilmente do chão até sua barriga, então levantou a cabeça e seus olhos encontraram os olhos azuis de Cissy, a esfinge finalmente havia acordado.

- Eu não gosto deste lugar. – ela afirmou impassível deitando-se na barriga da ruiva.
- Bom dia para você também Cissy.- disse Ginny irônica.
- Bom dia. Quero dizer gosto da decoração, mas é móvel, é um trem, e isso prejudica meu equilíbrio, conseqüentemente me irritando.

Na verdade a ruiva não estava prestando muita atenção no que a esfinge estava dizendo estava pensando no que iria fazer, então simplesmente disse:

- Vamos apenas ficar alguns meses.

Cissy sorriu, sabia que ela não estava prestando atenção apesar de aquela displicência da ruiva irritá-la tanto quanto o leve balançar do trem apenas perceptível por ela. A pequena esfinge sabia o que ela estava pensando, de alguma forma alguns dos pensamentos dela apareciam na sua mente, assim simplesmente faziam “POP” e lá estava, mais um pensamento da ruiva e esse agora a fez rir.

- Eu sei o que você pretende fazer.

Ginny não agüentou e teve que contar, sua língua estava se contorcendo para poder contar à alguém.

- Vou causar um apagão.

- Pode ter certeza que vai. – respondeu Cissy com um sorriso de canto.




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Izzie regressara por volta das quatro horas da tarde com um sorriso maior do que o que o seu rosto poderia ostentar, e os olhos nublados. Ginny observou-a e não perguntou nada, não era preciso fazer qualquer pergunta, estava ali escrito na testa da mesma, ou melhor, no sorriso.

Por alguns segundos, ela teve um pensamento sombrio, talvez Izzie estivesse empolgada um pouco demais com o tal Zabini. Ginny não lembrava-se muito sobre ele na escola, aliás não lembrava absolutamente nada dele, mas ele sempre andava com o loiro, e isso não era um bom sinal, Malfoys nunca eram bons sinais. Mesmo sabendo que ele havia se redimido dos seus pecados de guerra, ela continuava não confiando naqueles cabelos platinados. E se ele estivesse apenas brincando com a Iz, apenas se divertindo? E a sua amiga ao que parecia estava caindo como um patinho.

Pensou em conversar com ela naquele instante, mas então a imagem de Izzie deitada na cama ainda com um sorriso e olhos focados no teto, derrubou toda e qualquer intenção de uma conversa totalmente estraga prazeres. Ela poderia conversar mais tarde, outro dia. Convenceu-se disso, e apenas sorriu de volta.

As horas arrastaram-se até o pôr-do-sol ao qual a ruiva assistiu com satisfação através do vidro da janela, contando os segundos para cada um daqueles raiozinhos desaparecerem, ou no mínimo degradarem cada vez mais para o lilás e por fim sumirem de trás das nuvens.

Depois de algum tempo ela finalmente ouviu a frase:

- Ginny, eu estou indo jantar você não vem?

Sorriu ao ouvi-la.

- Não, na verdade não estou nem um pouco com fome.
- Você não estando com fome? O que aconteceu uma fada mordente te picou?

Riu do senso de humor da amiga, e mais uma vez sua língua ardeu para contar tudo, e então mais uma vez ela se conteve com todas as suas forças.

- Não, Iz, tudo bem, apenas diga às meninas que estou com sono e resolvi dormir mais cedo.
- Mais cedo? Agora que são nove horas! Vou dizer que resolveu dormir com o jardim de infância.
- Tudo bem.

E assim Izzie saiu do quarto em direção ao restaurante onde todos deveriam estar.

Era hora.

Esperou mais dez minutos soltou os cabelos e dirigiu-se ao corredor, como ela esperava: totalmente vazio.

A cada passo a vontade de aumentar o sorriso interno que vinha se estabelecendo em sua mente todas as vezes que ela pensava em vê-lo, e o tal sorriso brigava para tomar o caminho dos lábios, mas ela o continha. Forçava-o a permanecer oculto, e ele se refugiava nos olhos. Ela havia permanecido assim o dia todo com o sorriso nos olhos.

Ali estava a caixa de energia, com as mãos apressadas abriu a portinhola pequena situada na parede exatamente na altura do seu rosto, com um feitiço não verbal e uma estocada da varinha todos os botões estavam derretidos, e as luzes começaram a piscar. Ela correu nervosa para a sala que sabia existir em algum lugar perto dali.

Entrou fechou a porta atrás de si e encostou-se na parede esperando as luzes pararem finalmente de piscar. Elas já haviam piscado uma, duas, três, quatro vezes, seu coração batia acelerado a cada vez que tudo ficava preto, e ela se perguntava se era ela ou as luzes que estavam piscando. Sexta vez.
Será que iria mesmo se apagar, ou ela não havia causado dano suficiente...? Então elas piscaram pela sétima vez, e não se acenderam. Tudo estava na mais completa escuridão.

Ela de fato deveria ser masoquista, pois percebeu a sensação gelada do medo invadindo suas veias a medida que deixava-se escorregar de costas para a parede até sentir o chão, e ao mesmo tempo não poderia negar a pontinha de ansiedade que tomava espaço devagar.



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O plano da ruiva de fato era bom, mas não havia muita garantia de que Merlin fosse realmente perceber que havia sido ela, ou no mínimo ter a idéia de voltar à sala vazia. Cissy tinha a leve impressão de que a mente de sua humana estava ficando levemente nublada, pois isso nem sequer passara pela cabeça dela, e a esfinge tinha tido a leve impressão de que não seria uma boa idéia comentar o assunto.

Ela não poderia deixar a ruiva sozinha nisso, pensara o resto da tarde sobre as falhas do plano, e uma maneira de preencher as mesmas. E ela achava que finalmente havia chegado a uma forma de concertar o plano falho, afinal é claro que havia achado uma maneira, ela era um ser mágico de invejável inteligência.

Pôde sentir o cheiro de queimado ao passar pela caixa explodida na parede do corredor, estava perto do restaurante agora. Finalmente a porta de vidro chegou à sua frente, ela espiou para dentro, tinha que localizá-lo, e lhe dar uma mensagem. Então no meio do pisca-pisca das luzes tudo ficou escuro.

“Perfeito! Não poderia piscar só mais um pouco?” ela pensou. Demorou uns cinco minutos até o burburinho dentro do restaurante abaixar, e ela poder concentrar sua audição, no timbre que ela lembrava ser dele, nas não foi a sua audição quem a ajudou. Então ela sentiu, farejou o ar. Ele estava perto, passos apressados saiam da porta então ela o viu na penumbra, sem pensar duas vezes saltou.

Parou a sua frente, e enroscou-se nas suas pernas como um gato faria.

O homem parou imediatamente, então depois de alguns segundos a voz conhecida dela soou:

- Quem está ai?
- Quem você acha que é?- ela perguntou girando os olhos, esse humanos, realmente eram um tanto quanto lerdos.- Uma dica: devo meu nome a você.
- Cissy?
- Bom garoto. – ela disse finalmente.
- Então realmente foi ela! Onde está ela? Onde está a Morgana?
- Quem disse que um raio não pode cair duas vezes no mesmo lugar?- ela disse com um sorriso irônico que é claro ele não poderia ver. – Até mais Merlin... – ela disse desenroscando-se das pernas dele, e seguindo o caminho que o corredor guiava.
- Cissy?! Cissy, cadê você? Volte aqui agora!- ele dizia apontando o dedo para o nada ao seu redor.

Pronto, ela esperava que aquilo fosse o suficiente para instigá-lo, mas o bobinho ainda continuava a procurá-la, quando estes humanos iam aprender que era impossível controlar uma esfinge?
Tolos.

Seguiu silenciosamente com a cauda ondulando sinuosamente atrás de si. “Tolos”.




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Ele desistiu de chamar ou procurar pela esfinge, mal conseguia achar a parede em toda aquela escuridão, então era exatamente o que ele havia pensado.

Assim que as luzes começaram a piscar, sua mente vagou, até certa noite no trem em que ficara preso em uma saleta próxima ao restaurante. Até uma certa mulher misteriosa que atendia pelo nome de Morgana, seus olhos brilharam, mas não houve tempo para que ninguém visse, a expressão que seu rosto adquiriu estava perdida na escuridão do ressinto.

E se por coincidência, ela também estivesse no restaurante, também tivesse pensado na mesma coisa que ele, na noite do apagão, na saleta... Levantou-se sem mais demora e ganhou o corredor.

- Veremos então se um raio pode realmente cair duas vezes no mesmo lugar.- ele disse para si mesmo girando a maçaneta na qual sua mão repousava, sem conseguir tolher a leve fagulha de ansiedade pulsante em seu peito.

Breu intenso, foi tudo que conseguiu não ver pela fresta da porta aberta, então um rangido seco encheu a atmosfera à medida que ele abria a porta.

Alfazema dominava o ar parado do ressinto sem janelas.

O sorriso alcançou seus lábios antes que a voz trêmula e insegura dela o fizesse:

- Merlin?

- Merlin? Não conheço tal senhor. – ele disse seguindo a passos curtos para a direção de onde parecia vir a voz.
- Merlin... É você?- ela perguntou a voz mais trêmula ainda.

Ele sabia onde ela estava agora

- Como já lhe disse Senhorita, não tive a honra de conhecer tal cavalheiro, apesar de achar que ele deva ser muitíssimo charmoso, um bruxo invejável realmente. – ele disse encostando na parede e deslizando até sentar-se ao lado dela e passando o braço por seus ombros sentindo-a estremecer ele continuou: - Mas uma certa esfinge cruzou o meu caminho em direção a esta saleta, e tudo indica que devo encontrar uma misteriosa senhorita chamada Morgana, a essa altura tremendo-se de medo da escuridão trazida por ela mesma. Seria você tal senhorita? Morgana?

Ele pode perceber o sorriso abrindo-se em seus lábios, e percebeu com satisfação a mesma sensação quente que tomava conta do seu peito todas as vezes que ela sorria.

- Isso depende.- a as palavras dela eram só e só alfazema.
- Depende do quê?
- Depende se o senhor é ou não Merlin.
- Muito prazer Morgana, sou Merlin.- ele disse rapidamente.
- O senhor não acabou de dizer que não conheceu tão charmoso bruxo?
- Exato, não conheci o primeiro, até porque o mesmo deve ter vivido consideráveis anos ates de eu mesmo nascer, mas pode-se dizer que eu sou o novo Merlin.- ele disse tocando de leve o rosto dela.
- O novo Merlin? – ela disse arqueando as sobrancelhas.
- Digamos que uma versão muito melhorada. Então, eu tenho a minha Morgana?
- Podem existir Morganas no Egito?
- Se não puderem, eu dou a permissão para que elas existam agora.- ele falou arrancando uma risada, dela.
- Elas?- ela acentuou o “s” no fim.
- Você que começou com o plural!- ele disse na defensiva.
- Acho que você é uma pessoa muito mal acostumada Senhor Merlin.
- Sempre consigo o que quero, é um fato.- ele retrucou displicente.
- E o que você quer?
- Você tem que adivinhar.
- Muito misterioso para o meu gosto. Eu sei que é você bobo.- ela disse ainda sorridente.
- Então o acaso realmente deu um jeito de nos vermos outra vez...?
- Na verdade, não foi exatamente o acaso, pode-se dizer que eu dei uma forcinha para o nosso fiel amigo acaso.- ela falou piscando um olho sem sequer imaginar que ele não poderia ver nada.
- Uma forcinha?
- Uma forçona.- ela admitiu.- Mas ele me disse que já estava planejando alguma coisa.
- Ele quem?
- O acaso, oras. Ele não é nosso amigo? – ela perguntou brincalhona.

Agora era a vez dele de rir.
Ela fazia piadas com o nada.

- E a parte em que a Cissy entra no plano do acaso é...?
- Nenhuma, na verdade ela nem sequer deveria estar no plano, quanto mais ter uma parte nele. Você me diz qual foi a parte que ela exerceu...
- Bom ela apenas confirmou minhas suspeitas com uma frase um tanto clichê, mas adequada.
- Foi é? Lembre-me de levá-la para ver a sua réplica gigantesca quando de fato chegarmos ao Egito, ela definitivamente está merecendo.

Outro sorriso.

Era fácil sorrir com ela.

- Entusiasmada em ir para o Egito?
- Muito, quero rever o vale de Gizé, e tocar novamente as pirâmides.
- Já esteve lá, não é mesmo?
- Já, mas eu era ainda muito jovem.
- Devo entender agora, que estou acompanhado de uma senhora de meia idade?- ele provocou.

Ela lhe deu um tapa de leve no braço.

- Eu pareço ter meia idade?
- Não sei, como poderia saber?- ele foi sincero. – Você poderia ser por exemplo a primeira versão da Morgana completando seus mil e tantos anos.

Um beslicão.

- Ai! Que velhinha violenta!
- Que Merlin grosso! Não se trata uma Lady assim. Quem me garante que você não é um velhinho pedófilo?

Ele gargalhou gostosamente.

- Eu pareço um velhinho pedófilo?
- Não sei. Como poderia saber?- ela retrucou imitando do tom de sua voz.

Sentiu-se irritadiço ao sentir suas próprias palavras serem jogadas contra ele.

Mudou de assunto.

- Espero que hoje a senhorita não arruíne minha capa.- ele disse sem conter um resmungo ao lembrar-se do que acontecera da ultima vez.

Ela gargalhou ao lembrar-se.

- Não tem graça Morgana.
- Tem sim Merlin, aquela noite foi uma confusão total.- ela falou ainda rindo.
- Foi um desastre.

Ela sentiu-se levemente magoada, com o comentário dele.

- E você estava se tremendo de medo. – ele falou.- Não consigo entender no fim das contas por que diabos você tem medo de escuro.

Ela irritou-se.

- As pessoas tem direito a ter seus próprios medos, Merlin.- ela argumentou, levemente ríspida.
- Mas medo de escuro Morgana...?
- Qual o problema?- ela estava na defensiva. – Ao menos eu admito, eu tenho medo de escuro.

Ele surpreendeu-se com a sua resposta, não era comum que admitissem seus medos, ao menos para ele esse comportamento não era comum. E ela parecia sentir orgulho em fazê-lo. Ela era estranha.

- Suponho que deveria dizer que nenhum se você tiver 4 anos de idade, mas ainda assim mesmo se você tivesse 4 anos de idade, isso ainda soaria ridículo para mim.- ele foi sincero sem pensar no efeito de suas palavras.

Mais um beliscão. E esse fora mais forte.

- Não se atreva a me chamar de ridícula.- ela replicou estreitando os olhos.
- Hey isso dói!
- Bom saber.
- Mas você mesma se contradiz, morre de medo de escuro, e se tranca em uma sala escura!- ele disse irritando-se e massageando o lugar onde ela beliscara.
- A sala não estava trancada!
- Tudo bem, mas ainda assim continua escura, aliás, assim como todo o resto do trem.
- Se você quer luz, tudo bem. – ela disse levantando-se, cambaleante tateando as paredes, suas entranhas ruminavam de raiva. – Eu vou deixá-lo aqui e vou embora.
- Como se você pudesse sequer encontrar a porta.- ele alfinetou-a, sarcástico.
- Não consigo entender como eu pude esquecer o quão irritante você é.- ela disse tateando a parede.

A medida que se afastava da voz dele, a sensação gelada crescia em seu estômago, e o terrível formigamento em seus pés e mãos.

- O quanto eu sou irritante?
- É.- ela disse.
- Ótimo.
- Ótimo.

Barulho de coisas quebrando.

Silêncio.

- Morgana?
Nenhuma resposta.

- Morgana, você está bem?

Ele deu alguns passos sentiu seu sapatos pisarem sobre cacos.

- Morgana?

Xingamentos.

Estes o indicaram a sua posição para ele, que se abaixou e tocou o ombro dela.

- Eu me cortei. – ela gemeu.
Ele ajudou-a a levantar.
- Onde?
- Na mão.- ela disse levando de imediato a mão à boca.
- Você acha que foi grande?- era impressão dela ou ele estava um pouco preocupado.
- Nada que eu não possa cuidar amanhã. Tudo bem.
- Vem, sai de perto dos cacos. - ele disse guiando ela para outra direção.

Então o silêncio caiu, e depois de alguns segundos ele ouviu uma risada.
Ela estava rindo. Rindo da sua queda, do vaso que mais uma vez se quebrara, rindo do corte em sua mão.

- O que foi?
- Parece que este maldito vaso não permanecerá jamais inteiro à nossa passagem por aqui.- ela falou rindo.

Não era engraçado, mas era ainda assim coincidência, e um leve sorriso se abriu no rosto de Merlin. Não demorou muito os dois já se riam de toda situação inclusive da cara um do outro.


Sorrisos, alfazema, e muitas cascatas de água.

Nem Merlin nem Morgana percebiam que o tempo passava, que os segundos tiquetaqueavam em minutos e esses por sua vez enchiam as horas.

Até que ele por fim perguntou:

- Você tem alguma noção das horas?
- Não nenhuma, odeio relógios.
- Por que?
- Me sinto controlada por eles. Mas de qualquer forma deve ser tarde.- ela concluiu, fitando o breu a sua frente.
- É você tem razão deve ser tarde.
Depois de algum tempo ela falou em um sussurro.
- Eu devo ir Merlin.
- Agora? – ele perguntou em um tom indecifrável.
- É.
- Tudo bem. – ele disse.

Ela conteve sua decepção, por frações de milésimos esperou que ele insistisse ao menos uma vez mais para que ela ficasse. Nem que fosse o clássico “Só mais cinco minutos” que os filhos usam para convencer os pais de coração mais mole antes de acordar para ir para a escola.
Não veio.

Ela levantou-se, e tocou a parede mais próxima a fim de se orientar, para que lado estaria a porta?

- Então acho que é isso não, é mesmo? Até quem sabe Merlin.- ela falou com um sorriso mesclado com uma fagulha de decepção.


- Hey espera você vai mesmo ir embora assim?
- Assim como?- ela mordeu o lábio inferior estremecendo subitamente ao toque dele segurando com firmeza seu braço.
- Sem adivinhar.
- Sem adivinhar o que?
- O que eu quero.- ele falou com aquele sorriso de canto que ela conhecia apesar de nunca ter visto.
- Ah não sei... – ela disse desapontada por alguns segundos pensou que ele fosse... Que ele estivesse se referindo a ela sair sem... – Sei lá uma odalisca para combinar com as pirâmides...?- ela brincou.
- Não seria nada mal, mas não era a isso que eu me referia.
- Então, não sei, uma camisa de força para impedir que a louca aqui ficasse destruindo as luzes durante o resto da viagem?
- Isso também não seria nada mal mas ainda não é o que eu...- antes que pudesse terminar a frase, mais um beliscão, e uma exclamação silenciosa deixou seus lábios que ainda sorriam o mesmo sorriso.
- Não sei! Eu desisto.
- Eu também, se fosse depender de você adivinhar nós ficaríamos aqui para todo o sempre.- ele falou impaciente e levemente irritado.
- Eu não sou muito boa com esse tipo de coisa. Diz logo.
- Você está tão apressada assim para ir embora?
- Não, é só que eles podem concertar a iluminação!- ela falou, exaltada.- Estou me roendo de curiosidade, agora me diz logo o que você quer? É algum tipo de presente...? – mas a frase ficou no ar, sem ser jamais terminada, pois antes que ela pudesse prever os lábios dele já estava nos seus, e as mãos do mesmo já na sua cintura. E a Morgana é claro, não pode evitar que o tal do arrepio percorresse suas costas a medida que ele intensificava o beijo.

Quantos minutos se foram ela não sabia quando os dois finalmente se separaram, mas ela podia ouvir as vozes no corredor, ambos pararam para ouvir; parecia que haviam descoberto o problema com a iluminação.

Então desconcentrou-se novamente das vozes no corredor com uma respiração descompassada em seu ouvido, que conseqüentemente descompassava a sua.

- O nosso amigo acaso pediu para eu te dar um recado.- ele sussurrou ainda ofegante, enquanto ele a virava de costas para ele sem afastar os lábios do ouvido dela.

A pele dela parecia o chamar.

- Qual recado...? – ela sussurrou de volta de olhos fechados
- Me encontre à meia noite da primeira noite, no topo da pirâmide mais alta. Vai!- ele disse se afastando dela e a conduzindo lentamente até à porta antes que os bruxos no corredor finalmente dessem um jeito de concertar o estrago feito por Morgana.

Sem tirar o sorriso do rosto ela seguiu rápido e sem olhar para trás, ou não conseguiria deixar a bendita saleta.


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