Capítulo 12
Cap. 12 A carta
Uma semana depois do episódio da semana passada, nada mudou, quase nada, eu sabia o que estava acontecendo, o que ela realmente era. Nós acordamos no outro dia e fomos tomar café no caldeirão furado, tudo perfeitamente normal. Trocamos alguns insultos de forma saudável, como sempre. Mas hoje foi diferente. Nós fomos tomar café no caldeirão, e até aí tudo bem, quando nós saímos do bar já era bem tarde, perto do meio dia. Nós estávamos sorrindo de algo, provavelmente alguma brincadeira irônica da qual não me recordo no instante. Então eu vi, os cabelos negros e longos balançando como um véu nas costas dela, estava acompanhada por um homem alto de olhos verdes, cabelos igualmente negros... Potter! Ele sorria abraçando Helena que esboçava um leve sorriso. Eu parei de andar imediatamente e fiquei parado no mesmo lugar. Anny andou alguns passos sem perceber que eu estava parado lá atrás. Quando não me viu ao seu lado, olhou ao redor a minha procura, ela me olhou parado no meio da multidão do beco diagonal como um débil mental que não sabe andar. Viu meu rosto e seguiu meu olhar vidrado até chegar onde ele apontava. Claramente ela entendeu, o sorriso sumiu de seu rosto e ela ficou a me fitar por um instante, como se avaliasse meu estado. Depois olhou para Helena com Potter parados em frente a uma vitrine e fechou os olhos. E tudo pareceu parar, eu ainda tenho essa imagem congelada em minha mente. Então Fowl abriu os olhos, se virou para mim e disse:
-O que você está esperando? - Eu não consegui responder nada. Meus olhos estavam presos no casal ali. - Vá em frente Draco, ela não ama o moreno, eu sei que não. - E com isso ela saiu andando lentamente na multidão de pessoas que a engolfava, meu olhar antes fixado agora vacilava, corria de Virgínia li com Potter para as costas de Anny que desaparecia na multidão. Não sabia o que fazer, não sabia para onde Anny havia ido e não sabia se falava com Virgínia. Depois de um tempo parado eu já não tinha mais nem sombra de idéia de onde Anny poderia estar e o casal começou a se mover seguindo a rua lotada.
Eu não podia falar com Helena, não agora, não com aquele idiota ali, não era assim o jeito que eu tinha imaginado revelar tudo para ela... Não mesmo. E quando eu não os via mais eu fui caminhando até a entrada da casa, ver ela sempre me deixava assim extasiado, não tinha como explicar o que acontecia. E girei a maçaneta e pude ver a sala. Anny estava sentada olhando uma das janelas encantadas de uma das poltronas encostada na parede. Eu entrei e tentei falar, mas eu me senti horrível, senti algo que eu nunca tinha sentido antes, era estranho e eu não gostei nem um pouco. Eu me senti sujo ao tentar falar com ela, eu sabia que havia a machucado e eu meio que me senti culpado por isso. Eu gosto dela, certo, parece meio estranho um Malfoy dizendo isso, mas eu simplesmente não posso dizer que não gosto. Ela é a coisa mais parecida com uma amiga que eu já tive na vida, moro com ela, ela me salvou da morte de um jeito que eu nunca imaginei que alguém fosse capaz de fazer por mim. Ela transportou a minha dor para ela, ela foi no meu lugar! Na minha opinião muita loucura, eu nunca faria isso por um desconhecido. Se fosse eu a encontrá-la ela teria morrido lá naquele dia, soterrada. Eu sou assim, não quero e não posso mudar um Malfoy. E eu sabia que havia ferido ela ao deixá-la ver meu estado só em ver Virgínia com outro, eu não pude evitar, eu gosto dela, mas eu amo Virgínia. E mesmo deste jeito, aquela sensação lá no fundo me atormentava, uma mistura de culpa com angústia e indignidade por tê-la deixado daquele jeito. Ela se virou e falou para mim com um esboço de sorriso:
-Porque você não falou com ela? - O meu primeiro pensamento foi que ela tinha penetrado a minha mente novamente e perguntei desconfiado.
-Como sabe?
-Não deu tempo. - Ela respondeu, agora rindo. - Não entrei na sua mente... Se era isso que estava pensando.
-Porque ele estava lá. - Eu disse simplesmente. Ela tinha penetrado a mente de Helena no beco diagonal, então provavelmente ela já sabia quem era o homem alto com Helena.
-Draco, o tempo está passando, um dia destes á na mansão e fale. Você não pode fugir.
Eu sabia que não podia, é claro que eu sabia, mas aquilo parecia estar um pouco esquecido dentro de mim. Por algum tempo eu não me preocupei direito com isso, e acho que talvez de certa forma isso me trouxesse... Alívio. Mas todo o alívio do mundo foi-se embora com a expectativa de perder Virgínia. Anny tinha toda razão, eu tinha que fazer isto logo. Mas eu não tinha a mínima idéia de como fazê-lo, depois daquela conversa eu estava determinado, queria resolver aquela questão, mas ali, algo parecia me sufocar então eu peguei a minha capa grossa preta e saí. Quando me vi o beco diagonal pela segunda vez naquele dia. Aparatei, não queria ver Virgínia de novo, não com o Potter. Eu não sei nem para onde aparatei, era uma colina coberta de grama verde. Eu subi sem muito esforço até o topo dela, quando cheguei lá olhei o horizonte e respirei fundo... Eu não sabia o que tinha ido fazer ali, eu nem ao menos sabia onde estava! Então sentei na grama e fiz algo que se tornou um hábito para mim ultimamente, eu escrevi, escrevi tudo o que eu queria dizer a ela.
“Às vezes é mais fácil fingir do que enfrentar esse momento... É mais fácil estar em uma daquelas histórias de faz de conta... Em que tudo é mais falso e fácil. Fazer de conta... Que eu não morri. Fazer de conta que eu não sinto desesperadamente a sua falta. Faz de conta que antes de dormir eu não procuro o seu cheiro no travesseiro. Faz de conta que você vai estar sempre aqui. Faz de conta que eu sei o que eu estou fazendo. Faz de conta que eu não passei este tempo todo tentando te dizer isso. Faz de conta que eu sei aonde estou. Faz de conta que nada daquilo aconteceu. E, principalmente, faz de conta que eu não te amo tanto que chega a doer quando eu penso e você... E vamos fazer de conta que eu vou entregar e você vai sorrir quando receber, aquele sorriso que sempre aparece quando eu fecho os olhos e que por mais que eu tente eu não consigo esquecer...”
Eu devo ter lido e relido a carta umas quatrocentos vezes ou mais. Mesmo com a carta nas mãos, dobrada e endereçada eu não sabia o que fazer com ela, simplesmente eu não podia enviá-la! Ela certamente iria achar que era uma brincadeira, isto se ela perceber ou suspeitar de quem é. Eu tinha que enviar, era o mínimo que eu poderia fazer depois de tudo... Deitei as costas na grama e ergui a carta dobrada contra o Sol, que já estava se avermelhando, mesmo que ainda fosse muito cedo para se pôr ele só precisava de um dia de folga e hoje ele iria sair mais cedo para espairecer... Assim como eu... Mas eu não podia fugir dos meus próprios pensamentos, do meu próprio corpo e da minha mente. Todas aclamavam incessantemente por ela, ali junto a mim. Eu me senti um tolo, idiota, ficar comparando o Sol com um reles operário cansado. O que meu velho pai diria de mim? Certamente já estaria pronto para me matar de tanto ódio.
Eu olhei novamente para o pergaminho em minhas mãos, mais precisamente para o destinatário. Estava escrito desta forma: “Virgínia Malfoy”. Sem remetente, só Virgínia Malfoy. Eu tive certeza que ela iria perceber que era eu no momento em que olhasse o Malfoy acrescentado ao seu nome. Nós não éramos casados ainda, então ninguém chamava ela de Sra. Malfoy ou Malfoy, só eu. Eu fazia questão que soubessem que ela era minha, só minha, por isso as coisas que eu dava a ela sempre tinham a minha marca, o meu nome. Ela saberia que era eu, ou alguém fingindo ser eu. Mas ainda assim estava com aquela dúvida em mandar ou não. O tempo se passou e eu assisti a um belo pôr do Sol ainda deitado naquela colina, Quando o último feixe de luz se foi eu pude ver as luzes de uma casa bem ao longe se acender, aquilo era uma fazenda. Decidi que já era hora de ir, mas para onde? Correio ou casa? Optei por enviar a carta mais tarde. Mas no fundo, lá dentro eu já sabia que eu não pretendia enviar a carta. Algo dentro de mim me dizia isso bem baixinho e eu sabia que era verdade.
À noite, antes de dormir, deitado de frente para o teto eu olhava o Céu pela janela encantada. Eu lembrei do sorriso dela, lembrei de quando eu fiquei doente e Helena cuidou de mim, lembrei de Greyback e de como ela tinha sido, e lembrei de uma das inúmeras noites passadas na mansão. Toquei meu tórax, onde estava a fina cicatriz transversal, cruzando a mesma, e formando um “x” um pouco deformado, estava a cicatriz da noite de minha morte. As lembranças, os gritos, o barulho e uma pontada de dor intensa tomaram meu corpo. Eu fechei os olhos para afastar tudo, e os gritos pareceram cessar novamente. E mais uma vez eu toquei a cicatriz, desta vez eu sorri e lembrei de uma coisa que parecia ter acontecido a tanto tempo atrás... Elas adoram me deixar marcado de um jeito ou de outro. Que coisa selvagem! Eu ri comigo mesmo no escuro e pensei; Mas Fowl não... talvez ela seja diferente neste aspecto.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!