Capítulo 7
Cap. 7 Páscoa
Parte I
Nunca gostei muito de páscoa, todos muito saltitantes e felizes demais para o meu gosto. Sério, nem quando eu era criança eu gostava, geralmente eu, Narcisa e Lucius íamos para a comemoração do ministério, Lucius era muito influente com o antigo Cornelius Fudge, então tínhamos que prestigiar a festa para manter as aparências. Mas como eu nunca gostei de chocolate, geralmente eu esquecia desta data. Depois que eu passei a viver com Virgínia ela me forçava a comer chocolate argumentando que eu não podia ser tão chato ao ponto de não gostar de comer chocolate. Ela sempre me pedia para ir para a Toca com ela, mas eu recusava prontamente é óbvio. As vezes ela ia e trazia adivinhem o que? Mais chocolate para dentro de casa! Bom mas a nossa comemoração de páscoa terminava sempre... É bem, vocês sabem onde, com todos aqueles ovos de chocolate esquecidos durante um bom tempo. Eu costumava dizer que a nossa mansão viraria um formigueiro gigante de tanto doce que tinha lá dentro e ela sorria.
Esta páscoa eu não passei nem com Lucius e Narcisa nem com Virgínia. Eu passei com Therisford e Fowl. Foi a primeira e última páscoa que passamos juntos.
Marrie chegou da rua enquanto eu e Anny estávamos em casa. Ela chegou lotada de pacotes, eu e Anny apenas olhamos de soslaio para ela.
-Nossa, a rua está cheia.
-É a páscoa, muitas pessoas comprando chocolate.
-Hum? - Hoje já era páscoa? Não era possível, elas tinham me...
-Páscoa Draco! Quando se come chocolate sabe? - Disse Anny.
-Mas já?
-Já. - Respondeu Marrie.
-O tempo passa sabia? - Completou a outra.
-Hum... - Eu apenas resmunguei.
-Nunca gostei muito de chocolate. - Disse Anny
-Nem eu.
-Oh! Pelas barbas de Merlin eu não estou acreditando! Vocês concordaram em alguma coisa!
-O que? Você nunca tinha reparado na nossa amizade fraternal? - Eu disse cínico.
-Está mais do que na cara que nós fomos feitos um para o outro!
-Realmente, os cavalos se completam.
-Não vi graça. - Disse Anny á Marrie.
-Nem eu. - Concordei.
-Tratem de não brigar hoje, porque amanhã eu viajo, - Novamente a minha memória provou que não era das melhores. Eu tinha esquecido deste pequeno detalhe, ela ia voltar para a França. E provavelmente eu não veria ela tão cedo, a quem eu estou querendo enganar? Eu não veria ela tão cedo! Nunca mais. Eu tinha a nítida impressão que ela ia por que precisava, pois para mim as duas pareciam muito relutantes em se separar. Pareciam muito ligadas, até como se fossem parentes... Mas pelo que eu sei elas são apenas amigas, inclusive porque uma não parece nem um pouco com a outra a não ser o fato de que são bem exóticas. Mas fora isso nada, Marrie é bem mais sociável, a Anny, isso é fato consumado, mas acho que talvez seja porque Anny... Bem... Ela se pareça um pouco comigo, ... Sarcástica, irônica, egocêntrica; mas dava para ver, no fundo dos olhos dela, ela era solitária e distante por natureza. Tinha também... Dor, às vezes eu podia perceber, filigramas de uma antiga angustia que ela deixava escapar fora do seu controle. Eu sei que ela esconde algo, isso dá para ver, mas que direito tenho eu para me intrometer. Eu também tenho os meus segredos. Isso contribui para que eu ache ela um pouco parecida comigo. Afinal quantas pessoas no mundo não gostam de chocolate?
Parte II
Realmente esta páscoa foi a páscoa mais diferente que eu já passei. Nós estávamos almoçando, eu e Marrie, Anny estava no seu quarto desde o café da manhã. Era carne, por sinal muito bem feita.
-Onde esta louca se meteu.
-Ela estava no quarto, desde que tomou café; você sabe disto, ela não pode ter saído, não se pode aparatar aqui e eu tenho certeza que ela não usou a porta.- Eu respondi, até parece! Como Anny poderia sair de casa de outra forma?
-Oh claro que não... Eu... tinha esquecido disto.- Disse ela nervosa de repente.- Mas de qualquer forma, vá chamar ela, sim? Obrigado.- E ela nem deu a chance de eu dizer não, mas de qualquer forma eu fui. Era o único cômodo da casa que eu não conheço, não que Fowl me proibisse de entrar. Ela apenas não me dava motivos para justificar a minha ida até lá, ela evitava mencionar o lugar; como se lá tivesse algo secreto.
Eu não recusei a oportunidade, minha curiosidade falou mais alto que o orgulho e a vontade de recusar, então eu fui até o quarto e parei em frente a porta. Era uma porta preta e lustrosa sem demais entalhes, uma madeira bonita e pesada. Durante um tempo eu fiquei apenas observando a porta ali na minha frente, então Therisford que tinha os olhos fixos em mim disse em tom de deboche:
-Está com medo Malfoy?
-De uma porta?- Eu disse usando o meu melhor tom sarcástico e levantando uma sobrancelha.
-Bom... sabe, a maçaneta não morde. Pode por a mão.- Ela disse com um sorrisinho divertido no rosto.
-Você conviveu tempo demais com Anny.- E dizendo isso entrei no quarto. A primeira vista não tinha ninguém, eu olhei ao redor e chamei por Anny mas não recebi nada como resposta. A cama continha uma pilha de lençóis azuis e brancos e desalinhados, o guarda-roupa era feito da mesma madeira da porta, e a outra parede era ocupada por uma espelho. Eu me vi ali, estava consideravelmente mais magro, mas nada que estragasse o meu charme natural e a minha perfeição simétrica. O banheiro estava com a porta encostada, a porta também do mesmo tipo de madeira. Dei algumas batidinhas e chamei seu nome, nada novamente. Ela não estava ali! Em lugar nenhum! Como poderia, ela não poderia ter saído da casa! Eu pus a cabeça para fora do quarto e disse sério para Marrie.
-Ela não está aqui.
-Como não?
-Já vasculhei todo o quarto, não está em canto algum.- Eu disse.
-Eu não acredito que ela...- Therisford começou a dizer mas logo se ouviu uma voz conhecida atrás de mim.
-Do que é que vocês estão falando? Estou aqui.- eu me virei e lá estava Fowl me encarando normalmente como se sempre tivesse estado ali!
-Onde você estava?
-No meu closet. - Ela respondeu incrédula.
-Closet? Que closet?
-É só abrir o guarda roupa, é enfeitiçado.- Ela falou como se fosse óbvio. E aquilo não me agradou.
-Para que você quer um closet com um espelho deste tamanho no quarto?- Eu perguntei querendo provocá-la, e fiz isto de forma displicente.
-Meta-se com a sua vida Malfoy.- Ela disse mudando de expressão ao falar., ficando um pouco mais séria para depois voltar ao normal. Pude ver mais mistérios, mas é óbvio que eu não levaria uma resposta daquelas para casa sem uma provocação, mas Marrie não me deixou falar.
-Pelo amor de Merlin! Hoje é páscoa, é a minha despedida, vocês vão mesmo brigar?
-Desculpe- Disse Anny, eu não disse nada, nunca iria me desculpar.
-Trouxe chocolate!- Ela disse com entusiasmo, mas o que ela recebeu como resposta foram dois resmungos. Tanto eu quanto Fowl sabíamos que ela ia nos forçar a comer. Então ela respondeu indignada:
-Ah vamos lá! É impossível vocês não gostarem e chocolate, ninguém é tão chato assim!
-Nós somos.- Respondeu Fowl, mas ao ouvir aquela frase novamente eu me senti afundar em lembranças de páscoas passadas, de brigas corriqueiras, e sorri internamente ao me lembrar de Virgínia dizendo a mesma coisa sobre mim. Exatamente sobre mim. Então a imagem dos dois se beijando na porta daquela casa decadente dos Weasleys me fez voltar à realidade e um frio invadiu meu peito de chofre. Eu já estava alheio a conversa divertida que as duas estavam levando, elas riam a vontade, comendo também. Meus olhos estavam desfocados e eu encarava o vazio do chão, e de vez em quando mexia os talheres no prato. Até que Anny me despertou com uma pergunta:
-Não é Draco?
-Hum?- Eu perguntei por fora da conversa.- O que?
-Não é verdade que você tem 13 filhos e mora numa fazenda?
-Não!- Eu exclamei indignado.
-Ah! Finalmente atenção!- Então, como se alguma pessoa, ou coisa, não sei, falasse na minha cabeça, ou pudesse ler meus pensamentos. Eu tive a impressão de ter ouvido uma voz dizer “Não pense nisto agora”, A voz era suave e me lembrava algo, só não sei o que, parecia saber no que eu estava pensando, ou no mínimo o que eu estava sentindo.
Mas logo depois não ouve mais nada a não ser os guinchos de Fowl e eu desviei minha atenção para ela. Ela gritava e ria ao mesmo tempo, Therisford lhe enfiava chocolate goela abaixo, na base da força bruta mesmo. Isso afastou qualquer lembrança desagradável, eu não pude me controlar e comecei a rir. Rir não, gargalhar de Anny, que foi obrigada a engolir tudinho, e agora resmungava coisas como “Eca!”. Quando ela me viu dobrado ao meio de tanto rir as suas custas ela disse:
-Draco também tem que comer! Eu não vou ser torturada sozinha!
-Tire o cavalinho da chuva Anny!
-Ah, vai sim!- Disse Marrie, e antes que eu pudesse imaginar já tinha uma porção de vários tipos doces e recheios na minha boca. O jeito foi mastigar tudo e engolir depois. As duas sentiam falta de ar de tanto rir, mas eu iria ter a minha vingança; aquilo não iria ficar assim!
E eu tinha razão, não ficou mesmo, logo Anny se recuperou de tanto rir e eu me via quase que com um ovo de chocolate tamanha 20 dentro da minha boca inteiro!
Mas ela me pagou, depois ela comeu todos os bolinhos de chocolate com caramelo, tudo por livre e espontânea pressão.
No fim de tudo aquilo, essa foi a páscoa que eu mais comi chocolate e a que eu mais ri também. Quem em olhasse ali, lotado de chocolate e com o rosto melado nunca acreditaria que era um Malfoy. Mas valeu para afastar os pensamentos não agradáveis. Quando a noite chegou Therisford anunciou com o semblante triste, então ela pegou um malão e o trouxe até a sala.
-Bom, tinha muito chocolate, mas eu tenho que ir.- Ela disse com um sorriso mas com os olhos brilhando.
-Vou sentir saudades. - Disse Anny séria, mas eu sabia, pude perceber pela rigidez que seu rosto assumiu ao dizer isso que ela usava todos os seus esforços para não chorar.
-E você Draco. - Ela perguntou como que me pareceu ternura na voz. Eu fiquei surpreso e não respondi de imediato, na verdade fui meio gélido com ela. Não esperava isto.
-EU?
-Vai se cuidar, e não se meter em nenhum desabamento? - Eu apenas sorri, o que ela aceitou. - Eu vou encarar isto como um sim.
-Não se preocupe, eu vou cuidar dele. Eu prometo. - Disse Fowl.
-Não prometa o que não pode cumprir. - Eu disse sarcástico.
-Quem disse que eu não posso? - Eu apenas dei de ombros e não disse nada, e então Marrie abraçou a amiga e logo depois me deu um abraço apertado também. E neste momento eu senti uma coisa estranha, um formigamento no peito que eu não soube o que era. Minha garganta ficou seca e eu me senti cansado e sem fôlego.
-Adeus. - Esta foi a última coisa que ela disse e logo saiu pela porta de casa aparatando do lado de fora com um sorriso nos lábios e uma lágrima caindo dos olhos. Uma lágrima prateada! Mas logo depois ela aparatou e eu não a vi mais, fiquei encarando o nada do lado de fora da porta, eu achei que tinha sido apenas impressão. Então Anny andou em passos lentos até a porta e fechou sem dizer uma palavra, mas ela não conseguiu segurar o semblante triste que tomou seu rosto. Ela se sentou na poltrona mais próxima e olhou para o teto, e eu pude ver as mesmas lágrimas prateadas escorrendo livremente de seus olhos. Eu fiquei parado, imóvel de espanto, eu nunca tinha visto Fowl chorar, e por algum motivo não conseguia imaginá-la assim. Era totalmente diferente de tudo que eu já havia visto. Parecia que a muralha que sempre via ao redor dela estava caindo, desmoronando lentamente junto com as lágrimas que caiam dos seus olhos. No momento eu fiquei curioso, mas não perguntei nada. Afinal, aquela parecia não ser a hora exata. Então sem mais nem menos ela veio até mim e me abraçou jogando todo o seu peso sobre o meu pescoço, e eu agüentei firme em silêncio, mais uma vez surpreso pela atitude dela. Fiquei sem ação diante daquilo, mas mesmo sem saber o que fazer eu a abracei de volta e passei as mãos pelos cabelos escuros que desciam pelas suas costas. Senti minha camisa se molhar pelas lágrimas prateadas e quentes. Eu nunca imaginei que ela fosse precisar de mim assim.
N/a : gente a demora foi culpa minha o capítulo tava pronto mas eu quis revisá-lo e responder as reviews, então vamos a elas
Beijos
Ps: não me matem pelo próximo capítulo por favor!!
Não é o que parece! (clichê verdadeiro)
D/G!!
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