Cápítulo 4



Cap. 4 Nem sempre.

Nem sempre acontece tudo do jeito esperado, na maioria das vezes acontece tudo de um modo totalmente diferente, isto é, quando acontece. Nem sempre dá tudo certo. Está é uma das regras. Talvez nem sempre dê tudo errado pode ser outra regra, mas infelizmente esta nunca está em vigor para mim.

E desta vez, apenas mais uma, não deu certo, não nada como eu esperava. Foi muito pior. Eu levantei cedo e ainda não tinha dado uma palavra sequer sobre a proposta de Fowl e Therisford, sobre elas me ajudarem, eu ainda não tinha certeza se queria envolvê-las naquilo, ainda não sabia a resposta.

Comi um pouco do café da manhã que Therisford havia preparado para nós, ela cozinha bem, conversei qualquer coisa com as duas até dar cinco horas da manhã, então eu me preparei para sair, peguei a capa no cabide.

- Marie eu vou sair. – eu avisei - Não se preocupe comigo, Fowl se eu voltar tarde. - completei sarcástico apenas pelo belo prazer de provocá-la.

- Isso nem passou pela minha cabeça privilegiada, e a propósito Malfoy, tente não se soterrar nos seus próprios desabamentos, nós nem sempre podemos estar lá pra te salvar. - ela devolveu rapidamente, me lançando um olhar divertido em sua pose descontraída com as botas pretas de salto fino apoiadas na mesa á frente.

- Ok crianças, já chega! – disse Therisford parar mim e Anny. - Até mais Malfoy, e tome cuidado. - ela falou conciliadora antes de eu sair.

Eu sai, andei pelas ruas, vaguei como uma sombra, um espectro, não sabia mais o que procurar se eram os cabelos ruivos ou os incrivelmente negros, tentei usar toda a lógica que restava em mim, e tudo me indicava um caminho.

A casa deles, onde todos os Weasley moravam se não me engano, um lugar ao qual ela chamava de ‘A Toca’. Aparatei nas imediações do local, eu nunca havia ido ali sozinho, as poucas tentativas que Virginia havia feito de me colocar em contato com os cabeças vermelhas haviam sido todas falhas então ela não insistiu muito depois. Nem é claro, eu tomava alguma iniciativa, odiava aquele lugar, aquela gente.

Cheguei ao local caminhando, esperei um bom tempo, ela não aparecia e eu também não poderia entrar. O tempo passava como se estivesse se arrastando com toda a dificuldade do mundo, eu não sentia fome, ou qualquer sinal de cansaço eu apenas esperava por qualquer sinal da presença dela ali. Ela tinha que estar ali afinal. Para onde mais ela iria?

Na mansão com certeza não estaria, ela nunca gostou de ficar só lá, ela sempre dizia que a casa era tão grande que parecia querer engoli-la naquele silêncio, detestava quando eu saia e voltava tarde. Na casa de amigos com certeza ela também não estaria já que a maioria do seus antigos amigos estavam mortos na guerra. Só restava a casa dos pais, já que ela parecia gostar daquele local, parecia o mais provável.

Lentamente o sol foi esquentando demonstrando que a tarde estava ganhando da manhã, e eu permaneci imóvel, de guarda no mesmo local, observando atento. Por fim o calor da tarde foi dando espaço para o escuro e a temperatura amena da noite, o sol foi se pondo e já se poderia ver vários pontos brilhantes no céu à aquele horário. Só então eu pude vislumbrar Helena pela primeira vez.

Novamente a mesma sensação de sufocamento e euforia, meu coração disparado me tirava a concentração em qualquer outra coisa que não fosse ela, dei dois passos em sua direção, eu sabia perfeitamente o que dizer a ela, sabia o que fazer... Uma voz alcançou meus ouvidos de chofre, ela não estava sozinha. “Droga!” Eu xinguei mentalmente e me mantive no mesmo lugar parar que a pessoa não percebesse minha presença.

- Até depois. - eu ouvi ela dizer com a voz decidida de Helena.

- Virginia...

- Harry, já falamos sobre isso...

- Desculpe, mas eu nunca vou conseguir entender porque isto, porque insiste em continuar com esta aparência.

- Não vamos discutir novamente. – ela parecia cansada e abatida – Já disse que me sinto melhor assim, menos conturbada, a Virginia Weasley tem uma carga mais pesada do que ela pode carregar.

- Você é forte Ginny, uma mulher incrível, isso tem que passar um dia. Você está viva, não se esqueça disso.

- Sua carga são dores e fantasmas que ela sozinha não consegue suportar.

Eu percebi que ela disse tudo isso com o semblante muito triste e por um ou dois segundos achei que veria uma lágrima escorrer pelo seu rosto como naquele dia em Azkaban no qual se supunha que eu havia morrido. Mas não, depois de tudo que eu vivi com ela, ou com Helena, pude perceber que Virginia, a minha Virginia, não era tão frágil quanto eu achava, tinha enfrentado perigos sem nem ao menos piscar, agüentou dores sem derramar sequer uma lágrima.

Ela conseguiu fingir tão perfeitamente, que nem eu, Draco Malfoy que era seu noivo, percebi que era outra mulher. Conseguiu a proeza de fazer eu me apaixonar novamente, e me martirizar e culpar por isso, sem saber que o que mais me encantava naquela mulher era que em tudo ela me lembrava Virginia.

O fator principal que me fazia realmente amar Helena era que ela era Virginia. Mesmo sem eu saber, a Virginia que não deixava de existir dentro dela me chamava e eu mesmo que me culpasse depois, respondia. Eu amava ela simplesmente porque ela era Virginia. Por isso eu jamais consegui decidi entre as duas, como eu poderia decidir entre a mesma pessoa o mesmo sentimento? Eu mesmo sem conhecimento e consentimento, amei Duplamente Virginia. Duas vezes...

E tudo isso sem deixar uma lágrima sequer escapar dos olhos, totalmente sob controle. Ela tinha sangue frio suficiente e tudo aquilo só me fazia mais apaixonado por ela, ela só poderia ser uma Malfoy; feita para mim.

Enquanto eu pensava nisso eu observava de longe ela, abri um leve sorriso, um sorriso de saudade. Acho que foi o sorriso mais sincero desde a última vez que eu vi Helena. Mas como tudo na minha existência Malfoy, tudo que é bom dura pouco, ou simplesmente não dura. Eu vi.

- Então me deixe ajudar a Virginia a carregar a sua carga. Nós dois juntos podemos conseguir, é melhor que você sozinha. - continuou Potter, mas ela não acreditou em uma palavra do que ele disse eu pude ver em seu rosto. Sorriu um pouco e disse:

- Talvez, talvez... Mas por hora eu acho que não... Por hora eu tenho que cuidar de mim mesma aprender a conviver...

- Imploro Ginny, me deixe ajudá-la. - disse Potter

- Você já está ajudando. – ela disse passando a mão pelo rosto dele e meu estômago deu uma guinada, desconfortável. – Você está ao meu lado e isto conta muito.

- Promete?

- Sim.

- Então eu tenho que ir. – ele falou, e mentalmente eu dizia “Aleluia” aliviado. Mas então o alivio foi substituído por um imenso vazio, falta de ar, meu peito se contraia violentamente, e raiva muita raiva daquele miserável do Potter. Ele segurou o rosto dela com as duas mãos...

E beijou-a

Ele beijou ela! Não! Estava tudo errado! Nada daquilo era para estar acontecendo... Virginia era minha! Minha noiva!

- Deixe eu ajudar você a esquecer o Malfoy. - a minha vontade de esganar o garoto que sobreviveu era quase impossível de conter, e o teria feito se neste momento a ruiva não tivesse dito.

- Boa noite Harry. - foi tudo que ela respondeu séria. Eu não podia acreditar que ela estava com o Potter, aquele filho da mãe! Não tinha nem um ano que eu havia desaparecido. Uma leve tontura me fez cambalear um pouco, parecia um soco no estômago. Todas as palavras que um dia eu pensei em dizer para ela, o sorriso bonito que Virginia iria abrir quando me visse, e os beijos e abraços... Tudo! Tudo que eu esperava que fosse, girava na minha cabeça de forma incontrolável, eu senti ânsia de vômito e contive meu estômago.

Parecia que alguém havia quebrado um vaso dentro de mim e que cada caco perfurava meu peito dolorosamente. Comparação idiota não é? Mas era exatamente assim que eu me sentia. Agora era Virginia e Potter, e não mais Virginia e Draco! E aquilo doía incrivelmente, muito mais do que o corte no meu peito feito por um maldito comensal naquela noite fatídica. Mais do que ficar longe dela. Doía como eu jamais havia imaginado.

Naquela noite eu não voltei para jantar com Therisford e Fowl, não conseguiria comer qualquer coisa que fosse mesmo que eu tentasse, passei a noite inteira acordado Não conseguia acreditar no que eu havia visto. Caminhei tropegamente até um amontoado de árvores que eu ouso chamar de bosque, deixei-me cair ali com as costas apoiadas em um tronco qualquer, contendo o gosto amargo que subia a minha garganta como veneno viscoso. O sono não apareceu durante a noite toda, e eu segurei a lágrimas persistentes que insistiam em cair, a visão dos dois foi a única coisa que ocupou a minha cabeça durante toda a noite. E quando o dia começou a se apresentar eu decidi que iria segui-la durante mais um dia... Ainda não conseguia acreditar. Simplesmente não podia ser! Mas infelizmente a confirmação não demorou muito a chegar... Potter entrou sorridente em casa novamente eu senti aquele venerável instinto assassino.

Minha vontade de matar ele era enorme, como ele ousava tocar na minha noiva! Um ódio enorme corroeu as minhas entranhas, aquilo não ia ficar assim! Ele passou algum tempo lá dentro e depois saiu de casa com Helena, ele a abraçou com uma das mãos na sua cintura. Os dois aparataram... O jeito que ele abraçou ela... Não havia mais como negar as imagens da noite passada... O famoso Harry Potter estava tentando fazer Virginia me esquecer! Ah, mas ele não iria conseguir ou eu não me chamava Draco Malfoy!

Desaparatei para a casa de volta ao meu quarto, e adormeci quase que instantaneamente.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.