Capítulo 14



Cap. 14 Desculpas...

5 meses e 3 dias

Foram os três dias mais frios da minha vida. Eu e Helena mal nos falávamos, e nunca mais tínhamos tocado no assunto do acontecido aquela tarde no ateliê até hoje de tarde. Eu estava compenetrado, lendo um dos meus livros da minha biblioteca particular que fica em um pequeno cômodo escondido no sótão. Mas eu estava no meu escritório, sentado na cadeira com os pés apoiados na mesa e o livro na colo. Então eu ouvi passos leves, soube que era ela por causa da sua mania de andar descalça.

- Oi. – ela falou simplesmente, e eu levantei os olhos do livro e a encarei.

- Oi. – eu respondi, mas eu sabia que devia mais que um singelo “Oi” para ela, só que eu nunca iria admitir isto.

- Estou incomodando?

- Não. – falei. Resolvi ser sincero com ela era melhor resolver aquela situação logo, aquilo estava em incomodando, não agüentava mais olhar para ela com pesar, e sentir minhas entranhas se revirando em uma sensação desconhecida. Ou melhor, conhecida, mas não sentida há muito tempo.

Mas ela não parecia preocupada, parecia... Normal. Ela até estava sorrindo, como na primeira vez que a vi, isso trouxe a lembrança daquele dia vieram a minha mente eu acabei sorrindo também, mas o sorriso não durou muito tempo e logo se desvaneceu em meu rosto varrido pela sensação que revira minhas entranhas.

- Eu vim pedir desculpas.- ela começou e fez uma pausa, mas eu permaneci calado, e ela continuou. – Por... Você sabe... Ter entrado no sue ateliê... E ter olhado o quadro...

Eu em senti surpreso por perceber que não me importava nem um pouco, e mentalmente eu me perguntei se havia perdido o ciúme ou o que quer que fosse que me impedia de deixar outras pessoas entrarem naquele recinto.

Então eu entendi, a questão não era essa, e sim quem; eu não me importava porque havia sido ela quem havia entrado, e pensando nisto eu finalmente respondi:

- Não se preocupe.

- Quer dizer que não está zangado comigo?- ela perguntou e um sorriso tímido se abriu lentamente no seu rosto.

- Não. - eu continuei sério.

- Não mesmo?

- Não.

- Nem um tantinho assim?- ela disse abrindo ainda mais o sorriso que iluminava o seu rosto ao mesmo tempo em que abria um pequeno espaço entre o indicador e o polegar para demonstrar o “tantinho”.

- Não. – eu repeti negando, mas não consegui segurar um leve riso que escapou pelos meus lábios antes que eu pudesse me conter. Apenas duas pessoas têm este dom, e uma estava falando comigo, a outra estava bem longe na Alemanha.

Com este pensamento, o sorriso em meus lábios desapareceu como fumaça levada pelos ventos de um tornado, pensar em Virginia dói.

- Posso te perguntar uma coisa?

Minha vontade era dizer que não, eu não queria que ela me perguntasse nada, eu receava o que ela me perguntaria, tinha uma leve noção do que ela poderia perguntar, um palpite, e algo dentro de mim insinuava que eu estava certo. Minha língua queimava para poder negar aquele pedido. Se ela fizesse a pergunta, eu não saberia responder... Não saberia como responder...

Ou mais exatamente, eu saberia sim como responder... Eu só... Não poderia responder.

Não queria.

Então com as entranhas congeladas eu disse:

- Pode. – respondi já esperando, “Com certeza ela pedira explicações que eu não saberei dar.”. Eu pensei comigo mesmo.

- Aquele quadro... - ela começou a falar, mas eu já sabia o que ela iria dizer, não era exatamente o que eu imaginava, mas eu sabia.

- Era você. – eu falei simplesmente, sem demonstrar nenhuma emoção, e olhando fundo nos olhos dela, podendo ver... Felicidade...?

- Mas a mulher era...

- Ruiva eu sei. Mas mesmo assim era você. - então depois desta resposta ela se deu por satisfeita e me deus as costas saindo do escritório, com o rosto serio, e não me encarando mais.

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