Livres da sufocação?



- Não! Vocês não!
Era sua mãe, num tom choroso, com uma mão à boca.
Sem muito tempo para pensar, Rony se viu cercado de gente querendo lhes dar abraços e tapinhas. Quase toda Ordem estava ali, lamentou-se. Dos que ele era mais próximo, apenas Kingsley e seus dois irmãos mais velhos, Gui e Carlinhos, não estavam ali. Até Tonks e Lupin! Onde estava Dumbledore? Já tinha ido? E Harry?!
- Onde está Harry? – perguntou com medo da resposta.
- Ele já foi, com Sirius, Thiago e Lílian... Já te falaram sobre essas coisas, não? – Seu pai estava indefinível. Parecia feliz e triste ao mesmo tempo, como todos ali – Aquele garoto não existe! Parecia que ele estava tão certo do porquê estar aqui. Ele sabia que ia morrer. Ele foi incrível!
- Ele disse que ia esperar por Gina num lugar mais feliz... – comentou Molly, aos prantos – Ele nem sabia como era além do bosque! Ninguém aqui sabe! E se Gina continuar viva, e assim espero, ela terá uma outra história, com... Outra pessoa. Por Merlin, que ela não desista!
- Não, ela não desistirá, minha querida. – Arthur abraçou-a em apoio- Ela, Kingsley e os que restaram não deixarão Voldemort tranqüilo!
- O Harry... Não esperou por nós? – Rony estava magoado por um breve instante. Depois se sentiu orgulhoso do amigo – Ele sempre se guiou pelos instintos! Babaca! Sempre acaba fazendo a melhor escolha! E é melhor o alcançarmos logo...
Ele baixou os olhos e se tocou que ainda não deixara Hermione num lugar mais confortável.
- Podem me ajudar? Ela não está muito bem, como podem perceber...
Sem muitas perguntas, eles o ajudaram a levar a garota para cima, num dos quartos. Rony colocou-a com cuidado na cama, cobrindo-a com um lençol. Arranjou uma cadeira e puxou o móvel para perto da cama, afastando os cabelos do rosto de Hermione e a observando, divagando longe. Não por muito tempo, já que sua mãe permanecera no aposento enquanto todos saíram. Ela o analisava dos pés a cabeça, até resolver interrompê-lo:
- Vocês morreram juntos? – Rony, desperto dos devaneios, admirou a força que a mãe sustentou ao dizer estas palavras, pois era de conhecimento geral que não eram nada fáceis, especialmente para ela.
- Praticamente. Nós sobrevivemos à Hogwarts. Nós fomos para uma espécie de prisão... Você também, pelo que me falaram. – Ele gemeu de dor ao se lembrar- George estava comigo. Fomos atrás dela, com ajuda de Draco Malfoy... Já explico – ele acrescentou à sobrancelha erguida da mãe – Mas comensais nos pegaram. Mataram George. Lucius Malfoy matou o George. E eu... o matei
Havia na sua expressão um pedido de piedade e desculpas para mãe, mas ela só respondeu com silêncio. Um silêncio de compaixão e tortura.
- Alguém surgiu, e vi uma luz verde. Acordei numa colina, e Hermione estava do meu lado... Ela disse que... Não conseguiu reagir ao choque – Corando, ele tentava falar mais para evitar a pergunta constrangedora que fatidicamente ele sabia que Molly Weasley faria.
- Vocês se resolveram? – Ela estava séria, porém, havia um quê de satisfação nela, deixando Rony mais constrangido. Eles eram tão óbvios?
- Nós... Como assim? – Ele resolveu disfarçar.
- Ah, Rony, querido, você acha que sou o quê? Vocês passavam o verão todo, juntos, debaixo do meu teto, Fred e George faziam questão de falar de suas brigas infantis... Sabe, não é preciso muito para uma mulher, e mãe, perceber quando há algo mais que amizade...
- Eu... Ham... Nós, digo... – Aquilo foi perturbador. Ele era realmente a única besta? Sentiu-se arrependido de não ter querido falar nada demais a ninguém.
- Então, resolveram-se?
- Bem... Sim. A menos tempo do que gostaria. Um ano só nós três, e eu fui idiota o suficiente para me enrolar nas minhas dúvidas - Ele completou num muxoxo.
Sua mãe lhe deu um sorriso terno. Aproximou-se e, após um beijo em sua testa que o deixou vermelho, afagou seus cabelos.
- Você sempre foi bonitinho!
E saiu do quarto.
Aquilo foi muito estranho. Rony sentiu-se confuso e aliviado. Uma sensação de pequena liberdade cutucou seu peito. Não eram mais sentimentos que ele precisava guardar para si. Não existia mais temor de que tudo desse errado, nem de que ele fosse ridicularizado. Tudo virou uma verdade deliciosa.
Ele segurou a mão de Hermione e apertou como se pudesse passar energia para ela. Ela reagiu. Apertara de volta. Rony sobressaltou-se e se aproximou mais, sentando na cama, inclinado para enxergá-la melhor.
- Você está acordada? Consegue falar? – Ele disse entusiasmado, mas quase aos sussurros.
- Rony... – Hermione movera os lábios, sem muito sucesso em emitir sons.
- Eu estou aqui! Estou aqui! Merlin, o que aconteceu com você? Parecia tão tranqüila na colina! Como pôde desmaiar?
Ela já conseguira abrir os olhos quando ele terminou de falar. Logo em seguida estavam marejados. Ela ia recuperando as palavras aos poucos.
- Aquele ar... Aquele ar puxa todos os seus anseios escondidos. Ele faz com que você lute contra eles, você não consegue fugir, nem ocultar...
-... E você se preocupa demais! – Rony estava quase chorando de felicidade de ouvi-la de novo.
Ela parou por um instante, contrariada:
- Eu não colocaria desse jeito, mas, de certo modo, é. – Os traços carregados sumiram num sorriso – Veio tudo abaixo. As pessoas que deixamos, os problemas que deixamos, a vida que deixamos... O futuro que deixamos. – Ele enrubesceu na última parte, desviando os olhos.
- A mim também! Achei tão esquisito! Não tinha pensado em tudo aquilo antes. Aí... – Ele parou, escolhendo as palavras. Hermione fitou-o com uma expressão de interesse, indagação e vontade de alguma coisa – Aí, eu pense que estávamos juntos e senti um alívio...
- Eu o ouvi dizer isso quando foi ao meu amparo. Eu fui estúpida. Ao invés de tentar contra-atacar meus pensamentos, tentei ignorá-los! Eu queria fazer algo rápido, não raciocinei direito... Quanta burrice!
- Realmente, indigna de Hermione Granger! – Ele a olhava com um deboche divertido. Ela riu, mas tentou ficar séria:
- Isso é grave! Onde eu estava com a cabeça...? – Ela corou levemente, como se tivesse pensado numa resposta – Mas você veio, e eu entendi o que devia fazer. Só que eu não tive tempo de pôr em prática. Desmaiei.
- É, percebi.
Os dois deram risada. Nada ali diria que eles estavam mortos. Era tudo muito semelhante aos tempos mais calmos de suas aventuras com Harry. Com exceção de uma coisa.
- Hermione... – Rony analisava suas mãos entrelaçadas. Ele sentiu o olhar dela em cima dele, atencioso. – Tudo aconteceu tão rápido, e eu nem.. Nós não... Nossa, isso é difícil! – Ele tentou descontrair e acabou olhando para ela, que sorria radiante – Quero dizer, não tivemos muito tempo a sós desde... aquilo. Aconteceu tanta coisa!
- Rony, você definitivamente é muito desajeitado! – Hermione aproximara-se, sorridente, apoiando o corpo num dos cotovelos.
- O que espera que eu faça? Dizer um seco ‘eu te amo’ e é isso aí?! Tem mais coisa! – Ele jogara isso com muita pressa, incomodado com o comentário. Eles se encararam. Rony teve a impressão de que Hermione controlara um impulso. Um impulso do qual ele compartilhava. Mas ela preferiu dizer:
- Bom... Essa é a hora em que nos beijamos e eu retribuo suas palavras! – Seu sarcasmo querendo ocultar o olhar de carinho que ela o lançava.
- É...
Eles se aproximaram com calma. Ele passou as costas dos dedos no seu rosto macio e a beijou. O toque esquentou-o dos pés a cabeça e ele sentiu uma euforia no peito. Com uma mão ainda em seu rosto, usou o outro braço para aproximá-la e colocar o corpo dela contra o seu. Ela, que antes deixara seus braços a apoiando na cama, pôs uma mão na nuca dele, com os dedos no meio de seus cabelos e outra entre o pescoço e a face. Toda vez que eles faziam isso, ele tinha a sensação de tudo sumir ao seu redor. Era um sentimento que ele nunca experimentara. Algo que era despertado só quando ele podia extravasar tudo o que o sufocara, tudo que tentara reprimir, quando ela dava essas provas de que ele realmente não estava sozinho. Algo que fazia o tempo passar deliciosamente devagar. Em algum momento, ela disse:
- Também te amo, Ronald, seu grande bobo. Demais.
O entusiasmo cresceu e tomou conta dele e de tudo em seu corpo. Eles acabaram deitando uma hora, até Hermione interromper:
- Espera um instante, Rony! – Ela o afastara de seu pescoço – O que estamos fazendo?
- Você quer mesmo que eu diga? – Rony parecia intrigado. Ela riu.
- Não perguntei exatamente isso, esperto! Estou falando para refletir!
- Mas agora?!
- Claro! Será depois, por um acaso?! Além do mais, não acha um pouco rápido?
- Rápido?! RÁ-PI-DO? – Ele exclamou incrédulo – Hermione, há quanto tempo estamos nisso?!
- Seis anos...
- SEIS?! Você... – Ele se sentiu envergonhado. Ela realmente gostava dele há tanto tempo assim? Ele realmente achou um dia que ela o odiava ou, no mínimo, que ele era insignificante? – Como você...
- Não precisa me falar de você. Estou ciente que você só percebeu alguma coisa no Baile... – Como ela podia ser tão onisciente?
- Como? Quando? Você é louca?! Eu era um imbecil!
- Não sei quando direito. Mas me questionei no segundo ano. E provavelmente eu era louca, sim. Só que, depois de um tempo, eu fui aceitando que esse tipo de coisa a gente não escolhe assim...
- Eu...
- E, é, você era um imbecil, um imaturo, muitas vezes grosseiro, um desleixado, um...
- ‘Tá, eu já entendi!- Ele a cortou aborrecido, mas ela sorriu e respirou fundou.
- Mas... Mas, ao mesmo tempo, eu vi algo que, acredito, nem você tinha visto. Alguém que faz qualquer coisa pelos amigos, enfrentando seus medos. Alguém que usa o humor para aliviar a própria dor e para ver os amigos sorrirem em momentos de tensão. Alguém cuja essência de bondade, no final das contas, sempre ultrapassa seus egoísmos... Você pode não achar nada, mas, sem explicação racional, eu achei tudo.
Rony ficou sem palavras. O modo como ela dissera tudo aquilo soava como se ela já tivesse pensado e repensado, sob anos de avaliação. Provavelmente, quando ela tentava esquecê-lo. Fracassos, ainda bem. Ele não sabia se teria a coragem que ela teve para se abrir.
Ele se ajeitava na cama, sentando na margem. Hermione acompanhou-o, apoiando as costas no encosto do leito. Juntou suas mãos uma a outra e disse, olhando para elas:
- Como sempre, do jeito que você falou eu até pareço legal... – Ela tentou o interromper, mas ele fez sinal para lhe deixar continuar, que ela assentiu com um certo esforço – Eu... Realmente, eu só percebi na droga daquele baile. Sabia que sentia algo diferente por você, mas eu achava que era só porque você era a minha amiga garota... Mas você não era uma garota mesmo, na minha mente de amendoim. Você simplesmente era a Hermione. Você não era aquelas garotas que ficavam de risinhos e cochichos bobos pelo corredor. Nem a garota que 80% do que dizia era relacionado a aparências. Logo, para mim, você não era uma garota. Até que a vi aquele dia e percebi que você era uma.. Puxa, que babaca retardado!... Uma mulher. Diferente de qualquer uma que já vi, e a mais admirável.
Ele não deu tempo para ela falar alguma coisa, se não perderia toda a inspiração e coragem. Aquela coragem que ele nunca teve.
“Você estava sempre com a gente, do nosso, do meu lado. E vê-la com aquele Krum... Você sabia que ele te lançava olhares indevidos? Piorava a minha raiva! E fui, mais uma vez, um idiota. Acho que para fugir... Você não sabe como eu me arrependo de cada sílaba que lhe disse...” – Rony esfregou os olhos para esconder as lágrimas. E retomou – Eu percebi que bobeei. Achei que, se algum dia tive chances, não tinha mais. Na verdade, eu nem fui muito a fundo. Eu não entendia direito o que estava me acontecendo. Acima de tudo, eu não queria perder a sua amizade.
‘Ia ser cruel, sabia? Era impossível de imaginar... e torturante. Você, que com sua inteligência nos salvou de várias encrencas. Justo você, com sua irritante prudência, que evitou algumas vezes que fossemos expulsos. Você com sua atenção e dedicação sempre admiráveis. Você e essa sua língua afiada que muitas vezes me deprimiu e, nos seus momentos histéricos, tornava-se muito arisca e desagradável. Você, com sua energia, graciosidade e carinho, que são uma 'explicação racional’ para eu achar tudo”.
Ele a encarou no final de sua fala. Um verdadeiro texto! Não sabia de onde tirara aquilo tudo. Uma coragem inútil, talvez, já que estavam mortos, ele pensou. Mesmo assim, estava feliz. Porém, Hermione arregalara os olhos para ele, boquiaberta. Olhos cheios de água, que a fizeram soltar as mãos para enxugá-los. Misturado ao que poderia ser choro, ela riu num solavanco, um tanto psicopata. E, procurando quebrar o silêncio rodeado de expectativas, pronunciou-se com a voz embargada:
- Me diz que isso é um sonho Ronald, um pesadelo! – Rony torceu o rosto, que antes insinuara abrir um sorriso – Que nós não estamos nos resolvendo depois de mortos! Que tudo que passamos depois, ou até um pouco antes, da morte de Harry é uma mentira! Que tudo não passa de uma brincadeira terrível de mal-gosto! Me diz que toda essa injustiça não está realmente acontecendo!
Sem respondê-la, ele se levantou e a abraçou. Não sabia novamente o que dizer. Mas entendia que aquilo estava a fazendo sentir o peso da morte de novo. Só queria lhe dar conforto, nem que fosse singelamente a envolver em seus braços, dividindo calor. Fragilizada pela força daqueles pensamentos, ela só pôde encostar as mãos nas laterais da cintura dele. Com o rosto em meios aos cabelos cheios da garota, ele procurou seu ouvido pra lhe sussurrar:
- Se a verdade fosse essa, meu amor, você acha mesmo que eu hesitaria em lhe dizer? Você precisa se livrar disso!
- Me livrar? Eu tinha, nós tínhamos um mundo para mudar!
- Eu sei, mas...
-... E já não podemos mais!
- É.
- Não consigo simplesmente aceitar!
- Tente!
- Você já me viu tentando!
- Talvez um pouco mais...
- Queria que fosse tão fácil...
Novamente, ela desmaiou. Rony viu a luz vermelha daqueles espectros esquisitos pela janela. Ele empalideceu. Estava sozinho naquele quarto, com uma Hermione quase verde de tão fraca. O que poderia fazer? Na morte, não havia varinha. Sem pensar duas vezes quando viu aquele vulto atravessando a parede, pegou-a nos braços mais uma vez e correu escada a baixo, em busca de ajuda. Ninguém estava lá, a não ser a dona da estalagem.



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N/A: Capiutlo atualizado rapidinho. Capitulo maiorzinho.... Q beleza! =)
Capítulo de teor master-blaster desabafo XD
Você sentiu falta disso em DH? Eu tbm! Mas... o q poderíamos fazer? A perspectiva é do Harry e eles NUNCA falariam algo assim na frente dele. Viva o mundo fanficton! \o/\o/\o/\o/

Hum... Eu to meio pertubada. Algumas horas eu olho pra esse texto e acho q ficou natural. Depois eu me pergunto se eles teriam essa coragem toda. Se ela realmente era possível. Da Hermione, eu concluo sem dúvidas q sim. Do Rony, eu ainda ficou meio balançada. Eu num sei. Impulsionado por ela, obviamente, me soa q talvez ele falaria sim, por isso coloquei aqui. E não vou tirar, pq é foi assim q me veio, e a primeira idéia, o primeiro instinto na hora de escrever costuma ser o melhor. (leia-se disso tudo: Gosto assim. Acho q poderia ser assim. E não vou mudar XD)

Sinto mto pelo Harry. Vcs entenderam o q aconteceu com ele, né? Ele foi feliz. E o Dumbledore? Ele pode ter dado uma passeada pela cidade, ou ido para a floresta. O Rony não estava com cabeça para perguntar. O q vcs acham? ;-)

COMENTEM!!!
Isso faz uma autora feliz =D


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http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=23384
Fic de uma amiga minha. MTO FOFA e bonitinha (E FELIZ!)! Rony fazendo um certo pedido... ;-)

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