Capítulo 10



Cap 10. Tratamento de choque (II)


A sensação de dormir de olhos abertos era terrível.

Talvez não a pior sensação de sua vida, mas certamente uma das. Odiou o vento frio vindo da janela por tê-lo acordado, desejou terrivelmente poder destruir o ar com os pensamentos, que era de fato a única parte não dolorida do seu corpo.

Desistiu de voltar a estado de inconsciência, e de repente as dores se tornaram mais reais, ele sentia sua garganta machucada, corroída pela magia, e sentia suas articulações queimarem onde haviam os capilares. Ele não era capaz de falar ou emitir qualquer som, sua voz havia simplesmente se esvaído, como se tivesse sido sugada. Tentou mover um braço, mas sentiu como se sua pele fosse ficar para trás se ele o fizesse. Então desistiu.

Ouviu um barulho o qual identificou como a porta se abrindo.

Imaginou sua mãe entrando possessa quebrando todos os equipamentos, e arrancando todos aqueles malditos fio dele. Mas é claro Vega jamais daria uma cena daquele tipo, e não era permitido a entrada de visitantes para alguém em processo de tratamento de choque. A essa altura todos já deveriam saber, e com certeza tentariam matá-lo na primeira chance que tivessem.

A Raposa.

Ele se perguntou como ela reagiria...

- /Oi/. – a voz falou.
Silêncio, ele não poderia responder.
-/ Bom dia Jack. Espero que não tenha tido uma noite assim tão mal./- disse Seleena.- /Eu vim aqui para aumentar a dose e acrescentar mais capilares./

Ele estremeceu e ela pôde perceber que ele revivia a dor agonizante de ter que passar pelo processo de inserção dos capilares em suas veias.

Ela tomou-lhe a mão nas suas, e viu que os dedos assumiam uma leve coloração arroxeada.

-/ Você tem que ser forte./

Doía-lhe vê-lo daquela forma.

- /Os outros já sabem da sua decisão, Antony, não diz uma palavra sequer desde que você foi internado. Bea está inconsolável e reluta em deixar o hospital assim como a sua mãe, que entrou em choque assim que soube da notícia. Mas não se preocupe ela já foi medicada e está sedada. Andrei veio vê-lo, quando descobriu juntamente com Leo não acreditou e tentou adentrar os seus aposentos várias vezes, Andrei teve outra grande discussão com Bea, nas quais Antony teve que contê-lo a socos./

Um sorriso triste se formou em seu rosto.
- /Estão todos preocupados, mas eu disse que você está bem, consciente e bem.../- a palavra “bem” pareceu deslocada em meio as outras palavras que saíram da sua boca, e a entonação de sua voz falhou, e a frase ficou no ar.

Ele apertou sua mão em resposta. Mesmo que dores agudas lhe roessem as articulações durante o movimento, ele continuou a segurar a mão dela.

Ela não havia falado sobre a Raposa. Isso não passou despercebido por seus ouvidos.

Ele se perguntava como ela teria reagido, mas de fato não era realmente da sua conta a vida dela. Preferia sinceramente que não houvessem dito a ela nada que fosse. Não sabia como seria sua expressão, como se portariam seus olhos, qual seria o tom da sua voz, se falaria alguma coisa... Mas ainda conseguia lembrar do refulgir dos cabelos dela vermelhos como chamas sob o sol que formava flores na neve, ou quem sabe imaginar, ele não era mais capaz de distinguir as imagens que imaginava e as que era capaz de lembrar.

-/ Vou começar, Tigre./- disse Seleena o avisando, então as dores pareceram mais vivas assim que libertou-se da teia de pensamentos na qual ficara preso.

Vários gritos e gemidos estrangularam-se em sua garganta a medida que a curandeira introduzia os capilares sob sua pele, e podia sentir aquela secreção vinda dos mesmos penetrar nele quente como brasa, seus olhos rolaram sob suas pálpebras e ele achou que iria desmaiar, mas por duas vezes agarrou-se a consciência para evitar que tivesse que passar por todo o processo novamente.

Então ela parou, ele poderia sentir a mão trêmula que tocava seu rosto, lágrimas escorriam lentas incontidas por seus olhos, os lábios entreabertos os pulmões ofegantes.

- /Tigre... Eu... Eu... Sinto muito/. – ela gaguejou - /Terei que cortar seu cabelo./
Os olhos dele se abriram de imediato, mesmo que ele apenas pudesse encarar escuridão, cortar o cabelo?!

- Terei que colocar capilares no seu coro cabeludo e rosto, por isso terei que cortar o seu cabelo, todo.

Outra lágrima deslizou dos seus olhos que já não brilhavam no azul cinzento que também não mais se confundiam com as manhãs de inverno.

- /Você sabe que eu não faria isso se não fosse totalmente necessário./- ela acrescentou penalizada com um sorriso morto. –/ E depois você vai ficar ótimo careca, eu tenho certeza./

Silêncio.

-/ Você sabe que é o terror das mulheres com ou sem cabelo, não é?/ -ela falou rindo de leve, evitando as lágrimas que embargavam sua própria voz, era triste vê-lo definhando aos poucos em suas mãos, era pior ainda saber que era ela quem provocava tudo aquilo. Mas era necessário. –/ Preciso fazê-lo, Jack./

Ele abriu os olhos nublados, e com uma aceno da cabeça e o olhar perdido na direção janela lá fora sem realmente poder ver o que estava na paisagem, ele deu a permissão necessária para que ela iniciasse seu trabalho.

O rosto de ambos era marcado de lágrimas.

E ele sentiu o aço tão frio como tudo que o cercava tocar-lhe o couro cabeludo por alguns minutos, e depois não sentiu mais nada, não sentiu as mãos delicadas da médica, não sentiu a dor dos capilares, ou sequer o corte que foi necessário ser feito em sua face. Não agiu, não respondeu, não sentiu, apenas se deixou imergir mais que nunca na sua escuridão conhecida.



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Seleena deixou o local limpando os olhos, não poderia encontrar os amigos e parentes de Jack com lágrimas nos olhos.

O primeiro que sua vista ainda embaçada conseguiu alcançar foi Andrei, ele estava sentado na primeira cadeira na lateral do corredor, ambas as mãos mergulhadas entre os cabelos muito loiros, e a respiração pesada poderia ser ouvida de longe. Então quando ele levantou o rosto ela viu os olhos cansados e o rosto marcado por lágrimas, o sorriso morto nos lábios, expressão que logo desapareceu dando lugar outra, que exalava ansiedade.

- /Seleena!/- ele falou levantando-se de um pulo e a segurando pelos ombros com firmeza. - /Como ele está?/

Ela o encarou por alguns segundos, os ombros encolhidos pelas mãos fortes que a seguravam, os olhos azuis profundos a encaravam desesperados, ávidos por qualquer sinal de otimismo na face da curandeira.

- /Ele está dormindo agora, descansando./- foi tudo que se permitiu dizer.

O outro suspirou cansado, e voltou a sentar-se. Enquanto os outros que havia notado sua presença se aproximavam necessitados de palavras com esperança.

Então uma voz soou acima das outras.

- Como está o meu filho, Curandeira? Como está ele?- Vega Malfoy, estava à sua frente, o inglês bem pronunciado saia de sua boca em um tom altivo embora preocupado.

As olheiras deixavam seus olho mais fundos, e a insônia curada por magia não conseguiria esconder as estrias vermelhas em seus olhos causadas pela falta de sono, o rosto sério, a expressão sem vida. A postura continuava a mesma, imponente, mas seus olhos haviam perdido o brilho, e não havia mais o sorriso discreto outrora tão constante.

- Jack, está descansando agora. – ela disse com o forte sotaque, evitado a palavra “bem” de certa forma ela lhe soava tão inadequada, já que não seria exatamente isso que ela teria a dizer, e por mais que tentasse não conseguia. – A situação esta estabilizada.

Não esclarecia nada, apenas palavras vazias.

- Alguma melhora? Tem alguma previsão para quando ele poderá deixar o tratamento...?- a mãe insistiu a hesitação agora se fazendo presente em seu tom de voz.
- Se tudo continuar como previsto, no fim desta semana.

O esboço de um sorriso perpassou o rosto da mulher. Antony chegou, silencioso, a expressão fechada, e passou o braço pelos ombros da mãe, a conduzindo para as poltronas onde eles faziam a mesma coisa há três dias, desde que seu irmão entrara naquela sala: esperar.

- Sra. Malfoy!- chamou a curandeira, sem saber exatamente o deveria dizer.

A mulher e o filho se viraram para Seleena novamente.
- Mais alguma coisa que eu deva saber?- ela perguntou educadamente.
– Estamos fazendo o melhor pelo seu filho... - Seleena disse, a encarando com firmeza.
- Tenho certeza que estão. - ela disse virando-se de volta, se deixando ser guiada por Antony novamente.

Antony estava calado e taciturno, sem sorrisos sem palavras reconfortantes, sem palavra alguma, andava pelos corredores do hospital.

Beatrice, havia ido sentar-se novamente, seu coração acelerava todas as vezes que seu olhar se voltava na direção da sala onde o amigo estava, respeitava sua decisão, mas a imagem dele preso à cama de tratamento de choque a transtornava. Tudo que ela queria era que aquela semana acabasse logo, estava cansada de hospitais, estava cansada de olhar todos nos olhos e ver o cansaço e a fadiga da preocupação correr-lhes a parecia, estava cansada de lágrimas e feições de pedra.
Suas articulações estavam doloridas de ficar sentada, e também do esforço feito na noite anterior que tivera que tomar os turnos noturnos de Antony. Levantou-se novamente e sem saber exatamente aonde seus pés queriam levá-la simplesmente seguiu o corredor, qualquer lugar...


Não queria que seus olhos se voltassem novamente para aquela sala.

Seleena deixou-os sentados em suas agonias e já seguia pelo corredor, o hospital continuava de pé afinal...
Sentiu uma mão segurando o seu braço. Virou-se.

- /Leo./
- /Seleena, eu preciso saber, como esta o Tigre.../- ele disse soando angustiado, o que não combinava nem um pouco com ele.
- /Mas eu já.../
- /Não, eu quero saber de verdade. Como ele está?/

Então ela olhou para a mão dele que ainda estava postada no seu antebraço a segurando ali, e notou pequenas cicatrizes nas articulações.
Segurou a mão dele com delicadeza, sem que encontrasse qualquer resistência, observou cuidadosamente a ponta dos dedos e próximo as unhas lá estavam elas, quase imperceptíveis. As mesmas cicatrizes que ficariam gravadas na pele pálida de Jack Malfoy assim que ele terminasse o tratamento.

- /Leo, você...? Quando?/- ela estava surpresa, nunca soubera de nada.
- /Isso foi antes de eu vir para a Rússia trabalhar como auror, e por causas menos nobres que as do nosso amigo./- ele disse com um sorriso triste. - /Então Seleena vai ou não me falar como ele está? Como ele vai ficar?/

Ela sorriu tristemente de volta.

- /Ele sorriu hoje, o primeiro sorriso desde que entrou./- ela falou sem encará-lo.
- /Como conseguiu isso?/
- /Apenas falei de vocês./- ela disse levantando os olhos na direção dos dele - /Ele está resistindo bravamente Leo, você o conhece, e pelo que vi, conhece a situação também.../
- /Mas do que gostaria de conhecer.../- ele disse sombrio.- /Por favor me diga que ele voltará a ser o mesmo Tigre que sorria, e brincava, e ganhava todas as garotas com um piscadela e um olhar./- ele disse segurando a mão da curandeira com intensidade, ela devolveu o aperto .
- /Jack Malfoy voltará a sorrir, Leo, mas jamais será o mesmo sorriso./- ela disse se aproximando dele.
– /Jack perdeu tudo Seleena, ele perdeu a visão, perdeu a alegria, e desde então esta trancado neste hospital , perdendo aos poucos o que ainda resta, seu trabalho, sua vida, e a Raposa... Quando foi a minha vez, aceitei o tratamento sabendo das conseqüências, e minha consciência foi puxada até o limite da sanidade, rezava para poder dormir o mais rápido possível e deixar de sentir o mundo. Achei que jamais me recuperaria, achei que enlouqueceria de agonia... Não deixe que aconteça o mesmo com o Tigre, Seleena./
- /Ele é corajoso Leo./- foi tudo que ela pode dizer.- /Hoje eu tive que cortar o seu cabelo, ele chorou, eu chorei.../

Ele a abraçou.



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O sol estava destronando a neve, que já era cada vez mais escassa, e ela já sentia que era desnecessário aquele grosso sobretudo que trouxera, a temperatura era mais amena agora. Era o último dia de Rony na Rússia, ele, a esposa e Mark estavam votando para a Inglaterra. Mark estava muitíssimo desapontado em voltar, já havia apresentado argumentos dignos de consideração para a mãe de como era melhor ficarem, mas Hermione não poderia ficar mais, tinha que ir a Inglaterra e de lá seguir em uma viagem ao Cairo e Rony teria que voltar ao trabalho.

Fred e Jorge iriam no dia seguinte, com Angelina grávida, um deles teria que cuidar sozinho da loja, e se aproximava um dos períodos mais movimentados do ano no Beco Diagonal. Cogitou-se a hipótese de somente Fred partir para assistir sua esposa, mas então quem tomaria conta da loja dos gêmeos.

Todos estavam relutantes em deixar Ginny.

- Ginny você que é capaz, decifre o cardápio antes que um de nós acabe pedindo lesmas para o almoço por engano.- disse Rony, irritado com o fato de não ser capaz de ler nada que havia o cardápio do restaurante.
- Rony, você realmente não assimilou nem um pouquinho do idioma local? Onde você anda coma cabeça?- perguntou Hermione.
- Não vá me dizer que você se tornou fluente durante o tempo que estivemos aqui?- disse o seu marido com o tom irônico.
- Claro que não, não seja tolo, mas é claro que não morreria de fome se estivesse sozinha, aprendi a identificar algumas palavras observando os atendentes do hotel.

Ginny sorriu.
- Hermione seu poder de assimilação é de fato incrível.
- Certo tenho que concordar com o Rony, Ginny peça logo qualquer coisa que se pareça com filé e cerveja amanteigada, a fome está me destruindo. – Disse Jorge.
- Eu lhe disse para comer um daqueles bolinhos brancos que havia na mesa do café hoje. – respondeu o gêmeo ao outro.
- Você sabe que eu não resisti e coloquei um dos ingredientes que usamos na loja, logo metade dos hóspedes estará flutuando durante alguns minutos.
- Por Merlin, Jorge! Vocês dois nunca irão crescer não é mesmo?- ralhou Hermione, mas mesmo ela não pode evitar o início de um sorriso no canto de seus lábios.

Ginny fez os pedidos ainda contendo o riso das invenções dos irmãos.

- Então Ginny o que você está pensando em fazer depois que formos embora?- pergunto Hermione.
- Primeiramente dar uma festa em comemoração... – ela iniciou a frase, mas suas risadas a denunciaram.- Brincadeira!

Hermione sorriu.

- Como você pôde pensar em algo deste tipo! Você é nossa irmã!- disse Fred muito dramático fingindo-se de ofendido.- ela está feliz em se livrar de nós.
- Na verdade, ainda faltaria o Harry para eu me livrar de todos, já que ele vai ficar mais um pouco. – ela disse piscando alegre. – Mas falando sério, eu estava pensando em ir ao quartel general dos aurores e conversar com o Sr. Ivanovitch para ver se existe alguma possibilidade de ele deixar com que eu acompanhe o trabalho de algum auror mais de perto. Acho que isso me trará algumas lembranças e sensações de volta. É claro se eu não for atrapalhar em nada.
- É uma ótima idéia. - comentou Harry.
- O Harry está certo, seria como refazer seus passos. - acrescentou Hermione.

Ginny confirmou com a cabeça.

- É esta a intenção.
- Você vai entrar em campo novamente Tia?- quis saber Mark com a leve empolgação visível no seu tom de voz.
- Não sei Mark, é meu desejo, mas não sei se será permitido.
- Ginny tome cuidado. – disse Rony, ele não havia gostado muito da idéia a julgar pela expressão que ostentava.- Você não é mais acostumada a isso...
- Por incrível que pareça concordamos com o Rony, afinal faz algum tempo que você está fora de ação, e como ainda não lembra de tudo, é como se estivesse voltando de uma longa aposentadoria.- disse Fred.

Ginny odiava ouvir aquele tipo de coisa, fazia com que ela lembrasse dolorosamente que era inválida, mas estaria mentindo se dissesse que não compreendia o ponto de vista dos irmãos. Às vezes ela tinha medo de voltar, mas a necessidade de recuperar um passado era maior.

- Tudo bem, garotos, eu prometo que tomarei cuidado.- ela disse sorrindo.

Rony mudou de assunto:

- Você não irá ao hospital hoje?
- Creio que não dará tempo. – ela disse com a expressão tristonha ao se lembrar de Jack, queria saber notícias, mas este era o último dia na companhia de seus irmãos, e ela estava sentindo-se um tanto quanto culpada por não estar retornando com eles para o lugar que eles chamavam, a verdade é que ela já não sabia dizer onde era sua casa. Teria que descobrir e escolhera começar por ali.
- Por que aquele seu amigo continua lá mesmo?- perguntou Mark.

Ela suspirou profundamente, não sabia exatamente o procedimento, mas sabia que definitivamente não era nada bom.

- Ele teve que se submeter a um tratamento de choque.- ela falou com a voz baixa.
- A situação dele estava tão ruim assim?- perguntou Hermione com a expressão preocupada, e surpresa em ouvir as palavras da ruiva.
- Seleena, a Curandeira, me disse que devido a quantidade de poção que ele tomou os níveis de magia em seu sangue impedem o efeito dos remédios ministrados nele. O corpo dele não deixa os remédios agirem...- ela explicou com pesar.
- Ah sim, neste caso entendo o uso deste método, seria necessário de fato uma desintoxicação poderosa. – disse Hermione. – Mas é um processo muitíssimo sofrido pelo que sei.
- É o que todos vêm me dizendo.

O silêncio caiu sobre a mesa até que Fred o rompeu com sua voz alegre.
- Bom, desejo melhoras para ele, ele me parece uma cara legal, apesar de ter o sobrenome que tem.- ele acrescentou - Mas falaremos de coisas mais felizes, como o almoço que está chegando .

O garçom vinha trazendo a bandeja com os pedidos, todos ficaram satisfeitos com a chegada do mesmo.

Ginny nunca havia entendido porque vez ou outro o irmão mencionava algo ruim sobre o sobrenome de Jack, ela não entendia o que tinha de tão ruim em ser um Malfoy para eles, mas não perguntou, não era hora, estava entorpecia pelo cheiro delicioso que se desprendia das comidas à mesa.

Todos comeram, e com exceção de Rony, apreciaram imensamente a comida, conversaram sobe várias coisas, e até chegaram a especular a data em que a própria Ginny faria sua viagem de volta para a Inglaterra. Ela prometeu que logo.

Mas Harry não pode deixar de pensar que “logo” era um forma de expressão tempo muito relativa, sentiu uma pontada no peito mas simplesmente ignorou e continuou a observar o sorriso dela.

- E você Harry ainda irá permanecer bastante tempo aqui comigo certo?- ela disse tocando o seu braço para chamar sua atenção.
- Bom, embora não pareça eu também tenho que trabalhar, e já recebi algumas convocações não exatamente gentis.- ele disse rindo.
- Não me diga que não irá passar sequer mais uma semana aqui?- ela perguntou desgostosa.
- Bom, eu estava procurando por uma chave de Portal para semana que vem.- ele disse, encolhendo os ombros.
- Nem um dia a mais?- ela perguntou.
- Creio que não, mas se isso lhe consola eu gostei muito daqui.- ele disse redimindo-se.
- É, aqui é um bom, lugar, a cidade é muitíssimo bonita.- disse Jorge.
- Tirando o fato de não conseguirmos nos comunicar sem ajudar, eu até que gostei. – disse Fred.
- É realmente um lugar fantástico Ginny, posso entender porque se apegou tanto a este país. – disse Hermione.- Me atrevo a dizer que Mark também gostou muito. – ela disse olhando para o filho que acenou que sim com a cabeça e a boca cheia.
- Na verdade eu prefiro outro lugares, você vai me desculpar Ginny, mas eu não agüento esse frio.- disse Rony.
- Venha no verão, na verdade a neve já está até derretendo, é uma pena que você não possa ficar por mais tempo.- ela argumentou.

Eles passaram algum tempo, no restaurante, rindo, conversando, e falando uma infinidade de besteiras, quando a tarde já ia alta, eles resolveram dar um último passeio pelo cetro da cidade.
Ela sabia que eles faziam isso mais por ela do que por qualquer outro motivo. Ginny sentia as sensações ao turbilhão, vozes antigas a sua e de outras pessoas falando dentro da sua cabeça, velhos diálogos voltando aos poucos. Seu coração exultava a cada passo. Então enquanto andavam por uma calçada, um dos últimos raios do sol poente, bateu sob a neve brilhante, refletindo em outras cores, seus pés pararam de andar e ela ficou parada observando as flores de as luzes formavam na neve...

- /Eu adoro o inverno./- ela disse.
- /Aposto que é só para poder usar todas as suas adoradas roupas de frio./- disse a outra voz.
Ela sorriu de volta.
A rua ia passando por debaixo das suas botas pretas, e ela sentia o sorriso se abrindo em sua face, o sol estava nascendo, e ela sentia seu corpo implorar por descanso, havia passado a noite acordada. Os raios do sol bateram na neve acumulada na rua, e refletiu em magníficas flores, flores de sol, ela se sentiu hipnotizada eram tão lindas...
As luzes dançavam no ar como se fossem algo divino, algo mágico, indiferentes ao cansaço que ela sentia, aos seus passos, ou sequer aos seus sorrisos em sua direção.

- /Creio que devo ficar por aqui a não ser que queria que eu a leve em casa./- a voz disse parando na porta de um prédio.

Ela desviou seu olhar das luzes na neve com dificuldade.

- /Não Andrei, eu estou bem, e você está cansado, é melhor que descanse./- ela falou sorrindo.
- /Tem certeza? Não seria esforço algum./- ele disse.
- /Tenho, depois eu não estou indo para casa, combinei de encontrar o Tigre daqui a pouco, ele tem algo a me dizer./- ela estava mentindo, mas o sorriso sereno continuava em seu rosto.
- /Se é assim então deixarei o bravo cavalheiro Malfoy continuar tentando e tomar meu lugar na sua escolta Raposa./
- /Ele não desiste não é mesmo?/- disse ela.
- /Desistir não é da sua natureza./- Andrei devolveu com um sorriso.
- /Que seja./- ela disse com um sorriso-/Lindo, não?/- ela disse apontando par a neve que refletia os raios solares coloridos.
- /É. Nossa... Parecem.../
- /Flores./-ela completou a sua frase.
-/Oh, sim as famosas flores de sol do inverno/ – ele disse constatando.
Muitos sentavam em praças só para olhar até quando os reflexos desapareciam e o sol ia alto.
- Então é por isso que é tão apaixonada pelo inverno... – ele disse brincando como quem faz uma enorme descoberta.
Ela sorriu de volta.
- Até depois Andrei.
Ela disse e seguiu o caminho até o fim da rua onde dobraria para sentar-se nos bancos da praça ali existentes e observar as flores brilharem até serem extintas...


- Ginny? Tudo bem? Você está se sentindo bem? – perguntou Hermione ao notar que ela havia parado de andar.

Seu olhar estava parado em um ponto, fixo, como se ela estivesse vendo algo muitíssimo impressionante. Alheia ao mundo.

- Ginny!- Harry disse mais alto segurando-a pelos ombros.
- Flores... Flores de Sol.- ela disse apontando par ao local em que estivera olhando nos últimos minutos. Todos olharam, mas ninguém viu sequer um raio de luz, o céu já estava quase todo avermelhado e as flores já estava extintas. Não haviam mais reflexos, não haviam mais flores.



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Ela estava exausta, tivera que esperar até as duas horas da manhã no ministério para que houvesse a liberação de uma chave de portal para todos. Tanta burocracia a deixou exaurida, e tudo que ela queria agora era dormir, amanhã queria terrivelmente ir ao hospital, queria tentar uma última vez falar com Jack, e contar a ele sobre a flores do sol. Temeu que se tomasse um banho dormisse em pé e se afogasse no chuveiro, então simplesmente trocou de roupa e abrigou-se embaixo das cobertas.

Ela havia chamado Harry para ficar a sua última semana com ela já que agora ela já estava adaptada ao apartamento, ele falou que iria pensar na proposta, mas que hoje não era hora para pensar em nada daquilo. Pobre Harry ele deveria estar tão cansado quanto ela. Sorriu e terminou de se cobrir, sentiu algo quente em baixo das cobertas e alcançou a varinha no criado mudo o mais rápido que pôde.
A coisa rosnou de leve, então ela relaxou, em alguns segundos ela o teria fritado sem pensar duas vezes. Colocou a mão sobre o peito como se desta forma conseguisse desacelerar o ritmo cardíaco que acometia seu coração.
Puxou a coberta e viu o pelo branco como neve maculado com listas pretas.

Artemis.

Ela suspirou, não conseguiria dormir com ele ali. Imagine dormir com um tigre ao seu lado, Antony não havia lhe avisado sobre dividir a cama com ele.
Ele havia lhe explicado que ela mesma havia dado aquele tigre à Jack no natal, e que enquanto Jack estava internado, ele havia tomado conta de Ártemis, mas como ele iria passar a maior parte do tempo no hospital havia pedido para que ela cuidasse dele durante esta semana. Ela aceitara, e até achara o tigre bastante simpático, mas ainda era temerosa em passar mão na cabeça dele ou... Em qualquer outra parte...

- /Artemis?/- ela o chamou. Ele não respondeu, ela tentou novamente – /Artemis...?/
- /Humpf.../- isso poderia ser considerado algum sucesso.
- /Artemis acorde/.- ela pediu.
Ele abriu um olhou preguiçosamente e depois o outro.
- /Ah você está aqui.../- ele disse se virando para ela e apoiando a cabeça sobre as patas como a maioria dos gatos fazem, só que ele não era um gato, era um tigre branco adulto.
- /Estou./- ela disse esperando que assim que constatasse sua presença ele deixasse a cama por livre e espontânea vontade.

É claro que isso jamais aconteceu.

- /Então?/
- /Ah, você quer conversar, é isso?/- ele perguntou sem entender.
- /Na verdade não. Eu quero dormir./- ela disse sem jeito.
- /Ótimo, uma vontade em comum. Boa noite./- ele falou fechando novamente os olhos.
- /Artemis não posso dormir com você aqui./- ela falou agora corando.
- /O que? Por que?/- ele perguntou sem entender a que ponto ela queria chegar.- /Ah, entendo, Raposa fique tranqüila OK? Você não faz muito meu tipo. /

Ela levantou uma sobrancelha em incredulidade, ela não poderia estar ouvindo aquilo de um tigre.

- /Nem você o meu, muito cabelo branco./- ela disse. E imediatamente se repreendeu, estava se trocando com um tigre! Por Merlin!
- /Hey isso é o charme!/- ele disse soando realmente indignado. - /Não quis ofender tá legal? Só que você nem é da minha espécie./
- /Esquece Artemis, eu vou dormir em outro lugar./- ela disse levantando-se da cama e puxando as cobertas, as quais ele agarrou com os dentes e as puxou de volta.
Ele era forte e ela foi arrastada em direção à cama.
Imediatamente ela se sentiu petrificada, e deixou as cobertas caírem de suas mãos.

Ele a olhou achando a reação dela muito estranha. Então levantou-se andando devagar em direção à ela.

A ruiva se afastou com dois passos para trás.

- /Raposa, o que há de errado com você?/- ela não respondeu por isso ele continuou falando agora sem dar nenhum passo na direção dela.- /Eu sei que você não lembra de mim, mas mesmo assim, eu nunca a vi... Calma um momento... Você está com medo? Você está com medo de mim?/- ele finalizou incrédulo.

Ginny já não sabia o que dizer, o tom de incredulidade dele a deixou totalmente sem graça, e agora sentia um fiapo de culpa em sua mente.

- /Eu... Eu.../
- /Raposa, eu não vou comê-la ou qualquer outra coisa horrorizaste./- ele disse tom um tom de mágoa na voz.
- /Claro que não.../
- /Mesmo que eu tivesse essa intenção, pensando logicamente eu estaria me condenando, quem me alimentaria?/- ele disse sentando-se e estendendo uma pata na direção dela.
Ela sorriu da explicação dele.

- /Na boa, Raposa, sei que você está fazendo o maior esforço para lembrar e que não é culpa sua, mas agora eu fiquei magoado./- ele falou abaixando os olhos.

As poucas pessoas que podem dizer que já viram algo parecido na vida, a maioria delas nunca viu nem viria a ver sequer uma vez na vida. Um tigre abaixar os olhos é algo muitíssimo improvável de ser presenciado por um ser humano, e por qualquer outro animal.
Simplesmente não é da natureza deles, eles não abaixam os olhos, eles mostram as garras que podem arrancara pele de um mamute. Os tigres não tem este comportamento de presa, o sentimento de piedade ou sequer, de medo. Eles não se põem de igual com outras raças, eles são os caçadores e todo o resto são apenas presas, algumas mortas outras vivas. Eles não abaixam o rabo e o colocam entre as pernas, porque jamais é necessário, as outras espécies abaixam seus rabos para eles e se curvam diante deles.
A natureza os fez assim, desde o princípio.

No entanto aquele tigre havia abaixado os olhos.

Olhos azuis, que diziam muito mais do que os olhos da maioria dos tigres.

Então sob os olhos castanhos de Ginny que ainda estava presos àquela imagem ele começou a diminuir de tamanho, e suas patas já não eram do tamanho de pratos, e seus braços já não era tão musculosos e poderosos. Seus caninos diminuíram consideravelmente assim como seu focinho. E de repente ele era um filhote.

Um filhote.

Mas seus olhos continuavam baixos. Talvez estivessem fechados.

- Por favor, fique quietinho.
- Mas eu não conheço este lugar!
- È a casa do seu dono.- ela explicou.
- Dono? Nada disso. Companheiro!- Artemis respondeu indignado.
- Como queira, mas fique quieto.- ela entrou no quarto de Jack e ele estava apenas com a parte de baixo do pijama, ou seja, apenas com a calça, todo enrolado no edredom cinza da cama. Ela sentou-se na cabeceira da cama pegou a cabeça de Jack e colocou no colo e passou a mão pelo cabelo muito escuro, do amigo, sussurrou na sua orelha:
- Acorde Jack.- ele apenas se mecheue ela tentou novamente.
- Acorde eu tenho uma surpresa para você.- ele não acordou
- Abra os olhos!-ela falou mais alto ao pé da orelha dele, mas desta vez funcionou, ele sussurrou em uma voz arrastada de sono.
- O que eu ganho se eu abrir os olhos?- ela pensou “Interesseiro!”
- Um beijo… - ele abriu instantaneamente os olhos.
- Bom dia Tigre!- ela disse. Ele soltou o sorriso bonito e se sentou na cama.
- Bom dia Raposa já de volta a seu lugar?
- Não, minha licença ainda não terminou por isso eu ainda não voltei para a Rússia.
- Eu não estou falando da Rússia - disse com um sorriso maroto no rosto, e olhou para baixo. Ela seguiu os olhos dele e olhou onde estava sentada.
- Você não muda nunca não é mesmo!? – ela perguntou rindo, já estava acostumada com este tipo de brincadeira vinda do Tigre.
- Não.
- Eu trouxe alguém. Vocês vão se dar muito bem juntos.
- Raposa não me diga que você trouxe um dos seus parentes, você sabe que eu não… - mas ela não deixou ele terminar a frase.
- Não, é nenhum Weasley pode ficar calmo. É o seu presente de Natal.
- Como você vai me dar alguém?
- Espere aqui eu vou traze-lo para cá, ele esta na sala.
- “Trazê-lo” isso quer dizer que é ele?- ele perguntou desapontado, mas ela já tinha indo buscar Artemis, que agora estava em tamanho de um filhote médio, mas mesmo assim ainda dava para ela carrega-lo nos braços, e entrou no quarto.
- Raposa você enlouqueceu? Isso é um tigre!
- Eu sei, um tigre para um Tigre.
- Ele não é selvagem é?
- Não, Não sou!- respondeu Artemis.
- Ele fala!- Jack exclamou impressionado.
- Ele fala e também pode alterar o seu tamanho de um filhote até um adulto de maior porte, mas ele prefere ficar como adulto, o máximo que eu conseguir faze-lo encolher foi este tamanho, para eu poder trazê-lo comigo, como ele é fruto de uma experiência mágica ele pôde vir comigo quando eu aparatei. Gostou?
- Você está brincando não é?- ele disse – Eu adorei!- e foi até ela e a abraçou bem apertado ela retribuiu o abraço.
- O nome dele é Artemis, eu escolhi.- ela disse sorrrindo entusiasmada.
- Ótimo. Agora eu vou lhe dar o meu presente.- ele abriu uma gaveta em de um criado mudo bem ao lado e sua cama e tirou de lar uma caixinha preta.- tudo feito a ouro lavrado pelos Duendes russos, o pingente feito do melhor cristal também russo engastado, nele tem um feitiço convocatorio que toda vez que você falar Jack ou Tigre, com a intenção de me chamar mesmo, eu vou aparatar bem ao seu lado.- ele descreveu tudo isso enquanto tirava uma correntinha de ouro e o pingente era o nome Tigre de cristal transparente, era visível que fora muito bem feito.
- Jack é lindo eu nem sei como agradecer.
- Que bom que você gostou porque foi muito caro o par.
- Par?
- Sim você acha que só você ia poder me importunar a hora que quer?- ele disse mostrando a correntinha idêntica no pescoço dele que ela não tinha reparado, antes a única diferença era que na dele o pingente era o nome Raposa.
- Eu amei! Só mesmo o Tigre para acertar essa Raposa aqui!- ela disse isso e pulou no pescoço dele em um novo abraço, tinha realmente adorado o presente, assim nunca ficaria só! Abraçou e deu um beijo estalado no rosto dele.- Bom eu vim para te desejar um feliz natal, agora eu tenho que ir, ninguém sabe que eu estou aqui.- e dizendo isso ela deu dois paços para trás pronta para aparatar de volta no seu quarto, mas Jack não deixou, segurou ela pelo braço e a puxou de volta para ele, abraçando-a pela sintura.
- Não vá Raposa!
- Tenho que ir, devem está sentindo falta de mim, eu nem sequer desci para tomar café ou almoçar.
- Você ainda me deve um beijo… - ele sussurrou no pé da orelha dela.
- Esperava que você já estivesse esquecido disso.- mas antes que ela terminasse a frase ele deu um beijo embaixo da orelha dela quase no pescoço.
- Eu nunca esqueço das suas promessas.
- Estou vendo – disse ela, eles ainda estavam abraçados – Tigre, agora é serio eu preciso ir embora.
- Você vai voltar antes do que espera.


Seus olhos ainda estavam fora de foco quando ela esticou o braço e tocou a cabeça do filhote a sua frente. Lágrimas escorriam dos seus olhos quentes e impiedosas, aquela lembrança fora mais forte do que havia imaginado, desejou ter podido permanecer mais tempo imersa naquele transe milagroso.

Ela havia carregado o pequeno tigre no colo e o entregado a Jack como presente de natal, ela já sabia disso, ele havia lhe contado, mas agora ela lembrava. Lembrava da sensação dos pêlos dos braços, lembrava de como sentia-se à vontade perto dele, lembrava de todas as sensações que lhe foram acometidas naquele momento como se estas estivesse a acometendo naquele exato instante. Era como se parte do seu antigo “eu” estivesse transformando o “eu” atual, no que ela fora antes. Voltando a ser...

- /Eu lembro./

Os olhos azuis levantaram-se ao nível dos seus.

- /Lembro da noite que o trouxe para cá. Você parecia um filhote como parece agora, e estava tão inquieto, não fazia silêncio... Você era leve, e birrento, lembro que o achei igualzinho ao Jack.../- ela falou enquanto as lágrimas mergulhavam no sorriso que seus lábios formavam, espalhando seu gosto salgado em suas palavras.
- /Fico feliz, por você Ginny./- foi tudo que o filhote falou antes de passar carinhosamente seu rosto no braço dela e sair do quarto.

Sabia que ele estava magoado, e não iria querer falar com ela naquele momento.

Levantou-se e vestiu-se. Tinha que falar com Jack, tinha que contar a ele que ela havia lembrado. Lembrado do sorriso dele.

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Bea estava olhando para a noite lá fora pensando em como sua vida havia se transformado tão instantaneamente, no dia seguinte estaria partindo para trabalhar isolada no Alojamento na companhia de Daminen... Por alguns momentos as lembranças de sua briga com Andrei voltaram vívidas à sua mente, mas ela as sacudiu para longe.

Seu estômago pedia comida, mas ela simplesmente não estava com humor para comer... Deveria ir para casa tentar dormir, e se preparar para a viagem, arrumar as coisas necessárias, não havia tocado em nada sequer... As malas por fazer, objetos para organizar. Suspirou.

Pensou em tentar achar Seleena para poder trocar algumas palavras com ela sobre o amigo internado antes de ir, mas desistiu, a curandeira provavelmente estaria dormindo agora, afinal ela também tinha o direito. Apesar de estar sempre de prontidão Seleena era uma bruxa como outra qualquer e necessitava de descanso algumas vezes. Alem de tudo Bea poderia ver que ela também estava sofrendo em ter que executar as exigências do tratamento em Jack.
Olhou uma última vez para a paisagem fora da janela. Era uma noite bonita.

Seus passos ecoavam pelo corredor, enquanto ela tomava a direção da saída do hospital, o cansaço exalava de seus poros a cada respiração então outro eco de passos juntou-se aos seus. Ela conhecia aqueles passos, conhecia o som que eles faziam, conhecia o dono dos passos. Decidiu ignorar os passos atrás dos seus, assim como o dono dos mesmos, implorou a Merlin para que a saída não estivesse muito longe.
Os passos se apressaram, e ela manteve os seus, o dono estava cada vez mais próximo, até que ela sabia não haver escapatória, ele segurou seu braço, e a obrigou a se virar para encará-lo.

- /Bea nós precisamos conversar./- disse Andrei.
-/Você poderia por favor soltar o meu braço...?/- ela pediu azeda.
- /Não. Você não vai fugir de mim./
- /Eu não estou fugindo de você!/- ela replicou, e com um gesto brusco fazendo com que ele a soltasse.
- / E como você chama o que estava afazendo ainda a pouco./- ele perguntou impaciente.
- /Não tenho culpa se sua companhia se tornou indesejável, Andrei./

Ele suspirou tentando afastar a irritação visível em seus olhos, assim como nos delas, a diferença é que ela não parecia fazer nenhum esforço para contê-la.

- /Vamos, Bea, eu e você sabemos que podemos resolver essa situação./
- /Que situação?/
- /Essa que causa desconforto tanto para mim quanto para você, por mais que escolha ignorá-la./- ele disse soando cansado.
- /E então tudo volta a ser como antes...? Estou certa?/- ela perguntou e o tom de sua voz soou amargo assim como sua expressão.
- /Exato./- ele disse parecendo esperançoso de que ela havia finalmente entendido suas intenções.
- / Não, muito obrigada, desta vez eu passo./- ela falou desgostosa se virando para ir embora.

Ele se pôs à sua frente.

- /Não quer que sejamos amigos?/
- /Não./- ela falou dura.
- /Mas... Bea se foi por causa daquela briga que tivemos sobre você ir para o alojamento, podemos esquecer, já foi a tanto tempo./
-/Estou partindo amanhã Andrei./- ela falou em voz baixa.
- /Amanhã?! Como assim? Achei que havia desistido dessa idéia./
- /Porque desistiria? Deveria ter alguma razão para desistir?/- ela perguntou seca, lhe dando uma oportunidade de dizer o que ele queria tanto, mas não conseguia.
- /Pensei...Pensei que tivesse pensado melhor... Pensei que talvez... Eu.... Eu.../- ele gaguejou hesitante.
- /Diga Andrei. Me dê uma razão para que eu não fosse./- ela disse quase que implorando a ele que dissesse o que ela tanto queria ouvir.
- /O Tigre, não vai deixá-lo... Ele sai esta semana.../
- /O Tigre já sabe da minha decisão, e depois voltarei para vê-lo./
- /Eu... A gente... Vai ficar longe de todos nós Bea, isso não pode ser bom. Esqueça o que houve Bea, fique./

Ela estava farta e decepcionada com a incapacidade dele de dizer o que sentia. Quem sabe talvez fosse tudo uma ilusão da sua cabeça, talvez os seus sentimentos por ele houvessem induzido- na a pensar que ele sentia-se da mesma forma em relação a ela. Ela já não sabia.
O fato que é que de um jeito ou de outro ela precisaria se afastar, não agüentaria ser a “amiga” novamente, aquilo a machucava demais. Precisava de um tempo. Por isso havia tomado sua decisão em aceitar ir para o alojamento.

- /Não Andrei, não ficarei, não vou esquecer tudo que houve, não voltarei a ser sua amiga. Sabe por que? Porque eu não quero, não quero mais ficar perto de você, porque infelizmente não sinto só amizade por você, e ter que ignorar isso e viver das migalhas entre nós, está me machucando. Esse jogo de esperanças e desesperanças está me impedindo de continuar a viver minha vida, não posso continuar assim. Talvez sejam apenas tolices minhas, mas não posso fazer isso comigo mesma e me forçar a continuar ancorada na mesma história sem continuação. Preciso viver minha vida Andrei, e por enquanto, terá que ser sem você por perto, para o meu próprio bem./- ela disse virando-se e continuando a andar pelo corredor.

Não esperou uma resposta, sabia que esta não viria, não esperou sequer o abrulho de passos a seguindo ou qualquer tentativa de impedi-la. Não foi frustrada nesses aspectos.
Não houveram lágrimas, não houve dor, foi como se simplesmente tivesse tirado um colar de chumbo do seu pescoço. Seus olhos e seus lábios estavam secos e seu rosto sem expressão quando ela finalmente achou a porta de saída e aparatou perto de casa.

Ainda teria que fazer as malas.


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Quando desaparatou na porta do hospital, não deu importância para o fato de ser madrugada, e que ninguém estaria a esperando lá, simplesmente adentrou os corredores. A passos rápidos, podia perceber as pessoas pelas quais passava dirigirem seus olhares para ela, algumas até soltaram leves exclamações, não ligou, afinal eram poucas devido a hora da noite.

As imagens viraram borrões que passavam velozes no canto de seus olhos, enquanto ela corria, nunca havia percebido o quão longos eram aqueles corredores. A cada segundo ela queria já ter chegado, as informações fervilhavam em sua cabeça e ainda poderia ouvir o eco das vozes da lembrança em sua cabeça. Jack tinha que saber, ela sabia que tinha que contar a ele, exatamente naquele momento.

Apressou-se, já estava quase lá, o sorriso estampado em sua face, não queria saber que Seleena a deixaria entrar ou não, ela certamente entraria lá. Então olhou a porta no fim de um corredor secundário era uma porta única, o corredor só levava até ela, era estreito para que coubesse apenas uma pessoa. Ofegou até a porta, tocou a maçaneta fria de metal e forçou-a para baixo. Nada aconteceu a porta continuava trancada. Desta vez ela forçou a porta para dentro a empurrando. Novamente não teve sucesso.

Estava trancada.

Tirou a varinha do bolso do casaco e com um aceno a porta deveria ter aberto, mas não foi o que aconteceu, ela continuava imóvel como antes. Jogou todo o seu peso contra a mesma, mas ela sequer rangeu nas dobradiças. Ginny gemeu, seu ombro estava dolorido agora. Estava irritada e frustrada. Apontou a varinha para a porta, e concentrou-se. Vozes ecoavam e ela sabia que haviam visto as suas tentativas de entrar naquela ala.

Passos já deixavam seu barulho característicos no pequeno corredor a alguém a chamava pelo nome, ela simplesmente não deu ouvidos, e com uma estocada, houve um barulho descomunal. A porta se reduzira a pedaços, e ela caíra no chão há alguns metros, levantou-se rapidamente com um sorriso de satisfação, então sentiu mãos pesadas agarrando seus pulsos.

Ela foi engolida pelas vozes.

Por mais que ela lutasse para se livrar das mãos que a puxavam para longe da porta, ela não conseguia, eram mais fortes que ela. Sua varinha caíra de sua mão em qualquer lugar pelo caminho.

- /Vocês não entendem eu preciso falar com ele!/- ela gritava
- /A Senhorita não pode adentrar tal área, é uma área restrita!/- gritavam as vozes.
- /Não! Eu tenho que entrar!/
- / Não é permitido./
- /Eu preciso falar...! Preciso lhe contar o que aconteceu.../
-/Seja o que for terá que esperar.../- ela ainda se debatia quando finalmente a tiraram do corredor.

Ginny poderia ouvir a voz da Sra. Malfoy em algum lugar por perto. Então lembrou-se que ela e Antony sempre estavam no hospital. Debateu-se mais tinha que encontrá-la, talvez ela pudesse intervir...

- /Sra. Malfoy!/- ela a chamava enquanto os seguranças ainda a mantinham segura e sem varinha. - /Sra. Malfoy! Por favor!/

Uma raiva descomunal a assomou, por que será que ninguém a estava ouvindo?! Será que ninguém ali entendia que era urgente?! Sentiu uma vontade imensa de bater em todos os que a estavam detendo para que a soltassem e ela pudesse fazê-los entender! Ela só queria falar com Jack, isso não poderia matar ninguém poderia? Ele ficaria muito feliz em saber que ela havia se lembrado deles, no natal. Ela podia lembrar o brilho repentino nos olhos deles das outras vezes que ela havia lhe dito que lembrar de algo, ela queira ver aquele brilho novamente quando dissesse que havia lembrado-se dele!

- /Soltem-na imediatamente!/- uma voz autoritária bradou no corredor, que se sobressaiu a toda a balburdia do local.- /Soltem-na!/- todos pararam de falar, só Ginny continuava a se debater.

Veja Malfoy vinha andando imponente na direção dela. O sorriso da ruiva se alargou.

- /Sra. Malfoy, eu preciso falar com o seu filho preciso lhe dizer que eu lembrei!/- ela disse conseguindo se soltar e correndo na direção a mulher.

Vega lhe devolveu um sorriso bondoso e segurou-lhe as mãos.

- /Ginny Weasley se você tentar invadir a ala de tratamento mais uma vez terei que chamar o aurores./- Seleena vinha andando na direção da confusão.

Ginny nunca a vira tão irritada.


N/A: Desculpem é tudo que eu tenho a dizer... *autora envergonhada* creio que estou me tornando um daqueles autores que eu tanto detesto por nunca atualizar, mas eu não tenho tido outra saída. Nem férias eu tive, por causa dos vestibulares. Gente eu preciso muito passar, e ano que vem eu não estou tendo uma visão otimista já que ano que vem é meu último ano na escola ai é definitivo preciso estudar muito pra passar... Eu já pensei até em para de escrever por algum tempo até tudo desafogar mais, mas eu não conseguiria agüentar o peso na consciência. Jamais deixe uma fic inacabada, é um crime terrível para mim. Pensei em por em hiatus, mas também odiei essa opção pois para mim é ainda mais cruel esse chove e não molha de hiatus. Então essa me surgiu como única alternativa, continuar assim. Desculpem mesmo ta. Podem xingar e amaldiçoar até a minha nona geração eu também faria o mesmo, vocês tem toda a razão. Desculpem.
Um feliz natal e um ano novo melhor ainda. E muito obrigada por todos vocês estarem aqui comigo certo? Eu não faria isso tudo sem vocês!
Beijos!

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