Capítulo 9
Cap. 9 Tratamento de choque
Seleena discutia com o resto dos Curandeiros renomados na sala de reuniões o caso que havia mobilizado grande parte deles durante as últimas semanas. O caso dos dois aurores a Raposa e o Tigre que estava se prolongando mais do que o esperado, e o ministério os pressionava querendo os seus dois agentes em campo novamente.
- /Quanto a Raposa creio que esta tendo uma recuperação adequada.- disse um curandeiro mais velho./
-/ Sim, pelo relatório que me foi fornecido ela já vem lembrando de algumas coisas, cenas dispersas e sensações./- respondeu uma mulher mais nova.
-/Isso é um ótimo começo./- comentou outro.
- /Mas ela responde muito mais a estímulos esternos, como imagens e vozes./
- /É, isso acontece na maioria das vezes, provavelmente ela vai apresentar uma melhora considerável assim que sair./
- /Isso significa que ela precisa correr atrás do passado, literalmente. Não poderá voltar direto ao campo como o ministério deseja/.
- /De fato deverá haver um tempo de recuperação generoso./
- /Devemos todos concordar então, que a melhor solução par ao momento, é que ela receba alta, e faça retornos regulares para uma avaliação do seu progresso./- concluiu o curandeira mais velho.
Todos menearam a cabeça em concordância, apenas Seleena permanecia em silêncio compenetrada em algo dentro de si mesma. Sua testa apresentava leves rugas de preocupação que denunciavam seu esforço mental.
- /Seleena?/- a chamaram.
- /Sim?/
- /Você concorda?/
- /Em dar alta à Raposa?/
- /Exato./
- /É, acho que já é hora.../- ela disse suspirando cansada, para então continuar e conduzir a reunião para outra direção. - /O que realmente me preocupa, é a situação do Tigre./
- /Entendo.../- disse ele menos enérgico agora.
O silêncio caiu sobre todos no recinto que de repente pareceu sufocante e pequeno.
- /A situação dele não está melhorando. Os remédios não conseguem romper a barreira mágica elevada pela overdose de poção tomada anteriormente, e o efeito obtido são em demasia minimalistas./- ela expôs a situação.
Todos continuaram em silêncio, estavam pensando a mesma coisa, não era um pensamento encorajador.
- /Pode demorar anos para que ele vote a enxergar desta forma, e ainda assim não é algo garantido./- completou Seleena.
Ninguém ousava levantar os olhos e encará-la ou sequer se pronunciar diante da iminência do que todos já haviam previsto que seria necessário. Não gostavam de pensar na possibilidade.
- /Receio que teremos que recorrer a uma medida de urgência que há muito não usávamos./- tomou coragem antes de dizer o que devia dizer. A tensão na sala estava elevada ao máximo todos prendiam a respiração a espera das suas palavras.-/ Tratamento de Choque./
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Fred e George davam altas gargalhadas enquanto a irmã contava para eles da cerimônia de entrega do prêmio deles há uma semana atrás. Ron se limitava a rir discretamente, enquanto observava a esposa entreter o filho e segurar o riso. Harry observava satisfeito a cena, era bom vê-la sorrir um pouco, ela parecia feliz e despreocupada, fato que o deixava igualmente despreocupado.
Ele havia receado que fosse demais para ela rever tudo que ela já fora um dia, mas pelo visto havia se enganado, ela estava mais enérgica que nunca e ansiava poder sair novamente.
Ela mencionara o seu apartamento, de como havia conseguido rever flahses dela mesma lá dentro, mas não especificou nada sobre as tais lembranças, ele suspeitava que nem mesmo ela soubesse direito o que eram. Seus olhos se iluminavam toda as vezes que ela ouvia ele ou os outros irmãos contar qualquer história sobre ela, e seu coração se apertava de angustia por saber que deveria contar a sua história, a história deles.
Mas um pensamente o continha “É para o bem dela, ela ainda não está pronta.” Repetia isso com rigor para si mesmo como justificativa e apenas sorria. Suas noites no hotel eram mais conturbadas e seus sonhos menos tranqüilo por causa daquela omissão, mas nada com o qual ele não pudesse lidar.
Então a porta de abriu chamando a atenção de todos.
A curandeira fez sua entrada no quarto, com um sorriso feliz embora sua expressão fosse de fadiga e cansaço.
- /Seleena!/- exclamou Ginny, apresentando um bonito sorriso no rosto, feliz em ver a mulher.
- /Vejo que seu humor foi da água par ao vinho depois que saiu do hospital./- ela constatou ainda com aquele sorriso no rosto.
- / Foi maravilhoso! Não vejo a hora de sair novamente./
Os outros se olhavam com aquela expressão de dúvida no rosto enquanto as duas algaraviavam em Russo, já estavam acostumados então simplesmente desviaram a atenção e começaram a falar entre si.
- /E então como está se sentindo?/
- /Estou perfeitamente saudável e todos os curandeiros daqui sabem disso./
- /Nenhuma queda de pressão, nenhuma tontura?/
Ginny balançou a cabeça negativamente.
- /Nada./
- /Teve outros flashes de memória?/- continuou a curandeira.
- /Infelizmente não, mas tenho certeza de que se me deixarem saber mais sobre mim mesma .../- ela disse com a voz firme.
- /Você realmente deseja sair não é mesmo?/
- /Sem ofensas Seleena, mas eu preciso resgatar a minha vida, principalmente agora que provei pela primeira vez um pouquinho do que eu costumava ser. Simplesmente não posso parar agora. E não dá para fazer isso internada aqui./- disse Ginny segurando as mãos da outra, ela estava sendo sincera.
- /Bom, então eu creio que sou portadora de uma boa notícia./- ela falou com seu sorriso se alargando
- /Diga, vai coroar o meu dia./
Seleena parou para observar o rosto da ruiva, ela estava realmente alegre, e sentiu-se feliz por vê-la assim, não seria fácil para ela viver uma vida sem memórias. Ela sempre gostara da Raposa, ela vez ou outra aparecia no hospital com alguém do grupo, sempre por perto quando qualquer um dos amigos precisava. Alegre e esperta, era verdadeiramente uma Raposa.
- /O conselho de curandeiros do Hospital acaba de decidir que você deve receber alta./
Silêncio.
Apenas os murmúrios dos seus amigos eram ouvidos, e assim até mesmo estes se calaram ao perceber a imobilidade da ruiva. Notaram que algo estava acontecendo.
Então tão de repente como a noticia havia sido dada a reação de Ginny se transformou, ela abriu a boca em um enorme sorriso e gritou de felicidade. Então todos sorriram junto com ela sem entender o motivo de tanta felicidade, mas era impossível não ser contagiante.
- Ginny...? O que...?- mas ela não deixou com que Harry terminasse a frase, atirou-se no seu pescoço, ainda gritando e rindo.
Todos no recinto a olhavam admirados e um pouco confusos.
Ginny sentia como se o mundo fosse mais cor-de-rosa que nunca, havia simplesmente algo explodindo em sua barriga, uma sensação saltitante e potente tomava conta dela. E seu sorriso parecia ser indestrutível. O tempo todo que passar no hospital tudo que mais desejara era sair de lá, não sabia porque mas não gostava de hospitais, sentia-se presa, engaiolada. E principalmente agora.
Ela iria tomar novamente as rédeas da sua vida. Ela voltaria a ser Ginny Weasley, que custasse o quanto fosse, ela iria recobrar o que o destino havia lhe roubado, tudo que havia construído durante toda a sua vida: as suas memórias.
- Ginny! Pare um instante ok?- disse Rony.
- O que está acontecendo?- perguntou Mark olhando para a tia.
- O que a curandeira disse Ginny?- perguntou Harry ruborizado pela reação tão calorosa dela.
- Ta legal, nós entendemos que você está feliz, agora que tal dividir o motivo? – sugeriu George.
Então Hermione abriu a boca em espanto como se tivesse compreendido, e pouco a pouco tornou-se em um sorriso tão grande quando o da ruiva.
- Oh Merlin! Ginny não diga que você recebeu alta?!
Todos então acenderam sorrisos luminosos em seus rostos a espera de uma confirmação.
Ela acenou positivamente com a cabeça incapaz de falar.
- Ahhhh! Espere só até mamãe saber disso!- exclamou Rony.
- Então temos oficialmente licença para corromper a nossa irmãzinha em uma vida de diversão e irresponsabilidade?- perguntou George gargalhando.
Ginny não resistiu a essa frase e já gargalhava junto com o irmão, enquanto Hermione a abraçava a apertado.
- Fantástico!- disse Fred sem palavras.
Harry sentia sua garganta fechada, não conseguia articular frases tudo que tinha em sua mente era o pensamento de que teriam a velha Ginny de volta! Por segundos ele parecia estar em completo transe. Até que Mark chegou perto dele e lhe puxou as vestes pedindo atenção.
Harry olhou para ele.
- Tio Harry a tia Ginny vai finalmente poder sair do hospital para sempre então?
Um sorriso emocionado se formou no rosto dele e as orbes verdes pareciam ofuscar naquela avalanche de felicidade. Ele pegou o menino no colo e com um sorriso maior ainda respondeu à pergunta que ele mesmo se fizera desde que a vira deitada na cama do hospital pela primeira vez.
- Sim.
O menino sorriu e correu a até a tia que era rodeada pelos outros em uma confusão de risos e olhos brilhantes.
- Tia então você já pode voltar para casa.- ele disse para ela sorrindo.
O sorriso desvaneceu-se em seu rosto. Como explicaria isso a eles?
Hermione e Harry se entreolharam ninguém havia previsto aquela situação, mas todos sabiam que ela chegaria, e o sorriso apagou-se dos lábios dele assim como dos da ruiva.
- Claro que pode Mark, espere só até contarmos a sua vó, ela vai querer que peguemos todos a primeira chave de portal para a Inglaterra. – disse Rony alegremente ao filho como se fosse uma frase tão obvia.
Ginny abaixou os olhos e logo todos perceberam.
- Ginny...?- perguntou Hermione.
Então ela levantou os olhos decidida, mas ainda assim pesarosa por saber que magoaria eles.
- Não voltarei à Inglaterra.
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Seleena havia saído discretamente assim que viu que a faísca de felicidade havia se alastrado pelo quarto com o poder da notícia dada. Agora ela teria que conversar com Jack, e ela não estava nem um pouco ansiosa para ser a portadora daquela segunda notícia. Não conseguia deixar de sentir pena do auror, pelo que estava prestes a propor à ele.
Tratamento de choque, era uma técnica muito arriscada usada em casos de intoxicação mágica, seria um processo doloroso e demorado, no qual o paciente não poderia ter nenhum contato com o meio externo, isso incluía visitas, estas seriam restritas apenas aos Curandeiros e enfermeiras. A duração total era um semana, uma longa e torturante semana, durante a qual ela e os outros Curandeiros trabalhariam o seu máximo em todas as maneiras possíveis para livrá-lo, dos resquícios da poção que o havia intoxicado. Não soava tão terrível quanto na verdade era.
Seleena havia realizado este processo três vezes na vida, e desejara nunca mais ter que ouvir os gemidos sofridos, ou olhar nem que de relance para as faces distorcidas pela agonia era de fato uma visão aterrorizante. A curandeira sentiu um arrepio percorrer suas costas e terminar na sua nuca quando tocou a maçaneta da porta, havia chegado a hora.
Ela torceu a maçaneta devagar e ouviu o rangido seco da porta, enquanto sentia as atenções do quarto voltarem-se para ela, tentou forjar um sorriso, mas lhe parecia algo impossível, desumano.
- /Oi Seleena, a que devo o prazer da sua ilustre visita?/- disse Jack com um sorriso charmoso de sempre.
Ele provavelmente já havia aguçado os seus outro sentidos, era impressionante a capacidade de reconhecimento, a maioria demoraria anos para desenvolvê-la, mas ela tinha o palpite de que o treinamento na academia dos aurores deveria tê-lo favorecido um pouco.
- /Oi Tigre./- ela respondeu seca.- /Oi Antony/- ela cumprimentou o outro que estava no quarto.
- /Nossa Seleena, você parece que viu um fantasma./- comentou Antony inocentemente.
O silêncio se estabeleceu no recinto, e ela sentiu como se fosse comprimida entre duas paredes, e sentiu uma ligeira falta de ar. Novamente tentou um sorriso, que foi mal sucedido não chegando a manifestar sequer um tremor em seu lábios rígidos.
Ela reparou, que ambos parecia ter percebido: ela não era portadora de boas notícias.
- /Rapazes, eu não venho trazendo informações exatamente agradáveis./- ela disse hesitante e insegura.
- /O que pode ser mais desagradável que ficar cego?/- perguntou o Tigre irônico.
- /Cala a boca sua anta ela está falando sério./
Ela olhou nos olhos sem vida do Tigre, e sentiu uma pontada gelada no peito, ele iria se sair bem, ele era forte, o Tigre iria se sair bem, ele tinha que se sair bem... Os olhos de Antony circundados por profundas olheiras de cansaço, sem o irmão ele estava trabalho em dobro, e ela sabia que ele não estava conseguindo dormir direito, durante as poucas folgas que tinha pois o mais novo dos irmãos Malfoy havia ido lhe pedir uma leve poção do sono pois lhe faltavam os ingredientes necessários no sue estoque particular. Ele sabia o que ela estava prestes a dizer. Ela sabia que ele sabia.
- /O conselho de curandeiros do hospital se reuniu para falar sobre o seu caso , que vem apresentando pouquíssimo progresso, e concluímos que a causa disso é a intoxicação mágica causada pela overdose de poção que você ingeriu durante sua missão./
- /Por favor diga-me algo que eu não saiba./- replicou ele.
Ela suspirou.
- /Temos uma opção para sugerir, que pode melhorar definitivamente o seu estado, e aumentar a as chances de você voltar a ver. Um tratamento de choque, o processo de desintoxicação mágica./
Silêncio.
Antony estremeceu. O Tigre congelou.
- /Não é uma garantia de que você voltará a ver, mas as chances de sua visão voltar irão aumentar./- ela terminou encarando o paciente, seus olhos
estavam vazios, e ela sentiu-se muito cansada, como se tivesse visto passar séculos e séculos... - /A decisão é sua./
O silêncio pesou novamente.
Depois do que se pareceram anos, a sua voz soou forte na sala imaculadamente morta.
- /Prepare a sala de desintoxicação, eu aceito a sugestão./
Antony olhou para ele como se estivesse vendo um absurdo ser concretizado.
- /Não!/- o irmão exclamou.- /Você enlouqueceu? Não, Seleena o Tigre não vai entrar em Tratamento de choque!/
- /Cala a boca Pirralho!/- ele disse, sua voz soando dura como concreto.
- /Jack!/- Antony replicou como se houvesse sido ferido. - /Não aja como leigo, não finja que não sabe como se dá um processo de tratamento deste porte!/
- /Eu tenho pleno conhecimento dos métodos, de todo o processo, Antony./- ele assegurou ao irmão.
- /E por que diabos está fazendo isso?/
- /Se esta é a minha única chance de ter esperanças em voltar a enxergar, então assim será./
- /Não vale a pena! Não há sequer uma garantia de que você volte realmente a enxergar!/
- /Se há outra tentativa ela deve ser aproveitada. Eu devo começar o tratamento o quanto antes./- ele falou fazendo o irmão perder as palavras diante do peso das suas.
Antony sentia como se algo muito grande obstruísse a passagem de ar na sua garganta, e um gosto amargo envenenou sua boca. Tentou falar, duas ou quem sabe três vezes, mas as palavras foram estranguladas no caminho da boca que abria e fechava procurando os sons de protesto que deveriam estar se apresentando.
Seleena desviou os olhos quando Antony os procurou com os seus já devastados, ela deveria ser imparcial, esta era uma decisão a ser tomada pelo paciente, ou alguém que fosse responsável por ele. Uma decisão que parecia já ter sido tomada.
Deixou o quarto ouvindo o barulho seco dos seus próprios passos no chão de madeira que nunca lhe parecer tão alto, tão incômodo.
- /Você não vai fazer isso Tigre!/- disse Antony com a voz estrangulada.
- /Antony pare com isso./- ele falou sentando-se na cama e sentindo seus músculos tensos.
- /Eu vou falar com a mamãe, ela não permitir que você se degenere em uma cama deste hospital./
O Tigre se levantou trôpego e andou em linha reta até onde seu irmão estava, pousou ambas as mãos nos ombros caídos do mesmo e disse com a voz sem vida.
- /Você não vai contar à mamãe./
- /Claro que vou! Como você acha que vai fazer isso sem que ela saiba? E depois, parece que só ela vai ser capaz de trazer a sanidade de volta para a sua mente./
O mais velho suspirou.
- /Antony, eu sei o que estou fazendo, e confie, sei que não é nenhum paraíso, mas atualmente a maioria do que antes era o céu para mim agora é tão escuro quanto o inferno. Sei que no que estou me metendo é absolutamente um inferno de todas as maneiras, e acredite essa decisão exigiu mais do que eu jamais esperei de mim. Mas se esse é o necessário, então será feito. Creio que chegou a hora, agora que os anjos se tornaram demônios e estes quebraram suas asas./
- /Você não pode estar falando serio... /
- /Até a última célula./
- /E quando a Raposa souber, os outros, a mamãe?! O que acha que eles vão sentir?/
- /Nem eu nem ninguém irá contar a eles até que eu esteja sendo tratado./- ele disse com firmeza.
Antony encarou os olhos mórbidos a procura de qualquer brilho que fosse lá dentro, mas só viu escuridão. Ele sempre confiara no irmão, e até agora Jack nunca lhe falhara, ele devia saber de seus próprios demônios. Mais uma vez ele deveria confiar nele.
Abraçou-o.
Ainda era capaz de sentir sua garganta obstruída pelo desespero corrente e o medo que insuflava as suas artérias. Medo pelo irmão.
- Ginny você deveria pensar melhor!
- Rony eu já prometi pensar sobre isso.
- Então?
- Eu posso primeiro sair deste hospital?
- Você está praticamente fora dele.
Tinha sido desta forma durante todo aquele dia, por dentro ela exultava com a notícia de que estava sendo libertada daquelas paredes tão terrivelmente conhecidas. Mas a sua família a queria de volta as suas raízes, e ela não queria voltar. Seu coração ficava apertado com aquele pensamento, e seu irmão não estava exatamente ajudando-a.
- Rony deixe a sua irmã em paz. – disse Harry.
Ela olhou para ele agradecida, mas ele não lhe devolveu o olhar.
Provavelmente ele também estaria magoado pelas suas palavras que negavam a Inglaterra, ela simplesmente sentia que precisava reconhecer aquele lugar, vasculhar todos os cantos da sua cidade, que não era sua por nascimento, mas... Ela só não sabia como explicar. E ainda assim uma sombra pairava sobre ir para a Inglaterra, ela sabia que se fosse encontraria fragmentos que sua mente repudiava no momento, e ela tinha medo. No momento era o que mais à assustava.
Desde que essa sugestão veio a tona, de um possível retorno a Inglaterra, era como se uma luz irritante ficasse piscando em sua mente alertando perigo. Havia alguma coisa lá que ela fizera questão de esquecer, ela só não sabia o que. Sentia curiosidade sobre o que poderia ser, mas a sensação que lhe acometia quando tentava forçar a frágil memória lhe causava vertigens, e não era agradável, seu coração apertava, e ela temia cada vez pelo que quer que fosse.
- Ginny nós vamos voltar semana que vem, temos apenas um semana e meia ou algo assim, já que ainda estão tentando conseguir uma chave de portal, pois a rede de flu está congestionada.
Era hora de deixa aquilo bem claro. A ruiva parou de arrumar as malas, e deixou aquele encargo para Hermione que continuava a lutar com uma mala que lhe parecia particularmente pequena para a quantidade de pertences de Ginny.
- Rony, eu sinto muito, mas quanto a isso eu não mudei o que havia decidido antes, eu não estou indo para a Inglaterra próxima semana, nem na semana seguinte à próxima semana, nem na outra, nem este mês, e nem no seguinte.- ela disse sentindo um aperto no coração ao dizer isso e observar a decepção nos rostos a sua frente.
- Como assim?!- exclamo Jorge franzindo o cenho.
- E papai e mamãe? Eles estão esperando por você, por todos nós!- completou Fred.
- Bom, eles terão que desculpar a minha ausência. Pela primeira vez, em o que me parecem séculos eu saí deste hospital e encontrei o que eu suponho que seja minha vida, visitei, o lugar onde eu moro, o lugar onde eu trabalho, fui homenageada por algo que nem sequer me lembro de ter feito, conheci pessoas que já me conheciam desde sempre... Eu olho as ruas, os lugares que me disseram que eu era acostumada a freqüentar, eu perdi tudo isso, perdi todas as minhas histórias, a história de tudo que me rodeia... Eu gostaria muito de fazê-los entender, mas me parece impossível, o fato é: eu tenho que ficar, tenho que encontrar a verdade que está escondida aqui em algum lugar, e é preciso começar por aqui, exatamente aqui. Preciso ao menos tentar. Durante todo por do sol eu me pergunto quantas milhões de vezes eu já devo ter visto a mesma vista, e eu não lembro sequer de uma. Preciso descobrir porque eu gostava tanto deste lugar, porque a cidade me acolhe, o que fez-me escolher este lugar para morar, porque a neve me agrada, porque eu levava a vida que eu levava, porque quis ser auror para este ministério; tenho que descobrir o que me agrada e me desagrada em cada canto, o que eu gosto e não gosto, qual o
meu restaurante preferido, e qual o caminho que eu pegava para vir para casa do trabalho. Preciso reconstruir toda a minha vida, e de onde é melhor começar se não do fim, do ponto mais recente? Não posso começar do início, está muito distante.- ela sorriu delicadamente embora os traços tristes estivessem presentes em seu rosto. – Eu irei à Inglaterra, isso é algo certo, afinal também preciso conhecer o início de tudo, o lugar onde nasci , a escola onde passei os melhores anos da vida de alguém, ver cada local, checar cada história que vocês me contaram, conhecer a minha terra natal. Isso é também muito importante para mim, e será feito, mas no seu tempo, quando chegar a hora, eu estarei lá. Mas não agora, agora eu preciso estar aqui.
Ela terminou de falar e o silêncio varreu a sala, de repente Ginny Weasley sentiu-se cansada, muito cansada, sua garganta seca, suas pernas formigavam, como se houvesse se passado anos, sentia-se décadas mais velha, e o ar entrava com dificuldade em seus pulmões. Sentia-se muito desconfortável, mas finalmente havia dito.
- Nós iremos compreender suas razões para ficar Ginny, agora ou mais tarde. – Hermione quebrou o silêncio olhando de relance para o marido ao falar – Realmente queríamos muito tê-la conosco, mas se você não pretende ir conosco agora, não será um problema. Gostaríamos de poder ficar, mas como você temos que guiar nossas próprias vidas- ela acrescentou com um sorriso.- Apenas vá nos visitar qualquer dia tudo bem?
Ginny sorriu de volta grata pela sensatez da amiga.
- Eu irei.
-Bom se é isso que você acha melhor...- disse Fred.
- Aceitamos sua decisão.- disse Rony, parecendo bastante desapontado.
- Se realmente se sente assim, acho que é o melhor que tem a fazer.- concluiu Jorge a contra gosto.
Ela olhou para Harry a espera de palavras que a fizessem sentir-se menos culpada, ela via a tristeza nele, e apenas sentiu-se pior, sentia-se renegando-o.
Ele entendeu o chamado visual que ela lhe lançara.
- Acho que já sabia da sua resposta, mas não pode culpar a nenhum de nós por ter esperança...
- Não fale assim Harry...- ela disse.
- Sempre soube Ginny, seu lugar é aqui, você vai descobrir isso.
Ele estava sendo totalmente honesto, os olhos esmeralda não mentiam, ela sorriu feliz com suas palavras. Ele amou vê-la sorrindo.
- Como você disse eu irei descobrir. Agora, eu preciso ir ver o Jack, devo crer que ele também foi libertado.- disse sorridente.
Assim que ganhou o corredor, o próprio ar do local parecia diferente, até mesmo este carregava uma alegria intensa, e o barulho dos seus passos era incrivelmente sonoro a seus ouvidos. O sorriso alcançava as orelhas quando ela nem sequer bateu à porta apenas entrou no recinto.
Seu sorriso ainda se mantinha no rosto quanto ela avistou o quarto completamente vazio e imaculado como se ninguém nunca houvesse pisado naquelas imediações. Então a medida que o riso se desvanecia em seus lábios ela notou uma figura solitária no centro do quarto encarando a janela aberta de costa para ela.
- /Antony?/- ela o chamou hesitante.
Ele se virou com uma expressão mortificada em seu rosto e certa relutância. Será que Jack já havia ido embora do hospital sem sequer falar com ela? Talvez tivesse sido chamado urgentemente, mas para que? Pela cara de Antony ela não esperava boas notícias.
- /Antony para onde foi o Jack? Ele já foi para casa?/- perguntou sem conseguir evitar ficar nervosa.
- /Não./- ele disse simplesmente parecendo tenso.
- /Ele não teve alta?/
- /Não./- ele repetiu franzindo de leve as sobrancelhas.
- /Então onde ele está? Por que não está aqui? Por que você está aqui sozinho?/- não havia mais sorriso.
- /Teve que trocar de quarto./
- /Onde ele está agora? Preciso vê-lo, achei que ele havia recebido alta como eu. Seleena falou que os curandeiros concordaram que minha memória iria progredir mais se eu entrasse em contato com as coisas, lugares, e tudo que costumava fazer antes. Vamos até o novo quarto dele? Preciso saber com ele está. Aliás, porque a troca de aposentos?/
Antony parecia desconfortável, e ela sentiu um leve frio na barriga.
- /Não creio que vá poder vê-lo, Raposa. Não creio que nenhum de nós vá poder vê-lo por algum tempo./
Jack já estava na sala onde ficaria esta semana a uma sala de tratamento de choque.
Finos tubos transparentes saiam de suas narinas, outros mais finos ainda, tanto quanto fios de cabelo saiam de seus pulsos, assim como de todas as suas articulações e em baixo de suas unhas. Seu cabelo havia sido cortado um pouco e alguns destes fios também penetravam em seu coro cabeludo. Vestia um colete de titânio enfeitiçado com um feitiço anti-quebra, que segundo Seleena era para evitar que a magia que o infectava saísse por outros lugares que não fossem os capilares, caso contrário suas costelas seria quebradas devido à pressão e duas garras metálicas mantinham seus olhos abertos para que algum líquido que lhe parecia ardia ácido pingasse.
Seleena estava regulando os vários equipamentos antes de ligá-los de fato. Ela ainda sentia pela decisão do seu paciente e o frio no seu estômago ainda á torturava.
Ele ainda teve tempo para perguntar uma última coisa.
- /Como está a Raposa?/
Seleena sorriu.
- /Está feliz, eu dei alta a ela hoje. Ela já pode deixar o hospital./
Com um aceno de sua varinha a curandeira ligou os equipamentos e uma dor agudar tomou conta de suas articulações.
Nota da beta: Gente, a Anny pediu pra eu escrever uma nota para vocês. É que ela ta sem computador(de novo), pra ela responder as reviews eu tive que falar o que vocês escreveram por telefone hehehe. Mas não se preocupem, é porque ela tava se mudando e ainda tem que instalar o pc de novo. Mas sim, ela pede milhooooes de desculpas pela demora, ela tava fazendo intercâmbio de um mês no Canadá e não tinha como escrever lá. Ah, ela pediu pra eu dizer que ela sentiu saudades de todos vocês.
Beijões, até a próxima..
Capitam :)
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