Capítulo 2




Capítulo 2

Are you missing something

Looking for something

Tired of everything

Searching and struggling

Are you worried about it

Do you wanna talk about it

Oh you're gonna get it right some time

Os corredores nunca pareceram tão longos quanto naquele momento, sentiu cinco ou sete vezes que esbarrava em algo, mas ele não estava realmente prestando atenção, os braços já não estavam como sempre, estendidos em frente ao corpo prevendo o caminho que havia pela frente, jaziam esquecidos assim como qualquer outra parte do corpo. Sua mente martelava o mesmo pensamento cada vez mais alto, “A Raposa acordou!”, e ele impunha um ritmo mais frenético às suas pernas o que superava o usual receio de bater em algo que estivesse a sua frente.

Uma mão tentou agarrar o seu ombro, conter a sua corrida desenfreada para uma direção qualquer que lhe levaria a ela, mas ele não permitiu, não sabia quem era e nem se interessava em saber. Ouvia os gritos que estavam cada vez mais perto:

- /Tigre, espere! Pare! Cuidado, Tigre você não pode.../- mas aquela sensação inquietante, na qual ele havia estado imerso durante todo aquele tempo o impelia cada vez mais para frente, cada vez mais para ela.

Sentiu o impacto de um corpo contra o seu, um gemido de dor, perdeu o equilíbrio e sentiu desequilibrar-se, seus pés agora trôpegos lutavam para permanecer na mesma direção mas parecia além de sua capacidade. Sentiu outra colisão e uma exclamação de dor, então logo em seguida outra colisão causou uma dor agora atingiu os seus cotovelos e joelhos. Tentou se levantar do chão de soalho do hospital o mais rápido que pôde.

Estava tonto e desorientado, não sabia mais em que direção seguir, mais do que nunca sentiu raiva por não conseguir enxergar nada, para todo lado que se virava deparava-se com a mesma cruel escuridão. Tateava ao seu redor, sentindo os móveis que pareciam estranhos ao seu toque, passada a mão por cima das superfícies em desespero varrendo tudo de cima, então encontrou a parede. Era ali, o corredor dobrava ali, e se estivesse na direção certa encontraria mais algumas escadas, outro corredor algumas portas, outro corredor uma janela e portas...

Esse era o caminho pelo que ele se lembrava. Duas mãos fortes o impediram de continuar barrando seu caminho o empurrando para trás pelos ombros.

- /Calma Tigre, espere um minuto.../- falou Andrei

- /Onde você está indo Sr.Malfoy/- ele ouviu uma voz não familiar, provavelmente de outro curandeiro.

- /Você está bem?/- disse Antony que logo os alcançara.

-/Me soltem!/- gritou Jack, tentando se livrar de todos ao seu redor, ele precisava achá-la! Seu coração ainda acelerado o fazia ofegar com o esforço e o frio dos corredores açoitou a sua pele. - /Saiam da frente todos vocês!/

- /Sr. Malfoy o senhor precisa voltar para a sua cama.../- tentou o curandeiro, sua voz soando serena.

- /Não!/

-/Tigre, acalme-se!/- disse Antony ainda ofegante em um tom alto.

- /Tigre, fique calmo, a gente vai levar você lá, ta legal?/- disse Andrei segurando os eu braço.

Aquela proposta o fez diminuir os esforços para se livrar deles.

- / Os senhores não podem entrar ainda do quarto da Srta. Weasley, ela acabou de recuperar a consciência, não seria prudente de nossa parte.../ - começou o curandeiro, mas foi rudemente interrompido por Antony.

- /Escute aqui, o que quer que ela tenha, não é problema, nós somos amigos dela ok?!/

- /Ainda assim Senhores, ela está em observação, não seria prudente perturbá-la.../

-/Não vamos pertubá-la!/- disse Antony já ficando irritado!

-/Ainda assim senhores receio que não será possível.../

- /O senhor não está entendendo não é?! Nós precisamos vê-la!/- disse Andrei perdendo a paciência também.O escândalo dos quatro já começava a atrair a atenção dos curandeiros que passavam de uma lado para o outro.

- /Não insistam senhores, não posso permitir que invadam o.../

- /Me dá isso aqui!/- disse Jack tirando a varinha do bolso de Antony, e no momento seguinte.- /Estupefaça!/- o curandeiro jazia desacordado no chão a alguns metros de distância.

- /Merlin Tigre, não precisava.../

- /Cala a boca Pirralho, vamos logo!/- ele disse, então os três seguiram a passos rápidos o restante do corredor,

As escadas não demoraram a serem alcançadas, e Jack as desceu com alguns tropeços, mas nada que ele estivesse ligando, queria desesperadamente poder tocá-la, ouvir a sua voz alegre de novo, sentir o cheiro adocicado que se desprendia de sua pele branca. Precisava dela de tal maneira que a ansiedade transformava o ar ao seu redor rarefeito, escasso. Os degraus pareciam infinitos, e cada segundo uma, longa eternidade.

Deu graças a Merlin quando seus pés sentiram o chão plano novamente, e não o traiçoeiro relevo dos mil e um degraus daquela maldita escadaria. Deu alguns passos então os três param novamente ao ouvir uma voz conhecida.

-/Deveria ter imaginado quem era o paciente exaltado e violento./- disse Seleena vindo na direção dos mesmos.

- /Seleena! Graças a Merlin você apareceu./- disse Antony.

-/Sei porque estão aqui, é a Raposa não é?/- ela disse com firmeza.

-/Como ela está?!/- perguntou de imediato o Tigre.

-/Bem./- disse ela em uma voz receosa, a qual o Jack não deixou de notar.

- /Bom então iremos vê-la./- disse Andrei de forma conclusiva se apressando na direção de onde a curandeira viera.

- /Não Andrei, nenhum de vocês pode entrar lá./- ela falou rapidamente.

- /Como assim Seleena, você nos conhece, não faremos nada de mal a ela!/- disse Jack saindo de si, qual era o problema de todos aqueles curandeiros infelizes?! Porque ele não poderiam simplesmente entrar e falar com ela, ele poderia apostar um braço como faria bem a ela, ela provavelmente ficaria feliz em rever os amigos! Qualquer um ficaria feliz em reencontrar os amigos em saber que estava fora daquele maldito deserto de gelo no qual estivera perdida junto a ele!

Ele pensava tudo isso, tentando ignorar a parte de sua mente que se perguntava qual seria a reação dela quando o visse e soubesse da sua nova condição, pois isso provocava uma dorzinha latejante no peito, e lhe trazia sensações não muito agradáveis.

- /Você tem razão eu os conheço, mas ainda assim não podem visitá-la agora, e por favor, não insistam./-ela falou com um tom ainda receoso e hesitante na voz, como se soubesse de algo que eles não tinham conhecimento

- /Qual é o problema em nós visitarmos ela Seleena?/- perguntou Antony indignado com toda aquela situação, ele pensara que ao menos Seleena os daria razão e não tentaria impedi-los de encontrar a Raposa, que por ela os conhecer pudesse deixá-los entrar com a certeza de que não fariam mal algum a ruiva. Afinal eles eram amigos dela!

- /Ela não está bem não é?/- perguntou o Tigre como quem já sabe o que vem pela frente.

- /Ela está/- apressou-se ela em responder - /Não se preocupem a sua Raposa esta fisicamente bem./- ela disse dando certa entonação ao termo ‘fisicamente’ que passou despercebida aos ouvidos de Antony e Andrei, mas não de Jack.

- /Então qual é...?/- tentava novamente Andrei e Antony em couro, ambos soando extremamente frustrados.

- /Escutem aqui os três, vocês são aurores, não medibruxos ou curandeiros, ou qualquer tipo de especialista que possa ser considerado uma autoridade na área de saúde, gostaria que parasse de insistir agredir e estuporar os outros funcionários. Parem de insistir em vê-la por agora ok? Se não acreditaram nos outros acreditem em mim, vocês também me conhecem, a Raposa está em observação, aceitem isso, ninguém pode entrar lá a não ser com minha permissão. E eu sei que não seria prudente deixá-los entrar para vê-la agora, basta saber que ela está bem, está se recuperando e se tudo continuar assim vocês poderão vê-la amanhã pela manhã, eu prometo./- ela disse sendo rigorosa com eles.

-/Mas... Seleena.../

- /Sem exceções Tigre, o senhor faria bem em voltar a seus aposentos e não tentar piorar o seu estado, ou esqueceu que também, é meu paciente e deve seguir as minhas instruções?!/

- /Eu não.../

- /Antony, para o bem do seu irmão, leve-o daqui de volta para onde ele deveria estar. Andrei você é responsável pelos dois.

- /Eu...? Mas eu também não enten... Tudo bem./- disse ele resignando-se sob o olhar severo da mulher não mais velha que ele logo à sua frente

-/ E se souber que tentaram outra vez, vou precisar sedá-lo Tigre./- ela falou virando-se e continuando seu caminho em outra direção enquanto os três ficaram parados e desanimados no corredor. Mas uma dúvida ainda fazia sombra na cabeça do Tigre, Seleena sabia de algo que eles não sabiam, e ela estava tentando esconder isto deles, afinal não havia razão para que não pudessem ao menos chegar perto dela, ou falar com ela calmamente.

Isso não deixou sua mente descansar durante todo o resto do dia e da noite. Uma sensação ruim martelava em sua mente se disseminando lentamente pelo corpo, e persistindo mesmo quando ele tentava afirmar para si mesmo que estava enganado, que era apenas impressão sua, que a Raposa estava bem, que logo pela manhã todos poderiam ir visitá-la inclusive ele, e que Seleena não os deixara entrar por algum estúpido motivo de ética.

Mas era impossível uma pontinha da sua mente não o deixava se convencer disto.

Theres so much to be scared of

And not much to make sense of

Are you running in a circle

You can't be too careful

And you can't relate it

'Cos it's complicated

Oh you're gonna get it right some time

You're gonna get it right some time

Seu sono durante toda a noite foi incerto, dormia e acordava a cada sete minutes, Antony e Andrei dormiam os dois em um sofá-cama ao lado, mas o Tigre nunca havia achado tão difícil dormir. Meia noite em ponto Beatrice entrou no quarto pisando macio para não acordar ninguém, mas ele já estava acordado; era um horário um tanto incomum para visitas, mas ele não estava se importando muito com isso, na verdade não estava se importando muito com nada que não envolvesse a ruiva.

- /Boa noite Bea./- ele falou para que ela parasse de se esforçar.

- /Como você sabia que era eu?/- ela perguntou com um toque de admiração na voz.

-/Quando a pessoa fica cega, ela passa a prestar mais atenção ainda no som dos passos das pessoas, se você estivesse no meu lugar você teria percebido que o barulho de seus passos é totalmente diferente do barulho dos passos destes dois ai./- ele disse indicando os dois deitados embalados em um sono mais que pesado.

-/Estou vendo que aproveitou bem a parte do nosso treinamento na qual aguçávamos a audição, lembra?/-ela falou se aproximando da cama onde ele estava deitado.

- /Lembro perfeitamente bem, como se fosse ontem, se antes já era muito útil, agora então é essencial./- ele falou com um meio sorriso escondido pela penumbra na qual o quarto estava mergulhado o quarto.

-/Ainda acordado a esta hora, você já deve saber das notícias, não é?/- ela falou ainda controlando o tom de voz para que não acordasse os dois.

- /Você está se referindo à Raposa ter acordado?/- ele perguntou virando a cabeça para o outro lado, de forma que ela não pudesse encará-lo.

-/Sim, eu estava falando disso, vê como as coisas estão se ajeitando, se não voltar a ser como antes, vai ser melhor ainda. Agora vocês dois estão juntos, mal posso esperar para contar aos outros./- ela falou entusiasmada e com um sorriso enorme dominando suas feições. Bea estava só alegria, e por algum motivo que ela não conseguiu entender o Tigre não compartilhava da mesma alegria que ela, sabia que algo o perturbava, só não sabia o que.

-/Não comente nada com eles agora Bea./- disse o Tigre se virando de imediato para onde ele sabia estar ela.

-/Por quê?/

-/Não sei se ainda estamos juntos realmente./ - ele respondeu sem emoção.

-/É aquilo de novo não é?/- ela disse desfazendo o sorriso.

- /É/- ele respondeu seco. - /Como eu posso saber como ela vai reagir ao saber de tudo o que aconteceu, isto é se ela ainda não souber, se Seleena não tiver dito a ela./

- /Tigre, eu já disse,tenho certeza que a Raposa não vai se importar com o fato de você está temporariamente cego./- ela disse em tom de insistência.

-/Você diz isso, mas não se sabe realmente se algum dia eu vou voltar a ver um palmo a frente do nariz./- ele falou com a mesma usual angustia na voz.

-/Você vai Tigre, sabe por quê? Porque agora ela está aqui ao seu lado, agora ela está com você assim como você duvidou que fosse acontecer, e ela assim como nós, vai lutar por você. Exatamente assim como eu já estou fazendo agora./- ela falou ao mesmo tempo que seus olhos estavam marejados novamente.

- /Obrigado, Bea./- ele falou sinceramente, com um fiapo de voz.

-/Podemos não saber como ela vai reagir, mas afinal quem sabe não é? Só nos resta tentar, e de qualquer forma você não é um homem que desiste fácil não é?/- ela falou sorridente para ele, mesmo que seus olhos ainda estivessem carregados.

-/ Não sou?/

- /Não, não é. Afinal quantos anos você esteve lutando por ela? Quanto foi o tempo que vocês foram amigos e foram como sempre o Tigre e a Raposa...?/

-/Não lembro direito, mas pensando agora, faz um bom tempo.../- ele disse sorrindo ao se lembrar de algumas das muitas vezes que riram juntos quando ele dissera que ainda conseguiria conquistar ela. Muitas foram as vezes que ele a provocou, e ela sorria, muitos ataques de ciúme, muitas discussões, muitas reconciliações, muitas tentativas, muitas escapatórias, mas afinal de contas fora isso que o atraíra nela não fora? O fato de ela ser a única que nunca cedera às suas inúmeras tentativas... Mas ele não desistira.

- /É você tem razão, acho que eu não sou um homem que desiste fácil. /- ele falou com um sorriso pálido nos lábios.

- /Na verdade eu sempre achei curioso o fato de você sempre conseguir o que quer, de uma forma ou de outra./- ela falou passando a mão pelo rosto dele.

- /O que eu posso fazer... Eu sou um Malfoy, e um Malfoy sempre tem o que quer, mesmo que dê um pouco de trabalho./- ele falou com um meio sorriso, que era exatamente igual ao que costumava dar quando estavam todos juntos sorrindo de alguma coisa em algum barzinho por perto se divertindo.

Beatrice não comentou, mas aquele sorriso ascendeu uma chama morna em seu peito, o Jack Malfoy ali deitado naquela cama característica de hospitais com lençóis de linho branco pareceu finalmente ter voltado a ser o antigo Tigre por alguns instantes.

Finalmente o Tigre estava pronto para encontrar a Raposa.

It's how you see the world

How many times can you see

You can't believe what you learn

Quando o sono foi rudemente quebrado pelos raios pálidos de sol que penetravam pelas frestas das cortinas, Andrei e Antony, acordaram lentamente e preguiçosos como sempre, Jack agora imune a claridade que invadia o local pouco a pouco continuava ressonando com Beatrice que sentara na cama e descansava a cabeça no ombro do Tigre, adormecida com as costas apoiadas na cama que tinha a cabeceira reclinável para se adaptar a vontade do paciente.

Então Antony pode ouvir o barulho da porta brindo e fechando, isso o ajudou consideravelmente a fica mais lúcido. Havia sido uma noite terrível, principalmente porque Andrei se mexia sem parar. Olhou lentamente em direção a porta e então viu um loiro com incríveis olheiras escuras, mas com um sorriso alegre que era sempre presente, já característico dele. Leo acabara de entrar no quarto.

- /Bom dia bela adormecida./- disse Leo.- /Vejo que dormiu com o seu príncipe./- ele falou apontando para Andrei que ainda tentava agarrar-se aos últimos resquícios de sono.

- /Cala a boca, Leo./- murmurou Antony ainda lerdo de sono. - /Me ajude a acordar os outros./- ele terminou.

- /Opa! Bea me disse que vinha para cá logo que pudesse, e pelo visto a noite foi divertida para todas hein/- ele disse indicando a Beatrice que dormia apoiada ao Tigre.

-/Que? Do que vocês estão falando?/- falou Andrei que levantou o mais rápido que o torpor do sono lhe permitiu.

- /Ah, agora você acorda?!/- provocou Antony.

- /A gente estava comentando como a noite deve ter sido proveitosa. Tanto para você e para Antony como para a Bea, não é?/- provocou Leo

- /Que? Não estou entendendo, que a Bea tem a ver com isso?/- disse ele sentando-se no sofá-cama, passando a mão pelo rosto, os cabelos bagunçados e o rosto ainda inchado de sono.

- /De uma olhada no quarto, não está achando nada de esquisito na cama do Tigre?/- insinuou Antony.

- /Na cama do Tigre...?/- ele disse ainda confuso e lerdo dirigindo seu olhar até a cama onde o moreno já acordava.

- /A essa hora da manhã vocês já estão falando de mim...?Dá um tempo, por Merlin.../- ele disse preguiçoso.

- /Bea?!/- disse Andrei com sérias suspeitas de que sua visão falhava.

-/Bom dia pessoal./- ela disse sonolenta também acordando.

- /Boa noite, isso sim... /- comentou Leo baixinho.

- /Por quê? Não estou entendendo, o sol já está lá fora./- ela disse ajeitando o cabelo que estava um pouco bagunçado.

Leo e Antony sorriram bastante com a confusão, Andrei apenas amarrou a cara e com um aceno da varinha fez o sofá-cama encolher e voltar a ser só um sofá derrubando Antony que ainda estava deitado no chão.

- /Aiii!/- falou Antony agora também irritado. -/Só porque você não passa mais na porta sem abaixar a cabeça, não precisa apelas pra violência.../- falou indignado se levantando.

- /Heeeiiii! Acabou a feira!/- disse o Tigre colocando ordem na confusão.- /Bom dia pra você Leo, chegou durante a noite também?/- ele cumprimentou o outro.

-/Não acabei de chegar, mas como você sabia que era eu?/- ele perguntou desconfiado.

- /Ninguém consegue chegar nesse horário, acordar todo mundo e causar tamanha confusão como você./- ele respondeu sarcástico.

- /Pensei que fosse a voz./

- /Ela contribuiu, eu admito./- disse o Tigre em um tom cético.

- /Bom, mas pelo visto só quem não dormiu bem noite passada foi eu, que passei a noite trabalhando, seu bando de folgados./- falou Leo.

- /A quem você se refere?/- perguntou Bea.

- /Você dormiu com o Tigre, aliás Tigre, você está me impressionando, nem no hospital você se abstém não é? Andrei parece ter arranjado consolo com o Antony, encontrei os dois agarradinhos hoje pela manhã./- disse Leo, alfinetando todos de uma vez.

- /Ah, isso?/- disse o Tigre se referindo a cena dele e Bea. - /Bom o que vocês poderiam esperar de mim, ela é uma mulher fantástica, aliás Andrei você é um cara de sorte./- falou luxurioso.

-/Tigre!/- reclamou Bea corando violentamente, e lhe dando um tapa no ombro.

- /Desculpe querida, você tem razão um cavalheiro não comenta esse tipo de coisa em público, desculpe./- ele disse a ela, e ganhou mais um beliscão doloroso no braço direito.

- /Ele está brincando é claro, gente. O que aconteceu foi que eu fiquei sabendo sobre a Ginny ainda no trabalho não foi Leo? Você estava lá, e assim que meu turno acabou vim direto para o hospital. Admito não era um horário próprio, mas o Tigre ainda estava acordado, então nós conversamos um pouco e eu peguei no sono./- ela explicou-se.

- /Não tinha outro lugar para você dormir?/- perguntou Andrei ainda tentando soar casual, mas deixando uma nota de desgosto evidente na voz.

-/Responda você! Quem estava dormindo com o Antony Folgado Malfoy no único sofá do recinto?/- ela alfinetou irritada.

-/Gente que fofo, estamos presenciando a primeira briga do casal!/- disse Leo, jogando lenha na fogueira, e fazendo os dois que já estavam envergonhados piorarem mais ainda.

-/Não briguem, não briguem por minha causa./- disse o Tigre querendo a apaziguar a história, mas sem deixar de acrescentar logo depois -/Não precisa se zangar Andrei, o que ouve entre nós foi apenas uma coisa passageira./

Todos riram um pouco da cara que Andrei fez.

- /Nem doente você se aquieta, Tigre!/- reclamou Andrei, sem achar a mínima graça na brincadeira.

-/Não tenho culpa se você não está dando para o gasto. E quanto a eu estar doente, eu estou cego, mas devo lembra-lhe que outras partes do meu corpo funcionam perfeitamente bem./- ele disse com sorriso maroto.

- /Agora, é claro não podemos deixar o Antony de fora./- começou Leo e completando com uma voz de repórter.-/Antony Castor Malfoy, Andrei está dando para o gasto?/- interrogou Leo.

- /Eu estou muito sem moral mesmo heim...?/- lamentou-se Bea.

-/Leo, vai cagar com o cu pra cima, vai...!/- respondeu Antony mal educado.

Ninguém deixou de rir dá frase, até que a porta se abriu e uma loira de pele muitíssimo branca e olhos claros, vestindo a usual roupa branca que caracteriza a sua profissão. Seleena entrou no quarto:

- /Olha a feira, olha feira!/- ela falou entrando no clima de bagunça que estava o quarto.

-/Desculpe a bagunça Seleena, mas como você está vendo estamos todos reunidos em prol de uma só causa, então acho que você não poderia esperar nada menos que uma bagunça total./- falou Beatrice com um grande sorriso.

- /Realmente não poderia esperar nada menos que a usual bagunça de vocês, mas não sei que milagre foi este que todos conseguiram dormir no hospital com todos vocês por aqui./

- /Ah, isso foi porque Leo só chegou de ainda a pouco./- disse Antony passando parte considerável da culpa para Leo.

- /Ah, sim deveria ter imaginado é claro./- ela falou risonha. - /Mas de qualquer forma não se preocupem ainda, não vim aqui para reclamar do barulho. Eu vim, pois como Beatrice disse, vocês estão todos reunidos aqui em prol de uma só causa, e penso que estou certa em afirmar que esta causa tem o nome Weasley, não?/

- /Sim./- respondeu o Tigre, aquela terrível e silenciosa ansiedade já tomando conta do seu novamente.

-/Então, como sei que todos anseiam por este momento, eu vim informar, a Srta. Weasley está bem, embora ainda um pouco.../- ela pareceu receosa em dizer o que quer que fosse então falou hesitante. - /Entorpecida.../- completou insegura. -/Peço que o senhores por favor, não a cansem muito. /

- /O que você quis dizer com ‘entorpecida’?/- perguntou o Tigre com a expressão sombria no olhar, estava receoso por Ginny com medo do que poderia ter acontecido a ela, de algum modo ele sabia que Seleena não estava sendo de um todo sincera. Pelo visto ele teria que descobrir o que havia de errado sozinho, e estava prestes a fazê-lo. -/Ela está bem, não está?/

- /Está. Venham comigo eu irei levá-los até o os aposentos dela./- ela falou e todos a seguiram sem mais discussões.

Algo parecia ter despertado dentro do estômago do Tigre, algo vivo, que revirava destruindo suas entranhas e lhe dando vertigens, ele tentava se convencer da conversa que tivera com Beatrice, mas algo ainda lhe provocava aquele frio desesperado no estômago. Ele tinha sérias suspeitas de que era a criatura. Mas afinal de contas, ele estava indo ver Ginny Weasley, a sua Ginny Weasley, para ser mais preciso a Raposa!

Porque diabos parecia o adolescente tímido em seu primeiro encontro que nunca fora, para falar a verdade ele nem se lembrava do seu primeiro encontro. Não deveria, não era ele. Quem poderia saber o que aconteceria? Ele se perguntava e sua mente inundada de adrenalina respondia “Ninguém”, como dissera Bea, ele não era um homem que desiste fácil, afinal só faltavam mais algumas escadas e um corredor.

Ainda possuía a lembrança nítida em sua cabeça, do sorriso dela, o cheiro doce que ele suspeitava ser de canela que emanava dos seus cabelos, a pele macia e morna pela qual ele tanto ansiava. Sentia falta do beijo, dos abraços, de tê-la segura entre os braços como sempre acontecia quando a abraçava, sentia falta da sensação que ela causava nele quando estava por perto, do som da sua voz, e do cheiro, ah sim... O cheiro... pensando bem, deveria ser canela, com certeza era canela, talvez um pouco de sândalo, mas definitivamente tinha canela.

Perdido em seus pensamentos e especulações sobre a ruiva, não se deu conta de que haviam chegado em frente a porta do quarto onde a ruiva estava.

It's how you see the world

Don't you worry yourself

You’re not gonna get hurt

Oooohhhhh...

Seleena abriu lentamente a porta para que eles pudessem entrar, e todos hesitantes e inseguros adentraram o cômodo.

- /Srta. Weasley, estes são os seus amigos dos quais eu lhe falei, eles vieram lhe fazer uma visita. Agora vou deixá-los a sós./- foram as únicas palavras de Seleena antes da mesma deixar o recinto.

Como assim “são os seus amigos dos quais eu lhe falei”? Lógico que ela saberiam quem eles eram! Aquela frase soou como um mau presságio aos ouvidos de todos, principalmente do Tigre que começava a sentir como se levasse constantes socos gelados no estômago. Os outros também não entenderam, mas ainda estava extasiados demais com a visão da amiga de novo.

Então o Tigre sentiu alguém pegá-lo pelo braço e o guiar até onde ela estava, era Antony.

Ginny olhava-os indiferente, como se nunca tivesse visto tais pessoas em toda a sua existência, ela sorriu de leve amistosa, e continuou encarando-os com os olhos vazios e com uma expressão questionadora. Era estranho, como se ela estivesse esperando explicações por eles estarem ali, todos perceberam a mudança que havia atuado sobre a ruiva que os olhava diferente.

-/Tem alguma coisa de esquisito nela./- sussurrou Leo para que só eles escutassem franzindo o cenho intrigado.

Jack andava a passos lentos e inseguros, guiados por seu irmão, mas ainda assim conseguia perceber o silêncio pesado que se abatia no lugar, então quando pararam, ele abriu um sorriso leve, ela estava ali ele podia sentir aquele cheiro característico dela... Seu coração acelerou!

- /Raposa?/- ele perguntou hesitante enquanto tocava de leve na cama a sua frente para se situar.

Ela o encarou profundamente, com os olhos castanhos de forma demorada, ele era um homem bonito, alto de pele pálida como a dela, cabelos muito escuros, e olhos incrivelmente azuis, um azul-gelo, cortantes como lâminas, mas que pareciam estranhamente fora de foco. Aqueles olhos, eram tão claros... Possuíam uma tonalidade mesclada de cinza com prateado, ela não saberia dizer realmente, era um azul- gelo prateado, um toque de cinza lá no fundo, por trás, eram lindos, seu estômago se contraiu e ela sentiu uma sensação estranha tomou conta dela. Não sabia identificar o que era. Ela olhou para a Janela lá fora, antes estava nevando, mas agora a neve já não caia mais, os olhos dele lhe lembravam a neve, lembravam a neve caindo em contraste com o céu meio azul meio acinzentado pelas densas nuvens que o nublavam, assim era o céu lá fora.

Quando por fim respondeu:

- /Raposa?/- sem entender o que ele queria dizer com isso, ‘Raposa’ seria um animal?-/Você está se referindo a mim...?/- ela perguntou incerta.

Todos olharam-se espantados, ela não sabia quem era a Raposa? Aproximaram-se da cama, preocupados com a ruiva que estava deitada ali.

- /Estou./- falou o Tigre, incerto. -/Nós sempre a chamamos de Raposa./

- /Sério?/- ela perguntou parecendo espantada, mas corou de leve ao perceber que dissera algo que não devia, pois todos murmuraram entre si intrigados. - /Desculpem, é que é um apelido meio estranho... Sabem, um animal.../- ela riu sem graça.

- /Você está brincando, não é?/- falou Antony esboçando um falso sorriso divertido pronto para rir quando ela abrisse o seu magnífico sorriso e dissesse que sim.

- /Como assim?/- ela perguntou, sem entender a que ele se referia.

- /Nós sempre a chamamos de Raposa, assim como sempre chamamos o meu irmão de Tigre, como o Tigre sempre me chama de Pirralho.../- falou Antony sem entender, porque ela estava agindo daquele jeito.

- /Tigre...?/-ela murmurou confusa. - /Vocês gostam de animais é isso...?/- ela tentou mais uma vez sem entender a onde eles queriam chegar.

Todos olharam-se novamente, alguma coisa estava acontecendo, alguma coisa estava terrivelmente errada.

- /Tigre, sou eu./- falou Jack que sentia algo frio escorrendo pela sua garganta, dificultando a sua fala, e sérias pontadas no peito a medida que a indiferença dela se agravava.

- /Então você é irmão dele.../- ela falou parecendo compreender mais a história. - /É verdade, vocês se parecem bastante, se não fosse pela cor dos cabelos.../- ela constatou com certo entusiasmo como se estivesse satisfeita em entender de quem estavam falando. Todos esperavam que ela finalmente entendesse e parasse de falar coisas sem nexo quando ela falou gentilmente -/Muito prazer, meu nome é Ginny Weasley./

A decepção tornou-se geral, todos se perguntavam o que havia acontecido com a antiga Raposa, porque ela estava se comportando daquela maneira como se não soubesse de nada? Aquela apresentação mesmo que cordial e amigável, fora como gelo descendo pela garganta do Tigre. Ela parecia não se lembrar de nada, nem dele, ou sequer do seu próprio apelido, que virara quase um nome.

- /Nós sabemos quem você é./- falou Andrei inseguro.

- /Ah, é claro, me desculpem. Seleena, a curandeira, disse que vocês eram meus amigos, então claro que saberiam meu nome. Desculpem. Tolice minha./- ela falou sem graça mais uma vez.

-/Você não lembra de nós?/- perguntou o Tigre confuso.

- /Não./- ela disse pesarosa, então todos deixaram escapar leves exclamações de susto pela resposta.

- /Somos seus amigos. Tigre, Pirralho Andrei Leo e Bea! Costumávamos fazer tudo juntos, trabalhamos juntos! Você é minha dupla, ficamos perdidos no gelo...!Você não se lembra de nada disso?/- ele perguntou rapidamente com o desespero vencendo todo o seu auto-controle e seu peito latejando mais forte do que nunca.

Ela pareceu se esforçar e buscar em sua mente qualquer coisa que se ligasse com o que ele acabara de dizer, mas era inútil sua mente simplesmente estava vazia.

- /Na verdade eu não lembro de nada. Nem sequer de quem eu era, ou sou.../- ela falou com o semblante Triste.

- /Mas.../- tentou o Tigre ainda se recusando a aceitar que aquilo estivesse acontecendo.

- /Quando eu acordei, ontem, Seleena me explicou algumas coisas, como o meu nome, e que tenho amigos aqui, mas não entendi muito bem... Então desculpem a minha ignorância com relação a quase tudo Senhores./- ela falou vagamente como um lamento soando um tanto decepcionada.

Pôde ver a decepção nos olhos azuis-prateados, algo tão profundo que chegava a alcançar o cinza lá no fundo dos olhos, por trás do azul, por alguns instantes, ela observou a reação dele, era imprevisível, a não ser pelos olhos, ela via nos olhos dele que ele estava magoado. Uma sensação ruim invadiu o peito dela, não queria que o homem de olhos azul-gelo ficasse triste por causa dela. Sentiu-se inútil ao ver o prateado dos olhos dele se tornar mais opaco. O mesmo acontecia com todos os outros naquele recinto, mas seu olhar estava preso nos olhos dele.

- /Desculpem.../- ela disse mais uma vez, mais para o homem de olhos azuis que para qualquer outro.

Jack, estava sentindo um gosto amargo nos lábios, a decepção envolvia lentamente o seu peito fazendo-o se afogar lentamente dentro do próprio peito. Ela não era a Ginny, não poderia ser a Raposa! A Raposa lembraria, lembraria de tudo, lembraria deles... Aquela não era a Ginny que ele conhecera, a Raposa pela qual ele era inconseqüentemente e inescapavelmente apaixonado. Aquela Raposa estava perdida...

- /Não há do que se desculpar, afinal não é exatamente uma coisa que você escolheu./- disse Leo rompendo o silêncio de perplexidade de todos.

- /De qualquer forma a gente pode se conhecer de novo, não é mesmo?/- completou Bea bondosa, sorrindo gentil para ela, ao observar a sombra de receio que cobria lentamente os olhos da ruiva. -/Muito prazer, meu nome é Beatrice Sorrahtisck./

- /Bea está certa./- comentou Leo. - /afinal cada dia a gente descobre mais coisas dos nossos amigos, e eles mudam o tempo todo, por exemplo hoje eu descobrir que Andrei tinha trocado a Bea pelo Antony, eles já estão até dormindo juntos./- ele falou tentando quebrar o clima tenso que havia se estabelecido, ela já havia perdido todas as memórias que juntara durante a sua vida inteira, não lembrava nem que era, a última coisa que precisava era de um bando de outras pessoas chocadas e lamentando um fato que provavelmente ninguém lamentava tanto quanto ela. – /Muito prazer me chamo Leonardo Jake Matland/

- /Muito prazer Sr. Matland./- ela falou sorrindo.

- /”Sr. Matland”, não. Todos me chamam de Leo./

- /Certo, Leo./- ela falou ainda sorrindo.

-/Por favor, não dê ouvidos a este engraçadinho do Leo./- falou Andrei. - /Ele não sabe o que fala, ele é uma pessoa frustrada, pobre coitado. Vá por mim, ele não é muito certo, eu sou Andrei Tchecovicks./

- /É isso mesmo ouça o nosso sábio amigo Andrei, Leo é uma pessoa frustrada, ele acha que todos são como ele./- falou Antony intervindo na situação.

- /Como eu é?/- perguntou Leo com tom irônico - /Foi eu que dormi com o Andrei no sofá-cama? O Tigre está de testemunha e não me deixa mentir, Andrei tava com a mão na bunda do Antony./- falou Leo arrancando mais risadas do semblante antes vazio dela, que parecia agora se encher de alegria e diversão instantânea.

O Tigre observava ela sorrir compenetrado, tentando de todas as formar enxergar a velha Ginny naquela nova pessoa, enxergar qualquer traço dela, então uma pequena chama se ascendeu no seu peito ao ouvir o sorriso dela, o mesmo barulho. Podia imaginar, os lábios bem delineados se curvando graciosamente para cima, espalhando a sua alegria para quem quer que ousasse fitar eles por tempo suficiente. Ela era a sua Ginny! Tinha que ser! Tinha o mesmo cheiro, a mesma voz, os cabelos tão macios quanto... Não conseguia acreditar que ela não lembrava de nada.

Is there something missing?
There's nobody listening
Are you scared of what you don't know?
Dont wanna end up on your own?
You need conversation
And information

Mas pelo tom que saia de sua voz, e a diversão inusitada ele poderia dizer que algo mudara, talvez a Raposa estivesse perdida dentro de si mesma...

- /Você queria que eu dormisse aonde? No chão? E, bom, eu sei que eu sou irresistível, mas tente se controlar Andrei, eu sou fascinado pelo sexo oposto./- falou Antony virando o jogo.

- /Muito engraçado Antony, o que a Raposa, vai ficar pensando?!/- disse Andrei indignado.

- /Quanto a você não sei, mas quanto a mim, Antony Castor Malfoy, muito prazer; sou totalmente hetero!/- ele falou se apresentando.

- /Ok, Antony... Posso chamá-lo de Antony, não era assim que eu o chamava...?/- ela falou hesitante.

-/Você me chamava de Antony e às vezes de Pirralho.../- ele falou se recordando com um sorriso leve no rosto.

- /Você não se importa?/

- /Não, a Raposa pode me chamar como quiser... /- ele falou piscando um olho maroto para ela e arrancando novos risos dela. - /E esse cara aqui, que hoje por acaso está meio calado, é o meu irmão, a cruz que eu carrego, o Tigre, como você provavelmente já deduziu. Coitado dele, tão feio não é? Essa é a diferença, além do cabelo, eu sou o mais bonito./

- /Você é a cópia barata, isso sim./- falou o Tigre pela primeira vez sorrindo de leve em tom de ironia para o irmão. - /A sobra. Muito prazer, Jack Polux Malfoy, o irmão mais velho do Antony./

- /Muito prazer, Jack./- ela falou para o homem dos olhos azuis- prateado, sorrindo para ele. -/É você a quem todos chamam de Tigre não é?/

- /Exato./- ele confirmou.

- / Pelos que nos falaram somos grandes amigos não é, Tigre...?/- ela perguntou interessada, pronunciando o seu nome como se o saboreasse.

- /Pode-se dizer que sim, nós somos./- ele falou com não conseguindo evitar o leve tom de angústia.

- /Agora que todos nós já nos conhecemos devidamente.../- falou Beatrice, forçando um sorriso no rosto, mas antes que ela pudesse terminar a frase, a porta do quarto se abriu e Seleena adentrou o local.

- /Espero não estar interrompendo nada, mas tenho que advertir que o tempo de vocês acabou, vocês devem ir e deixar Ginny descansar./- ela falou rígida.

- /Mas, Seleena, não tivemos tempo para nada... Ainda estávamos conversando./- argumentou Andrei.

- /É verdade pergunte a ela./- confirmou Leo.

- /Sinto muito, mas vocês devem ir, daqui a pouco ela terá que tomar a medicação. Vamos... /- ela os convidou a se retirar.

- /Não./- falou firmemente o Tigre, ele queria ficar mais algum tempo com ela ouvir a voz dela, mesmo que fossem palavras vazias.

- /Tigre, por favor.../ - ela tentou parecendo cansada.

- /Seleena, não me peça ‘por favor’!/- ele falou indignado - /Você não tem noção de... /- mas ele deixou a frase no ar, antes que liberasse toda a sua frustração ali, no lugar errado.

- /Ta, tudo bem, o Tigre fica mais um pouco, mas apenas se os outros deixarem-na./- ela falou cedendo.

- /Tudo bem, nós vamos, acho que ele tem esse direito.../- falou Beatrice, e todos se despediram da ruiva que continuava deitada e foram saindo um por um até que ela se despediu de todos.

Eles estavam sozinhos no lugar.

- /Quem bom que você conseguiu ficar, odeio ter que ficar aqui olhando para o teto sem fazer nada./- ela falou amistosa encarando-o. - /Sem contar que os remédios são horríveis./

Ele sorriu.

- /Não são só os seus remédios./

- /Você também está internado aqui?/- ela perguntou parecendo um tanto surpresa.

- /Estou sim, não exatamente internado, mas estou sob os cuidados de Seleena./- ele esclareceu.

- /Como nós viemos parar aqui exatamente, Tigre?/- ela perguntou hesitante, e ele sentiu aquela já conhecida sensação gelada na garganta.

- /Bom, nós estávamos em uma missão, e nos perdemos no gelo, felizmente fomos resgatados, pelo meu irmão./- ele falou sem saber direito o que deveria contar.

-/Ah, sim. /- ela falou como quem tenta se lembrar de algo, mas pelo visto desistiu. - /Uma missão, o que exatamente nós fazíamos?/- ela perguntou incerta.

- /Éramos aurores para o ministério russo./

- /Aurores...?/

- /Caçadores de bruxos das Trevas, pode-se assim dizer, é dever dos aurores, resolver este tipo de problemas. Ataques, assassinatos, encontrar os culpados e mandá-los para a prisão./- ele explicou.

- /Parece perigoso.../- ela comentou um tanto quanto assustada.

- /Você adorava o trabalho, dizia que não conseguiria viver sem fazer o que fazia./- ele falou com um sorriso no rosto ao trazer a tona a lembrança dela dizendo isso com um sorriso no rosto e os cabelos se contrastando com a neve que estava ao fundo da janela do seu apartamento.

- /Fazíamos isso em dupla não é?/

- /Exatamente./

- /Costumávamos nos divertir?/

- /Bastante, ainda lembro do seu sorriso como era./- ele falou desviando o rosto, ela sorriu de volta.

- /Meu sorriso está diferente?/- perguntou divertida e duvidosa.

- /Não sei, não consigo vê-lo./- ele falou voltando a cabeça na direção do som da sua voz.

- /Como...?/

- /Estou cego Ginny. Posso te chamar assim não é?/

- /Pode claro./- falou com uma expressão triste no rosto lamentando por ele, então continuou-/Você já era cego, ou...?/

- /Fiquei cego no acidente da missão./- ele falou seco.

- /É reversível?/

- /Dizem que sim./

- /Dizem a mesma coisa da minha memória, que aos poucos talvez eu possa me lembrar, talvez.../- ela falou suspirando cansada.

- /Você vai conseguir, vai ver./- ele falou tentando transmitir toda a confiança que ele não tinha para ela.

- /Porque você diz isso?/ - perguntou para ele, mas a sua voz era indecifrável.

- /Que você vai conseguir? Que você vai lembrar?/

- /É. Porque você acredita nisso se eu nem ao menos lembro quem é você? Porque tem fé que eu possa lembrar?/

As palavras dela, mesmo que não tivessem sido pronunciadas com estas intenções machucaram profundamente o seu peito, foi como um soco no estômago e por alguns instantes ele pareceu ficar sem ar. Ele não queria responder àquela pergunta, não queria admitir...

- /Porque eu acredito em você, sempre acreditei. Eu tenho fé em você./- ele falou com simplicidade, escondendo o riso triste.

Gonna get it right sometimes
You just wanna get it right sometimes

It's how you see the world
How many times have you heard?
You can't believe a word

Ela passou um tempo em silêncio contemplando aquela pessoa que ela havia acabado de conhecer, mas que parecia sentir uma eterna confiança nela.

- /Obrigado./- disse sorrindo e segurando a mão dele agradecida.

Antes que pudesse perceber o Tigre ao sentir o contato da pele morna dela carinhosamente com a sua, retirou a sua mão da dela como se houvesse levado um choque. Não poderia ficar perto dela, não sem sentir o que ele sentia, embora não devesse sentir. Haviam agora tantas coisas que não devia, mas que não conseguia impedir, tantas coisas que precisavam parar, ela não sabia de nada, não sabia quem era. Não era a hora.

- /Desculpe, acho que talvez agora você já esteja cansada e.../- ele tentou apressar-se para ir, e para com toda aquela confusão nevoenta que estava em sua cabeça. Não poderia contar-lhe a verdade, mas ao mesmo tempo não poderia encostar nela sem que se lembrasse de tudo, sem que revivesse... Sem que sentisse vontade de beijá-la e abraçá-la. Mas ele não poderia se esquecer, que aquela não era a antiga Ginny.

- /Não vá, Tigre./- ela pediu delicada. - /Eu não estou cansada./

Ele sorriu em aceitação.

- /Tudo bem Ginny./- ele disse refletindo sobre como o seu apelido soava estranho agora saindo da boca dela.

- /Posso te chamar de Tigre?/

- /Pode, você costumava me chamar assim, a não ser quando estava zangada./

- /Brigávamos muito?/

- /Sim./- ele disse sorrindo. - /Mas geralmente já estávamos bem em dez minutos. Na maioria das vezes você implicava comigo./

- /Eu?/- ela perguntou divertida.

- /Você./- ele afirmou.

- /Eu sou uma pessoa implicante?/

- /É./- falou sorrindo.

- /Acho que você é implicante./- ela falou rebatendo.

- /Não sou não./

- /Me dê um exemplo, porque eu sou implicante?/- ela disse desafiadora.

Ele pensou por um ou dois segundos então respondeu.

- /Sabe, uma enfermeira loira de olhos claros? O nome dela é Nay, você não gosta dela, pura implicância./- ele falou satisfeito.

- /Eu sei quem é, ela veio me dar alguns remédios hoje!/-ela comemorou.- /Ela parece não gostar muito de mim também. Sempre séria, e fala o mínimo possível./

- /Digamos que vocês não se dão muito bem juntas, mas você implica com ela, costumava implicar muito, e conseqüentemente implicava comigo também./

- /Porque eu implicava com ela?/- ela perguntou curiosa com um sorriso travesso no rosto.

Jack hesitou em responder, a Raposa nunca admitira que tinha ciúmes do Tigre, mas isso era antes, talvez não fosse ideal dizer isto a ela agora, poderia gerar outras perguntas as quais ele não estava pronto para responder...

- /Uma longa história, outra hora quem sabe... Você não vai querer saber dela agora./- ele disse esquivando-se, fazendo uma cara de diversão.

- /Não eu quero saber, por que você está com essa cara de criança travessa? Está escondendo algum podre seu, não? Pode ir contando./

- /Não./- ele falou sorrindo, ela continuava com um ótimo senso de percepção.

- /Não é justo Jack, você tem o dever de me contar, você é meu amigo, e eu sabia disso, mas não consigo lembrar.../- ela falou manhosa.

Sentiu uma sensação gostosa no peito quando ela falou que ele era seu amigo.

- /Não adianta tentar ser manhosa, eu conheço suas formas de persuasão./- ele falou divertido.

- /Eles funcionam?/

- /Ás vezes./- ele admitiu.

Ela sorriu para ele, uma pequena chama se acendeu dentro dele ao ouvir aquela risada, era sincera, parecia realmente com a GInny que ele conhecia.

- /Posso te persuadir?/

- /Quem sabe da próxima vez. Agora acho que eu realmente preciso ir./- ele falou.

- /Não./

- /Pretende me manter cativo?/- ele perguntou.

- /Quem sabe da próxima vez./- ela repetiu a sua frase. Ele sorriu. Ela parecia mais que nunca com a Raposa, a mesma perspicácia

- /Tá, tudo bem./

- /Uma última pergunta?/

- /Faça./

- /Porque ‘Raposa’, e ‘Tigre’?/- ela pareceu curiosa.

- /Talvez Seleena não aprove que eu lhe conte isso agora, pois você pode tentar fugir, então não conte que eu lhe disse, você descobriu sozinha, tá ok? E, nem tente fugir é melhor para você./- ele disse tentando não pensar que não tinha nenhuma moral para falar dela.

- / Vou pensar no seu caso./- ela falou - /Tô brincando não vou fugir, fala./

- /Você é uma animaga, e pode se transformar em uma Raposa, e bom, no nosso trabalho isso é bem útil. Você ficou com o apelido depois de algumas proezas suas nessa forma. /- ele falou rindo ao se lembrar. - / O mesmo pode–se dizer de mim. Eu me transformo em um Tigre./

- / Ah, sim... Entendo, já estou me acostumando./

- /Quem bom, agora acho melhor eu ir ou Seleena não me deixa vê-la novamente./- ele falou gentil.

- /Ela não pode fazer isso!/- ela falou horrorizada, sem perceber que ele estava exagerando.

- /Sim, ela pode, mas não vou deixar que ela faça fique tranqüila, eu voltou aqui a amanhã tudo bem?/- ele falou rindo dela.

- /Tudo, venha de manhã, a manhã aqui é horrível, é quando a enfermeira vem e dar os remédios./- ela falou. -/Você e os outros, e tentem ficar mais tempo, tenho que me acostumar com os meus amigos./

Ele sorriu da parte da enfermeira, e disse:

- /Certo, vou tentar./

- /Adorei te conhecer./- ele falou.

- /Eu sempre te adorei./- ele falou desviando de leve o rosto, e tentando evitar o tom seco que insistia em invadir a sua voz. - /Sempre gostei de você, todos nós./

Percebeu que ela estava sorrindo, e antes que qualquer um dos dois pudesse dizer qualquer coisa, a porta do quarto se abriu de supetão e um homem entrou, parecendo desesperado e ansioso. Ele tinha cabelos extremamente pretos e olhos muito verdes.

- Ginny você está bem?- ele perguntou em inglês assim que os curandeiros e medibruxos entraram tentando de forma tardia conter a invasão ao quarto da paciente.

O Tigre reconheceu a voz depois de algum tempo, não conseguia vê-los mas a voz era conhecida, e não tinha boas impressões sobre ela.

- Você?!- disse Jack com desprezo e incredulidade.

- O que você faz aqui...?- o homem se virou e falou para Jack enquanto os curandeiros tentavam tirá-lo do quarto.

O Tigre não podia acreditar que aquele homem estava ali, ele ainda perseguia ela?

Harry Potter acabara de invadir o quarto.

It's how you see the world
Don't you worry yourself
'Cos nobody can learn

Oooooh
Oooooh
Ooooooooh

That's how you see the world
That's how you see the world

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