Um encontro inesperado
Quando o redemoinho de luzes e o vento finalmente cessaram, Harry sentiu que seu corpo estava sendo expelido para trás como se fosse uma bala de canhão. O impulso foi tão forte, que o fez rolar pelo chão de encontro a parede, e pelos vários baques surdos que chegaram a seus ouvidos, a mesma coisa parecia ter acontecido com os outros. Durante a queda, seus óculos foram arremessados longe e ainda com a vista turva e a cabeça zunindo, Harry sacou a varinha de dentro do bolso e murmurou um feitiço convocatorio.
― Accio óculos!
No mesmo momento, os óculos de Harry vieram como um raio em sua direção, e o garoto colocou-os de volta no rosto enquanto se sentava no chão frio da torre. Aparentemente, eles estavam na mesma sala redonda e sem janelas, no entanto, quando levantou os olhos, ele pode ver que ao lado do pedestal estavam paradas quatro pessoas que lhe pareciam estranhamente familiares.
Uma bruxa gorducha e sardenta com os cabelos louros trançados sob a nuca e usando um vestido amarelo berrante, ria como uma criança e cochichava alguma coisa com o cavaleiro que estava ao seu lado. Era um homem musculoso e com um ar muito severo, com os cabelos vermelhos, a barba muito espessa e uma cicatriz prateada embaixo do olho direito. O homem se vestia exatamente como um guerreiro medieval, com grandes botas de couro, uma longa espada adornada com pedras preciosas presa a cintura e uma pesada malha de metal sobre os ombros. Ao seu lado, uma bruxa muito esguia e delicada sorria para ele, e Harry não pode deixar de imaginar onde já tinha visto aquele rosto. Sua pele era branca como o mármore, seus cabelos eram de um castanho muito claro, e os olhos de um verde tão vivo que quase brilhavam na escuridão da sala. Seu vestido era azul celeste, e criava um contraste interessante com o homem que estava a seu lado esquerdo. Este era alto e imponente, seus cabelos eram negros como o breu e seus olhos muito azuis. Harry pensou que devia se tratar de alguém muito importante, pois ele vestia uma túnica de veludo preto muito bem cortada, usava calça e botas de couro de dragão e um anel de prata com uma grande pedra verde.
Harry ainda tentava incessantemente se lembrar de onde conhecia aquelas pessoas quando ouviu uma voz familiar vinda do outro lado da sala.
― De onde diabos vocês saíram?
Pelo tom, Harry não teve a menor dúvida de que o dono daquela voz era Draco, que parecia tão aturdido quanto os outros com toda aquela situação.
― A pergunta certa, meu rapaz, não é “de onde nós saímos” – disse a bruxa gorducha sorrindo amavelmente – e sim, “onde vocês entraram”. Nós estivemos aqui o tempo todo, vocês é que acabam de chegar.
Vendo a incredulidade e a confusão estampadas no rosto de cada um deles, a mulher do vestido azul pousou a mão delicadamente no ombro da outra e disse:
― Na verdade Helga, pouco importa se nós saímos ou se eles entraram. A única coisa que importa é que nossas preces foram ouvidas e os enviados finalmente chegaram para nos socorrer.
Nesse momento, o homem de vestes negras deu um passo a frente, e analisando Neville da cabeça aos pés, disse em tom fatalista:
― Se eu fosse você não ficaria tão animada, Rowena. Olhe só para eles, não passam de crianças.
― Contenha-se, Salazar – disse o homem de cabelos ruivos – Eles também não são exatamente o que eu esperava, mas não cabe a nós julgar a sabedoria dos Valar.
Repentinamente, Hermione ficou de pé e disse com ar muito sério:
― Vocês querem por favor parar de falar como se nós não estivéssemos aqui. Será que nem passou pela cabeça de vocês nos explicar o que está acontecendo?
Os quatro pareciam escandalizados com tamanha petulância, e o homem de vestes pretas já se preparava para protestar, quando a dama de azul deu um passo a frente, encarando Hermione nos olhos e disse:
― Ela está coberta de razão. Nós os esperamos durante tanto tempo e agora que eles finalmente chegaram nós os tratamos como se eles não estivessem aqui. Queiram perdoar nossos maus modos, e sintam-se a vontade para perguntar tudo o que quiserem saber.
Mal a mulher terminou de falar, os sete começaram a despejar sobre ela uma infinidade de perguntas:
― Onde nós estamos? – gritou Harry.
― Quem são vocês? – perguntou Rony.
― Eu quebrei sua bacia? – gemeu Neville desanimado.
― O que vocês esperam da gente? – indagou Hermione.
― O Dumbledore sabe que vocês estão aqui? – perguntou Anne.
― Como a gente faz pra voltar pra casa? – disse Gina.
― Alguém pode me dizer o caminho para o toalete? Minhas mãos estão imundas! – resmungou Draco.
Certamente esse não era o tipo de pergunta que eles esperavam, mas a mulher de azul mostrou-se mais uma vez paciente e disse com serenidade.
― Vocês estão na fortaleza de Isengard, a sede do conselho dos Bruxos e o ponto estratégico do movimento de resistência. Eu sou Rowena Ravenclaw, e estes são Godric Gryffindor, Helga Hufflepuff e Salazar Slytherin. Nós somos os lideres do conselho, e os encarregados de esperar por vocês.
― Espera um pouquinho aí – disse Rony – então vocês são os...
― Os líderes do conselho dos bruxos! – disse Hermione fazendo um sinal para que o garoto se calasse – Agora vê se fica quieto e não interrompe, Rony.
― Como eu ia dizendo – prosseguiu Rowena - vocês chegaram até aqui através desta bacia, um objeto de poder muito antigo que foi transformado em uma chave de portal tão poderosa que é capaz de fazer viagens tanto no tempo quanto no espaço.
― E ela certamente não esta quebrada! – acrescentou Helga olhando para Neville carinhosamente.
Rowena, sorriu para a companheira e continuou sua explicação.
― Esta bacia a muitos séculos atrás foi o Espelho de Galadriel, um artefato precioso, onde uma das mais poderosas Senhoras élficas via o passado, o presente e o futuro. No entanto, depois que o povo élfico abandonou estas terras, ninguém nunca mais foi capaz de operar o espelho mágico. Depois de transformado em chave de portal, ele foi colocado nesta torre seguindo as determinações da profecia, que dizia que quando todas as esperanças estivessem perdidas, os Valar enviariam seus campeões para lutar ao lado dos homens contra as forças das trevas. E é exatamente isso que nós esperamos de vocês: que vocês procurem pelos Valar e salvem o mundo e todas as criaturas que existem nele.
―Só isso! – exclamou Draco em tom irônico – Não quer que agente aproveite para comprar o jornal no caminho?
Rowena pareceu confusa com a pergunta, e depois de um suspiro profundo, que revelava uma mistura de alivio, irritação e cansaço, continuou dizendo:
― Infelizmente, eu não faço idéia do que seja um jornal, ou de quem seja este senhor que você chama de Dumbledore, mas se ele é um bruxo e se luta ao nosso lado, certamente sabe que nós estamos aqui. Quanto a forma através da qual vocês retornarão ao seu próprio tempo, eu sinto não poder ajudar... acho que só os Valar podem responder esta pergunta. Agora, venham comigo. Eu vou leva-los até os aposentos da Torre principal, onde vocês poderão se lavar, descansar da viagem e colocar roupas mais apropriadas.
― E eu vou até a cozinha imediatamente ordenar que um banquete seja preparado – disse Helga batendo palmas de excitação enquanto saia da sala.
― Não liguem para ela – disse Slytherin com um ar de deboche que lembrava muito o de Draco – O mundo como nós conhecemos está prestes a desabar e ela só sabe pensar em comida!
― É a maneira dela de se sentir útil, Salazar, e você sabe muito bem disso – disse Rowena fazendo um gesto para que eles a seguissem.
― E é melhor a Helga não te ouvir dizer que ela só pensa em comida, ou ela nunca mais vai fazer aquela torta de rins que você tanto gosta – acrescentou Godric em tom de pilheria enquanto eles deixavam a sala da Torre e começavam a atravessar mais uma vez o corredor escuro.
Os três pareciam muito entretidos discutindo as habilidades culinárias de Helga Hufflepuff, e acabaram deixando para trás os garotos. E assim que teve certeza de que não seria ouvido, Draco disse entre dentes.
― Que maravilha! Quer dizer que até hoje nós temos torta de rins todos os dias no almoço só por que a fundadora da Lufa Lufa tinha uma queda pelo fundador da Sonserina. Aquela porcaria é nojenta...
― Então você também acha que esses quatro são os fundadores de Hogwarts? – perguntou Rony inquieto.
― É claro que eles são os fundadores de Hogwarts, Weasley – disse Draco secamente – Quem você queria que eles fossem? As renas do Papai Noel?
Rony estava prestes a iniciar mais uma discussão quando Hermione interveio.
― Todos nós percebemos que eles são os fundadores de Hogwarts, Rony, mas pelo visto eles ainda não sabem disso. No terceiro ano – disse a garota tentando não mencionar o vira-tempo na frente de Draco, Gina, Anne e Neville - a professora McGonagall me explicou que a linha do tempo é muito frágil, e qualquer alteração, por menor que ela seja, pode criar uma grande confusão. É muito perigoso deixar que as pessoas saibam do seu futuro antes dele acontecer, ou elas podem mudá-lo completamente.
― O que ela está querendo dizer – acrescentou Draco - é que se você continuar abrindo essa sua boca enorme, existe uma grande possibilidade da gente voltar pro nosso tempo e descobrir que Hogwarts nunca foi fundada, ou que eles resolveram funda-la na Patagônia.
Rony abriu a boca para responder com um insulto, mas achou que àquela altura dos acontecimentos, se sentia confuso e cansado demais para empenhar suas energias em mais uma discussão. Em vez disso, colocou as mãos bem fundo no bolso, e passou a observar tudo o que estava ao seu redor. O corredor era muito parecido com aquele por onde eles tinham chegado a torre, mas desta vez não foi preciso utilizar as varinhas para iluminá-lo, pois uma fileira de archotes de cada lado fornecia uma luminosidade fraca e bruxuleante que davam ao ambiente um ar sinistro. Ao final do corredor, existia uma grande sala, com escadas que subiam e desciam em muitas direções, e milhares de janelas rodeavam o lugar. Certamente estavam em Hogwarts, mas os quadros engraçados, bem como as armaduras enferrujadas ainda não faziam parte do mobiliário. Por toda parte era possível ver lanças e escudos pendendo das paredes, e enormes tapeçarias mostravam cenas de duelos mágicos, e homens em armaduras engajados em batalhas até a morte. A luz penetrava pelas belas janelas de vitral colorido, e por uma delas Rony pode ver o lago perene onde se erguia a Torre do espelho, a floresta densa e assustadora que se estendia ao longo do lago, e os destroços do que parecia ter sido, a muito tempo atrás, uma enorme muralha de pedra.
Por alguns minutos, o grupo subiu e desceu escadas em silêncio, seguindo Rowena por corredores desconhecidos e ante-salas ornamentadas de diversas formas, até que a bruxa parou subitamente diante de uma porta de madeira maciça, sólida e antiga, onde um mestre entalhador habilidoso havia esculpido em baixo-relevo a figura de uma fada delicada como uma bailarina.
― Este é o aposento das moças – disse Rowena abrindo a porta – E aquele é o aposento dos rapazes.
A outra porta indicada por ela ficava do lado oposto do corredor, e era muito parecida com a primeira, exceto pelo fato de que nesta, a figura de um centauro tinha sido esculpida no lugar da fada.
― Descansem o quanto puderem e preparem-se para o banquete. Acho que vocês encontrarão roupas adequadas nos armários – disse ela olhando-os de cima a baixo - Daqui a algumas horas enviarei um criado para conduzi-los ao salão.
Dizendo isso, Rowena os cumprimentou com um aceno rápido de cabeça e se adiantou em direção ao corredor por onde tinham acabado de passar.
***
O aposento destinado as meninas era grande e um pouco empoeirado, e na parede em frente a porta, três camas com dossel e cortinas de brocado vermelho ocupavam boa parte do espaço. Na lareira, um fogo triste e morno crepitava, e Gina se atirou sobre o tapete de pele quentinho que se estendia diante dela. A menina olhou em torno do quarto, e viu Hermione inspecionar o banheiro com curiosidade enquanto Anne se dirigia às portas duplas envidraçadas que davam para um balcão.
Tudo parecia um pouco irreal, e Gina, mesmo estando mais do que acostumada com as coisas fantásticas que a magia pode fazer, se sentia como se tivesse sido engolida por um daqueles contos de fadas que agradam até as crianças trouxas. No lugar em que se encontravam, não seria de todo estranho se Anne repentinamente lançasse tranças gigantescas por sobre a murada do balcão para que um príncipe galante chegasse até a torre, ou que Hermione subitamente encontrasse uma roca e um fuso e caísse adormecida depois de picar o dedo. Gina riu para si mesma, pois não pode deixar de imaginar Rony entrando no quarto com a espada em punho e usando um chapéu cheio de plumas azuis para resgatar a “Hermione adormecida”.
Mesmo sem saber ao certo o que os esperava, Gina estava começando a achar maravilhoso estar em um lugar como aquele, e por quase meia hora ela permaneceu estendida diante da lareira imaginando quantos animais fantásticos e heróis de armadura brilhante existiriam além dos limites do castelo. Com sorte, ela mesma poderia viver um conto de fadas...
― O que diabos você pensa que está fazendo, Ginevra Weasley? – murmurou a garota para si mesma – Você acabou de ser arrastada para um tempo desconhecido no meio do que parece ser uma guerra terrível e ainda tem a audácia de sonhar acordada!
Um pouco menos animada - o que para a ocasião era incrivelmente sensato – Gina levantou-se do tapete de pele, e se dirigiu a uma pequena penteadeira que se encontrava no fundo do quarto. O móvel era delicadamente entalhado e uma toalha bordada, uma jarra com água e uma bacia rasa encontrava-se sobre ele. A garota derramou um pouco de água fresca e translúcida na bacia, e com ela lavou o rosto e a nuca para despertar definitivamente do devaneio. Era bom sentir o contato com a água gelada. Na verdade, era bom sentir qualquer coisa que a lembrasse que tudo aquilo não era um sonho, e que por isso era preciso manter-se atenta.
Decidida a não sonhar mais, Gina secou o rosto na toalha bordada e se dirigiu a um grande armário de madeira escura que se encontrava a um canto. Assim como a porta e a mesinha, todo o móvel era graciosamente ornamentado com entalhes, e as dobradiças e aldravas eram feitas de bronze polido, que parecia estar presente em todo o mobiliário do castelo. Gina abriu as duas portas de uma só vez, e seu espanto foi tamanho que acabou chamando a atenção das outras duas meninas, fazendo com que elas se aproximassem rapidamente.
― O que foi, Gina? – perguntou Hermione preocupada – Aconteceu alguma coisa?
― Não – respondeu ela saindo da frente do armário para que as duas pudessem olhar seu interior – Mas acho que eu acabei de descobrir o que a Rowena quis dizer quando nos disse que encontraríamos roupas adequadas.
No interior do armário, havia uma quantidade enorme de vestidos, de todas as cores e tamanhos que se pudesse imaginar. Todos eram feitos de tecidos nobres, e adornados com fitas e bordados delicados, e as meninas, depois de se entreolharem com cumplicidade, desataram a experimentar cada um deles. Gina e Hermione vestiam tudo o que lhes caia nas mãos, mas Anne parecia decidida a experimentar apenas os vestidos pretos.
Em pouco tempo, Anne havia trocado os jeans surrados, o casaco esportivo e a camisa preta das Esquisitonas, por um lindo vestido de veludo preto com as mangas enfeitadas com um fino rendado da mesma cor. As botas ao estilo militar também tinham sido substituídas por um par de sapatilhas leves que eram espantosamente quentes e confortáveis. Gina, por sua vez, trocou a minissaia e a camiseta cor-de-rosa por um vestido branco feito em tecido esvoaçante, que fazia seus cabelos ruivos brilharem como uma chama viva. Já Hermione, decidiu substituir o jeans e o moletom por um bonito vestido azul com bordados prateados que lembrava um céu estrelado.
― Fantástico – disse Anne desanimadamente – parece que vamos ter que salvar o mundo usando anáguas.
― Não seja estraga prazeres – respondeu Gina rodopiando diante do espelho e esquecendo-se completamente da promessa de não sonhar acordada – Já que estamos aqui, não faz mal nenhum a gente se divertir um pouco.
― Acho melhor você não se animar tanto, Gina – disse Hermione sentando-se em uma das camas de dossel – Você ouviu o que os fundadores disseram na torre? Nós estamos no meio de uma guerra e eles acreditam, sabe-se lá porque, que nós fomos enviados até aqui para tomar parte nessa loucura. Vocês não acham isso muito estranho?
Gina mais uma vez envergonhou-se por estar feliz com aquela situação, e repreendeu-se mentalmente por tamanha infantilidade.
― Você está certa – disse Gina sem contudo conseguir conter o entusiasmo da própria voz – Nós poderíamos sair em uma pequena aventura para bisbilhotar pelo castelo. Quem sabe a gente não encontra um jeito de voltar para casa? Por onde vocês acham que nós devemos começar?
― Que tal nós começarmos tentando parar de agir feito criança? – disse Anne olhando para a garota de forma reprovadora.
Gina sentiu-se corar violentamente e Hermione voltou-se para Anne assustada. Por um instante as duas podiam jurar que a expressão da garota tinha se tornado ainda mais pesada do que de costume.
― Você não precisa falar com ela desta maneira – disse Hermione pondo-se de pé – Todos nós sabemos que a situação é complicada e até mesmo perigosa. A Gina só se distraiu por um instante com o clima do castelo...
― Não, Hermione, pelo visto vocês não sabem de nada – disse Anne exasperadamente – Vocês só pensam que sabem! Esta não é apenas uma situação complicada ou perigosa, nós estamos no meio de uma guerra, e em uma guerra as pessoas morrem quando se distraem, mesmo que seja apenas por um minuto.
Anne fez uma longa pausa olhando fixamente para o chão, e a atmosfera do quarto tinha se tornado tão pesada que parecia oprimi-las. Enquanto Gina e Hermione olhavam para a garota tentando decifrar seus pensamentos, Anne encarou-as mais uma vez e disse quase que num sussurro:
― Eu só quero que vocês tomem cuidado e se mantenham atentas. Em momentos com esses qualquer descuido é suficiente para que alguém se machuque.
Dizendo isso, a garota rumou para a porta de entrada, e já estava praticamente do lado de fora quando Gina perguntou:
― Onde você está indo?
― Vou caminhar um pouco – respondeu Anne – Acho que eu preciso de um pouco de ar puro pra colocar as idéias no lugar.
― Mas e o banquete? – acrescentou Hermione.
― Eu acho o caminho de volta – respondeu ela com um meio sorriso enquanto fechava a porta do quarto.
Hermione e Gina ficaram em silêncio durante alguns instantes pensando sobre as coisas que Anne tinha acabado de dizer, e no momento em que os passos da garota se perderam no longo corredor de pedra, Gina respirou profundamente e disse:
― Ela tem razão. Eu preciso deixar de agir como uma criança deslumbrada...
― Não seja tão dura com você mesma – respondeu Hermione segurando com carinho a mão da amiga – Eu sei que a situação é complicada, mas acho que tem mais alguma coisa preocupando a Anne... Lembra que você me disse que achava ela esquisita?
― Você também achou, não é? – disse Gina olhando para a amiga com cumplicidade – Ela vive calada e distante como se estivesse pensando em alguma coisa, e ao mesmo tempo, eu tenho a sensação de que ela não relaxa um minuto... é como se ela estivesse esperando ser atacada a qualquer minuto, ou coisa parecida.
― Foi exatamente o que eu pensei – respondeu Hermione – Mas talvez seja só nervosismo. Acho que cada pessoa lida de forma diferente com o estresse, e esse deve ser o jeito dela.
― Talvez – respondeu Gina fazendo uma pequena pausa – E como será que os garotos estão lidando com o estresse lá no outro quarto?
― Eu realmente gostaria de saber – retrucou Hermione sorrindo – Principalmente como eles estão lidando com as roupas de época...
***
Do outro lado do corredor, os ânimos também estavam exaltados e a descoberta das roupas só piorou o estado de espírito dos garotos. Depois de muitos protestos e muxoxos, os quatro finalmente se aprontaram para o jantar, e todos usavam calças e botas de couro de dragão, que mesmo não sendo lá muito confortáveis, conferiam a eles um ar destemido. Draco parecia ser o mais conformado de todos com a nova indumentária, e em pouco tempo escolheu uma túnica preta com um grande brasão cor de vinho. Rony, trocou o jeans e a camisa dos Cannons por uma túnica de linho branca com detalhes em vermelho vivo e Harry vestiu uma túnica de veludo verde musgo que combinava com seus olhos. Neville por sua vez, vestia uma túnica púrpura muito comprida, que seria parecidíssima com um camisolão, não fosse o cinto de prata que a prendia em sua cintura, e enquanto os outros conversavam, o garoto saltitava em um pé só pelo quarto tentando calçar a pesada bota de couro de dragão.
― Tudo bem – disse Rony inspecionando a própria imagem no espelho – Nada pode ser pior do que minhas vestes a rigor. Pelo menos essa daqui não tem babados.
― Eu ainda não estou acreditando que eles nos fizeram vestir isso! – exclamou Harry atirando-se na cama mais próxima.
― Acho que é tudo parte do plano deles – sussurrou Rony como se as paredes pudessem ouvi-lo – Eles só estão tentando desviar nossa atenção com essa história de banquete e roupas de época.
― E o que você acha que eles estão planejando? – perguntou Neville com tamanho nervosismo que quase caiu sentado no chão enquanto amarrava os cadarços da bota.
― Isso é o que nós temos que descobrir – disse Rony muito seriamente – Mas tenho certeza de que não deve ser coisa boa. Vocês ouviram o que a fundadora da Corvinal falou sobre salvar o mundo e lutar contra as forças das trevas?
― Tem razão – balbuciou Neville – Minha avó sempre me disse pra nunca confiar em quem fala sobre as forças das trevas...
Neste momento, Draco, que alinhava milimétricamente o cinturão de prata sobre a túnica diante do espelho, voltou-se para Neville e disse em tom de escárnio:
― Você é mesmo patético, Longbottom! Se o simples fato de uma pessoa falar sobre as forças das trevas, fosse suficiente para desconfiar dela, você não poderia mais falar com nenhum dos alunos de Hogwarts, já que a matéria sobre defesa contra as artes das trevas é obrigatória.
― Cale a boca, Malfoy! – exclamou Rony – Ninguém pediu sua opinião.
― Mil desculpas, Weasley – respondeu Draco desdenhosamente – Eu sinceramente não queria atrapalhar a sua investigação... tenho certeza de que em muito pouco tempo você e o Longbottom vão finalmente descobrir que tudo isso não passa de um plano maligno dos fundadores para nos obrigar a comer tortas de rim pelo resto da eternidade!
― Eu até que gosto de tortas de rim! – disse Neville defensivamente.
― Por que será que isso não me surpreende? – respondeu Draco com um de seus sorrisos enviesados.
― Será que dá pra vocês se controlarem um instante? – interrompeu Harry – Eu não espero que vocês virem melhores amigos de uma hora para outra, mas seria bom se nós pudéssemos manter um nível suportável de convivência, pelo menos até a gente descobrir o que os fundadores estão querendo e o que nós vamos fazer para escapar dessa enrascada.
― Ótimo! – exclamou Draco – As respostas para as suas duas perguntas são tão ridiculamente óbvias que nós já podemos voltar a insultar uns aos outros.
― Já que elas são tão óbvias – disse Harry em tom de desafio – Por que você não as responde?
― Com prazer – respondeu Draco encarando Harry – Primeiro: os fundadores querem que nós façamos exatamente o que eles disseram que querem que nós façamos. Segundo: nós escapamos dessa enrascada, simplesmente não escapando dessa enrascada. Satisfeito?
Pela forma como Harry, Rony e Neville se entreolharam, todos três pareciam ter deixado de entender a explicação no “com prazer”, e deixando a má vontade de lado por um minuto, Draco achou melhor realmente explicar o que estava pensando.
― Tudo bem, Potter – disse ele – eu vou tentar explicar de uma forma que vocês entendam. Os bruxos com quem estamos lidando, são os próprios fundadores de Hogwarts, por isso eu não vejo motivos para duvidarmos deles. Acho que eles realmente acreditam que nós fomos mandados até aqui para ajudar e que eles não sabem como nós voltaremos para casa. Logo, se os tais Valar de quem eles falaram são os únicos que podem nos mandar de volta, e tudo o que eles querem é que nós procuremos esses caras, eu não vejo outra solução para o nosso problema a não ser continuar metidos nessa enrascada.
― Eu só não entendo o que te faz ter tanta certeza de que eles estão falando a verdade – disse Harry.
― Que tal uma biblioteca cheia de livros que dizem que os fundadores de Hogwarts eram bruxos de confiança? – disse Draco com sarcasmo.
― Nem todos eles – interrompeu Rony – Mas você, como aluno da Sonserina, deve achar o tal de Salazar um verdadeiro modelo de virtude e boas intenções! Quem sabe você não tenha até ajudado a preparar essa armadilha pra gente?!
― Claro, Weasley – zombou Draco – Eu cheguei a conclusão de que a melhor maneira de matar o famoso Harry Potter era entupi-lo de torta de rins feita pela própria Helga Hufflepuff. Na verdade, essa é a regra número um do jovem bruxo das trevas. “ Se você não for capaz de parar o coração de seu adversário com a Avada Kedavra, tente obstruir suas artérias com quantidades extraordinárias de colesterol.”
― Muito engraçadinho, Malfoy – disse Rony dando um passo a frente – Mas já que você é tão inocente, por que não nos diz o que estava indo fazer na biblioteca quando todos os corredores já estavam desertos? Não é muita coincidência aquela escada ter mudado de lugar justamente quando você se meteu na nossa frente?
Draco avaliou a expressão do outro garoto por um momento, como se estivesse ponderando se valia a pena ou não se dar ao trabalho de responder.
― Não é da sua conta o que eu ia fazer na biblioteca – respondeu ele ainda olhando fixamente para Rony – E como vocês parecem completamente desprovidos de raciocínio lógico eu não vou mais perder meu tempo tentando dar explicações. Pode ficar com a sua teoria da conspiração, se isso te faz feliz...
Dizendo isso Draco deu as costas para os três garotos e atravessou o quarto em direção as portas de vidro que davam para o balcão. Do lado de fora uma lua cheia e prateada iluminava o céu cheio de nuvens varridas pelo vento. Draco era imensamente afeito aos grandes espaços abertos, e o súbito encontro com a brisa fria da noite parecia aliviar um pouco da tensão e do sufocamento que ele vinha sentindo desde que tinha encontrado os fundadores na sala da torre. Era extremamente agradável poder fechar os olhos e sentir a brisa fria soprando contra os cabelos, substituindo as asneiras de Rony, os choramingos de Neville e as sugestões idiotas de Harry pelos ruídos tranqüilos da noite do lado de fora.
O rapaz permanecia de olhos fechados e respirava profundamente quando um ruído no campo aberto que se estendia diante do castelo lhe chamou a atenção. Draco abriu os olhos e com a ajuda dos raios de luar, pode distinguir um vulto de mulher caminhando a esmo pelo grande gramado. Suas vestes eram negras como a própria noite, e volteavam em torno de suas pernas a medida que ela caminhava. Os cabelos muito lisos dançavam ao sabor do vento como se fossem um véu que ora revelava, ora escondia o rosto branco como mármore. Subitamente, a figura feminina pareceu se dar conta de que estava sendo observada, e controlando com uma das mãos as mechas de cabelo que chicoteavam seu rosto, virou-se na direção do balcão e encarou Draco por um momento. O vulto era tão sombrio, que a primeira vista o garoto poderia ter pensado se tratar de uma alucinação causada pela escuridão da noite, ou mesmo de um augúrio de morte. Contudo, agora que ela olhava diretamente para ele, não havia a menor duvida de que era Anne quem caminhava pelos jardins. Mas o que estaria ela fazendo sozinha naquele lugar? Seria possível que a garota estivesse se sentindo tão sufocada quanto ele pelas paredes de pedra do castelo? Ou será que o sufocamento que ela sentia tinha origem em seus próprios pensamentos, e não no mundo ao seu redor?
― Quanta petulância a minha – disse Draco para si mesmo – Acreditar que todas as pessoas escondem pensamentos tão soturnos quanto os meus.
Parecendo ter se perguntado exatamente a mesma coisa, Anne deu as costas para o balcão e continuou seu caminho em direção as margens do lago, e a medida que a garota se afastava, Draco começou a se perguntar como aspectos tão dispares como vivacidade e melancolia podiam se justapor daquela forma em uma única pessoa, e como era possível que desta estranha combinação tivesse nascido uma beleza tão entorpecente.
Mesmo depois de Anne ter saído completamente de seu campo de visão, Draco ainda pensava nela. E do jeito que lhe agradava refletir a respeito da essência dos seres humanos e de suas motivações, ele teria permanecido assim por muito tempo, não fosse o súbito ruído da aldrava de metal sendo batida contra a pesada porta de entrada do quarto. Draco adiantou-se para o interior do aposento bem a tempo de ver uma figurinha muito engraçada vestindo o que parecia ser um saco de estopa entrar fazendo uma reverência tão exagerada que seu nariz pontudo quase tocava o chão.
― Muito boa noite, meus senhores – disse o elfo doméstico – Eu sou Butsy, e vim até aqui para guiá-los até o salão do banquete.
― Ótimo – disse Harry levantando da cama com um salto – Não agüento mais esse mistério todo. E minha cabeça já está fervendo de tanto pensar.
― Você tem razão – disse Rony - Vamos chamar as meninas e descobrir de uma vez o que diabos nós estamos fazendo aqui.
O elfo doméstico, ainda se curvando incessantemente, escancarou a grande porta do quarto, fazendo com que os quatro rapazes o seguissem. Do outro lado do corredor estava localizado o quarto destinado às garotas, e Rony adiantou-se batendo com a aldrava de metal contra a porta, e sem ter recebido resposta, gritou para que as meninas se apressassem. Alguns minutos depois, a porta finalmente foi aberta, e Hemione saiu do aposento se desculpando pela demora.
― Desculpe ter feito vocês esperarem – disse ela – Mas essas roupas são um pouco complicadas quando não se está acostumado.
Parado diante dela, Rony se sentia incapaz de dizer qualquer coisa inteligente. O vestido azul marinho lembrava uma céu noturno de primavera, e os fios prateados que ornamentavam o corpete pareciam pequenas estrelas reluzentes. Seu cabelo estava solto e caia em cachos sobre os ombros dando à garota um ar delicado. Rony mal podia manter a boca fechada tamanho era seu deslumbramento com a aparência de Hermione.
― Puxa – gaguejou ele – Você ficou bem diferente com essas roupas...
Hermione corou de leve e sorriu nervosamente.
― Diferente? – perguntou ela – Só diferente?
Harry tinha certeza de que Hermione esperava um elogio um pouco mais elaborado do que simplesmente “diferente”, e estava doido para ver como o amigo ia se sair dessa, quando Gina saiu do quarto. Ela certamente também estava muito “diferente”. Nos últimos meses, Harry tinha começado a reparar que a irmãzinha mais nova de seu melhor amigo tinha crescido bastante desde que ele a resgatara na Câmara Secreta, e freqüentemente o garoto se pegava olhando para ela na sala comunal da Grifinória ou nos corredores do castelo. Não que ele tivesse qualquer tipo de interesse romântico, afinal de contas Gina era como se fosse sua própria irmã, mas Harry tinha que admitir que ela tinha se tornado uma garota muito bonita.
― Você ficou muito bem com esse vestido, Gina – disse Harry em tom casual.
― Obrigado, Harry – respondeu a garota – Você também não está nada mal...
Desta vez foi Harry quem corou, e para mudar o rumo da conversa perguntou:
― A Anne ainda não se trocou?
― Na verdade – respondeu Hermione – Ela foi a primeira a se vestir, e desceu a mais ou menos vinte minutos.
― Desceu para onde? – perguntou Rony intrigado.
― Ela disse que precisava tomar um pouco de ar – disse Gina – Mas nós não sabemos onde exatamente ela foi.
― Espero que ela não se perca – disse Harry – E que não se meta em confusão.
Draco se perguntou se deveria dizer que a vira caminhando pelo jardim do castelo. No entanto, a visão da garota no escuro tinha lhe parecido tão etérea que por um momento ele chegou a considerar se realmente a tinha visto. Além do mais, Anne não parecia querer ser encontrada, e o fato dele tê-la visto já parecia suficientemente invasivo.
― Não se preocupem com a senhorita – exclamou o elfo domestico – A minha senhora Helga enviou Petsy para buscá-la nos jardins. A essa altura ela já deve estar chegando no salão do banquete!
― Muito bem – disse Harry - Então é melhor nós irmos andando.
― Sim meu senhor, é melhor nós irmos andando! – disse Butsy, saltitando pelo corredor – Meus senhores estão esperando os enviados para o banquete! E que lindo banquete vai ser este!
Durante alguns minutos, o grupo acompanhou o elfo por corredores e escadas, ouvindo atentamente as histórias que ele conhecia sobre o castelo, e depois de algum tempo, finalmente chegaram ao salão do banquete que estava todo ornamentado com guirlandas e fitilhos. Ao que tudo indicava, o feitiço que ligava as mesas da cozinha às do salão de jantar ainda não tinha sido feito, e no lugar de aparecer magicamente, a comida era trazida pelos elfos domésticos que entravam e saiam do salão carregando pratos e bandejas pesadas. Havia de tudo: um grande leitão assado com uma maçã na boca, um enorme pernil de veado, aves recheadas, coelhos cozidos com ervas e batatas, sardinhas assadas, pães de todos os tipos, vinho, cerveja espumante e a famosa torta de rins, que para Draco parecia ainda mais repugnante do que de costume.
No meio do aposento havia também um jogral, que desatou a cantar animadamente acompanhado por um quarteto de flautas, harpa e alaúde, no momento em que se deu conta de que o grupo se aproximava. Por uma porta secundaria, Anne juntou-se ao grupo seguida por uma elfa domestica esmirradinha, que saltitava pelo salão ao som da cantoria.
Vagarosamente os garotos tomaram seus lugares na grande mesa que rangia sob o peso das travessas. Draco observava com ojeriza Salazar servindo-se da torta de rins. Hermione, que estava sentada entre Neville e Rony, parecia muito empolgada com a evolução do jogral, e os três riam e cantavam animadamente. Na outra ponta da mesa Gina e Anne conversavam sobre a ornamentação do salão, e ao que tudo indicava, estavam dispostas a esquecer o pequeno desentendimento. Harry, as observava atentamente, e reparou que a diferença entre as duas ficava ainda mais intensa quando elas se sentavam lado a lado. Não que uma delas fosse bonita e a outra feia, ou coisas desse tipo. Na verdade, as duas garotas pareciam se distinguir na própria essência. Anne com seu vestido de veludo preto, parecia a própria noite, intensa e misteriosa. Gina, por sua vez, parecia uma manhã radiante de verão, com o vestido branco esvoaçante e os cabelos vermelhos soltos sobre os ombros. Era como ver o dia e a noite se encontrando, e por um momento o garoto se sentiu pequeno e indefeso diante das duas.
Harry ainda estava perdido em pensamentos quando os músicos silenciaram e Helga levantou-se dizendo naquele seu tom caracteristicamente cordial:
― Sejam mais uma vez bem vindos, Enviados dos Valar! Esperamos que este pequeno banquete em sua honra possa desculpar nossa falta de delicadeza anterior.
Dito isto, a música mais uma vez ressoou pelo salão, acompanhada pelas risadas e aplausos dos comensais. O aroma que emanava dos diversos pratos era um verdadeiro convite a gula, e os garotos, que não comiam nada a horas, mais que depressa começaram a se empanturrar com o magnífico banquete.
― Será que você pode me passar os talheres? – disse Rony casualmente a um elfo domestico que torceu o nariz e enrugou a testa sem ter idéia do que responder.
― Desculpe meu senhor – choramingou o elfo – Mas as cozinheiras do castelo não conhecem este prato. É algum tipo de caça? Ou seria um tipo diferente de pastelão?
Rony imediatamente olhou para os fundadores que sentavam-se na extremidade oposta da mesa, e percebeu que Gryffindor partia o pernil com uma pequena adaga retirada do próprio sinto, e Helga arrancava com as mãos a carne suculenta da cocha de um pato assado. Na mesma hora, o garoto voltou-se para Hermione como a naturalidade de quem consulta uma enciclopédia e perguntou:
― Quando mesmo foram inventados os talheres, Mione?
― Na verdade, existem registros de facas e colheres rústicas dede a pré-história – disse Hermione identificando imediatamente a origem do interesse do amigo – Mas os talheres individuais que você está procurando só passaram a ser usados por volta do século XV, o que quer dizer que se você quiser comer alguma coisa vai ter que ser com a mão mesmo.
Rony pareceu refletir por um instante, enquanto Hermione e Neville riam sem parar de seu grande dilema.
― Bem – ponderou o garoto finalmente – Se não pode vencê-los, junte-se a eles!
Em pouco tempo todos tinham perdido o pudor em partir a comida com a mão, e no final das contas acabaram até descobrindo um certo prazer sensorial em lambuzar-se durante a refeição. Todos conversavam despreocupadamente, e por um momento, os garotos chegaram a esquecer todas as perguntas que tinham preparado para a ocasião. Finalmente, quando a maior parte das travessa continham apenas ossos e farelos, Rowena fez sinal para que os pratos fossem retirados. Apenas as taças douradas ornamentadas com pedras preciosas forma mantidas e a bruxa levantou-se solenemente para propor um último brinde.
― Longa vida aos Enviados! – disse ela erguendo a própria taça e bebendo um gole de vinho – Sabemos que muitos perigos espreitam ao longo do caminho que terão que percorrer, e a única coisa que temos a oferecer como ajuda é a luz do conhecimento. Muitas vezes a ignorância é a mais profunda das escuridões – disse ela em tom sério – por isso, peço que nos acompanhem para que possamos explicar tudo o que for preciso.
A atmosfera descontraída, que até aquele momento reinava no salão do banquete, se desfez repentinamente, e os garotos mais uma vez se tornaram conscientes das inquietações que os acompanhavam. Sem dizer uma só palavra, o grupo se levantou e saiu pela porta principal deixando para trás as cantigas e risadas do banquete, e na meia luz dos corredores caminharam rumo às tão esperadas e temidas revelações.
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