Capítulo 13 COM AVISO NA N/A

Capítulo 13 COM AVISO NA N/A



Na manhã seguinte, já era abril e a primavera chegara. De maneira repentina, a nova estação surgira. O vento diminuíra, o sol se levantara e brilhava em um céu sem nuvens. O barômetro subira e a temperatura se elevara com ele. O ar estava perfumado e agradável, suave, com cheirinho de terra recém-arada. A neve derretera por completo, exibindo punhados de florzinhas do tipo campainha-branca e minúsculas flores de açafrão ainda tímidas. Sob as faias estendiam-se tapetes coloridos pelo amarelo-vivo dos acônitos. Os pássaros cantavam, as portas permaneciam abertas para dar as boas-vindas ao calor, as roupas estendidas em varais se enfunavam, revelando cortinas, cobertores e outros indícios da limpeza de primavera nas casas.
Em Rossie Hill, às dez horas da manhã, o telefone começou a tocar. Arthur Weasley tinha saído, mas Gina estava na estufa de flores, fazendo um arranjo de brotos de salgueiro entrelaçados com narcisos de caule alto em um vaso grande. Colocando as tesouras de poda sobre a bancada, ela secou as mãos e foi atender.

- Alô!

- Virginia?

Era a mãe, ligando de Londres, parecendo preocupada, e Gina estranhou a ligação. Estava ainda ressentida, sob o efeito da rejeição abrupta de Harry na véspera, e conseqüentemente aquele não era um de seus melhores dias.
Elaine Haldane, entretanto, não ficaria sabendo de seus sentimentos feridos.

- Filha, eu sei que não é do meu feitio ligar assim logo de manhã cedo, mas estava louca para saber como é que correu tudo ontem à noite. Sei que você jamais me ligaria para contar... E, então, como foi o jantar de ontem à noite?

- Não foi! - disse Gina, com voz resignada, puxando uma cadeira e se atirando, sentada, sobre ela.

- O que quer dizer?

- No último instante, Harry não pôde vir. O grande jantar acabou não acontecendo.

- Ah, querida, que desapontamento! E eu aqui, aflita, para saber de tudo. Você me pareceu tão empolgada ontem... - E ficou calada, esperando. Ao ver que a filha não parecia disposta a oferecer nenhuma outra informação, continuou, com cuidado: - Vocês dois... não tiveram uma briga ou algo assim, não é?

- Não, claro que não! - respondeu Gina, com uma risada curta. - Ele simplesmente não conseguiu tempo para vir. Estava muito ocupado, acho. Papai e ele almoçaram juntos ontem, e ficaram falando de negócios o tempo todo. A propósito, papai vai comprar Potter.

- Bem, pelo menos isso vai manter seu pai bastante ocupado por algum tempo - disse Elaine, com um tom que denotava irritação. - Mas... Ora, que pena! Coitado do Harry, que resultado triste para ele. Deve estar passando por um momento muito difícil. Você deve ser muito paciente com ele, querida, e muito compreensiva.

Gina não queria mais falar a respeito de Harry. Para mudar de assunto, perguntou:
- E então, o que está acontecendo por aí, na cidade grande?

- Aqui acontece de tudo. Só vamos voltar para Paris daqui a uma ou duas semanas. Parker está envolvido com um grupo de figurões de Nova York que estão em visita. Assim, temos que ficar por aqui. Mas até que é bom ver pessoas, saber das novidades. Ah... Tem uma que eu preciso contar para você. A coisa mais extraordinária que aconteceu por aqui.

Gina reconheceu de imediato o tom de fofoca na voz da mãe, e viu que o telefonema iria durar pelo menos mais dez minutos. Acendeu um cigarro e se recostou na cadeira para escutar.
- Você conhece Diana Black e Sírius? Pois bem, os enteados de Diana desapareceram. A palavra é essa, literalmente, desapareceram. Tudo que deixaram foi uma carta dizendo que iam para a Escócia (com tantos outros lugares para ir...) encontrar-se com o irmão deles, Angus. É claro que ele é um tipo terrível, meio punk, meio hippie, assim todo largado. Diana tem cortado um dobrado com ele; vive cheia de preocupações. Parece que o rapaz passa o tempo à procura da sua "verdade interior", indo para a Índia ou sei lá onde esses tipos acham que vão encontrá-la. Para mim, o último lugar do mundo onde ele deveria procurar isso é a Escócia, onde não existe nada além de roupas de tweed e miúdos de carneiro, nada esotéricos. Enfim, o que eu sei é que sempre achei Hermione uma jovem meio esquisita. Tentou carreira no teatro uma vez, e foi o maior fiasco. Só que nunca pensei que ela seria capaz de fazer algo tão bizarro assim, como simplesmente desaparecer.

- O que foi que Diana fez a respeito disso?

- Minha querida, o que poderia fazer? A última coisa que ela quer é a polícia envolvida. Afinal de contas, embora o menino ainda seja uma criança, esperava-se que a irmã fosse adulta... e capaz de cuidar dele. Diana está apavorada com a possibilidade de a imprensa saber da história e a espalhar nas manchetes dos jornais de toda parte. E, como se isso não fosse o bastante, o casamento dela está marcado para terça-feira, e Neville tem uma certa reputação a zelar.

- Casamento?

- O casamento de Hermione! - Elaine parecia irritada, impaciente por Gina não entender o problema. Hermione vai se casar com Neville Logbotton, irmão de Diana. Na terça-feira. O ensaio final da cerimônia está marcado para segunda, e eles ainda nem sabem onde a noiva está. É tudo muito terrível. Como já disse, eu sempre achei que ela era um pouco estranha, você não?

- Não sei. Jamais me encontrei com ela.

- Não, acho que não. Eu sempre esqueço, bobagem minha. Mas sabe, filha, eu sempre pensei que ela gostasse muito de Diana. Jamais imaginei que poderia fazer uma coisa dessas com ela. Olhe, querida, você não vai me fazer um papel desses quando estiver para se casar, vai? E vamos torcer para que seja logo, e com o homem certo. Não quero mencionar nomes, mas você sabe o que eu quero dizer. Agora tenho que desligar. Tenho hora no cabeleireiro e vou acabar me atrasando. E... querida, não se torture por causa de Harry. Vá até lá, converse com ele, seja gentil e se mostre compreensiva. Tenho certeza de que tudo vai acabar bem. Estou com saudades. Volte logo.

- Eu volto.

- Até logo, querida... - E em um adendo pouco convincente: - Mande um beijo para seu pai.


Um pouco mais tarde, naquela mesma manhã, Hermione Granger estava deitada com a barriga para cima em uma cama de folhas, com o calor do sol envolvendo-a como se fosse um manto e o braço estendido sobre os olhos para evitar o brilho ofuscante. Assim, sem enxergar, seus outros sentidos estavam muito mais aguçados. Ouvia o canto dos pássaros com mais clareza, o crocitar de um corvo ao longe, o murmúrio das águas, o cochicho de uma misteriosa brisa não sentida na pele. Conseguia sentir o perfume puro e doce dos restos da neve, da água límpida e da terra, coberta de musgo, úmida e escura devido à turfa. Sentia também o focinho gelado de Lisa, a velha cadela labrador deitada a seu lado, que o apertava de encontro à sua mão.

Ao seu lado, Harry Potter, sentado e fumando um cigarro, com os braços apoiados nos joelhos e as mãos pendendo entre eles. Observava os esforços de Jody, dentro de um gigantesco barco a remo, bem no meio do pequeno lago, que, por sinal, tinha dois remos compridos demais para o tamanho do menino, tentando manobrá-lo. De vez em quando vinha um barulho um tanto ameaçador do encontro da parte achatada da madeira contra a água. Hermione levantava a cabeça para observar e acabava descobrindo que Jody apenas se embaraçara todo, ou estava fazendo o barco rodar em círculos. Satisfeita por ver que ele ainda não estava a ponto de se afogar, deitava de volta na cama de folhas e cobria os olhos mais uma vez.

- Se eu não tivesse colocado aquele colete salva-vidas nele - disse Harry -, aposto que você já estaria correndo para cima e para baixo, na beira do lago, olhando para ele como uma galinha enlouquecida protegendo o pintinho.

- Não, você errou. Eu estaria era lá dentro do barco junto com ele.

- Teríamos, então, dois novatos prontinhos para se afogar.

As folhas começaram a espetar as costas de Hermione através da blusa, e um pequeno inseto anônimo começou a passear, subindo pelo seu braço. Ela se sentou, espantou o inseto e levantou o rosto para o sol.

- Não dá para acreditar, você não acha? Dois dias atrás, Jody e eu estávamos no meio de uma nevasca terrível, e agora um tempo desses. - A superfície do lago continuava parada e clara, lindamente azul, devido ao reflexo de um céu que parecia de verão. Na outra margem ao longe, além dos juncos que a bordejavam, o terreno pantanoso subia em uma série de ladeiras cheias de arbustos de urze, coroados no topo por um afloramento de rocha, como se fosse um farol no cimo de uma montanha. Dava para ver o contorno distante de um rebanho de ovelhas pastando, e ouvir na manhã silenciosa o som de seus queixosos balidos. O barco a remo, tão bravamente conduzido, rangia lentamente através da superfície das águas. Jody estava com o cabelo todo arrepiado na parte de trás, e seu rosto estava começando a ficar vermelho.

- É um lugar adorável - disse ela. - Ainda não tinha notado o quanto é lindo aqui.

- Esta é a melhor época. Agora, e por mais um ou dois meses, quando as folhas de faia se abrem, os narcisos aparecem e de repente é verão. E depois, em outubro, tudo fica lindo de novo, as árvores com as folhas todas avermelhadas, como se estivessem em chamas, o céu com um tom de azul muito forte e todos os arbustos de urze ficando roxos.

- Você não vai sentir falta de tudo isso, terrivelmente?

- Claro que sim, mas não há nada que possa ser feito.

- Você vai mesmo vender tudo?

- Vou. - E deixou cair a ponta do cigarro no chão, pisando-a com a sola do sapato.

- Já conseguiu comprador para as terras?

- Já. Arthur Weasley. Ele é meu vizinho. Vive do outro lado do vale; não dá para ver a casa, porque fica atrás daquela fileira de pinheiros. Ele quer a fazenda para juntar com a dele. Vai ser fácil, é só uma questão de arrancar as cercas divisórias.

- E a sua casa?

- Quero vendê-la em separado. Ainda vou ter que conversar com os advogados sobre isso. Prometi que ia até Relkirk esta tarde para vê-los e, quem sabe, pensar em alguma forma para fazermos isso.

- Então você não vai ficar com nada de Potter?

- Você sabe como bater na mesma tecla quando fala de um assunto.

- Os homens são normalmente muito sentimentais a respeito de tradições, de terras.

- Talvez eu seja.

- Mas não se importa de ficar morando em Londres?

- Meu Deus, claro que não. Eu adoro Londres.

- E onde é que você trabalha?

- Em uma companhia chamada Bankfoot & Balcarries. E, se você não sabe o que é isso, esta é uma das maiores firmas consultoras de engenharia do país.

- E onde é que você mora?

- Em um apartamento, perto de Fulham Road.

- É perto de onde nós moramos. - Ela sorriu pensando no quanto eles moravam próximos, sem jamais terem se encontrado. - É engraçado, não é? Londres é tão grande, e no entanto você tem que vir até a Escócia para encontrar o vizinho do lado. É um bom apartamento o seu?

- Gosto dele.

Hermione tentou imaginar o ambiente, mas falhou completamente, porque era impossível imaginar Harry longe de Potter.

- O apartamento é pequeno ou grande?

- Muito grande. Cômodos imensos. Fica no andar térreo de uma antiga casa.

- Você tem um jardim?

- Tenho. Constantemente invadido pelo gato do vizinho. E tenho também uma sala de estar grande, uma cozinha onde eu como, dois quartos e um banheiro. Na verdade, tudo muito bem equipado e confortável. Exceto pelo meu carro, que dorme na rua, exposto ao tempo e se estragando. E agora, o que mais você quer saber?

- Nada.

- A cor das cortinas? Elas são cor-de-burro-quando-foge. – Ele riu e depois colocou as mãos em concha na boca, berrando em direção à água. - Ei! Jody! - O menino parou e olhou em volta, com os remos acima da água, pingando. - Acho que você já aproveitou o bastante. Vamos embora!

- Certo!

- Isso aí! Empurre com o remo esquerdo. Não, o esquerdo, seu bobão! Isso... - Harry colocou-se de pé e caminhou até a beira do pequeno cais de madeira, e ficou ali, esperando que o barco viesse, devagar e espalhando água para todos os lados, até conseguir que ele lhe ficasse ao alcance das mãos. Então, ficou de cócoras para pegar na ponta da corda e puxou o barco até conseguir atracá-lo. Com um sorriso de orelha a orelha, Jody se livrou dos pesados remos, que Harry pegou enquanto amarrava o barco, e o ajudava a desembarcar. O menino foi correndo pelo cais em direção à irmã, e ela viu que seus tênis estavam encharcados e as calças molhadas até os joelhos. Apesar disso, estava completamente satisfeito consigo mesmo.

- Você esteve muito bem! - incentivou Hermione.

- Teria me dado melhor se os remos não fossem tão grandes. - Estava tentando desfazer os nós do colete salva-vidas e finalmente conseguiu arrancá-lo por cima da cabeça. - Sabe, estive pensando, Mione... Não seria o máximo se nós pudéssemos ficar aqui para sempre? Tem tudo o que uma pessoa pode querer.

Hermione estivera pensando exatamente a mesma coisa, a pequenos intervalos, por toda a manhã. E então dissera a si mesma, a iguais intervalos, para não ser tão tola. Agora, ela dizia o mesmo para Jody, e o rosto do menino ficou surpreso com a impaciência demonstrada na voz da irmã.

Harry amarrou a corda no poste de madeira do pequeno cais, colocou os pesados remos sobre os ombros, levou-os até a casa de barcos castigada pelo tempo e os guardou lá. Jody pegou no colete salva-vidas e foi guardá-lo lá também. Fecharam a porta velha e desengonçada e voltaram andando até Hermione, sobre o gramado de primavera, o homem jovem e alto e o menino sardento, com o sol lhes batendo nas costas e o brilho ofuscante da água.
Chegaram e ficaram de pé ao lado dela.

- Vamos levantar!... - disse Harry, esticando a mão e puxando o braço dela para colocá-la de pé. Lisa, ao lado, se levantou também e ficou abanando a cauda, como se já estivesse esperando por algum passeio agradável que viria. - Isso tinha que ser uma caminhada para exploração, ou algo parecido - continuou Harry. - E tudo o que fizemos até agora foi sentar aqui no sol olhando para o Jody, que acabou aproveitando sozinho todo o exercício.

- E, agora, para onde é que nós vamos? - perguntou o menino.

- Tem uma coisa que eu queria mostrar a vocês... É logo ali adiante.

O casal de irmãos o seguiu, em fila indiana, pelas estreitas trilhas para ovelhas que circundavam o lago. Subiram por uma pequena elevação, e a trilha que acompanhava a margem da água fez uma curva repentina, onde mais adiante ficava um chalé quase em escombros.

- É aquilo que você queria nos mostrar? - perguntou Jody.

- Sim.

- Está em ruínas.

- Eu sei. Ninguém mora ali há muitos anos. Charles e eu costumávamos brincar aqui. Uma vez até nos deixaram passar a noite lá dentro.

- Quem morava ali?

- Não sei. Um pastor. Ou alguém que arrendava esta parte da fazenda para produzir alguma coisa. Aquelas muretas ali em frente são velhos cercados para ovelhas, e há um arbusto de sorveira-brava no jardim. Ela dá pequeninas frutas, e as pessoas antigamente costumavam plantar sorveiras perto da porta de casa, porque diziam que trazia sorte.

- Não sei como é essa pequenina fruta.

- Na Inglaterra é conhecida como tramagueira. As folhas têm uma cobertura que parece veludo, e as frutinhas, além de muito pequenas, são em um tom vermelho-vivo, parecidas com aquelas que enfeitam as guirlandas de Natal.

À medida que chegavam mais perto da casa, Hermione notou que ela não estava tão em escombros quanto parecera de longe. Era toda de pedra e tinha conseguido manter um certo ar de solidez. Embora o teto de metal ondulado estivesse caindo aos pedaços e as portas estivessem soltas das dobradiças, dava para sentir que um dia aquela tinha sido uma moradia perfeitamente apresentável e totalmente respeitável, abrigada no pé do monte, com os traços definidos de um jardim antigo ainda visível entre as pedras.

Seguindo pelos restos da trilha e entrando no chalé pela porta da frente, Harry prudentemente abaixou a cabeça para passar pelo portal baixo. Havia uma sala grande, com um fogão de ferro ao fundo, completamente enferrujado. No centro, uma cadeira quebrada e, no chão, os restos de um ninho de andorinha. O piso estava todo quebrado, com rachaduras e buracos, e totalmente manchado de sujeira de passarinho, e os raios oblíquos do sol iluminavam a dança infinita de partículas de poeira que circulavam pelo ar.
No canto, ao fundo, uma escada apodrecida levava ao andar de cima.

- Uma residência confortável e distinta, com dois andares - disse Harry. - Quem quer ir até lá em cima?

- Eu não. - Jody torceu o nariz. Tinha um medo secreto de aranhas. - Vou voltar para o jardim. Quero ver a tramagueira, aquela árvore que traz sorte. Vamos, Lisa, você vem comigo.

Assim, Harry e Hermione ficaram sozinhos para subir pela escada podre, onde havia mais degraus faltando do que os existentes. Conseguiram subir e chegaram a um sótão cujo chão estava salpicado de pontos de luz que haviam passado pelos pequenos e inúmeros buracos do telhado. As tábuas do chão rangiam, bastante apodrecidas, mas a viga mestra abaixo delas parecia bem sólida. Havia espaço apenas para Harry ficar em pé, bem no meio do cômodo, com o alto da cabeça a poucos centímetros da trave horizontal do telhado.

Hermione colocou a cabeça para fora, com todo o cuidado, através de um dos buracos maiores do telhado e viu Jody no jardim, lá embaixo, pendurado como um macaco em um dos galhos da tramagueira. Dali dava para ver toda a extensão da curva do lago, o primeiro verde dos campos na fazenda, gado pastando ao longe, e muitas vacas malhadas que pareciam de brinquedo. Além, bem mais ao longe, a linha escura da estrada principal. Ela recuou com cuidado a cabeça, de volta para o sótão, virou o rosto e olhou para Harry. Ele tinha fiapos de teia de aranha colados no queixo e disse, com sotaque caipira:

- E aí, dona madame?... C'um bocadim de tinta vai fica bonito pra valer, né não?

- Mas você não faria nada com este chalé, ou acha que ele poderia servir para alguma coisa? Fale sério, o que você acha?

- Falar sério? Não sei. Apenas acaba de me ocorrer que uma reforma seria possível. Acabando de fechar o negócio, com a venda da casa de Potter, talvez pudesse gastar algum dinheiro para consertar este lugar.

- Mas não tem encanamento para água.

- Isso pode ser instalado.

- E não tem sistema de esgoto.

- Fossa séptica.

- Não tem eletricidade.

- Existem lampiões, velas... Ficaria até mais aconchegante.

- E como seria para cozinhar?

- Fogão a gás.

- E quando você a usaria?

- Nos fins de semana. Nas férias. Poderia trazer meus filhos para cá.

- Não sabia que você tinha filhos.

- Ainda não tenho. Não que eu saiba. Mas, quando me casar, seria uma pequena e bem interessante propriedade rural para ter no patrimônio. Também teria um significado simbólico. Eu poderia dizer que ainda possuía um pedacinho de Potter. Viu? Isso deixaria o seu coração sentimental mais aliviado.

- Então isso importa para você?

- Hermione, a vida é muito curta para ficar olhando por trás dos ombros. Só serve para você deixar de olhar para a frente, tropeçar e dar de cara no chão. É por isso que eu gosto de olhar sempre para a frente.

- Mas esta casa...

- Foi apenas uma idéia. Achei que isso poderia divertir você. Vamos embora agora; temos que voltar para a Senhora Cooper, ou ela vai pensar que nos afogamos no lago.

Ele desceu a escada primeiro, experimentando com o pé cada um dos degraus remanescentes antes de colocar a força do corpo sobre eles. No final da escada, esperou por Hermione, mantendo a estrutura da escada firme e segurando-a com as mãos. No meio do caminho, porém, ela ficou um pouco atrapalhada, e não conseguia mais subir de volta nem descer. Começou a rir, e ele lhe disse para pular. Ela falou que não podia, e Harry respondeu que qualquer tolo conseguiria pular daquela altura. Nesse ponto, Hermione já estava rindo tanto que não conseguia fazer mais nada de útil, além de ter perdido a força nas mãos, de tanto rir. Afinal, como era inevitável, escorregou, e ouviu-se o barulho assustador da madeira podre que estalava e se esfarelava; com os degraus que cederam ao seu peso, ela acabou despencando de forma indigna para uma dama, antes de Harry acabar amparando-a nos braços.

Havia um graveto de urze grudado no seu cabelo castanho, o suéter estava quente por causa do sol, e a noite bem-dormida tinha feito com que as olheiras tivessem desaparecido completamente do seu rosto. Sua pele era lisa, macia, e ligeiramente rosada. Seu rosto virou para cima, para olhar para ele, com a boca ainda aberta pelos risos. Sem pensar e sem um instante de hesitação, ele curvou a cabeça e a beijou. Subitamente, ficou tudo quieto. Por um instante, ela permaneceu parada, mas logo em seguida, retribuiu o beijo calmamente. As línguas se encontrando, o calor que emanava do corpo de Harry... Tudo parecia embriagá-la. Quando as mãos de Harry desceram para se fixar em sua cintura, Hermione voltou a si. Lentamente, colocou as palmas das mãos contra seu peito e o empurrou com gentileza. O riso desaparecera do seu rosto, e agora havia uma expressão em seus olhos que ele não vira até então.

- Foi só o efeito do dia... - disse ela, por fim.

- O que você está querendo dizer com isso?

- Quero dizer que o que aconteceu agora foi apenas parte de um dia agradável, o efeito do sol, da primavera que chegou.

- E isso faz alguma diferença?

- Não sei.

Ela se afastou dele, para longe dos seus braços, virou-se e começou a caminhar em direção à porta. Ao chegar ali, ficou parada com o ombro encostado no portal e a silhueta recortada contra a luz que vinha lá de fora. Seus cabelos embaraçados formavam uma auréola clara em volta da forma bonita e bem-definida da sua cabeça. Disse, por fim:
- É uma casa adorável. Acho que você deveria mantê-la.

Jody já havia abandonado a tramagueira, atraído novamente pelas margens do lago, e estava atirando pequenas pedras em ângulo baixo sobre a superfície plácida, tentando fazê-las quicar sobre a água. Isso estava deixando Lisa louca, pois a velha cadela não sabia se deveria lançar-se sobre as pedras, tentando resgatá-las, ou ficar parada ali mesmo onde estava. Hermione arranjou um seixo bem roliço, liso na base, e o atirou com força. Ele pulou três vezes sobre a água antes de afundar, bem adiante.

- Eu queria que você me mostrasse como consegue fazer isso! -Jody parecia furioso. - Vamos, me mostre como é que se faz! - Hermione, porém, já se virará e estava se afastando com alguma rapidez para bem longe dele, pois não queria que o irmão visse seu rosto. Porque simplesmente, naquele momento, ela inesperadamente descobrira o motivo de ter conseguido se livrar da lembrança de Draco Malfoy. E também, o que era ainda mais assustador, compreendia o motivo de não ter contado a Harry que estava para se casar em poucos dias com Neville.


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N/A: Olá a todos!!!! Atualizei rapidamente, não? ;)
Gostaram do capítulo? Teve beijo!! hauahuahau

AVISO: Gente, as atualizações vão demorar bastante pq eu estou extremamente atolada de coisas p fazer... Acho q nunca tive tanto trabalho na minha vida! Nem durante o ano de vestibular eu estava tão atarefada... portanto, as coisas ficarão bastante complicadas até o final da 1ª semana de novembro, q é qnd acabam minhas provas na facul, ok? se eu conseguir um tempinho, venho aqui e atualizo p vcs!!! Por isso, me estimulem com COMENTÁRIO!!!! ;)

Bjos

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