Capítulo 1



Envolvida por uma névoa perfumada, com os cabelos presos em uma touca de banho, Hermione Granger descansava inerte na banheira, enquanto ouvia o rádio. O banheiro era grande - tão grande quanto os outros cômodos da casa generosa. Aquele lugar fora, no passado, um quarto de vestir.
Diana decidira, no entanto, muito tempo atrás, que as pessoas não usavam nem precisavam de quartos de vestir hoje em dia. Assim, mandara remover todo o revestimento das paredes e convocara bombeiros e carpinteiros. Foram instalados acessórios escolhidos em porcelana cor-de-rosa e um grosso tapete branco. Na janela foram colocadas cortinas de chintz, que iam até o chão. Havia uma mesa baixa com tampo de vidro para colocar sais de banho e revistas. Ali repousavam também grandes potes de vidro ovais, cheios de sabonetes coloridos que recendiam a rosas. Também havia rosas bordadas nas toalhas de banho francesas e no pequeno tapete ao lado da banheira, onde no momento repousavam o penhoar de Hermione, os seus chinelos, o rádio e um livro que ela começara a ler e ainda não concluíra.

O rádio tocava uma valsa. Um-dois-três, um-dois-três, suspiravam os violinos, evocando imagens de aplausos, cavalheiros de luvas brancas e damas idosas que, sentadas em cadeiras douradas, acompanhavam com a cabeça os compassos da linda melodia.
“Vou usar o novo terninho com calças largas” - pensou Hermione. E então se lembrou de que um dos botões dourados havia caído do paletó e, provavelmente, se perdera. Seria perfeitamente possível, é claro, procurar o botão, pegar agulha e linha e costurá-lo no lugar; a operação não levaria mais do que cinco minutos. Era muito mais simples, porém, não fazer nada disso. Ela usaria o caftan turquesa, ou o vestido de veludo preto que, segundo Neville, a fazia parecer-se com Alice no País das Maravilhas.

A água estava ficando fria. Hermione abriu a torneira de água quente com os dedos do pé e decidiu que às sete e meia sairia da banheira para se enxugar, colocar a maquiagem e descer. Iria certamente se atrasar, mas isso não tinha importância. Estariam todos reunidos em volta da lareira à sua espera. Neville estaria com o blazer de veludo que secretamente ela detestava e Sírius apareceria envolvido pela larga faixa escarlate do smoking. Os Haldane estariam lá, Elaine já bebendo o seu segundo martini, e Parker reparando em tudo com seus olhos sugestivos e observadores. Também estariam os convidados de honra, os sócios canadenses nos negócios de Sírius, o Senhor e a Senhora "Monótonos", ou um nome adequado como esse. Após um atraso razoável, todos iriam marchar para o jantar. Sopa de tartaruga, o cassoulet que Diana passara a manhã preparando, e um sensacional pudim, que provavelmente seria apresentado em chamas, flambado na hora e acompanhado de "oohs", "aahs" e "Diana, querida, como é que você faz isso?"

Pensar em tudo isso fez Hermione sentir-se nauseada, como sempre vinha acontecendo ultimamente. Essa sensação de enjôo a deixava intrigada. Afinal, indigestão era sabidamente uma característica dos muito velhos, dos gulosos ou, possivelmente, das grávidas. Hermione era jovem, estava com apenas vinte anos, e também não se qualificava em nenhuma das outras duas hipóteses. Não que ela se sentisse doente, no exato sentido da palavra. Simplesmente, jamais estava bem. Talvez fosse melhor ir a um médico antes da próxima terça-feira - não, antes da terça-feira da semana seguinte. E começou a se imaginar tentando explicar a situação ao médico. "Estou para me casar e sinto enjôos o tempo todo", e imaginava o sorriso paternal e compreensivo do doutor. "É bastante natural essa tensão pré-nupcial. Vou lhe dar um sedativo..."

O som da valsa foi diminuindo discretamente, e o locutor anunciou o informativo das sete e meia. Hermione suspirou, sentou-se na banheira e puxou a tampa do ralo, antes que acabasse sucumbindo à tentação de ficar ali dentro mais um pouco. Pulou então sobre o pequeno tapete. Desligou o rádio, secou-se de forma apressada, colocou o roupão e caminhou silenciosamente até o quarto. Pelo caminho, deixou as marcas dos pés molhados sobre o tapete branco. Sentou-se diante da penteadeira guarnecida com babados, arrancou a touca de banho e observou, sem muito entusiasmo, a sua imagem triplamente refletida. Tinha cabelos longos e ondulados, castanhos, pendurados de cada lado do rosto como brilhantes borlas de seda. Não era um rosto bonito no verdadeiro sentido da palavra. As maçãs do rosto eram um pouco salientes, o nariz não era muito fino, e a boca, um pouco larga. Sabia que tanto poderia parecer horrenda quanto maravilhosa. Só os olhos amendoados, castanhos-escuros e com cílios abundantes, eram realmente notáveis, mesmo agora, com aquela aparência cansada que exibia.
(Lembrou-se de Draco e de algo que ele dissera certa vez, havia muito tempo, segurando-lhe a cabeça entre as mãos e levantando-lhe o rosto para olhar para ele: "Como é que pode, você ter o sorriso de um menino e os olhos de uma mulher? E de uma mulher apaixonada, ainda por cima?" Estavam sentados no banco da frente do carro dele, e do lado de fora estava muito escuro e chovia. Ela lembrava do som da chuva, o tique-taque do relógio do carro, a sensação das mãos dele envolvendo-lhe o queixo, mas era como lembrar da passagem de um livro ou da cena de um filme, uma cena à qual ela tivesse assistido, mas da qual não tivesse participado. Como se tudo tivesse acontecido com uma outra garota.) Hermione pegou repentinamente a escova, prendeu os cabelos com um elástico e resolveu se maquiar. Quando começou a fazer isso, ouviu passos vindo pelo corredor. Eram passos suaves sobre o tapete grosso, que pararam diante de sua porta. Ouviu batidas leves.

- Sim? - respondeu Hermione.

- Posso entrar? - Era Diana.

- Claro.

A madrasta de Hermione já estava vestida toda de branco e dourado, com o cabelo louro platinado enrolado como uma concha e atravessado por um grampo de ouro. Estava linda como sempre, esbelta, alta, imaculadamente enfeitada. Seus olhos eram azuis e se destacavam na cor acobreada da pele, que era mantida regularmente através de sessões de bronzeamento artificial. Essa era uma das razões pelas quais Diana era tão freqüentemente confundida com uma escandinava. De fato, possuía a rara habilidade das nórdicas de parecer tão bem arrumada em roupas casuais de esquiar, ou até mesmo em roupas de tweed, quanto, como estava agora, vestida e pronta para uma noite de extrema formalidade.

- Hermione, mas você não está nem perto de estar pronta!
Hermione começou a fazer movimentos complicados com o pincel sobre os cílios.

-Já estou quase pronta. Você sabe como sou rápida depois que começo a me arrumar. Essa talvez seja a única coisa que eu aprendi no curso de teatro que poderá me ser útil pelo resto da vida: conseguir me maquiar em menos de um minuto.

Essa foi uma observação feita de forma impensada, e Hermione sentiu um imediato arrependimento. "Curso de teatro" ainda era um território proibido no que dizia respeito à Diana, que sempre se enfurecia só de ouvir mencionar tais palavras. E, previsivelmente, ela comentou, com frieza:

- Se é assim, talvez os dois anos que você perdeu lá não tenham sido completamente desperdiçados. - E quando Hermione, vencida, não ofereceu resposta, Diana continuou: - De qualquer modo, não há tanta pressa. Neville já chegou, e Sírius já está até preparando um drinque para ele. Os Lundstrom, no entanto, vão se atrasar um pouco. A Senhora Lundstrom telefonou há pouco de Connaught para dizer que John ficou preso até mais tarde em uma reunião.

- Lundstrom! Eu não conseguia me lembrar do nome. Eu os estava chamando de Sr. e Sra. "Monótonos" - disse Hermione.

- Isso é muito injusto! Você nem mesmo os conhece.

- E você conhece?

- Sim, e acho que são muito agradáveis.
Diana começou então, de forma apropriada, a arrumar tudo em volta de Hermione, movendo-se por todo o quarto, juntando os sapatos em pares aqui, dobrando um suéter ali e recolhendo a toalha de banho úmida que continuava largada no chão, bem no meio do cômodo. Dobrou a toalha e a carregou de volta para o banheiro, onde Hermione pôde ouvir seus esforços para lavar a pia, abrindo e fechando o armário espelhado e, sem dúvida, tampando o pote de creme. Hermione elevou a voz:

- Diana, em que o Senhor Lundstrom trabalha?

- O quê? - perguntou Diana, reaparecendo no quarto. Hermione repetiu-lhe a pergunta.

- Ele é um banqueiro - respondeu Diana.

- Está envolvido no novo negócio de Sírius?

- Está, e muito! Ele o está financiando. Esse é o motivo de vir ao país, para acertar alguns detalhes finais.

- Então, temos todos que ser muito charmosos e bem-comportados - finalizou Hermione, deixando cair o roupão e indo, nua, à procura de suas roupas.
Diana sentou-se na beira da cama e comentou:

- E isso seria um esforço tão grande assim? Hermione, você está tremendamente magra. Na verdade, magra até demais. Você devia tentar ganhar um pouco de peso.

- Estou bem! - reagiu Hermione, enquanto pegava duas peças íntimas em uma gaveta abarrotada e começava a vesti-las. - Sou magra assim mesmo!

- Tolice! Todas as suas costelas estão aparecendo! E você não come o suficiente nem para manter um passarinho vivo. Até mesmo Sírius notou isso um dia desses, e você sabe que normalmente ele é muito desligado.

Hermione já estava colocando um par de meias, e Diana continuou:
- Sua cor está feia, você está muito pálida. Reparei agora mesmo, quando entrei no quarto. Talvez fosse bom se você começasse a tomar alguns comprimidos de ferro.

- Isso não escurece os dentes?

- Não! Onde foi que você ouviu essa crendice?

- Talvez minha aparência tenha algo a ver com o casamento. Ou com o fato de ser obrigada a escrever cento e quarenta e três cartas de agradecimento.

- Não seja ingrata! Oh, a propósito, eu estava agora mesmo no telefone com Rose Kintyre. Ela estava querendo saber o que você gostaria de ganhar como presente de casamento. Sugeri aquele conjunto de cálices de que você demonstrou gostar tanto, na Rua Sloane, lembra? Aqueles com as iniciais gravadas. O que você vai vestir esta noite?
Hermione abriu o guarda-roupa e puxou o primeiro vestido que lhe veio à mão, que por acaso era o de veludo preto.

- Este?

- Sim! Adoro esse vestido. Mas você vai ter que usar meias escuras, para combinar com ele.
Hermione pendurou-o de volta e tirou o seguinte.

- E então, que tal este? - Era o caftan. Felizmente, não era o terninho.

- Sim! Esse é charmoso... Se você colocar os brincos de ouro.

- Eu perdi aqueles brincos!

- Oh, não! Não aqueles, maravilhosos, que Neville lhe deu!

- Bem, não os perdi, exatamente. Devo apenas ter colocado em algum lugar e não consigo lembrar onde. Não se preocupe! - E jogou o caftan de seda turquesa sobre a cabeça, fazendo-o descer suavemente. - De qualquer modo, brincos não sobressaem em mim, a não ser que meu cabelo esteja bem penteado.
Começando a fechar os minúsculos botões, perguntou:

- Diana... E Jody? Onde é que ele está jantando?

- Com Katy, no andar lá de baixo. Eu lhe disse que poderia jantar conosco, se quisesse, mas ele preferiu assistir a um faroeste na TV.

- E ele está lá embaixo neste instante? - perguntou Hermione, soltando o cabelo e escovando-o suavemente.

- Acho que sim.

Hermione borrifou perfume em volta de si mesma de forma casual, com a primeira embalagem de spray que veio à sua mão. Disse então:
- Diana, se você não se importa, antes de ir para a sala eu queria descer para dar boa-noite a Jody.

- Não demore muito. Os Lundstrom estarão aqui em dez minutos.

- Não vou demorar.

Hermione e Diana desceram juntas. Quando estavam nos degraus do meio, chegando à saleta, a porta da sala de visitas se abriu e Sírius Black surgiu, segurando um balde de gelo de cor vermelha, em forma de maçã e com um talo dourado sobre a tampa que servia como alça. Olhou para cima e as viu.
- Acabou o gelo - disse ele, à guisa de explicação, e então fez uma cara espantada, como um comediante que olha duas vezes com os olhos arregalados, paralisado pela aparência das duas damas. Permaneceu imóvel no meio da saleta, testemunhando a descida das duas. - Nossa! Não é que estão ambas maravilhosas? Que dupla de mulheres deslumbrantes!
Sírius era o marido de Diana, e Hermione referia-se a ele de diversas formas. Às vezes o chamava de "marido de minha madrasta". Eventualmente, falava que ele era um "duplo padrasto". Outras vezes chamava-o, simplesmente, de Sírius.
Ele e Diana estavam casados há pouco mais de três anos. Sírius, porém, costumava dizer com orgulho que já conhecia Diana e a adorava há muito mais tempo que isso.
"Eu a encontrei pela primeira vez há muitos anos", costumava dizer. "E quando comecei a pensar que já a tinha colocado de vez em minha vida, Diana se foi inesperadamente para as Ilhas Gregas, a fim de comprar uma propriedade. De repente, lá estava ela me escrevendo para contar que encontrara um arquiteto e se casara com ele. Chamava-se Gerald Granger, vivia na total pobreza, chegara com uma família já completa e era boêmio como ninguém. Essa notícia me pegou completamente de surpresa”.

Sírius, entretanto, permanecera fiel às lembranças de Diana. Como naturalmente era um homem bem-sucedido, fizera igual sucesso no papel de solteirão profissional, aquele do homem mais velho e mais sofisticado, muito procurado pelas anfitriãs de Londres e sempre com a agenda lotada de compromissos sociais para muitos meses à frente.
De fato, sua vida de solteiro era tão extraordinariamente bem organizada e satisfatória que, quando Diana Granger, viúva e com dois enteados a tiracolo, retornou a Londres para fixar residência na antiga casa e começou também a reatar antigos laços e organizar vida nova, houve certa especulação sobre o que Sírius Black iria fazer. Será que ele se enraizara assim tão profundamente em suas confortáveis rotinas de solteirão? Será que ele, ainda que por causa de Diana, iria desistir de sua independência e ceder à vida enfadonha de um chefe de família comum? Os mexeriqueiros duvidavam muito disso.

Mas eles não contavam com Diana, que retomara de Aphros mais maravilhosa e desejável do que nunca. Tinha agora trinta e dois anos e estava no auge da beleza. Sírius, ao tentar cautelosamente renovar a amizade, caiu derrubado em questão de dias. Em menos de uma semana já a pedira em casamento, e esse pedido foi renovado regularmente a cada sete dias, até que ela finalmente concordou.
A primeira coisa que Diana o obrigou a fazer foi dar a notícia, ele próprio, a Hermione e Jody.

- Não posso ser um pai para vocês - dissera-lhes Sírius na ocasião, andando de um lado para o outro sobre o tapete da sala de visitas e sentindo um calor subir-lhe pelo pescoço em volta do colarinho, sob o olhar claro e curiosamente idêntico das duas crianças. - De qualquer modo, não saberia mesmo como ser um pai... - continuou ele. - O que quero que vocês saibam, porém, é que poderão sempre contar comigo, seja para fazer confidencias ou para pedir ajuda financeira... Afinal de contas, esta é a casa de vocês... Eu queria também que vocês sentissem que... - E foi em frente, tropeçando nas palavras e praguejando intimamente contra Diana por tê-lo colocado nessa situação desconfortável. Preferia que ela tivesse deixado que o seu relacionamento com Hermione e Jody se desenvolvesse devagar e naturalmente, mas Diana era impaciente por natureza, gostava de todas as cartas na mesa, e queria que naquele caso tudo ficasse em pratos limpos desde o início.

Jody e Hermione ficaram olhando para Sírius de forma compreensiva, mas não disseram nada que pudesse ajudá-lo. Na verdade, gostavam de Sírius Black e perceberam, mesmo com os puros olhos da sua pouca idade, que Diana já o tinha na palma da mão. Ele falou da casa em Milton Gardens como se fosse também o lar deles, embora a idéia de lar, para eles, estivesse ligada para sempre à casinha branca em forma de cubo de açúcar que ficava empoleirada acima do azul-marinho do mar Egeu. Tudo isso, porém, acabara. Afundara sem vestígios na confusão do passado. O que Diana decidiria fazer com a vida dela a partir dali e quem ela escolheria para marido não dizia respeito a eles. No entanto, se ela tinha mesmo que se casar com alguém, os irmãos estavam muito contentes que fosse com o grande e bondoso Sírius.

Agora, enquanto Hermione passava na frente dele, Sírius permanecia imóvel meio de lado, cortês e engomado, ligeiramente ridículo, com o balde de gelo nas mãos, estendido agora como se fosse uma oferenda. Cheirava a perfume "Brut" e tinha também um aroma indefinido de roupa recém-lavada. Hermione lembrou-se do rosto de seu pai, freqüentemente com a barba por fazer em torno do queixo, e as camisas azuis de operário que ele preferia vestir assim que saíam da corda, sem um toque sequer do ferro de passar. Lembrou-se também das brigas e discussões às quais ele e Diana alegremente se entregavam, como em um jogo, e de onde seu pai quase sempre saía vencedor. E se admirou mais uma vez com o fato de uma mulher poder se casar com dois homens que eram tão completamente diferentes um do outro.

Descer para o subsolo da casa, um domínio de Katy, era como sair de um mundo e entrar em outro. No andar de cima estavam os tapetes em tons pastel, os candelabros, as pesadas cortinas de veludo. No andar de baixo todas as coisas estavam espalhadas, nada era planejado, e tudo parecia mais alegre. O linóleo xadrez competia com pequenos tapetes felpudos em cores vivas, as cortinas tinham desenhos de ziguezague e padrões de folhas. Toda superfície horizontal ostentava uma grande quantidade de fotografias, cinzeiros de porcelana trazidos de pousadas à beira-mar, conchas pintadas e vasos com flores de plástico. Um gostoso fogo crepitava vermelho na lareira. Diante dele, encolhido em uma cadeira de braços já muito gasta, com os olhos grudados na tela com luz trêmula da TV, estava o irmão de Hermione, Jody.
Usava jeans e um suéter de gola rulê azul-marinho, botas de cano curto surradas e, por nenhuma razão em particular, um chapéu de iatismo que estava quase se desfazendo e era muitos números maior do que a sua cabeça. Ele olhou quando Hermione entrou e a seguir virou a cabeça imediatamente de volta em direção à tela. Não queria perder um tiro sequer e nem um segundo da ação.

Hermione empurrou-o para o lado e sentou-se na cadeira, junto dele. Depois de algum tempo, perguntou:
- Quem é a mocinha do filme?

- Ah, ela é uma idiota! Está sempre beijando. É uma dessas...

- Então, desligue a TV.

Jody ficou considerando a sugestão e decidiu que talvez fosse uma boa idéia. Pulou da cadeira e desligou o aparelho. A televisão escureceu com um gemido curto, e ele permaneceu de pé sobre o tapete, diante da lareira, olhando para Hermione.
Jody tinha onze anos, uma boa idade. Não era mais bebê, mas ainda não tinha ficado alto, magricela, mal-humorado e cheio de espinhas. Suas feições eram tão semelhantes às de Hermione, que as pessoas estranhas, mesmo ao vê-los pela primeira vez, sabiam que não poderiam ser outra coisa a não ser irmãos. Entretanto, enquanto o cabelo de Hermione era castanho claro, o de Jody era de um castanho tão vivo, que beirava o ruivo, e enquanto as sardas da irmã confinavam-se a alguns pontos esparsos sobre o arco do nariz, as de Jody estavam em toda parte, espalhadas como confetes pela superfície das costas e pelos ombros, descendo pelos braços. Seus olhos tinham um tom cinza. Seu sorriso, um pouco lento, era cativante quando aparecia, revelando dentes um pouco grandes para o tamanho do rosto e ligeiramente tortos, como se estivessem empurrando uns aos outros para abrir espaço e entrar em cena.

- Onde está Katy? - perguntou Hermione.

- Lá em cima, na cozinha.

- Você já jantou?

- Já

- Comeu o mesmo prato que ela vai servir no nosso jantar?

- Não, tomei sopa. Não queria nem provar aquela outra comida de vocês, então Katy também me preparou bacon com ovos.

- Gostaria de ter jantado com você, para comer isso também. Já viu Sírius e Neville?

- Já. Estive lá em cima - e fez uma careta. - Os Haldane estão chegando, falta de sorte a sua. - E trocaram um sorriso de cumplicidade. Suas impressões sobre os Haldane eram parecidas.

- Onde foi que você conseguiu esse chapéu? - perguntou Hermione.

- Eu o encontrei. - Jody esquecera que estava de chapéu, e o tirou da cabeça com um jeito tímido. Estava no fundo do baú de roupas velhas, no quarto de brinquedos.

- Esse chapéu era do papai.

- É. Imaginei que deveria ser dele.

Mione se inclinou e o pegou da mão de Jody. O chapéu estava sujo e deformado, tinha manchas irregulares e esbranquiçadas de sal, e a bainha estava começando a descosturar.
- Papai costumava usá-lo quando saía para velejar. Dizia que quando se está vestido de modo apropriado para andar de barco, ganha-se mais confiança. Assim, quando alguém o xingava por ter feito algo errado, ele costumava xingar de volta. - Jody sorriu. - Você se lembra de ouvi-lo dizer coisas como essa?

- Às vezes. Eu lembro de quando ele lia as historinhas do Rikki Tikki Tavi.

- Mas você era um garotinho!... Devia ter uns seis anos. E se lembra disso? - Ele sorriu de novo. Hermione se levantou e colocou o velho chapéu de volta na cabeça do menino. A aba ficou caída para a frente, e a morena teve que se abaixar para poder alcançar o rosto do irmão sob o chapéu e beijá-lo.

- Boa-noite - disse.

- Boa-noite - respondeu Jody, sem se mover.

Ela estava relutando em deixá-lo. Ao chegar ao pé da escada, virou-se. Jody estava ainda olhando para ela de modo atento, por baixo da ponta do chapéu, que continuava caída de forma ridícula sobre seu rosto. Havia algo em seus olhos que fez Hermione perguntar:
- Há algo errado?

- Não, nada.

- Então nos vemos amanhã.

- Certo, tudo bem - disse Jody. - Boa-noite.





N/A: E então, gostaram? Rosamunde Pilcher é a mesma autora do livro "Os Catadores de Conchas"! Esse romance foi escrito em 1972, portanto, não esperem cenas muito calientes... apesar de que eu tentarei ajusta-las e dar mais emoção... Ih, já estou falando demais... =X
Quanto ao nosso moreno favorito, o Harry ainda não aparece no início, mas não se preocupem, logo logo vcs vão vê-lo! O próximo cap só com CINCO comentários... Talvez seja até postado hj, só depende de vcs... hehehe
=*

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