V
No one but me can save myself, but it's too late.
Ninguém além de mim pode me salvar, mas é tarde
now I can't think, think why I should even try.
Agora não posso pensar por que eu deveria ao menos tentar
Dias e meses e eternidades. Eu havia perdido a minha inocência quando acreditei que iria mudar o mundo, quando acreditei que o sangue derramado não era em vão, que aquilo seria uma forma de purificar o nosso mundo.
Talvez fosse soberba ou então - como você certamente diria - a maior burrice do mundo. Eu não era um herói, apenas um títere, um meio para que alguém mais forte alcançasse o que queria.
Mas as noites que passei em claro, os pesadelos...
Na minha ânsia por provar que eu era realmente digno do nome que carregava, de pertencer à Sonserina, eu me enredara tão profundamente nas Artes das Trevas, que nem mesmo consigo imaginar como poderia viver de outra forma.
Eu nunca fui excepcionalmente bonito ou inteligente, não havia feito nada que merecesse mérito. Contudo, em meio a todo aquele horror pela busca do inatingível, eu tentava alcançar apenas a aprovação dos outros: queria trazer orgulho aos nossos pais, queria provar ser tão capaz quanto qualquer Comensal da Morte, queria que meu Mestre visse que eu honrava a marca que queima em meu antebraço.
E a cada dia crescia a certeza de que havia algo tremendamente errado. Não havia glória nenhuma. Era apenas batalha e dor e sangue, tanto sangue em minhas mãos, tantas mortes que eu presenciara e causara. Eu me sentia aterrorizado ante aquilo tudo, queria fazer parar; mas não por uma razão nobre, não porque eu me importasse com os outros: eu queria recuperar a minha paz de espírito, queria salvar o resto de dignidade – se é que possuí isso em algum momento – que ainda me restava.
Eu queria me sentir puro novamente.
Contudo, não foi realmente difícil descobrir sobre as horcruxes – razão máxima para que eu esteja aqui. Os discursos do Mestre sobre a mortalidade e invencibilidade, não eram meramente uma forma figurativa de mostrar a sua superioridade. Ele mutilara sua alma da forma mais absurda, almejando algo que até a mim parece repulsivo.
E a cada encontro com o meu mestre, o meu medo crescia de maneira exponencial. Cada pensamento era perigoso, e a minha incapacidade e falta de talento me deixavam mais apavorado. Como se cada mínimo gesto, olhar, pensamento, como se o simples ato de respirar denunciasse a minha traição: eu descobrira o segredo que movia os planos do Lorde das Trevas, eu sabia o que motivava a sua obsessão. Aquela guerra não teria fim, não enquanto ele não dominasse todos – fossem bruxos ou trouxas. Era a busca pelo poder absoluto e o Lorde não estava disposto a dividir nada com os seus “aliados”.
É inútil tentar explicar as razões que me levaram a estar aqui, nesta caverna, relembrando todas essas coisas, Sirius. Mesmo sabendo que você nunca irá conhecer estes fatos, eu me apego debilmente a cada lembrança sua como forma de me sentir um pouquinho mais forte.
Ao menos desta vez, quero provar que posso fazer algo realmente útil: mesmo que ninguém acabe sabendo disso.
Minha consciência está tranqüila, é isso o que importa.
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