Briga Com o Ruivo



As aulas recomeçaram e o castelo estava cheio de novo. Após as maravilhosas férias, tudo ocorreu muito bem e as semanas se desenrolaram com facilidade. Até que, em uma tarde de maio, algo que Sarah e Draco realmente não esperava aconteceu.
Draco estava na aula de História da Magia quando Filch o chamou até a sala de Dumbledore. O loiro agradeceu mentalmente pois não estava com paciência para ouvir falar de bruxos velhos. Ao entrar na sala, ficou perplexo. Não acreditou no que estava vendo. Ela estava ali na sua frente. Só se deu conta quando escutou sua melodiosa voz falar:
- Querido...
- Mãe... – falou quase num sussurro e foi até ela, ainda a encarando. Quando estava bem próximo, a abraçou com força. Narcisa, surpresa pela atitude do filho, correspondeu ao abraço com carinho. Estava com muitas saudades, assim como ele. – Como você consegui chegar até aqui?
- Dumbledore me ajudou. Estou tão feliz de te ver. Não sabe o quanto eu ansiava por estar perto de você novamente.
- Eu também. Tenho tanto o que contar. – Animado, segurou as mãos da mãe enquanto falava.
- Também tenho muito que te contar.
Dumbledore foi para uma outra parte da sala para dar-lhes privacidade. Os dois ficaram conversando durante horas até que Draco pediu para o professor chamar Sarah pois queria apresentá-la a sua mãe. Dumbledore não iria negar.
A aula estava simplesmente uma bagunça. McGonagall tentava mostrar a Colin Creevey como transfigurar um livro em uma cadeira, mas o máximo que o rapaz conseguira fora uma cadeira de papel. Todos riam descontroladamente, inclusive a professora, quando Filch apareceu na porta de surpresa.
- Com licença, mas o Professor Dumbledore está chamando a aluna Sarah Wynette.
A menina o encarou com os olhos arregalados. Odiava quando Filch a chamava sempre com aquele sorriso debochado, querendo vê-la assustada. Não perguntou para que a chamava. Apenas o seguiu e entrou sozinha na sala do tio em silêncio. Viu Dumbledore mais afastado e Draco com uma mulher conversando. Nenhum dos três perceberam a presença dela ali. Foi se aproximando devagar quando distraiu-se com a conversa do namorado. Escondeu-se atrás da fênix.
- Draco, eu fico feliz por você ter pensado direito sobre se tornar um Comensal da Morte. – A loira dizia em tom baixo, com um pequeno sorriso, enquanto jogava os longos cabelos platinados para trás.
- Tomei minha decisão. – respondeu com um meio sorriso pensativo. – E pretendo não voltar atrás, não importa o que digam e o que façam.
Sarah sentiu seu coração parar. Não queria acreditar no que ouvira. Comensal da Morte. Draco. Lembrou-se, num flash, de tudo que escutara de seus amigos antes de se envolver com o rapaz. Era verdade. No fundo, tinha esperança de que aquilo não bastasse de mentiras e boatos, mas pelo visto não era. Draco se tornaria um Comensal, com certeza. Era a única coisa que poderia concluir. Ele serviria a Voldemort. Foi se aproximando aos poucos do rapaz sem mover o olhar decepcionado dele. Narcisa, ao ver a garota, sorriu para ela. Só então Draco viu que a grifinória estava ali. Virou-se em sua direção.
- Sarah, eu queria que você conhecesse minha mãe. – disse animado, mas fechou o sorriso ao ver que a menina o encarava de maneira muito estranha. – O que aconteceu?
- Por que você nunca me falou sobre essa história de se tornar um Comensal? – indagou com os olhos lacrimejados.
- O que? – Não entendeu. Pensou que realmente tivesse ouvido mal, mas a cara de Sarah dizia exatamente o contrário. Nada lhe passou pela cabeça para dizer. Não sabia o que fazer. Apenas deu um suspiro vencido e abaixou a cabeça.
Dumbledore, do seu lugar, não disse nada. Apenas levantou os olhos para ver o que estava acontecendo e segundos depois voltou o olhar para o livro. Sabia exatamente o que estava acontecendo, mas fingiria não saber. Era mais conveniente.
- Você é... – Foi se afastando do rapaz e quando ele tentou segurá-la, desviou. Não queria ser tocada por ele. – Eu não sei o que...
- Sarah, isso é um mal entendido. Você não entendeu o que eu quis dizer. – Narcisa tentou explicar ao perceber que a menina estava chocada e Draco desnorteado.
- Eu ouvi muito bem. A senhora disse que ele se tornaria um Comensal da Morte. – Não conseguia conter as lágrimas.
- Não é isso, não. – Ela também tentou se aproximar, mas Sarah não permitiu. – Você está equivocada.
- Deixe mãe, – Draco disse sem tirar o olhar pesaroso da garota. – ela não está totalmente enganada.
- Está vendo?! – As lágrimas aumentaram ao escutar aquilo. – Você é desprezível Draco!
Mal terminou de dizer aquilo e saiu da sala correndo, deixando Draco apreensivo. Correu para a Torre da Grifinória sem olhar para trás. Só queria deitar em sua cama e chorar sozinha, mas sabia que isso não seria possível com Gina e todos os outros na Sala Comunal. Foi para a sua salinha secreta. Lá ninguém a incomodaria, a não ser seus pensamentos. Ficou lá a tarde toda e em nenhum momento deixou de pensar em Draco. Quando fechava os olhos, via Draco com uma capa preta e seu rosto coberto. Como um Comensal. Aquela imagem lhe trazia pânico. Não queria crer que aquilo poderia ser verdade. Imaginou se algum dia poderia ser feliz por muito tempo. Abraçada as pernas e com a cabeça abaixada, chorava desolada até que escutou um barulho na porta. Ao levantar a cabeça viu Draco a sua frente, próximo da porta. Ele não conseguia encará-la. Apenas se aproximou e se sentou ao seu lado.
- Eu estava esperando minha mãe ir embora para vir te ver. Eu posso me explicar? – perguntou em tom suplicante.
- Não. – respondeu dura ao abaixar novamente o rosto.
- Sarah, me desculpe se eu não disse antes. Não faria diferença, pode ter certeza. Eu não vou virar um Comensal, como você pensa.
- Quem me garante?! – gritou, encarando-o com fúria. – Eu pretendia me tornar uma Auror, afinal eu sou sobrinha de Dumbledore. O que você acha que passará em minha mente? E o pior será... – Seus olhos congelaram, nenhuma lágrima caiu, mas no entanto nunca estiveram expressando tanta dor. – O pior será quando a guerra chegar. Vamos estar em lados diferentes e... Eu não quero nem imaginar. O Comensal e a Auror, eu e você, frente a frente... – Seu corpo tremeu por completo imaginando a cena terrível.
- Isso não vai acontecer porque eu não vou me tornar um Comensal. Minha mãe estava justamente falando isso. Antes dela partir, me pediu para que eu esquecesse a idéia de me tornar um Comensal, mas eu não escutei na época. Só agora desisti por causa de você. Por isso minha mãe queria tanto conhecê-la. Conhecer a garota que me mudou tanto, que fez eu desistir de seguir Voldemort.
Sarah o fitou profundamente. Havia sinceridade em seu olhar, mas era tão difícil acreditar no que ouvia.
- Você jura, Draco? – suplicava, segurando com força as mãos do loiro. – Jura pra mim que não vai se tornar um Comensal?
- Eu juro. Juro pelo nosso amor, que é mais forte que tudo. Nunca deixaria isso nos separar.
Sarah o abraçou com ansiedade e Draco aliviou-se por perceber que Sarah o havia perdoado. Mais do que nunca tinha certeza de que não poderia deixá-la por nada no mundo. Queria ficar ao lado dela pra sempre. Senti-la a cada segundo de sua existência.
- Acho que não passei uma boa imagem pra sua mãe. – falou ao se afastar do abraço com um sorriso triste.
- Ela não poderia gostar mais de você. Você terá outra oportunidade de conhecê-la bem.
Ficaram ali até altas horas da noite e quando perceberam que realmente estava tarde, voltaram para os dormitórios. Estavam tão acostumados com aquela rotina que nem Filch e sua gata conseguiam pegá-los.
Sarah preferiu não comentar com ninguém sobre o acontecido. Era o mais conveniente. Durante o café da manhã seguinte, enquanto ela conversava com Rony, um envelope caiu em sua mesa, próxima de seu prato. Olhou para cima surpresa e viu a coruja ir embora. Reconheceu aquela coruja com sacrifício. Era a mesma que diversas vezes viera entregar cartas à Draco. Mas de quem seria? Todos em sua volta encararam o envelope preto. Sarah pegou-o e o fitou. Não havia nome.

“Querida Sarah
espero que Draco tenha lhe explicado o que verdadeiramente aconteceu. Infelizmente não foi dessa vez que nos conhecemos, mas não faltará uma nova oportunidade. De qualquer forma, gostaria de agradecer-te pelo que fez na vida de meu filho. Por ter feito ele deixar de ser um simples menino mimado para tornar-se um homem de verdade. Fico agradecida e me atrevo a pedir algo mais. Cuide dele pra mim, pois não posso estar tão próxima como gostaria. Sei que você é a única pessoa que pode cuidar desse rapaz.
Com carinho
N.M.”


Sarah abriu um imenso sorriso ao terminar de ler. Uma carta da mãe de Draco. Não poderia ser melhor. Acenou na direção da mesa da Sonserina chamando a atenção de Draco. Pediu que o menino fosse até ela. Ele disse que não, mas não resistiu ao olhar suplicante da garota. Contrariado, levantou-se e caminhou lentamente até a parte da mesa onde estavam. Rony encarou Harry como se não tivesse acreditando que o sonserino estivesse ali. Gina apertou-lhe a mão e lançou-lhe um olhar de reprovação, ordenando-o que se controlasse.
- O que é, Sarah? – indagou sem olhar para os outros.
- Olha o que eu acabei de receber. – Levantou-se e afastou-se um pouco do grupo com Draco. Estava com um enorme sorriso e entregou-lhe a carta que estava em mãos.
- Hum... Isso é bom. – permaneceu com os olhos no papel, muito concentrado. – Quer dizer que agora eu tenho uma nova babá? Isso é muito bom. Vai trocar minha frauda e me dar mamadeira? – Olhou-a com um sorriso maroto, fazendo-a corar. Ao receber dela um tapa no braço, deu-lhe um rápido beijo. – Já vou para a aula.
- Até mais. – Sorriu e guardou a carta no bolso da veste, voltando para a mesa.

Foram passando os dias e estavam em meados de abril. Sarah e Draco andavam muito bem. A única coisa que incomodava os dois, e não só a eles, mas a todos, eram os ataques que se tornavam comuns demais. Havia quase um por dia. Harry andava muito preocupado e todos percebiam. Conseqüentemente ficavam ainda mais preocupados.
- Ele está tão próximo que eu posso sentir a presença dele. – Harry disse durante o almoço, onde ninguém conseguia comer.
- Sarah podia perguntar ao namoradinho dela as novidades, né?! Digo, isso porque ele deve saber de muitas coisas que ninguém aqui sabe. – Rony falou sem olhá-la e não pode ver o olhar de raiva que a amiga o lançara.
- Rony, você é ridículo! – Hermione o enfrentou abismada com as coisas que o ruivo dizia sem pensar, mas não negaria que a hipótese existiria. – Você fala nas horas que deveria ficar calado.
- CHEGA, RONY! – Sarah levantou da cadeira repentinamente, assustando a todos. Apontou o dedo para o rosto de Rony, queimando em fúria. – Eu não sou obrigada a ouvir você falando merdas sobre o MEU namorado. Você é muito bonzinho, muito lindinho, muito legal nos momentos de diversão, não é?! Mas nos momentos em que eu preciso de você como um amigo de verdade você só sabe falar abobrinhas! Até hoje você NUNCA me apoiou com relação ao Draco. Todos já aceitaram, menos você que é meu melhor amigo! Hoje eu vejo que Draco nunca mentiu quando dizia que você era um imbecil, mas a babaca aqui ficava te defendendo sempre. Eu não quero mais saber de você, tá legal?! GRANDE BOSTA DE AMIGO VOCÊ É!! – Jogou a cadeira no chão tomada de ódio e saiu do Salão ainda trêmula.
- Bem feito! – Gina disse irritada. Não entendia como o irmão podia ser tão incompreensível com Sarah. – Quem mandou você ser tão idiota?!
- Por que você teima em não aceitar que Malfoy pode não ser como nós pensamos? – Hermione também parecia não ter mais paciência com Rony. Ele não podia ser tão indelicado.
- Não falem assim. – Harry meteu-se, defendendo o amigo. – A gente não pode impedir Rony de falar o que quer. E, além do mais, todos nós sabemos que Draco Malfoy pode se tornar um Comensal, se já não o for. Foi o que a gente sempre achou e não temos certeza se ele desistiu dessa idéia, estando com Sarah ou não.
- Pois eu acho que não. – Gina fitou a todos. Não acreditava que estava ali defendendo Draco. – Acho que ele merece um voto de confiança como todos. Ninguém pode negar que ele mudou bastante. Agora eu vou ver minha amiga.
Gina se levantou e se dirigiu para a entrada do Salão e não viu que Draco a seguiu. Correu até a Torre e só percebeu que Draco estava atrás dela quando estava passando pelo Quadro.
- O que você quer, Malfoy? – indagou voltando para fora.
- Quero saber qual foi a burrice que seu irmão fez agora. – falou aborrecido.
- Ele, como sempre, falou de você e Sarah não gostou. Só isso. – Não falaria o que o irmão dissera.
- Dessa vez foi mais sério, eu sei. Vi o estado que Sarah estava. Ela discutiu sério com ele.
- Sim, eu discuti e não me arrependo. – Sarah os surpreendeu surgindo de repente na frente do Quadro naquele momento. Foi até eles. Permanecia muito séria. – Ele me irritou dessa vez. Eu não quero ver ele nem pintado de ouro na minha frente nunca mais! – dizia com raiva. Seus olhos encharcados.
- Sarah, – Draco riu. – a gente sabe que isso não é verdade. Você só está zangada agora, depois vai passar. Você vai se reconciliar com ele e tudo vai ficar bem entre vocês.
- Não dessa vez. Ele insinuou que você sabia sobre Voldemort e sobre os ataques que estão acontecendo. – falou com as lágrimas caindo. Parecia ter esquecido que Gina estava logo ao seu lado, com os olhos arregalados.
- Você não pode culpá-lo. Você mesmo já pensou que eu seria um Comensal, não foi?
Sarah calou-se. Era verdade.
- Esse papo está ficando intimo demais para os meus ouvidinhos. É melhor eu sair. – Gina deu as costas com um sorriso amarelo no rosto.
- Espere aqui, ruiva! – Draco a agarrou pelo braço a trazendo de volta pra perto. – Você vai ouvir também e vai tentar enfiar algo produtivo na cabeça do imprestável do seu irmão.
- Está bem. – Num muxoxo contrariado permaneceu ali.
- Deixe ele pensar isso. Você sabe que aquilo lá é mais teimoso que uma mula, desculpe o termo. – acrescentou ao ver a expressão de desagrado de Gina. – Na hora certa ele vai saber que está enganado eu eu vou vibrar ao ver a cara dele de babaca. – Sorriu fantasiando a cena. – Eu só quero que você faça as pazes com ele. Sei como você fica mal quando briga com um dos seus amiguinhos grifinórios. – dizia num tom paternal que ele nunca imaginara ter, não deixando de lado o incontrolável deboche.
- Por mais que você esteja pedindo, – Aproximou-se do loiro e o beijou com carinho pelas palavras de consolo tão compreensivas dele. – eu não vou fazer isso.
Com um sorriso e o olhar perdido, entrou para a Sala Comunal deixando os dois para trás.
- Ela também é muito teimosa! – Draco afirmou encarando o Quadro por onde Sarah acabara de passar.
- Quem é você?! – Gina indagou pasma, fitando o sonserino. – Você não é o mesmo Draco Malfoy, não mesmo.
Draco apenas riu.
- Não sou mesmo.
Deu de ombros e foi para o seu dormitório.

Faltava um pouco mais de um semana para o término das aulas. Sarah parecia um pouco chateada, mas não comentava com ninguém o motivo, nem mesmo com Gina, que sempre insistia que a amiga deveria desabafar. Todos imaginavam que seria pela briga com Rony já que a menina não voltara atrás em sua decisão, por mais insistentes que fossem as investidas de Rony para uma conversa. Ela não brigava, não gritava, apenas o ignorava. Desde aquele dia no Salão Principal ela não dirigira uma única palavra sequer a ele. Aquilo começava a magoar o rapaz, que ficara arrependido do que dissera depois que Gina contou as coisa que o sonserino falara no dia da briga. Sarah realmente estava triste por isso, mas havia outra coisa que a incomodava mais. Sabia que era o último ano no colégio de Draco e ficaria muito mais difícil manter o namoro com o rapaz a distância. Por mais que tentasse manter o ânimo, a sensação de que seu namoro estava chegando ao fim era cada vez maior. Draco percebera que ela sempre estava com um olhar melancólico, mas como todos os outros, imaginava que a razão fosse Rony. Por isso, não tocou no assunto. Agia normalmente. Mal sabia ele que o problema era que ela ela tinha a mesma sensação que ele tinha. Draco havia pensado em repetir de ano para poder continuar no colégio, mas Sarah nunca permitiria e seu pai teria mais um motivo para matá-lo. Definitivamente não era uma boa idéia. A solução seria ter que se contentar com visitas nos finais de semanas e coisas parecidas, por mais que aquilo não fosse satisfazê-lo.
O dia da entrega da Taça das Casas chegou. Como era de se imaginar, Grifinória ganhara, para irritação da Sonserina. A festa na Sala Comunal fora agitadíssima e todos se divertiram muito, também para comemorar as ótimas notas dos exames.
Na última noite dos alunos no castelo houve um baile. A idéia fora de Dumbledore, para que os alunos pudessem se distrair e esquecerem todo o clima sombrio que envolvia o mundo bruxo por causa de Voldemort e seus ataques que continuavam diariamente. Muitos Aurores e alguns dementadores mais controláveis permaneciam ao redor do castelo fazendo a vigilância, por pedido do Ministério.
Todos os alunos iam para o Salão Principal com suas melhores vestes. Para os alunos do sétimo ano era ainda mais especial por ser o último ano em Hogwarts. Seria também um baile de formatura.
Draco esperava Sarah na entrada do Salão. Começava a ficar nervosamente impaciente pois Gina e todos os outros amigos dela já estavam lá. Sarah era a única que ainda estava no dormitório. O sonserino bufava inquieto quando ela finalmente apareceu. Quando a viu, Draco deixou seu queixo cair e não disfarçou a admiração. A garota vestia um longo vestido branco com alças finas bordadas com cristais. Seus cabelos estavam soltos e levemente encaracolados. Ela sorriu e foi até ele em passos lentos. Ele também vestia sua melhor veste de gala preta com uma camisa verde.
- Você está simplesmente maravilhosa. – falou ao dar o braço para que ela segurasse.
- Obrigada. – Sorriu corando e segurou o braço do loiro. – Você também está lindo.
Os dois entraram no Salão e viram alguns poucos alunos menos acanhados já dançando. A maioria permanecia sentada nas mesinhas bebendo e conversando.
Foram para a única mesinha vazia, perto dos corvinais. Mal acabaram de se sentar e Harry e Gina chegaram ali, para desgosto de Draco. Ele virou a cara com uma careta, resmungando qualquer coisa que Sarah não entendeu.
- Você demorou muito! – Gina foi logo dizendo e se sentou ao lado da amiga. – Você está linda.
- Você também está muito bonita. – Sarah agradeceu e pegou a taça de vinho que Harry trouxera gentilmente para ela. Draco o encarou furioso. Não gostara daquele gesto.
- Realmente Sarah, você está muito bonita. – Harry disse com intenção de provocar o sonserino e estava conseguindo. Viu ele apertar o punho. Riu por dentro. Se Rony não poderia perturbar Malfoy, ele poderia. – Mas não tanto quanto Gina. – Deu um beijo na ruiva que riu. Sabia o que Harry estava fazendo.
- O que você quer aqui, Potter?! – Draco perguntou ignorante, sem se importar com o olhar reprovador de Sarah.
- Viemos conversar um pouco com nossa amiga, Malfoy. Ela não é propriedade privada sua. – Harry o encarava, mas decidiu relaxar para não acabar se comportando como Rony.
- Escuta aqui, Potter...
- Draco, por favor.... – Sarah pegou a mão do rapaz e apertou com força até ele se calar.
- E você também. Pode parando. – Gina pediu séria a Harry.
- É bem melhor, ou se vocês preferirem eu e Gina saímos daqui e vocês ficam com toda liberdade pra brigarem.
- Tá bem! Eu vou pegar algo pra beber. – Draco disse e levantou-se aborrecido indo até a mesa onde havia as bebidas.
- Você as vezes parece o Rony. – Gina arrependeu-se imediatamente do que falara ao ver a feição chateada de Sarah. Não queria falar do irmão perto da amiga. – Eh... Quer dizer...
- Tudo bem. – Sarah percebeu que a amiga ficara sem graça. – Mas Harry não consegue ficar tão idiota quanto o Rony. – Terminou com um sorriso triste.
- Sarah, – Gina recomeçou e se aproximou um pouco mais. – eu queria falar com você sobre... – Não completou.
- Não há um maldito vinho ou uma cerveja amanteigada nesse baile! – Draco sentou-se mais irritado que antes com um copo de suco de amêndoas na mão, acabando por atrapalhar o que Gina estava dizendo.
- Troca comigo. Eu não gosto muito de vinho mesmo... prefiro suco. – Sarah disse e virou-se pra Gina. – Continua falando, amiga. O que houve?
- Eu queria falar com você sobre Rony. – disse encarando Draco com raiva por ele tê-la interrompido.
- Ah não... – Sarah virou-se, querendo sair dali. Não queria falar sobre aquele assunto. Nada mudaria sua decisão. Levantou-se.
- Ah sim, Sarah. – Draco meteu-se na conversa e a puxou de volta a cadeira. – Você tem que dar um jeito nisso. Está muito infantil essa birra sua.
- Eu sou obrigado a concordar com o Malfoy. – Harry disse sem agrado na voz.
- Vocês podem não se ver mais. Vai ser muito triste uma amizade acabar assim. Rony está arrependido das besteiras que falava e sente muito sua falta. Ele está muito triste e, por mais que eu sinta vontade de espancá-lo às vezes, ele é meu irmão e eu não gosto de vê-lo assim.
Ela a encarou com os olhos cheios de lágrimas. Aquelas palavras a fizeram perceber algo que ela ainda não tinha parada para associar ainda. Não só Draco iria sair do colégio, mas Rony também e talvez ela não fosse voltar a vê-lo nunca mais. Só para completar sua tristeza. Soltou-se violentamente da mão de Draco, que segurava seu braço, levantou-se da cadeira e sem explicações saiu do Salão deixando os três pasmos.
- O que aconteceu agora? Eu perdi alguma coisa? – Draco indagava totalmente confuso. – Eu vou falar com ela. Explicar que a gente só queria ajudar.
- Não! Eu vou.
- Mas eu...
- EU VOU! – Gina disse sem paciência e deu as costas aos rapazes para ir atrás da amiga.
- Todas as grifinórias são teimosas desse jeito? – O loiro perguntou à Harry encarando a ruiva correr atrás de Sarah.
- Acho que sim...
Gina bateu na porta do dormitório e ninguém respondeu. Decidiu entrar assim mesmo. Abriu silenciosamente a porta e viu Sarah sentada na cama, muito pensativa, mas não chorava. Apenas encarava a Lua pela janela com um olhar distante. Gina se sentou ao lado dela e passou a mão delicadamente pelos cabelos da amiga. Sentia que havia algo mais que chateava Sarah, que virou seu olhar marejado para Gina e não disse nada. Apenas abraçou a amiga.
- Estou tão triste. Rony vai sair do colégio e a gente nunca mais vai se falar, meu melhor amigo. Ainda tem o Draco... – Não conseguiu terminar.
- Sabia que havia algo mais. Fala, você precisa desabafar.
- Ele vai embora, Gina. O que eu vou fazer sem ele aqui? Vai ser muito difícil eu encontrá-lo. Nosso namoro vai acabar, eu sei...
- Eu também estou meio chateada porque Harry também vai sair do colégio. Vai ser difícil, mas a gente tem que aguentar.
- É diferente. Harry vive na sua casa. – Afastou-se do abraço e ficou de frente para a amiga segurando suas mãos. – Eu tenho medo. E se o pai de Draco fizer a cabeça dele e convencê-lo a me deixar? Pior! Se convencê-lo a se tornar um Comensal da Morte. Eu não vou suportar...
- Isso não vai acontecer. Você tem que ter confiança nele. Converse com o Malfoy. Aposto que ele também está aborrecido com isso. Não adianta você ficar aqui no quarto chorando. Isso não vai resolver nada. Aproveita esse noite que você pode estar com ele.
Sarah encarou a amiga com um sorriso no rosto. Respirou mais calma e conformada. Compreendia que a amiga tinha razão. O namoro dos dois passara por muitas coisas e não seria a distância que acabaria com ele. Ela tinha, pelo menos, que tentar
- Obrigada Gina, não sei o que faria sem você...
Abraçou-a, secou as lágrimas, reanimou-se e desceu com a amiga de volta ao Salão Principal. Foram até onde Harry, Hermione e Rony estavam. Sarah hesitou um pouco por causa da presença do ruivo, mas Gina a arrastou.
- Onde está o Malfoy? – Gina perguntou olhando em volta. – Ele não estava com você, Harry?
- Estava, mas aí ele preferiu ir pro jardim esperar a Sarah.
- Vai lá falar com ele amiga.
Concordou com um sorriso e olhou de canto de olho para Rony, que permanecia com o olhar na pista de dança. Evitava encará-la também.
Sarah deu de ombros e foi para o jardim a procura de Draco. Viu-o sentado num banco. Ah... aquele banco... O mesmo banco de seu primeiro baile. Sarah riu ao lembrar. Sempre lembraria. Foi aproximando-se lentamente sem que ele a visse. Beijou-lhe o pescoço por trás.
- Vejo que você já está mais animadinha, não é?!
- Sim. – Sentou-se ao seu lado e o encarou profundamente. – Draco, eu não estava triste apenas pelo meu desentendimento com Rony. É que... – Respirou e lutou contra as lágrimas que queriam cair. Draco segurou sua mão com um sorriso terno no rosto, encorajando-a a continuar. – Você vai sair do colégio e a gente não vai mais se ver...
- Eu não sabia que era por isso. Se soubesse, com certeza teria conversado com você. Eu também estava chateado com isso. – Lembrou-se das várias vezes que ficava deitado em sua cama pensando em como seria passar um ano sem ver a namorada todos os dias. – Sempre que eu puder, venho no colégio. Você é sobrinha de Dumbledore, deve ter alguns luxos que os outros alunos não têm, não é? – Terminou brincando. – E mesmo assim, podemos nos encontrar em Hogsmeade em dia de passeios. E eu vou te mandar uma carta por dia.
- Não é a mesma coisa. – Disse num muxoxo.
- Eu sei, mas não há outra solução. Ainda vai ser pior pra mim. Terei que suportar meu pai falando e você aqui sozinha, sem ninguém pra tomar conta de você... – falava num tom preocupado. – Não sei não. Tem muito marmanjo por esse colégio...
- Ah, Draco... – Abraçou-o, recostando a cabeça em seu peito. – Ninguém é como você.
- Eu sei. – concordou convencido.
Beijaram-se ansiosamente como há tempos não faziam. Parecia que aquele lugar os enchia de paixão. A paixão que já existia no baile, quando se beijaram pela primeira vez. Ainda com os lábios colados, escutaram um alto barulho estranho. Afastaram-se assustados. Não entenderam até olharem para o céu. Sarah, apavorada, segurou a mão de Draco com uma força inacreditável. Viram os alunos correrem para os jardins. Ele não acreditou que aquilo estava acontecendo logo naquele momento. Encarou mais um vez o céu. Aquela Marca Negra não o deixava se enganar.

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