Quadribol e Enfermaria
Draco voltou para seu dormitório, ainda dominado pela fúria. Sentia vontade de quebrar tudo. Goyle e Crabbe já estavam dormindo. Poderia lançar uma Maldição Imperdoável em Harry, mas, apesar de tudo, não conseguia sentir raiva de Sarah. Sentia-se magoado. Nunca sentira aquilo, mas ele sabia. Sabia que gostava muito de Sarah e que ela o havia magoado, o havia traído. Pegou o caderno dela e teve impulso de rasgá-lo, mas hesitou. Poderia ter algo naquele caderno. Respirando fundo, abriu-o e começou a folhear. Olhava página por página procurando algo sobre Harry até que encontrou algo que realmente o havia surpreendido mais do que tudo. Um desenho. Um desenho diferente de todos. Um desenho que ele poderia jurar que já havia visto.
- Sou... sou eu?... – Ele indagou a si mesmo ao ver aquela copia idêntica sobre a folha de papel.
Era como se estivesse olhando em um espelho. Era simplesmente perfeito. O rosto fino, os olhos azuis-acinzentados, o sorriso debochado e o olhar maroto. Não poderia falar que era outra pessoa parecida com ele pois havia seu nome escrito em letras bem desenhadas em verde e detalhes prateados. Do outro lado da folha havia um poema. Não resistiu e começou a ler.
Gosto de ti pelo que és, gosto de ti pela intensidade que irradias e pela força que devolve.
Gosto de ti por essa paz serena que carrega cheio de mistérios.
Gosto de ti porque em teu coração encontro o calor humano não descoberto por ninguém.
Gosto de ti porque tudo fizeste sendo somente o que és. Talvez isso seja amor.
Fechou o caderno rapidamente, como se houvesse se assustado com o que vira. Queria negar, mas não podia que aquilo o havia deixado confuso, muito confuso. Contudo, a raiva não o deixava raciocinar corretamente. Cegava-o de maneira incontrolável. Queria acreditar que estava errado, mas era mais fácil acreditar que estava certo e que Sarah realmente o havia enganado. Guardou o caderno entre seu material e foi se deitar. Dormiu depois de um longo tempo pensando em Sarah. O único pensamento que sempre vinha a sua cabeça. Por bem ou por mal, sempre o perseguia.
Sarah não havia dormido a noite toda. Quando viu que o dia estava amanhecendo, se levantou e foi se trocar, afinal, não adiantaria nada ficar na cama. Foi para o banheiro, tomou banho, se vestiu e se olhou no espelho. Estava horrível. Cheia de olheiras e abatida. Decidiu não assistir as aulas naquele dia. Sentou-se no chão e, sem se controlar, começou a chorar.
- Sarah, o que aconteceu? – perguntava Gina batendo na porta trancada.
- Abra a porta, Sarah. – Adriene pediu também batendo na porta.
- Eu já vou. – falou ao se levantar e secar o rosto.
- O que aconteceu? – Gina indagou assustada ao ver a aparência da amiga.
- Não foi nada. Estou me sentindo mal, só isso. – mentiu.
- O que você está sentindo? – Adriene também estava assustada. Nunca havia visto a menina assim.
- Enjôo e náuseas. Não sei... Minha cabeça dói... – Sarah não queria dizer a verdade, então inventou qualquer coisa.
Gina e Adriene a colocaram na cama. Adriene acreditou, mas Gina não. Percebeu que a amiga estava muito triste e desconfiou do porquê.
- É melhor você ir na enfermaria. Você não está bem. – falou Adriene a cobrindo. – Eu tenho que ir pois Andrew está me esperando, mas não vou ficar sossegada sem saber se você está bem.
- Pode ir, Adriene. Eu cuido dela e depois vou para a aula.
- Está bem. Cuide-se, Sarah.
- Então, o que aconteceu de verdade? – perguntou Gina sentando ao lado dela quando Adriene saiu.
- Eu tive uma briga com Draco. – Sarah falou recomeçando a chorar. – Foi horrível, Gina. Ele falou coisas horríveis.
- Você tem que me contar, mas agora temos que ir para a aula.
- Eu não vou assistir às aulas hoje. Vai e depois conversamos.
- Está bem. Daqui a pouco eu volto, mas não fica assim, está bem? – pediu e Sarah concordou imaginando se realmente fosse possível.
Quando Draco viu Gina entrar no Salão sem Sarah sentiu um aperto forte no peito. Sabia que alguma coisa havia acontecido. Procurou não se importar muito, mas não conseguia. Deixar de pensar em Sarah naquele momento era quase impossível. “Deve estar querendo fazer charme.” pensou tentando convencer a si mesmo. Assim que viu Gina saindo, se levantou da mesa e foi atrás dela. Esperou chegar até um lugar que não havia ninguém e a chamou.
- Weasley! – Procurou não atrair atenção. Quando ela virou e o viu, a chamou para um canto mais escondido.
- O que você quer, Malfoy? – perguntou sem nenhuma paciência. Queria bater nele por Sarah.
- Quero que você entregue isso para Sarah. – falou, entregando o caderno para ela.
- Então estava com você? Ela estava procurando, sabia? Não deve ficar com as coisas que não são suas sem permissão. Agora está roubando as coisas dos outros?
- Eu não preciso roubar como você, Weasley. Eu tenho dinheiro. Só estou te pedindo que entregue para ela. Tem uma carta dentro.
- Tudo bem. Por que você mesmo não entrega? – disse procurando saber mais ou menos o que tinha acontecido.
- Porque espero não vê-la mais e você deve saber o porquê.
- Ela só disse que vocês dois haviam brigado e nada mais.
- Então a sua amiga é bem falsa com você. Ela não contou que o motivo pelo qual terminamos foi porque a vi aos beijos e abraços com o seu amorzinho, o imbecil do Potter?
- Como? – Gina ficou sem ação. Não acreditou. – Não pode ser verdade.
- Pois vejo que ela não te contou. Tem que escolher melhor suas amizades, Weasley.
- Você está mentindo. – Sentiu seus olhos lacrimejarem.
- Não estou mentindo, não. Ela não pôde se encontrar comigo ontem porque ela tinha outro encontro. Estava na estufa de Mandrágoras, agarradinha com o Potter. Se não acredita, pergunte para ela mesma. Agora, se ela desmentir, é porque realmente não tem nenhum caráter. – terminou e saiu dando as costas para a ruiva, atônita.
Gina ficou chocada com o que tinha escutado. Não podia acreditar, não queria acreditar. Preferiu não fazer nada. Foi para a aula e falaria com Sarah depois. Enquanto isso, Draco sentia um remorso terrível, mas não podia dizer que tinha se arrependido. Tinha dito aquilo mais por simples despeito do que para prejudicar Sarah, embora soubesse que aquilo a iria prejudicar e muito.
Ao final das aulas, Gina nem ao menos foi para o Salão Principal almoçar. Precisava falar com Sarah. Foi para a Sala Comunal e subiu as escadas correndo até o dormitório. Abriu a porta e viu Sarah sentada na cama lendo um livro.
- Malfoy pediu para que eu te entregasse isso. – falou muito séria e entregou o caderno.
- Estava com ele? Como ele conseguiu pegar se eu não dei para ele?
- Não sei, mas ele falou que tem uma carta dentro.
Ficaram em silêncio. Gina queria falar, mas não conseguia. Sua voz ficava presa na garganta. Quando sentiu que ia começar a chorar resolveu falar logo.
- Sarah, é verdade o que o Malfoy falou?
- E o que ele falou? – indagou, se levantando da cama e ficando de frente para Gina. Supôs o que seria com temor.
- Ele disse que vocês terminaram porque ele havia visto você e Harry na estufa ontem a noite juntos e sozinhos. Isso é verdade?
- Gina, – começou Sarah ao ver que ela começava a chorar. – é verdade, mas não é bem assim como ele falou.
- Então como é?! – indagou elevando o tom de voz.
- Nós nos encontramos ontem à noite, sim. Mas não foi nada demais.
- Como você pôde? – Afastava-se aos poucos dela. – Eu não acredito. Eu pensei que você fosse minha amiga.
- Não é nada disso do que você está pensando!
- Então me diga o que aconteceu e por que vocês se encontraram! – gritava.
- Bem... – Sarah queria dizer a verdade, mas não poderia. Não queria estragar a surpresa que Harry estava preparando tão animadamente. Não sabia o que fazer. – Não foi nada demais, apenas conversamos. – terminou de cabeça baixa já sabendo que Gina não acreditaria.
- Como eu pude confiar em você? Você é uma traidora, eu odeio você!
- Não diga isso, Gina. Eu não traí você! – Sarah também começou a chorar. – Por favor, não diga isso.
- Nunca mais quero falar com você, traidora! – gritou e saiu do dormitório batendo a porta.
Sarah sentou-se na cama, começando a chorar ainda mais. Não podia acreditar no que estava acontecendo. Primeiro, o ataque em Hogsmeade, depois, a discussão com Draco e agora a briga com Gina. Parecia que o mundo estava caindo em sua cabeça. E mal sabia Gina que tudo que Sarah estava fazendo era por ela mesma. Pegou o caderno e procurou a carta de Draco, que estava na página onde havia o desenho dele. Abriu o envelope e começou a ler.
“Wynette,
não pense que aquilo que aconteceu foi uma simples briga e que depois resolveremos tudo. Na verdade, foi bom que tenha sido assim pois a qualquer hora isso iria acontecer mesmo. Mais cedo ou mais tarde eu acabaria terminando com você, então, não vejo motivo para lamentos. Simplesmente temos que esquecer. Enquanto ao seu caderno, o achei na biblioteca no chão no dia do passeio a Hogsmeade. Ia devolver, mas acabei me esquecendo. Você desenha e escreve muito bem, mas imagino que tudo seja, de uma certa forma, mentiras, afinal, alguém como você não sabe falar a verdade, não é? Além do mais, que tipo de pessoa você é? Ficar com o garoto que sua amiga ama? Fique bem com seu namoradinho.
Atenciosamente e adeus,
D. M.”
Agora sim Sarah estava a ponto de morrer de tristeza. Nada mais lhe faltava para piorar seu ânimo. Pensava que tudo que havia tido com Draco era uma simples ilusão e que ele nunca a havia levado a sério. Ele não tivera ao menos um pouco de consideração e ela também não deveria ter, por mais que fosse difícil. Enxugou as lágrimas que antes corriam livremente pelo seu rosto. Pegou um pedaço de papel perdido entre suas coisas. Escreveria uma carta e colocaria um ponto final definitivo naquela história.
Draco estava deitado na sua cama, muito pensativo. Pensando na única pessoa que conseguia habitar seus pensamentos quase vinte e quatro horas por dia, por bem ou por mal. Tentava imaginar como Sarah estaria naquele momento quando uma coruja entrou pela janela, deixou uma carta cair sobre seu peito e logo saiu voando pelo mesmo lugar que entrou. Surpreendido, o garoto abriu o envelope e reconheceu a letra rapidamente. Pensou em amassar a carta e jogá-la fora sem nem ao menos ler, mas algo mais forte o impedia.
“Malfoy,
pouco me importa se o que tivemos foi ou não importante para você porque pra mim foi. Porém, se você prefere acreditar no que você viu, o que não foi nada de mais, tudo bem, não me importo. Eu sei o que eu fiz e não foi nada de mais e falei para você, mas você prefere não acreditar em mim. Se você realmente é dessa maneira, eu só sinto por você, porque eu não estou perdendo nada.
De quem espera não te ver nunca mais,
Sarah, ou como você prefere, Wynette.
P.S.: Obrigada por ter estragado minha amizade com a Gina, sendo que, nesse momento, era a única coisa que realmente poderia me animar. Realmente estou muito agradecida”
Draco sabia que Sarah estava furiosa e extremamente infeliz e não precisaria olhar em seus olhos para ver. Suas palavras estavam cheias de raiva e mágoa. Naquele momento, começou a duvidar se tudo tinha acontecido como ele realmente pensava, senão, ela não agiria daquela maneira. Tentou não dar importância a esses pensamentos confusos, mas não conseguia. Queria saber o que realmente tinha acontecido, mas tinha medo. Medo de saber que estava errado e que havia a magoado sem motivo.
Sarah resolveu ir para sua salinha secreta. Pegou uma capa, porque estava muito frio, e foi. Quando passou pela Sala Comunal, viu Gina sozinha sentada em uma poltrona. Olhou-a, mas ela desviou o olhar com furor. Continuo andando, procurando não olhar para o rosto de ninguém. Foi por um caminho mais curto que passava perto das masmorras da Sonserina, mas nem havia percebido. Não conseguia esquecer que, além de ter perdido Draco, havia perdido a amizade de Gina. E tudo por tentar ajudar alguém. Tentou se controlar com a idéia de que depois que Harry fizesse sua tão esperada surpresa, Gina ficaria sabendo de tudo, mas não conseguia. A tristeza estava demasiadamente forte. Forte demais para ela conseguir controlar. Começou a chorar novamente. Mesmo com o corredor vazio, ficou de cabeça baixa para que não a vissem daquela maneira. Caminhava rapidamente enquanto suas lágrimas caiam pelo seu rosto.
Draco chamara Crabbe e Goyle para irem ao jardim. Precisava esquecer Sarah e ficar no dormitório deitado com aquela carta na mão não ajudaria. Os três estavam andando pelo corredor quando Draco viu Sarah passar por eles de cabeça baixa. Ela não o havia visto até que Crabbe comentou alto:
- Grifinórias idiotas não deveriam ser permitidas a andar nesse corredor. Suja o ambiente. – E riu junto com Goyle.
Sarah levantou a cabeça enxugando as lágrimas e olhou para trás. Draco ficou sem reação ao vê-la tão abatida. Nunca tinha visto-a daquela maneira. A garota sentiu sua tristeza aumentar mais ainda ao ver o loiro e Draco podia ver aquilo refletido nos olhos dela. Aqueles olhos que ele tanto adorava, antes sempre vivos e brilhantes, mas naquele momento estavam mortos, quase vazios. Draco estava se sentindo a pior pessoa do mundo. Um monstro. Sarah, sem saber o que fazer, deu as costas e continuou seu caminho em passos apressados. “Deve ter passado por aqui de propósito só para eu vê-la chorando.” pensou tentando não ligar para a culpa que sentia.
A Sala Comunal estava vazia quando Sarah voltou. Subiu direto para o dormitório. Gina e Adriene já estavam dormindo. Colocou a camisola e foi dormir, ou pelo menos tentar.
Quando acordou naquela manhã simplesmente congelante, Adriene ainda dormia, mas Gina não estava ali. Já deveria estar acordada. Então, Sarah arrumou-se e desceu. Lá, encontrou Rony e Harry conversando.
- Bom dia, Sarah! – cumprimentou Rony e Harry animados como sempre. Esses sim, juntos, nunca pareciam ter problemas.
- Bom dia. – Tentou parecer animada também, mas não conseguiu.
- Está melhor? – Harry perguntou ao dar um xeque-mate em Rony. Com o passar do tempo ficara bom em xadrez. Sarah balançou a cabeça em sinal de afirmação sabendo que era mentira.
- Harry já me contou tudo sobre Gina e o que ele pretende fazer. – Rony comentou num tom de voz mais baixo, como um segredo.
- É verdade. Senta aqui. – Harry disse mais alegre que antes. Esse assunto sempre o empolgava.
Sarah se aproximou e se sentou ao lado de Harry. Ficaram conversando um tempo sobre várias coisas e principalmente sobre quadribol e o próximo jogo até que Hermione desceu.
- Bom dia, pessoal. – Ela cumprimentou e se sentou ao lado de Rony. Beijaram-se. Pareciam tão felizes. Sarah sentiu uma pontinha de inveja. Desejava estar tão feliz quanto eles.
- Hermione também já sabe. – Harry comentou com um sorriso e Hermione sorriu.
- E quando vai ser? – Sarah indagou tentando mostrar também empolgação.
- Eu espero que o mais rápido possível.
- Eu também. – falou Sarah mais para si mesma. – Harry, aconteceu uma coisa e você precisa...
Sarah ia contar o que havia acontecido quando escutou Gina entrando na sala. A ruiva encarou um por um e quando chegou em Sarah, quase a fuzilou com um simples olhar. Sorriu, tentando mostrar uma superioridade e esconder a chateação.
- Harry, – começou a falar. – eu fiquei sabendo do seu novo namoro, parabéns! Claro que não foi pela Sarah, foi por outra pessoa. Ela não é minha amiga de verdade, não me conta nada. Mesmo assim parabéns para os dois. Espero sinceramente que vocês sejam muito felizes. – terminou com um sorriso sarcástico e subiu as escadas para o dormitório deixando todos de queixo caído com sua atitude. Somente Sarah não havia ficado surpresa. Sabia que a menina faria algum comentário maldoso.
- O que houve, Sarah? – perguntou Harry confuso. Não tinha idéia do que estava acontecendo.
- Isso que eu ia falar. – Tentou controlar o choro. – Alguém viu a gente ontem na estufa conversando, mas inverteram a história totalmente e contaram para Gina. Agora ela pensa que eu e você temos alguma coisa. – Sarah explicou, mas preferiu omitir a pessoa que contara.
- Mas por que você não explicou para ela?
- Eu não quero estragar a surpresa e também eu não saberia o que dizer, como explicar.
- Mas não é justo. – falou Hermione, inconformada. Levantou-se da poltrona. – Ela está pensando uma coisa errada de vocês.
- Mas é melhor não falar nada. Pelo menos até Harry fazer essa surpresa. Depois fica tudo resolvido. Por favor...
- Não é justo. – disse Rony insatisfeito. – Agora vão para a aula. Eu tenho que pegar meus cadernos lá em cima e depois eu desço.
Concordaram e foram para o Salão Principal, com exceção de Rony que, na verdade, esperaria ali pela irmã. Não permitiria que aquele mal entendido continuasse. Até porque, do jeito que as coisas estavam, Gina poderia não querer mais falar com Harry e não teria maneira dele se aproximar, muito menos dizer o que sentia. Ao vê-la descer, correu em sua direção e a puxou pelo braço até a lareira.
- O que você quer, Rony? – perguntou irritada, se soltando dele.
- Que palhaçada é essa que você está fazendo, hein? Você realmente acha que Sarah e Harry têm alguma coisa?
- Pois foi o que me contaram.
- Então essa pessoa é uma mentirosa, imbecil ou, no mínimo, exagerada, muito exagerada. Eles dois se encontraram sim ontem a noite e eu sabia. E foi por sua culpa.
- Culpa minha?! Essa é boa! – Ria debochada. Não queria escutar o irmão que com certeza defenderia Sarah.
- O máximo que aconteceu entre os dois foi um abraço de agradecimento e sabe por quê? Porque Sarah está ajudando Harry a te fazer uma surpresa!
- O que?! – Gina indagou confusa e incrédula. Não entendeu.
- Isso mesmo! Harry queria fazer uma surpresa pra você e Sarah o estava ajudando e é assim que você paga a ela? Magoando-a? E o pior é que ela não queria que a gente falasse pra você antes para não estragar o que Harry está preparando, mesmo sofrendo com as coisas que você disse.
- Eu não acredito... O que foi que eu fiz? – Estava completamente arrependida por ter sido tão impulsiva. Nunca desconfiaria daquilo.
- Uma grande burrada, foi isso que você fez. E agora você vai consertar isso.
- É claro! Eu já vou! – falou e saiu correndo para fora da Sala Comunal atrás da amiga. Precisava pedir desculpas.
Gina não conseguiu falar com Sarah durante todo o dia. A noite foi para o dormitório esperar a amiga e, para sua surpresa, ela estava lá. Entrou no quarto vagarosamente, um tanto envergonhada, e se sentou ao lado dela.
- Sarah, me desculpe. – A ruiva começou a falar olhando para os próprios pés que se moviam nervosamente sem ritmo. – Eu não sabia... – Não conseguia falar e começou a chorar. Lembrou-se do que tinha dito para a amiga. Tinha sido muito cruel. – Rony me falou o que aconteceu. Eu não sabia o motivo pelo qual você e Harry haviam se encontrado. E quando eu perguntei, você não me explicou, deu uma desculpa qualquer, eu fiquei com muita raiva. Pensei outra coisa e... eu estou muito arrependida... Me desculpe.
- Tudo bem. Eu entendo. – Levantou a cabeça que antes estava baixa. – Então não está mais zangada comigo? – Sorriu com os olhos cheios de lágrimas.
- Claro que não! – Abraçou-a cheia de afeto. – Você é minha melhor amiga. Eu fui uma idiota.
- Vamos esquecer isso. – disse com o coração mais leve por ter feito as pazes com Gina, mas algo ainda a incomodava mais.
As duas ficaram alguns minutos abraçadas até que Sarah comentou chorando:
- Foi um abraço assim que eu e Harry demos e nada mais. Draco não consegue entender isso.
- Ah amiga... O que estava escrito na carta?
- Leia você mesma. – falou e pegou a carta que estava em cima da cama, dando a Gina.
Logo que terminou de ler, Gina suspirou fundo e deu um outro abraço na amiga. Podia sentir que ela estava sofrendo muito. Estava em seus olhos tristes que brilhavam apenas pelo reflexo das lágrimas. Logo Sarah, que sempre estava feliz, brincando, rindo e ajudando os outros, precisava de ajuda. Uma ajuda que ninguém podia dar a não ser a vida mesmo. A vida que parecia tão injusta com a garota.
- Não fique assim. – Não suportava ver Sarah tão triste e desanimada. – Logo vai estar com outra pessoa melhor que o Malfoy.
- Eu não quero alguém melhor que ele. Eu quero somente ele.
A quinta-feira havia chegado e todo o colégio já estava agitado. O campeonato de quadribol ia começar. Quando Draco, que estava conversando com o goleiro do time da Sonserina, viu que Sarah e Gina haviam entrado juntas e conversando normalmente, sentiu um grande alívio. Não queria causar nenhum mal entre as duas. Os últimos dias haviam sido tão turbulentos que ele quase esquecera do jogo. Só não conseguira esquecer por causa do resto do time paranóico falando em seu ouvido.
Poucos minutos depois do almoço, os alunos já se encontravam nas arquibancadas. O jogo entre Sonserina e Corvinal, que por mais que não tivesse sido longo, fora muito emocionante e terminou quando, com um sorriso triunfante, Draco anunciara que havia pegado o pomo. Sarah deu um pequeno sorriso muito bem disfarçado ao ver que ele ganhara o jogo. Apenas Gina havia percebido. Ele a olhou profundamente ainda com o sorriso no rosto, mas desviou o olhar quando o resto do time veio falar com ele. Ela suspirou desviando o olhar do campo. Ele suspirou de onde estava em meio a sonserinos enlouquecidos. Não queria estar ali. Queria estar onde a dona dos olhos verdes mais perfeitos do mundo estava.
Na volta para o castelo, Sarah tivera uma idéia. Levou Gina até sua salinha. A ruiva ficara encantada com o local que não sabia que existia. Ficaram conversando sobre o jogo e principalmente sobre Draco até a noite, quando voltaram para o dormitório.
O jogo entre Grifinória e Lufa-lufa fora bem parecido com o do dia anterior. Durante todo o jogo, Grifinória visivelmente mantinha vantagem sobre a outra casa e terminou com Harry pegando o pomo.
Sarah e Gina foram para os jardins logo depois. Conversavam sobre o Natal que estava se aproximando e, com ele, o frio. O lago já estava congelando e as montanhas e serras que havia em volta do colégio já estavam virando cinza-gelo.
- Eu nem acredito que vamos passar o primeiro Natal juntas! – Gina falava muito feliz abraçando a amiga. – Vai ser maravilhoso! As férias vão ser maravilhosas. Todos os meus irmãos vão pra minha casa.
- Vou ver todos os Weasleys juntos. – comentou imaginando a cena. – Vai ser muito legal. Eu queria ter uma família grande como a sua.
- E você tem. A minha família também é sua família agora, se esqueceu?
- Obrigada. – sorriu. De uma certa forma era verdade.
Era bom pensar que tinha uma amiga como Gina e que a família dela era como sua própria família. Há menos de um ano tinha apenas uma mãe. Agora tinha duas mães, um pai, um tio, muitos irmãos e amigos. As coisas tinham mudado. Mudado não, melhorado. Mas, além de tudo, ela tinha alguém a quem amar, mesmo que naquele momento estivesse sofrendo por esse amor.
As meninas acordaram cedo com o barulho que vinha da Sala Comunal. Arrumaram-se e desceram. Repararam logo na euforia presente na sala lotada de alunos. Todos falavam com Harry, Rony, Andrew e resto do time, dando-lhes sorte, dicas e tudo mais para o jogo. Uma menininha do primeiro ano passou entre todos e entregou um trevo de quatro folhas para cada um.
- É para dar sorte. – ela falou com sua voz tranqüila e sorriu muito doce. Todos se encantaram.
- Obrigado. – agradeceram numa única voz e colocaram por dentro do uniforme. Qualquer coisa que pudesse os ajudar seria bom.
Desceram para o Salão Principal. Realmente não era só na Sala Comunal da Grifinória onde estavam nervosos. Naquela manhã, os alunos estavam realmente mais histéricos e nervosos que nos outros dias. Era a final do campeonato de quadribol. Grifinória X Sonserina sempre era o jogo mais animado e, principalmente, mais disputado que qualquer outro, sem falar em demorado. Conversavam e faziam apostas secretas de qual casa ganharia ou qual apanhador pegaria o pomo.
Pelas dez horas da manhã a escola inteira parecia estar nas arquibancadas que cercavam o campo de quadribol. Muitos estudantes e professores tinham binóculos para ver melhor a partida. Sarah e Gina preferiram ficar mais afastadas de Hermione e Adriene para poderem conversar mais à vontade.
Madame Hooch fora convidada para ser juíza do jogo. Estava parada no centro da quadra esperando os dois times. Logo eles entraram. Um em cada lado. Draco de um lado, Harry de outro. Encaravam-se com raiva e com certo deboche.
Draco entrou na quadra um pouco mais nervoso que das outras vezes afinal, Sarah estaria vendo o jogo. A procurou com o olhar discreto e quando a viu tentou disfarçar um sorriso que teimava em surgir. Pela primeira vez não jogaria simplesmente para competir com Harry diretamente. Jogaria para mostrar a Sarah que ele era melhor que Potter.
Sarah o achara especialmente mais bonito naquele dia. Talvez fossem os finos raios de Sol que ultrapassavam as densas nuvens e faziam surgir um brilho diferente no rapaz. Sentiu falta dele. Uma saudade incontrolável. Lembrou de seus abraços tão calorosos e de seus beijos. Precisava dele ainda.
- Quero um jogo limpo. – Madame Hooch disse olhando diretamente para o time da Sonserina. – Montem nas vassouras, por favor.
Então, depois de dar todas as ordens, ela puxou um silvo forte no seu apito de prata. Fora dada a partida.
“A goles começa na posse de Sonserina. Lembrando a todos que essa é a final, como sempre, entre Sonserina e Grifinoria.”
Teo Boot estava narrando a partida mais do que animado, histérico.
“A goles é rebatida ferozmente por Andrew Canan. Os dois times estão jogando com força total. Mila Bulstrode tem a posse da goles e sai correndo, digo, voando. Ela vai marcar. PONTO PARA SONSERINA!”
A torcida de Sonserina se encheu de berros.
“Sonserina começa bem e já tem a posse da goles. Johnny está indo em direção ao gol, mas foi impedido por um balaço rebatido por Bruce Leto da Grifinória. Boa jogada! Grifinória tem a posse da goles e Joe Cardim marca!” Teo continuava narrando enquanto a torcida da Grifinória ia a loucura.
Draco e Harry se mantinham fora do alcance de todos. Sobrevoavam a procura do pomo que não aparecia. Um balaço veio em direção a Harry, mas James Foster chegara a tempo para rebate-lo.
O jogo começava a ficar um pouco cansativo. Grifinória mantinha uma grande vantagem sobre Sonserina. Marcava ponto atrás de ponto. Draco começava a ficar irritado com aquilo. Se soubesse que o time estava tão ruim ele mesmo o teria treinado. Precisava ganhar. Tinha que ganhar. A situação começava a piorar quando um balaço atingiu a cabeça de Antony Houaiss, o goleiro da Sonserina. Enquanto ele estava um pouco tonto devido a pancada, Grifinória marcava mais e mais pontos. Foi quando Draco viu o pomo de ouro passar por trás de Harry. Mergulhou entre todos atrás da bolinha veloz. Harry, ao perceber o que estava acontecendo, também foi. Os dois, cabeça a cabeça, deram várias voltas em torno do campo atrás do pomo que parecia estar mais rápido do que nunca. “Eu tenho que pegar o pomo!” Draco pensava. Deu uma olhada muito rápida para a arquibancada e viu Sarah que parecia estar muito aflita. “Eu vou ganhar, Sarah. Eu vou ganhar e você vai ver quem é melhor. Eu ou o Potter!” pensava enquanto olhava para a garota, pressionando a si mesmo.
O pomo estava bem próximo dele e, quando estava a pouquíssimos centímetros de distância, um balaço atingiu em cheio sua vassoura fazendo com que ela rodopiasse algumas vezes. Perdendo a direção e o equilíbrio, Draco caiu direto no chão, perdendo os sentidos. Harry aproveitou o momento e foi a procura do pomo, mas não o encontrou. Madame Hooch se aproximou do rapaz desmaiado e abriu sua mão que estava sobre o corpo e tirou o pomo.
Harry desceu com a vassoura furioso junto com Rony que não sabia se ficava chateado por Draco ter pegado o pomo, ou se ria por ele ter desmaiado.
“Malfoy pega o pomo, fim de jogo! Mas esperem, o placar diz que Grifinória tem duzentos e cinqüentas pontos enquanto que Sonserina, mesmo tendo pegado o pomo tem apenas duzentos e quarenta. VITÓRIA DA GRIFINÓRIA POR DEZ PONTOS!! DEZ PONTOS DE DIFERENÇA!!”
Teo gritou finalizando o jogo e a torcida da Grifinória berrou histericamente enquanto que a torcida da Sonserina se enchia de lamentos.
Quando Sarah viu Draco desmaiado no chão entrou em pânico. Não sabia o que fazia. Correu descendo as arquibancadas junto de Gina sem pensar se alguém fosse perceber sua preocupação. Havia uma grande multidão que impedia que elas passassem. A maioria parabenizava o time da Grifinória. Sarah queria realmente ver Draco, mas também tinha uma grande parte de pessoas em volta dele. Seria impossível se aproximar. Resolveu ir falar com seus amigos ao ver que ele já estava recebendo cuidados da enfermeira. Depois daria um jeito de vê-lo.
Logo depois, na Sala Comunal, uma grande festa aconteceu. Todos comemoravam a vitória da Grifinória. Havia muita comida e bebida. Rony e Harry pareciam exagerar um pouco no vinho. Sarah foi para o dormitório inventando uma falsa dor de cabeça, mas Gina continuou na festa escutando Harry, que se exibia. Chegando lá, deitou na cama e começou a chorar. Queria muito ver Draco. Começou a imaginar o que poderia ter acontecido e se ele tinha se machucado muito. Precisava saber como ele estava, mas sabia que não poderia vê-lo por dois motivos. Primeiro, desconfiariam da presença dela na enfermaria e segundo, ele mesmo não queria vê-la e esse era o motivo que mais a machucava. Foi então que teve uma idéia. Sem que ninguém percebesse, entrou no dormitório de Harry e procurou pela capa de invisibilidade que tinha devolvido. Quando a achou, colocou por debaixo da roupa e voltou para o dormitório. Assim que desse onze horas, a hora em que todos iam para seus dormitórios, iria ver Draco. Ninguém a veria, muito menos ele. E ela o fez. Quando o relógio deu onze horas em ponto, sem nem ao menos avisar Gina que já dormia, desceu para a Sala Comunal que estava vazia. Viu uma bagunça terrível. Copos e papéis pelo chão, as poltronas fora do lugar e pratos espalhados. A vitória da casa parecia tê-los alegrado de verdade. Cobriu-se com a capa e saiu em direção a enfermaria.
Draco acordou com sua cabeça doendo muito. Poderia gritar de tanta dor. Olhou em volta e viu que estava na enfermaria. Ao se lembrar que havia pegado o pomo ficou muito feliz. Tentou se levantar, mas seu corpo estava dolorido demais para qualquer esforço. Preferiu continuar deitado. Queria muito saber o que Sarah estava pensando. Será que ela havia finalmente entendido que ele era melhor que Harry? Não queria pensar nele, mas era algo incontrolável. O ciúme que sentia era incontrolável. Foi então que escutou passos. Não poderia ser Madame Pomfrey pois esta dormia um sono muito pesado do outro lado da enfermaria e não havia mais ninguém ali. Viu, como por um encanto, um pouco afastada de sua cama, Sarah aparecer tirando uma capa de invisibilidade e se aproximar. Sem saber o que fazer fechou os olhos e fingiu que ainda dormia.
A garota ficou bem acalmada ao ver Draco dormir tranqüilamente sem machucados. Colocou sua capa no pé da cama e se aproximou mais. Viu uma perna dele enfaixada, mas não deveria ser nada demais. Uma sensação muito boa invadiu seu coração. Queria poder abraçá-lo. Passou a mão delicadamente sobre o rosto do rapaz, que por sua vez, também sentiu uma sensação maravilhosa por senti-la novamente. Estava muito feliz por ter Sarah ali, apesar de tudo. Também queria abraçá-la, mas não poderia.
- Você é um idiota... – Sarah disse baixinho próxima de seu rosto. – Por que você não acredita em mim? – continuou, pensando que ele dormia. Uma lágrima caiu.
Aproximou seu rosto do dele e beijou docemente seus lábios. Draco, que tentava se controlar, não resistiu. Envolveu os braços na cintura da garota puxando-a para mais perto e tentou beijá-la, mas ela, assustada, se afastou.
- Draco! O que vo...você está fazendo acor...acordado? – perguntou gaguejando ainda com o coração palpitando rapidamente.
- Eu estava dormindo, mas você me acordou. – mentiu com o velho sorriso debochado. Disfarçava, mas seu coração pulava dentro do peito pela alegria que sentia. – E você, o que está fazendo aqui?
- Eu fiquei preocupada e vim ver se você estava bem. – disse corando.
- Já viu que estou ótimo. Pode ir. – falou com um pouco de desprezo impulsivo. Arrependeu-se. Não queria agir assim.
Sarah pareceu ficar magoada com aquilo e ele percebeu. Quem não ficaria chateado por receber um tratamento daqueles? Para não criar um clima chato começou a falar, puxando assunto.
- Gostou da vitória da Sonserina? Seus amiguinhos ficaram muito tristes? – perguntou com um sorriso presunçoso. Pensara ingenuamente que havia ganhado.
- Não. Ninguém ficou triste já que a Grifinória venceu. – respondeu com um sorriso maior que o do rapaz.
- Como?! Eu peguei o pomo! – falou surpreso e um pouco irritado.
- Mas Grifinória já estava na frente. Duzentos e cinqüenta a duzentos e quarenta. – Sentou-se na beirada da cama.
- Não é possível! Há... que ódio! Eu mesmo vou treinar aqueles idiotas ano que vem! – exclamou furioso e deu um soco no colchão.
- Não grita. – Sarah ordenou, reprovando-o. – Madame Pomfrey pode acordar.
- Essa daí não acorda nem se um dragão cair na cabeça dela. – comentou ainda irritado. – Ainda por cima ronca. Parece uma coruja asmática. Vou ter pesadelos com os roncos dela.
- Coitadinha... – Sarah ria com as reclamações do garoto tão rabugento. – Não desconte sua raiva nela.
- Então fique aqui para você ver se não é assim. – falou desejando que ela realmente ficasse ali com ele.
- Eu tenho que ir. Está ficando tarde. – disse, mesmo querendo ficar também. Levantou-se e pegou a capa.
- Não. – Ele segurou sua mão, impedindo que ela fosse. – Por favor, não vai embora. É um saco ficar aqui sozinho. Ninguém vem me ver e a única coisa que eu posso fazer é dormir.
Sarah não poderia negar nada para ele. Aceitou ficar. Sentou-se novamente na cama e ficou ali conversando com o rapaz sobre o campeonato e os jogos. Nada que os interessasse realmente. Nada sobre os dois. Não conseguiam falar sobre o que realmente queriam. Sobre o que aconteceu na noite que Draco viu Sarah com Harry. Conversavam simplesmente para um se manter ao lado do outro. Depois de um tempo, não havia mais o que dizer e ficaram em silêncio. Cada um olhando para um lado já que não tinham coragem para se encarar. Sarah decidiu ir embora. Estava ficando envergonhada com aquela situação.
- Agora eu preciso muito ir. Não posso ficar aqui com você.
- Por que? O idiota do Potter está te esperando para um encontro? – falou, sem pensar, com raiva por não poder ficar mais com ela e logo se arrependeu. Não conseguia entender por que sempre agia como um burro.
- O único idiota é você. – disse depois de fitá-lo com pesar. Arrependeu-se profundamente de ter perdido seu tempo com ele. Pegou a capa e foi embora.
- Eu sou um imbecil! Por que eu tinha que ter dito aquilo? – gemeu com raiva de si mesmo.
Depois que Sarah foi embora, ele não conseguiu voltar a dormir. Ficou pensando. Lembrou-se do que ela havia dito quando pensava que ele estava dormindo. Ela não diria aquilo se o tivesse enganado. Lembrou-se do que vira naquela noite, confirmando para si mesmo que não havia sido nada demais. Concluiu, então, que realmente tudo tinha sido um mal entendido. Decidiu que iria falar com ela e pedir desculpas. Não podia mais ficar longe dela. Não podia continuar indiferente ao ritmo no qual seu coração batia sempre que a via.
Os risos e barulhos vindos dos jardins não deixaram que Sarah dormisse mais. Levantou-se, olhou pela janela e viu muitas pessoas se divertindo com os granizos. Apesar do tempo ter esfriado muito, ainda não começara a nevar. Arrumou-se e pegou a capa de Harry. Antes de ir para a Sala Comunal, passou no dormitório dele e guardou a capa onde a tinha pegado.
Depois das aulas, Sarah e Gina ficaram conversando com os amigos na Sala Comunal e depois foram passear nos jardins cobertos de pequenos pedaços de gelo. Andavam perto do lago enquanto Gina contava como fora a festa da noite anterior, já que Sarah não tinha ficado muito tempo. Percebeu que a amiga fazia um esforço enorme para prestar atenção no que ouvia. Algo tinha acontecido com certeza. Sarah resolveu contar para ela sobre a noite anterior na enfermaria ao dar-se conta que não conseguiria esconder nada da amiga. Depois, ficaram passeando pelo castelo até o final da tarde. Não havia nada pra fazer e a temperatura fria não as permitia agüentar muito tempo no lado de fora. Quando estavam voltando para a Torre, lembraram-se de que não tinham comido nada. Gina foi para o dormitório pegar algum doce ou qualquer coisa que pudesse aliviar um pouco a fome, mas Sarah preferiu ir para a sala onde se encontrava com Draco. Precisava pensar um pouco e ficar sozinha, e ali, sentiria a presença do sonserino.
Quando Gina estava passando pelo Quadro, escutou alguém chamá-la. Olhou em volta e viu uma sombra, mas não distinguiu quem era. Foi até o canto onde a pessoa estava e a reconheceu com muito desgosto.
- Você de novo?! O que quer Malfoy? Me envenenar mais? Saiba que não vai conseguir...
- Onde está Sarah? – interrompeu vendo que a garota não pararia de falar. Tinha acabado de sair da enfermaria e estava decidido a conversar com Sarah.
- O que você quer com ela? Machucá-la e magoá-la de novo? – indagou irritada. Não permitiria aquilo.
- Não. Eu só quero conversar com ela. Só isso.
- Escute bem, Malfoy, nesses últimos dias Sarah esteve muito triste. Tudo por culpa da sua teimosia.
- O que realmente aconteceu entre ela e o Potter? – perguntou, querendo sinceramente saber a verdade.
- Nada. Naquela noite eles marcaram um encontro para prepararem uma surpresa para mim. Por isso eles estavam sempre conversando. O abraço que Harry deu nela foi de agradecimento por ela ter ajudado ele e nada mais. No entanto, você não entende isso porque não tem amigos.
- Não venha me dar lições de moral, Weasley! Só quero que você me diga onde ela está. – disse disfarçando o arrependimento que sentia por saber a verdade.
- Eu vou dizer pra você onde ela está, mas antes eu quero que você me escute. – Encarou-o determinada. Draco revirou os olhos, mas prestou atenção. – Não quero ver Sarah sofrendo como ela vem sofrendo nesses últimos dias. É muito fácil você chegar lá e falar com ela pois você não a via chorando antes de dormir. Os olhos dela estavam tristes. Ela não conseguia pensar em você sem ficar mal. Agora ela está um pouco melhor. Pense bem antes de iludi-la porque, se você a magoar novamente, eu vou acabar com você. Não poderia vê-la daquela maneira de novo.
- Eu também não poderia vê-la triste novamente, Weasley. Você acha o que? Que eu não me importei de vê-la triste? Pois eu me importei e fiquei chateado também.
- Não foi isso que pareceu na carta que você escreveu.
- Eu escrevi aquilo por despeito! Eu gosto de Sarah e não vou magoá-la novamente. Você acha que eu sou um bicho? Que não tenho nenhum sentimento?
- Eu não sei. Não conheço você. Além do mais, quem tem que resolver isso é Sarah. Ela está na sala onde vocês se encontravam. Falou que precisava pensar.
- Obrigada, Weasley. – disse realmente agradecido. A Weasley que ele tanto ofendia o estava ajudando. – Devo essa a você.
- Talvez eu esteja enganada sobre você. Quem sabe você não seja tão idiota assim. Agora vá logo falar com ela. – disse sorrindo e o garoto, contente, correu deixando para trás uma Gina surpreendida pela sua atitude diferente da que ela esperava.
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