Confusão



Draco voltou para seu dormitório depois do almoço. Se fosse como antes, agora estaria muito satisfeito com o que havia acontecido em Hogsmeade, mas não estava. Não sabia ao certo o porquê, mas não estava. Claro que não estava preocupado e muito menos assustado, mas não estava animado como deveria. Ainda mais depois de ver como Sarah ficara com aquilo. Aproveitou que estava sozinho e pegou o caderno que Sarah havia deixado cair pela manhã. Primeiro, hesitou um pouco por saber que poderia ter coisas pessoais, mas a curiosidade era muito maior. Abriu. Na primeira página havia o nome de Sarah bem grande com o desenho de várias borboletas em volta. Virou a página e viu que tinha um poema. Não se interessava por essas coisas, no entanto, não pode evitar em começar a ler. Quando acabou ficou admirado. Não fazia idéia que Sarah escrevia tão bem. Por mais que ele não gostasse de poemas, sentiu uma atração muito forte pelas palavras. Virou novamente a página e leu outro que o impressionou mais ainda. Continuou a ler com uma vontade incrível. Não sentia um interesse por leitura alguma há muito tempo. Cada vez mais se impressionava com as coisas escritas. Palavras cheias de emoção vindas diretamente da alma. Começava a admirar aquela garota mais e mais. Além de sentir-se nos pensamentos da garota, a leitura seria uma ótima forma de distração, até mesmo para esquecer um poucos os problemas.

Sarah continuava sentada no corredor chorando e pensando. Tomava conclusões erradas de que era culpada do que havia acontecido. De repente, levou um susto ao sentir uma mão em seus cabelos. Olhou para cima e viu a professora McGonagall com um sorriso leve e olhar preocupado.
- O que houve querida? – perguntou compreensiva, estranhando a aparência da menina que estava muito abatida. – Suas amigas estão preocupadas com você. Pediram-me para te procurar. O que está acontecendo?
- O que aconteceu foi culpa minha, professora. Eu poderia ter evitado... – completou ao se levantar.
- Venha comigo, vamos ver seu tio. – falou e a levou consigo até a sala de Dumbledore.
Logo estavam em frente à mesa de Dumbledore. O professor estava distraído lendo um livro qualquer e não percebeu a presença das duas. McGonagall tossiu procurando chamar sua atenção.
- Minerva? Sarah? O que fazem aqui? – perguntou um tanto surpreso ao fechar o livro e colocá-lo sobre a mesa.
- Tem uma menina aqui que está muito confusa e enganada. – Minerva disse sorrindo. – Vou deixá-los a sós.
- O que aconteceu, Sarah? – perguntou Dumbledore ao ver Minerva saindo da sala.
- O que aconteceu hoje... – Ela tentou falar, mas não conseguiu. Não conseguia parar de chorar.
- Calma... Não precisa ficar nervosa. Respire fundo e comece de novo. – Era realmente muito paciente. Não era a toa que todos, ou pelo menos a grande maioria, gostavam do diretor.
- O que aconteceu hoje... eu sonhei com aquilo ontem... mas eu não disse pra ninguém...
- E você acha que a culpa é sua? – perguntou enquanto tirava os óculos e colocava sobre o livro que estava lendo antes.
- Eu poderia ter evitado...
- Pare com isso, Sarah. – interrompeu como se não estivesse gostando da conversa. – A culpa não foi sua e eu não quero que você pense assim. Você não poderia ter evitado. O máximo que aconteceria seria que os alunos ficassem perguntando o motivo do passeio ser cancelado, e eu não poderia dizer que foi por causa do sonho de uma aluna, e que as pessoas atacadas fossem outras. E além do mais, quem garantiria que seria durante o passeio? O ataque aconteceria de qualquer maneira. Não fique pensando coisas erradas.
- Talvez o senhor tenha razão. – disse depois de parar para refletir sobre o que escutara. – Talvez eu não pudesse mudar muita coisa mesmo. – Parecia mais conformada. Seu tio estava certo, não poderia se culpar. Teria acontecido de qualquer forma. – Obrigada, tio. É sempre bom conversar com você.
- Eu só estou sendo sincero. Eu sinto que esse seu dom... você não gosta muito dele, não é? Sempre se preocupa e até sofre em certas vezes.
- Às vezes. Hoje por exemplo, eu ia preferir com certeza não ter sonhado com isso.
- Você sabe que esse seu dom só vai se manter se você quiser?
- Sério? Como assim? – indagou confusa.
- Se você não quer esse dom, você pode escolher. Tem uma poção que pode acabar com ele, mas só se você realmente quiser vai funcionar. Entendeu?
- Entendi. – respondeu feliz. – Eu realmente não o quero. – completou decidida. Tinha certeza de que seria muito melhor se não tivesse esse dom. – Eu não consigo deixar que as coisas sigam seu rumo. Eu sempre penso que poderia ser diferente, que eu poderia ter mudado algo. Isso me faz muito mal porque nem sempre isso é verdade.
- Então venha comigo. Só quero um fio de cabelo seu. – Ela rapidamente arrancou esse fio e entregou ao tio. Seguiu-o até um grande armário. Viu que ele pegou um vidrinho com um líquido laranja. – Eu sabia que você iria querer essa poção então já a tinha preparado. – Jogou o fio dentro do vidro e a cor mudou de laranja para vermelho, exalando um aroma diferente. Ele entregou a ela. Sarah o encarou e, rapidamente, bebeu tudo. Sentiu um pequeno enjôo, mas nada demais.
- Agora não se preocupe. Provavelmente ela demorará um pouco para fazer efeito podendo ter o resultado esperado em algumas semanas, mas logo irá parar. – Sorriu ao ver que a sobrinha parecia mais aliviada. Mudou de assunto. – Bom... já que estamos apenas nós dois aqui... – Aproximou-se mais dela. – Como andam as coisas com o senhor Malfoy?
- Como eu poderia dizer? Melhores que antes. – falou com um sorriso sonhador.
- Gostaria que você fosse sincera comigo assim como sou com você. Sincera e direta.
- Está bem. O senhor talvez fique chateado. – falou também se aproximando mais do tio.
- Tente e vamos ver.
- Nos encontramos todas as noites desde o baile. – Corou furiosamente. – Estamos, como posso dizer, juntos.
- Então estão namorando?
- Eu não tinha pensado dessa maneira, mas...sim...estamos namorando. Eu acho...
- Que bom. Portanto que não façam nenhuma besteira. – falou muito sério e a olhou severo. A garota logo entendeu. – É melhor do que ficarem brigando sempre pelos corredores.
- Eu também acho. E não se preocupe, não faremos nenhuma besteira.
- É melhor você ir agora. Seus amigos devem estar esperando.
- Sim. Já vou.
Despediram-se com um abraço carinhoso e Sarah foi para a Sala Comunal ver suas amigas. Lá, Hermione e Gina esperavam ansiosamente por Sarah. Quando a menina chegou, fizeram várias perguntas e ficaram mais aliviadas ao verem a amiga tranqüila. Não seria bom que ela se culpasse por aquilo.
Depois de um tempo conversando, Hermione foi procurar Rony enquanto Gina e Sarah foram para o jardim passear.
- O que será que vai acontecer? – perguntou Gina depois de um tempo em silêncio, mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa.
- Com o que?
- Você-sabe-quem. – falou temerosa olhando em volta, com o olhar de medo. Parecia não esquecer ainda o que acontecera em seu primeiro ano e ainda sentia arrepios pelo corpo quando falava de Voldemort.
- Não, não sei quem. De quem você está falando?
- Não... Aquele-que-não-se-deve-nomear.
- Há... Esse negócio de não dizer o nome às vezes me confunde. – falou enquanto sentava no chão, seguida por Gina. Um desânimo muito forte bateu em Sarah ao lembrar desse assunto. Suspirou. – Bem... eu não sei. Eu espero que não aconteça nada, mas com aquela mensagem que ele deixou... duvido que não faça alguma coisa de mau. Ele matou meu pai. Se eu pudesse acabava com ele. – Seus olhos começaram a lacrimejar a lembrar do pai.
- Deve haver um meio de acabar com ele. – Gina dizia enquanto olhava para o lago. – Acho que apenas Harry pode, mas como, ninguém sabe.
- Eu não entendo muito sobre ele, por mais que me expliquem.
- Então eu vou te contar tudo o que ele já fez. Prepare-se para começar a odiá-lo ainda mais.
Gina começou a contar tudo sobre ele. Sobre seu primeiro ano em Hogwarts quando foi seqüestrada por Tom Riddle, como Voldemort matara os pais de Harry e muitas outras coisas. Por mais que Sarah conhecesse a maldade no mundo dos trouxas, não pôde deixar de ficar espantada. Ela sempre estivera afastada dessas coisas ruins, mas agora estava tudo bem próximo e isso a assustava muito.
Começava a escurecer quando elas voltaram para o castelo. Foram para o Salão Principal, onde todos jantavam. Sentaram-se perto dos seus amigos e, para incômodo de Sarah, Peter estava lá. Irritou-se com o cinismo dele, que estava conversando com Harry e Rony. Sentiu vontade de contar para os amigos o que ele havia feito, mas não teria coragem de fazê-lo. Preferiu voltar-se para Gina e Adriene para conversar, evitando que Peter falasse com ela. Quando terminaram, para sorte de Sarah, Harry a chamou para conversar, não dando chance de Peter se aproximar. Como eles treinariam para o jogo, Harry aproveitou e chamou Sarah para ir antes com ele. Assim poderiam ficar mais à vontade para conversarem. Ela apenas avisou a Gina, que ficou desconfiada, mas nada comentou. No entanto, Sarah não havia reparado que o olhar ciumento de Draco a seguiu até a entrada do Salão fuzilando aos dois.
Quando chegaram no campo, sentaram no banco perto da arquibancada em silêncio. Sarah não entendeu o jeito estranho de Harry, que parecia inquieto. Ia começar a falar algo quando de repente ele começou:
- Tá legal! Eu confesso: gosto de Gina.
- Hã? – Sarah ficou muito confusa com a atitude de Harry, mas muito feliz.
- Eu preciso falar com alguém e a melhor pessoa é você. Eu gosto da Gina e por isso eu terminei meu namoro com Cho. Apesar de tudo eu não consigo falar pra ela.
- Eu fico feliz que confie em mim Harry, mas eu não posso te ajudar nesse assunto. Só você pode resolver isso.
- Mas como? Eu esperava que você me ajudasse. – falou um pouco decepcionado.
- Não é tão difícil. Chame ela para conversar e comente que você deixou de gostar da Cho por causa dela, só que de maneira bem sutil. Você só tem que falar o que você sente e mais nada.
- E se eu falar tudo errado? Gina é uma menina especial e não quero magoá-la. Além do mais ela é irmã do meu melhor amigo. Não sei o que fazer. – Parecia um garoto e sua primeira paixão.
- Não se importe com Rony. Se você mostrar que gosta mesmo de Gina ele vai te apoiar. E eu vou te ajudar. Eu vou pensar em uma coisa bem legal pra vocês dois e depois eu digo, ok?
- Obrigado. Você é uma super amiga. – Agradeceu contente. Queria fazer algo especial para a ruiva.
- Pode contar comigo para o que precisar.
Disfarçaram quando viram os outros se aproximarem. Sarah estava muito feliz por Gina. Harry então nem conseguia se conter de tanta felicidade por ter dito o que sentia para alguém que iria ajudá-lo.
- Gina, você vai assistir ao treino dos meninos? – perguntou Sarah para amiga que acabara de chegar.
- Claro, você não vai? – Estranhou a pergunta.
- Você esqueceu que eu tenho que estudar? – falou com um olhar muito significativo.
- Claro... – respondeu, entrando na farsa. Havia se esquecido de que a amiga iria se encontrar com Draco. – Como eu pude me esquecer?
- Depois nos vemos então.
- Ok. Temos muito que conversar. – terminou com um olhar desconfiado. Sarah teria que dizer o que havia falado com Harry.
Sarah subiu até o dormitório correndo para se arrumar. Ajeitou os cabelos, pegou a capa e foi ao encontro de Draco. Para surpresa dela, ele ainda não havia chegado. Sentou-se na mesa que ficava em frente à janela. Ficou observando a Lua, que brilhava imensamente, enquanto pensava. Novamente se lembrou do ocorrido em Hogsmeade. Não se sentia preparada para passar por tudo aquilo. Sentiu uma grande admiração por Harry. Imaginou como seria passar por tudo que ele havia passado. Com certeza não poderia suportar com a mesma força e valentia. Ficou feliz por tê-lo como amigo. Ela e Harry se davam muito bem. Talvez por já terem passado por coisas parecidas. A perda do pai e a descoberta do mundo bruxo de forma tão repentina. Uma grande tristeza invadiu seu coração ao lembrar dos alunos que estavam na enfermaria. Como desejava fazer algo para ajudá-los.
No momento em que Draco entrou na sala silenciosamente, viu uma lágrima cair pela face da garota que estava ali. Ficou completamente hipnotizado com a cena da luz da Lua refletida em seus olhos lacrimejados. Caminhou até Sarah sem que ela percebesse e a abraçou por trás. Um abraço muito carinhoso e reconfortante. Imaginou que ela estivesse triste.
- Você demorou hoje. – Ela falou secando o rosto e colocando um sorriso nos lábios.
- Por que você estava chorando? Hoje de manhã você também estava muito abatida. Aconteceu algo? – perguntou depois de dar-lhe um beijo. Chegou na sala disposto a pergunta-lhe por que ela estava andando tanto com Harry, mas ao vê-la daquela maneira se esquecera do ciúme que estava sentindo.
- De manhã eu estava daquele jeito porque não havia dormido muito bem e agora... agora me lembrei daquilo que aconteceu em Hogsmeade. Foi tão estranho... Mais do que estranho, foi horrível!
- Você fala como se nunca tivesse visto ataques dele e não é a primeira vez. Há anos coisas assim acontecem.
- Bem... é que... – Sarah havia esquecido de que ninguém sabia a verdade sobre ela. – É como se fosse a primeira vez. Eu estou com medo, você não?
- Eu não sinto nem um pouco de medo. – disse Draco apoiado na parede, de frente para Sarah.
De repente, com aquilo que Draco havia acabado de falar, Sarah se lembrou de tudo que haviam contado sobre ele antes. Coisas que ela havia se esquecido desde que estava com ele. Draco era filho de um seguidor das trevas e provavelmente ele também o era. Lógico que ele não sentiria medo. Pensou em perguntar o que ele pensava sobre aquilo, mas se lembrou do que seu tio havia perguntado para ela e hesitou. Não havia tanta intimidade entre eles para uma pergunta tão pessoal, já que não eram namorados como ela tinha afirmado para o tio antes. Apenas ficavam juntos, sem qualquer compromisso sério que os ligasse. Sarah ficou um pouco decepcionada ao concluir aquilo. Fitou Draco e reparou que ele a olhava um pouco confuso.
- O que houve? Por que você está me olhando com essa cara?
- Você estava muito distraída. Em que estava pensando? – perguntou intrigado.
- Em nada... – falou um pouco desanimada saindo de seus pensamentos confusos e desordenados.
- Mentira. – Sentou-se ao lado dela. – Agora fiquei curioso. Em que estava pensando? Conte-me.
- Draco... o que nós somos? – Resolveu perguntar logo. Não queria ficar mais confusa e nem se iludir. Precisava desse esclarecimento.
- Como assim?
- O que nós somos? É uma pergunta bem simples.
- Parece que nesses dias estamos cheios de perguntas, não? – Disfarçou rindo. Não sabia o que responder. – Acho que... bruxos? – Havia entendido a pergunta, mas não sabia o que responder. Preferiu falar qualquer coisa para ganhar tempo. A pergunta chegara de surpresa, pois ele mesmo não havia parado para pensar naquilo.
- Draco! É sério... Não se faça de bobo que você me entendeu bem.
- Bem... – começou, mas nada vinha em sua cabeça. Falou a única coisa que pensou. – Temos uma grande amizade. – Terminou com um sorriso maroto.
- O que?! Você acha que o que temos é uma amizade? – indagou chateada ao se levantar da mesa e encará-lo com os braços cruzados. – Acho que temos maneiras diferentes de definir a palavra amizade. Você acha que é esse tipo de relacionamento que eu tenho com Rony ou com Harry, que realmente são meus amigos?
- Não, ou pelo menos espero que não. – falou muito sério. Não havia gostado nem um pouco do comentário.
- Você é um grande imbecil, Draco Malfoy. Reveja seus conceitos e o que você pensa para não falar mais besteira!
Sarah foi até a porta pisando duro, tentando controlar sua raiva. Abriu-a, segurando muito forte na maçaneta. Virou-se para Draco, que estava paralisado com sua reação, e falou:
- Eu tenho uma grande amizade com Harry, Rony, Gina e com todos os outros que você odeia. Pode ter certeza de que o que eu tenho com você não é uma amizade. Aliás, eu nem sei mais se eu tenho algo com você. – terminou e saiu da sala batendo a porta com toda a força.
Draco ficou completamente pasmo com a atitude de Sarah. Não saberia explicar exatamente o que acabar de acontecer. Sabia que ela não ficaria muito alegre com sua resposta, mas não imaginou que ela fosse reagir daquela forma.
- Ela pode ser nervosa demais, mas eu sou um idiota completo. – falou para si mesmo.
Sarah estava voltando para a Torre quando resolveu ir para sua sala. Precisava espairecer sem ninguém por perto. Chegando, entrou e sentiu um cheiro muito bom de jasmim. O cheiro do seu próprio perfume. Lembrou-se que havia bastante tempo que não ia para aquele lugar tão seu. Sentou na poltrona e soltou um suspiro triste. Triste e cansado. Tudo andava perfeito demais para ser real. Parecia que nada em sua vida que fosse bom durava muito tempo. Sentiu vontade de escrever em seu caderno, desabafar, mas não se lembrava onde o havia colocado. Imaginou que estivesse guardado no dormitório e não iria até lá apenas para buscá-lo. Aconchegou-se e tentou fechar os olhos para dormir um pouco, mas não conseguia parar de pensar em Draco. Ainda estava nervosa com o que acontecera pela manhã e concluiu que exagerara um pouco com ele afinal, nem ela mesma sabia o que os dois eram. Pensou se talvez tivesse sido melhor assim já que eles nunca poderiam ficar juntos mesmo. Ficou um tempo ali, somente com seus pensamentos, até que se deu conta de que estava ficando um pouco tarde. Resolveu voltar para a Torre. Chegando lá, viu todos na Sala Comunal conversando, como a maioria das noites.
- Onde você estava, Sarah? – perguntou Adriene surpresa ao vê-la. Estranhou já que a garota poucas vezes passava a noite com eles.
- Estava um pouco enjoada de estudar, então fui dar uma volta. – Foi até a escada, mas ao lembrar-se de algo voltou. – A propósito, – Aproximou-se de Harry e lhe estendeu a capa que tirou de dentro da veste. – obrigada. Não vou mais precisar.
Ao ver aquilo, Gina ficou confusa, mas preferiu ficar quieta. Entendeu o que aquilo significava, mas precisava saber o motivo. Ao ver a amiga subir pelas escadas, despediu-se de todos e foi atrás. Quando elas entraram no dormitório e Gina fechou a porta, Sarah se jogou na cama, enfiando a cara no travesseiro e deu um grito abafado. Não precisava mais disfarçar a tristeza e a raiva. Estava com Gina e dela não esconderia nada.
- Agora pode me contar tudinho. – A ruiva disse ao se sentar ao lado da amiga. – O que aconteceu hoje com o Malfoy? Por que vocês brigaram?
- Como você sabe? Sou tão transparente assim? – indagou Sarah sem tirar o rosto do travesseiro.
- Deixe me ver...hum... – falava fazendo cara de quem pensava muito, mas na verdade não fazia esforço algum. – Você está triste e devolveu a capa para Harry, sinal de que você não pretende se encontrar mais com o Malfoy. Ah... e também, quando estávamos voltando do treino, o encontramos. E, sinceramente, ele estava com um péssimo humor.
- O que aconteceu? – perguntou com receio, levantando o rosto, já esperando uma briga entre ele e os meninos. Certas coisas pareciam não mudar.
- Nada de mais. A gente estava passando e Andrew, como não consegue se controlar, o provocou, falando que a Grifinória está com o time muito melhor, que iam acabar com a Sonserina e blá, blá, blá. Malfoy, que estava com uma cara péssima, gritou que não estava a fim de brigar e que não queria se irritar com grifinórios idiotas.
- E aí? – perguntou cada vez mais interessada. Draco realmente parecia ter ficado irritado.
- E aí, nada. Ele deu as costas e foi embora. Agora conta por que vocês brigaram.
- Porque ele é um imbecil!
- Isso eu já sei. Mais o que?
- Eu perguntei pra ele o que nós éramos. E sabe o que ele respondeu? Que nos éramos amigos! Eu fiquei tão irritada. Ele não teve sequer a coragem de dizer nada melhor. Eu estava preparada para que ele dissesse tudo, menos namorados, mas falar que nós somos amigos? Isso é demais...
- Eu entendo, mas se você não esperava que ele falasse namorados e nem amigos, o que você esperava? Acho que não tem muitas opções.
- Eu não sei. – Pensou e realmente não poderia haver outra coisa a dizer.
- Você, de uma certa forma está certa, mas foi exagerada. – disse sinceramente, colocando a mão sobre o ombro da amiga.
- Eu estou tentando negar isso pra mim mesma, mas você tem razão. Eu exagerei. Mas sabe? Acho que o que tinha que acontecer, aconteceu. Foi bom, mas acabou.
- É realmente isso que você esperava ter com ele? Apenas uns beijos e acabou?
- Quer que eu diga a verdade? Não e foi por isso mesmo que eu terminei com ele. Eu esperava mais.
- Eu vou repetir novamente para você: não espere muita coisa dele. Por mais que vocês tenham ficado juntos ele continua sendo um Malfoy. Ele é um sonserino frio, metido e arrogante. Não espere que ele se torne alguém como você. Você é um tipo de pessoa, ele é outro. Dois tipos totalmente diferentes.
- Mas o que eu posso fazer se eu me apaixonei pelo pior tipo? – dizia desanimada. Apoiou a cabeça no ombro da ruiva.
- Nada, minha amiga. O jeito é aceitar. – falou e a abraçou.
- Que droga! Quando as coisas começam a dar certo, tem sempre algo para atrapalhar.
- Tente ficar calma e, principalmente, tente esquecer um pouco essa história – disse. Refletiu um pouco e se afastou do abraço. Colocou a amiga a sua frente. – Aliás, essa é a chance de você descobrir se ele está realmente interessado em você. Se ele te procurar novamente, é porque ele sente algo por você. Aí vale a pena ir atrás dele. Vamos esperar para ver, ok?
- Pode ser. Mas se ele não me procurar mais?
- Aí você vai ter que esquecer ele porque, se ele fizer isso, vai ser porque não gosta de você e não te merece. Pense bem. Você é boa demais pra ele.
- Você tem razão. Obrigada. – Sorriu e abraçou a amiga novamente. Sentia-se ligeiramente mais animada. – Você é a melhor amiga que alguém pode ter, sabia? Sem você eu estaria muito mal.
- Você também é minha melhor amiga e não quero te ver triste. Agora vamos dormir que já está na hora e amanhã tem aula.
- Nem me lembre...

Em seu dormitório, Draco, por mais que mudasse de posição e vira-se de um lado para o outro, não conseguia pegar no sono. A voz de Sarah não saía de sua cabeça. Não conseguia esquecer que ela havia praticamente terminado com ele. Não poderia deixar as coisas daquele jeito. Havia chegado até aquele ponto com ela e não desistiria agora. Sabia que queria aquela garota mais que qualquer outra coisa no mundo. Queria sentir o cheiro que só ela tinha e, mais do que tudo, queria beijá-la. Sentia que agora não poderia mais viver sem os beijos daquela menina que há poucos meses atrás parecia tão distante e irritante. Apesar de tudo que sentia, não tinha coragem de pedir para namorá-la. Era um passo para um compromisso mais sério. Um compromisso que ele nunca assumira. Não sabia se conseguiria manter-se preso a alguém. Ficou um tempo pensando em toda aquela confusão que se passava em sua mente até que decidiu pegar o caderno de Sarah para continuar lendo. Precisava se distrair um pouco. Abriu na página onde havia parado e começou a ler os poemas escritos com uma letra muito caprichada. Não havia como não se admirar cada vez mais com o que Sarah escrevia. Continuou a ler os poemas e também havia alguns desenhos no caderno. Alguns passavam uma certa tristeza, outros mais felicidade, mas todos eram muito bonitos. Vendo o que a garota escrevia, sentia-se mais perto dela e aquilo o fazia se sentir bem. Só parou de ler quando era bem tarde e seus olhos teimavam em fechar-se sozinhos. Colocou o caderno embaixo do travesseiro e, em poucos minutos, pegou no sono. Estranhamente, alguns desenhos apareciam em seus sonhos numa confusão de linhas e cores.

A manhã seguinte estava muito fria. Todos estavam com vestes e capas mais grossas. O outono estava realmente rigoroso naquele ano. No Salão, quando Draco viu Sarah chegando, lembrou-se da noite anterior com um certo arrependimento. Ficaram se encarando durante alguns segundos. Enquanto Draco parecia apenas olhá-la normalmente, Sarah o fitava com raiva e um pouco de mágoa. Sentou-se de costas para a mesa da Sonserina para evitar olhá-lo novamente. Não precisava daqueles olhos tão belos em cima dela naquele instante.
- O primeiro jogo de Quadribol foi adiantado. Será na próxima quinta-feira. – Harry falou muito animado ao se sentar. Seus olhos brilhavam, estava ansioso.
- E quem vai jogar? – perguntou Sarah desinteressada enquanto remexia uma colher no copo com algo que ela mal sabia o que era.
- Sonserina e Corvinal. – falou Rony com desgosto.
- Ah... – tentou continuar parecendo desinteressada, mas não conseguiu deixar de pensar que veria Draco jogar pela primeira vez.
Todos continuaram conversando sobre os jogos que seguiriam. Harry, que estava ao lado de Sarah, esperou até um momento onde todos estavam distraídos e passou, disfarçadamente, um pequeno bilhete para ela. A morena, entendendo que não era para ninguém ver, abriu o bilhete sobre as pernas sem que ninguém percebesse.

“Preciso que você me encontre hoje à noite na estufa de Mandrágoras. Estou tendo algumas idéias para um encontro com Gina, mas preciso de sua ajuda. Hoje, às 9:00. Tudo bem?”

Draco, que estava observando Sarah desde a hora que ela havia sentado à mesa, percebeu que Harry havia dado um pequeno papel escondido de todo mundo. Achou muito estranho e uma raiva o invadiu ao ver Sarah sorrir para ele e fazer um sinal de positivo com a cabeça. “O que será que está acontecendo? Alguma coisa eles estão aprontando...” pensava muito desconfiado, enquanto se levantava da mesa para ir para a sala de aula. Lembrou-se da vez que os dois saíram sozinhos do Salão. Alguma coisa estava acontecendo entre eles e precisava descobrir o que era. Não apenas precisava, iria descobrir.
Durante o dia inteiro o rapaz havia ficado distraído nas aulas. Algumas vezes olhava para o professor, mas não prestava a atenção no que estava sendo dito. Ficava apenas lendo o caderno de Sarah. Um estranho interesse despertava dentro de si, impedindo que ele parasse de ler. Sentia-se dentro dos pensamentos dela. Só ao final da última aula do dia percebeu que não vira o dia passar. Guardou o material rapidamente e foi para o Salão Principal sem ser visto por Crabbe ou Goyle. Depois do rápido almoço, voltou novamente para o dormitório. Não havia visto Sarah no Salão e ficara ainda mais desconfiado. Depois de vê-la trocar bilhetes e sinais com Harry, tudo era motivo de desconfiança. Pegou um papel e começou a escrever uma carta para ela.

“Sarah,
gostaria muito de te ver hoje. Na noite passada as coisas não aconteceram como eu esperava. Precisamos nos falar pois ficou um enorme mal-entendido entre a gente e eu não quero que continue assim. Precisamos resolver isso. Te espero na mesma sala e no mesmo horário. Por favor, não falte.
Um beijo
Draco Malfoy”


Depois que terminou de escrever, mandou sua coruja entregar a carta. Ficou deitado na cama lendo um livro qualquer enquanto esperava ansioso pela resposta.

Quando Sarah e Gina terminaram os deveres na biblioteca, voltaram para o dormitório para guardar suas coisas e também para procurar o caderno de Sarah. Ela começava a ficar nervosa pois não o achava e não podia pensar na idéia de tê-lo perdido. Sentou-se um pouco na cama para descansar quando escutou batidas na janela. Correu para abri-la e a coruja entrou, pousando na janela.
- Alichino, o que está fazendo aqui? – disse Sarah enquanto fazia carinho no pescoço da coruja que, apesar de estar sempre séria e apressada, parecia muito dengosa e não resistia ao carinho da menina. Deixou cair a carta.
- Essa é a coruja do Malfoy, não é? – Gina perguntou sentando ao lado da amiga.
- Sim. O que será que ele quer? – Pegou o envelope e o olhou. Tentava imaginar o que estaria escrito.
- Você tem alguma dúvida? Ou ele vai terminar tudo ou vai pedir desculpas.
- Eu não quero abrir. Veja você e lê pra mim, ok? – disse entregando a carta para Gina.
- Está bem. – concordou, dando de ombros, e leu a carta toda para Sarah. – Viu? Ele quer fazer as pazes. Detesto dizer isso, mas eu estava enganada. Ele gosta de você.
- Eu não vou. – disse num grande lamento, sentindo seu coração pular, implorando para que ela fosse ao encontro dele. Draco queria fazer as pazes. Significava que ele se importava com ela. Mas lembrou-se de Harry e uma tristeza a invadiu. Já tinha marcado um encontro com o amigo e não poderia desmarcar.
- Por que não?! – Não acreditou. Achava que era o que mais a amiga desejava e agora ela simplesmente ignorava? Parecia confuso demais.
- Eu não posso. Não hoje.
- Por que? Vai fazer alguma coisa?
- Vou. Tenho que... – Nada lhe passava pela mente. Não podia falar a verdade. Tinha que inventar algo, mas era péssima para mentir.
- Tem o que? Não invente desculpas. Nós sabemos por que você não pode ir.
- Como assim? – perguntou com medo de que a amiga desconfiasse do que ela e Harry estavam combinando. Hesitou.
- Você não quer vê-lo hoje porque está fugindo dele.
- É... É isso mesmo... – concordou. – Não estou preparada para vê-lo hoje. Talvez amanhã... – Terminou com um sorriso amarelo.
- Você quem sabe. – falou e foi para o banheiro.
Sarah deitou na cama aliviada. Não gostava de mentir, mas era necessário. Não poderia contar a verdade para Gina. Estragaria toda a surpresa. Pegou um papel e começou a escrever, lutando contra si mesma, contra sua própria vontade e desejo.

“Draco,
não posso te encontrar essa noite pois já tenho um compromisso e não posso adiá-lo. Se você puder me encontrar amanhã, não há problemas. Estarei te esperando. Também acho que devemos resolver isso. Não podemos deixar tudo assim.
Beijos,
Sarah”


Guardou no envelope e entregou a Alichino, que pegou com o bico e saiu voando pela janela mais séria que antes. Parecia saber o que estava escrito. Sarah agora estava certa de que tinha errado agindo daquela forma com Draco e queria conversar com ele. Ficou um pouco triste por ter feito aquilo, mas, naquele momento, seu encontro com Harry era mais importante. Gina era mais importante. Não sabia quando ela e Harry poderiam ter outra chance de conversarem sem os amigos. “Eu sinto Draco. Eu sinto mesmo.” pensou lamentando.

Draco estava muito ansioso em sua cama. Queria logo a resposta de Sarah. Viu sua coruja entrar rapidamente pela janela e pousar em seu braço. Pegou a carta e a abriu.
- COMO?! – gritou furioso ao terminar de ler. – Como assim já tem um compromisso?! Ah, mas eu vou descobrir o que está acontecendo!
Deitou para descansar um pouco e pensar no que deveria fazer, mas acabou dormindo. Quando acordou, olhou para o relógio e viu que já se passava das 20 horas. Parou para pensar mais uma vez. Precisava ter certeza do que ia fazer para não bancar o idiota. Não importava. Tinha tomado sua decisão. Ajeitou as vestes, pegou a sua capa de invisibilidade e foi para a Torre da Grifinória. Ficou esperando uns quinze minutos em frente ao quadro até que viu Sarah, com uma capa preta, descendo em passos acelerados as escadas. “Eu sabia!” pensou. Continuou a seguindo até os jardins. Viu que ela estava se direcionando para a estufa de Mandrágoras. Cada vez ficava mais intrigado. Não conseguia imaginar o que ela estaria fazendo ali. Foi então que a viu entrando na estufa e percebeu que havia mais alguém lá. Ficou atônito e se aproximou mais para ver se reconhecia a pessoa. Não conseguiu. Só era possível ver sombras. Uma fúria incontrolável subiu pelo seu corpo. Um misto de raiva e tristeza onde prevalecia a raiva.

- Harry, estava me esperando há muito tempo? – perguntou Sarah tirando a capa, já dentro da estufa de Mandrágoras. Tinha certeza de que ninguém a havia visto. Puro engano.
- Não. Cheguei agora pouco. – falou enquanto sentava e oferecia outra cadeira para ela.
- E então, quais são suas idéias? – Sarah estava muito empolgada, embora estivesse um pouco triste. Poderia estar com Draco naquele momento. Aquele pensamento a torturava.
- Eu não tenho muita certeza, por isso chamei você. Eu quero fazer uma coisa que a deixe muito surpresa. Eu estava pensando em um jantar.
- Claro! Ela iria adorar. Um jantar simples, só pra vocês dois. O mais importante é o que você vai dizer para ela. Eu vou te ajudar em tudo! Vai ser tão lindo! – exclamou Sarah imaginando um milhão de coisas. Estava muito feliz. Sabia que sua amiga, depois de tanto tempo, merecia algo assim.
- Eu sei. Gina é uma garota muito especial, assim como você. – Harry falou com um olhar agradecido.
- Que isso... Sou tão normal como qualquer uma. – Sarah começou a corar.
- Você sabe que não. Você passou por coisas que não é qualquer um que pode agüentar. Qual garota que descobrisse que é uma bruxa, fosse pra um colégio de magia e descobrisse várias coisas sobre sua família que não tinha idéia em pouquíssimos dias reagiria como você, com uma maturidade inacreditável? Não tem pessoas como você.
- Você também passou por muitas coisas que não é qualquer garoto que agüenta. Você é muito forte e corajoso. Eu admiro você como um irmão mais velho.
- Eu também te admiro. – falou sorrindo.
- Nós nos entendemos muito bem, não acha? – disse também sorrindo e ele concordou com a cabeça.
Os dois ficaram em silêncio. Sarah queria entrar em um assunto antes que fossem embora, mas não sabia como. Reuniu sua coragem e começou a falar:
- Harry, o que você acha realmente sobre o que aconteceu em Hogsmeade? Por favor, fale a verdade.
- Eu não tenho certeza. – ficou sério. Estava tão empolgado com seus planos que acabara se esquecendo um pouco dos problemas. – Você disse que me admira, mas não pense que não tenho medo. Estou e com muito. Não sei o que pode acontecer. Pra mim aquilo foi só um aviso.
- Você acha que uma guerra... – começou Sarah. Seus olhos transpareciam o medo.
- Está próxima, bem próxima. – completou com pesar.
- Eu também tenho medo. Não tenho idéia do que pode acontecer.
- É como uma guerra do mundo dos trouxas. Só que as armas são piores, as dimensões são maiores e...
- Resumindo: é bem pior. – interrompeu, concluindo para si mesma.
- Sim. – Harry concordou com o olhar perdido na direção de um vaso de planta vazio. – É bem pior. Mas não se preocupe, eu vou fazer de tudo para proteger você, Gina e todos os outros. Sei que não posso fazer milagres, mas farei o possível.
- Eu sei, Harry. Sabemos que você tem uma grande responsabilidade nas mãos, mas eu confio muito em você.
Sarah lançou um sorriso de confiança para o rapaz, e mais do que isso, um sorriso de incentivo. Sabia que a vida dele não era fácil e que ele precisava de força para encarar os problemas. Abraçou com carinho. Ficaram assim durante um tempo. Ambos estavam precisando de um ombro amigo seguro naquele momento. Harry estava temeroso com a volta de Voldemort e Sarah, como se não bastasse seus problemas com Draco, ainda tinha toda aquela história da guerra que também não saia de sua cabeça. Um entendia a situação do outro muito bem. Haviam passado por coisas muito parecidas. Os dois haviam perdido familiares queridos pelas mãos de Voldemort. Compreendiam-se e a sensação que tinham era de fraternidade mútua. Sarah ficara mais confortada com aquela conversa. Harry lhe passava uma segurança incrível. Agora entendia porque alguns o via como um super-herói. Viam nele uma esperança, assim como ela. Após algum tempo, saíram da estufa ainda abraçados e não perceberam os olhos de alguém queimando em fúria.
Draco poderia explodir naquele momento mesmo. Fúria era pouco para descrever o que estava sentindo ao ver Sarah se encontrando as escuras com alguém. Se era mágoa ou ódio, não sabia. Só sabia que aquilo doía e muito. Jamais poderia ter imaginado que estava sendo traído daquela forma. Muito menos por Sarah. Queria gritar, pular, avançar nos dois, queria matá-los ali mesmo. Mas ao mesmo tempo apenas queria ir para seu dormitório e ficar sozinho. O que era aquilo que tanto estava incomodando em seu peito? Era algo que ele jamais havia sentido. Ver Sarah abraçando aquela pessoa era algo inexplicável, mas o pior fora reconhecer quem era. “Potter!?” gritou mentalmente. Esfregou os olhos para ter certeza do que via. Arrancou um galho de uma pequena árvore ao lado. Apertou o punho para tentar aliviar um pouco o que estava sentindo, mas não adiantava. Sentiu que seu sangue não corria mais pelo seu corpo e aos poucos seu coração parava de pulsar. Uma enorme pressão subiu para sua cabeça, causando-lhe uma incrível dor. O ódio tomava conta de seu corpo. Daria tudo para pular no pescoço de Harry e furá-lo com seus dedos. Com certeza, com o que estava sentindo, conseguiria. Viu os dois entrarem no castelo e os seguiu, tentando a cada segundo controlar-se.
Harry foi na frente para não despertar suspeitas. Depois de alguns minutos, Sarah começou a subir as escadas para a Torre, mas alguém a agarrou por trás, tapando sua boca. Por um segundo ela pensou que poderia ser Draco, mas o modo agressivo com o qual estava sendo segurada a fez descartar a hipótese, embora fosse realmente ele. Ficou tão assustada que não conseguia pensar em se defender. “Ah não... Peter!” ela pensou vendo a única possibilidade.
Draco a puxou e a levou até um canto mais escuro do corredor mais próximo onde não haveria riscos de Filch ou qualquer outro encontrá-los. Parou e a virou de frente para ele, furioso.
- Peter, eu... Draco?! – indagou Sarah surpresa, com os olhos arregalados. – O que você está fazendo? Você me deu um susto, sabia?
- Você não podia me encontrar hoje porque tinha um encontro com Potter, não é? – Foi se aproximando, encurralando-a na parede, sem piscar ou desviar o olhar cheio de cólera do dela.
- Do que você está falando? – Começava a se assustar. Jamais havia visto o olhar dele daquela forma.
- Não se finja de desentendida! Eu vi! Talvez se eu tivesse escutado alguém falando eu não iria acreditar, mas eu vi! EU VI!
- Você viu o que?! Não tinha nada para você ver. – gritava bem assustada. Draco estava fora do controle e tinha medo do que ele poderia fazer.
- O QUE?! Seus abraços com ele! – Draco estava irritadíssimo. Não podia explicar o que estava sentindo. Não tinha consciência alguma do que falava.
- Que abraços? Apenas um abraço de amigo e nada mais.
- Abraço de amigos? Em um lugar deserto a noite? Eu não sou babaca para cair nessa, Sarah. Eu vi o seu encontro romântico com o idiota do Potter. E não foi a primeira vez! Eu me lembro do dia que você saiu do Salão sozinha com ele. E também tem a noite que você não pôde me encontrar. Eu sabia que você tinha um caso com algum daqueles grifinórios nojentos que você enchia a boca para dizer que eram apenas seus amigos!
- Pare de falar idiotices, Draco. Eu não tive encontro romântico com ninguém! – Começou a chorar pois estava muito nervosa. Draco entendera tudo errado e ela não sabia o que fazer. – Queríamos conversar e nada mais.
- Não minta pra mim, não precisa mais! Eu deveria saber que você não passava de uma qualquer igual as outras. Agora você pode se exibir e fazer o que quiser...
- Olha o que você vai falar, Draco. – sibilou apavorada e também irritada. Sua expressão estava dura.
- É isso mesmo. Pode fazer o que quiser com aquele imbecil do Potter ou com qualquer um que quiser. Ou, se você quiser, talvez com todos de uma vez!
- Cala a boca! – Sarah gritou e, num impulso, deu um tapa na cara de Draco, deixando-o sem reação. – Você é o pior tipo de pessoa que eu conheci em toda minha vida. Eu nunca mais quero ver sua cara estúpida! Eu odeio você! – Chorava compulsivamente e correu escadas acima.
- Eu é que não quero ver sua cara nunca mais! – tentou gritar, mas ela já estava distante.
Sarah voltou correndo para a Sala Comunal, que estava vazia. Agradeceu mentalmente e subiu para o dormitório. Gina e Adriene já estavam dormindo. Sem nem ao menos trocar de vestes, jogou-se na cama e continuou a chorar descontroladamente. Estava muito angustiada. Não estava acreditando que aquilo havia acontecido e que Draco havia dito aquelas coisas para ela. Não conseguia controlar o pranto e parar de pensar que, agora sim, tudo havia acabado.

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