Descanço



Hannah estava olhando-se no espelho. Mais uma noite sem dormir direito, mas não era isso que ela analisava, na verdade, sua atenção estava totalmente voltada para sua cintura, ou o que um dia havia sido sua cintura. Passou a mão pela barriga, nada perceptível, mas, sem dúvida, ela estava mais gorda e um tanto que inchada. No meio de tanta preocupação ela carregava vida.

Saiu um pouco mais animada para o quarto e ousou dar um sorriso a Severo, que continuava mal humorado, ele não falou, mas ela teve quase certeza de que havia um brilhinho no olhar e uma tentativa de sorriso no rosto dele. Tomou a reação como uma oportunidade de aproximar-se e o fez. Chegou próxima a ele, sentando numa poltrona, e abriu o roupão. Notou que Severo não estava entendendo onde ela queria chegar, não se importou.

-Olhe, - puxou as mãos dele e as colocou sobre sua barriga. – está crescendo. Severo deslizou as mãos pela extensão de pele, devagar. Após senti-la, descansou sua testa nela, as mãos agora nas costas da mulher, a puxou para seu colo e a abraçou com força, como se para assegurar-se que ela estava ali realmente. –Nós podemos fazer isto, Severo. – o abraçou de volta. –Acredite, nós vamos. –disse decidida.

A sala dos professores estava vazia exceto pela presença da professora de feitiços que olhava para o tempo, entediada com o intervalo antes do almoço. Girou a varinha nos dedos e ela produziu uma chuva de faíscas amarelas. A porta escancarou-se e dois homens entraram para a sala. A conversa morreu quando eles viram a mulher e sorriram pra ela indo sentar-se junto, cada um em uma das poltronas desemparelhadas.

-Então...? –Hannah puxou assunto, eles se entreolharam.
-Então o que? –Sírius perguntou displicente, mas ela tinha certeza que havia alguma coisa escondida.
-O que é que vocês estavam conversando? –mais uma troca de olhares, e Hannah fez algo que, sabia, ia trazer resultado: uma olhar à lá McGonagall. Remo olhou mais uma vez para Sírius e resolveu falar.
-Bem, estávamos conversando sobre... Sobre os últimos acontecimentos relacionados à Voldemort.
-Ah, isso... –respondeu um tanto que chateada. Será que aquele era o assunto do momento?
-Eu estava dizendo ao Aluado que o Harry não tem culpa nenhuma.
-E eu já lhe disse que ninguém chegou a cogitar isso, Sírius. –em contrapartida Remo logo remendou.
-Não, realmente, Sírius, não houve esse pensamento. –Hannah assegurou.
-Na verdade, houve sim. –ele falou ainda da porta que ficara entreaberta e agora estava escancarada e o homem entrou. Hannah olhou com desgosto pra Remo, aquilo prometia. –Claro que o Potter tem culpa. Se ele não fosse arrogante o suficiente para meter-se em assuntos que não lhe compete nada disso teria acontecido. É claro, tudo gira em torno da incrível arrogância do Potter, creio que seja genético.
-Harry é um adolescente e se você não tivesse parado de ensinar oclumência a ele, também nada teria acontecido! –Sírius levantou-se e pôs-se a defender o afilhado.
-Já disse que isso foi devido a arrogância dele, ou será que seu cérebro encolheu ao ponto de não me entender?
-Não brinque comigo, ranhoso!
-É encolheu mesmo. Eu não estou brincando com você, vira-lata, caso contrário eu teria uma bolinha na mão ou um graveto. –o sorriso de desdém no rosto de Severo denunciava sua satisfação.
-Ora, seu...
-Tá bom, chega. –Hannah levantou-se. –Será que vocês não podem ficar numa distância de dois metros um do outro?
-Parecem duas crianças. –Remo concordou com ela.
-Bem apontado, Remo. –agradeceu o apoio. –Agora, se vocês querem continuar submersos em suas infantilidades eu posso conseguir algumas bombas de bosta para que comecem um duelo. Garanto que algum aluno do primeiro ano deve ter um pacote guardado. –olhou para os dois homens como se esperando uma resposta, que ela sabia que não viria. –Bom. Já que desistiram da cena... –fez uma falsa reverencia e saiu da sala.

Os alunos só teriam aulas até aquela sexta-feira, a semana de férias da páscoa estava sendo comemorada pelos estudantes antes mesmo do fim da última aula, e, internamente, Hannah também comemorava, uma semana sem ter que ministrar aulas e corrigir pilhas de pergaminho extras, ela andava bem preguiçosa ultimamente e pensar em todo o chocolate que ela poderia comer estava dando uma injeção de animo. Os dois dias anteriores tinham sido povoados pelas conversas sobre Voldemort, o que a mulher já não mais suportava. Seria esperar muito que as pessoas deixassem o assunto de lado ao menos quando ela chegava por perto? Ou melhor, quando ou Severo estivessem por perto, o humor dele (que não andava dos melhores desde a noite fatídica) só fazia piorar com a continuidade do assunto. Porém, agora, não existia mais a imensa preocupação de esconder a barriga e seu relacionamento com Snape, quem mais não devia saber já tinha descoberto mesmo.

O sinal ressoou e a turma mista de corvinais e lufa-lufas do quarto ano saiu fazendo barulho de arrastar de cadeiras. Escutou as exclamações de alegria de um grupinho atrasado, arrumou suas penas e anotações dentro da bolsa e saiu com a promessa de uma semana tranqüila. Olhou os jardins pelas janelas do corredor, talvez ela pudesse dar uma “escapadinha” antes do jantar... Foi o mais rápido que pode ao seu quarto para deixar seus pertences e saiu mais rápido ainda para que não fosse vista por ninguém. Se ela tivesse sorte iria conseguir descer até os jardins e chegar próxima ao lago sem ser notada por ninguém, e , se, tivesse num dia glorioso o lago estaria abandonado de alunos o que lhe daria liberdade para mergulhar as pernas na água fria. Pouco depois descobriu que este era realmente um dia glorioso. Depois de uma deliciosa meia-hora –e bastantes bocejos- com as pernas (até o joelho) submersas nas águas escuras seu maravilhoso momento foi interrompido “Nada dura para sempre, muito menos algum tempo a sós em Hogwarts!”, pensou conformada.

-Professora Dumbledore? –a voz grossa e gentil a chamou.
-Ah, Hagrid, para de me chamar assim... Você me conhece desde menina. –levantou os olhos para o gigante e que escondeu um sorriso por trás da barba.
-Então está bem, mas a senhorita me deve um chá. –e era verdade e um absurdo que ela ainda não tivesse cumprido a promessa de uma “passadinha” na casa do guarda-caças. Ele sempre gentil e atencioso, conversavam quando encontravam-se no castelo, mas Hannah em todas as ocasiões tinha algo de extrema urgência pra não acompanhá-lo desde uma detenção com um aluno até algum pergaminho perdido, ela não estava agindo corretamente.
-É verdade, Hagrid, perdoe-me, quando você quiser nós podemos... –interrompeu a frase quando o homem estendeu sua mão para ajudá-la a levantar.
-Acabei de fazer uma fornada de bolinhos, estão uma delícia. –e sorriu. Hannah aceitou a mão e foi guindada para cima, sorriu também, não que ela acreditasse que Hagrid poderia cozinhar alguma coisa que ficasse “uma delícia”, mas o calor que ele emanava era suficiente para fazê-la tentar provar um dos bolinhos.
Depois de Hagrid falar por um bom tempo que estava interessado em tentar criar Erumpentes e, Hannah, pedir por tudo no mundo para que ele não cometesse tão loucura. Eles passaram da mesa para umas grandes poltronas próximas a lareira, a poltrona que Hannah sentou era tão grande que ela pode encolher confortavelmente as pernas e deitar a cabeça no encosto macio. Hagrid recomeçou a falar, agora sobre a colônia de Acromantulas que vivia na floresta, ela reprimiu um bocejo e a voz de Hagrid foi ficando distante e incompreensível.
-Hannah. –ela abriu os olhos, a luz amarelada e um teto de madeira.
-Hummm? –fechou novamente os olhos e esticou as pernas, ela tinha adormecido na casa de Hagrid?
-Vamos. –enfim ela olhou para quem segurava sua mão e a tinha acordado. Severo ainda parecia com aquele mau-humor, mas uma ruguinha de preocupação em sua testa ia se desfazendo, ela levantou e olhou em volta da cabana vazia.
-Cadê o Hagrid?
-No castelo. –virou-se em direção a porta.
-Hum... –puxou a manga do vestido e olhou o relógio. –Nossa! –exclamou. –Eu dormir mesmo, o jantar já deve estar no final...
-É. Vamos voltar para o castelo. –chamou mais uma vez.
-Severo, qual é o problema? Você está assim a semana toda, já lhe disse que podemos passar por qualquer coisa, então, qual o motivo para você estar me tratando como uma pessoa qualquer? –ele ainda estava virado para a porta.
-Não é nada.
-Sabe, odeio quando você resolve ser uma ostra... –ele bufou e Hannah tinha certeza que tinha revirado os olhos também.
-Sinto muito, mas não consigo relaxar enquanto o mundo desmorona. –enfim a encarou. –Não sou como você que acredita que no final tudo acaba bem, muito menos quando não tenho o que fazer para proteger as pessoas para quais tenho responsabilidades. –encostou-se na porta, parecia cansado, os olhos fechados. E estava, dormir não tinha sido uma das coisas que ele tinha feito essa semana.
-Severo... Pare de pensar um pouco nisso, por favor, fico preocupada com você e me sinto culpada...
-E deveria mesmo! –abriu os olhos e Hannah viu repreensão. –Você não está ajudando. Some no fim das aulas, ninguém lhe viu. Imprudência, Hannah! Só pode querer me deixar maluco de vez. Então Hagrid chega todo sorridente dizendo que você adormeceu na casa dele... Merlin! E eu já estava pronto para entrar na floresta a sua procura. – só então ela percebeu a imbecilidade que tinha cometido na ânsia de ficar só.
-Desculpe, Severo, eu não pensei... –aproximou-se receosa.
-Isso mesmo! Você não pensou.
-Prometo fazê-lo da próxima vez. –encostou-se nele, a cabeça deitada no ombro dele sentindo o perfume do pescoço, os lábios roçaram na pouca pele exposta.
-Ah, Hannah. –ela sorriu, enquanto uma mão dele descia pelos cabelos compridos e a outra pelas costa dela. –Você ainda vai acabar comigo terrivelmente. –sussurrou enquanto passava os próprios lábios na orelha dela, fazendo-a arrepiar-se.
-Não é minha intenção, mas se você quiser... –provocou agora tocando de leva a boca dele com a língua.
-Não é sensato provocar sonserinos. –avisou girando e mudando de posição a colocando contra a porta. Mordeu o lábio inferior dela fazendo-a gemer baixo.
-Estou pagando pra ver se você vai poder com minha coragem grifinória. –colou mais seu corpo ao dele.
-Neste caso acho que devemos voltar ao castelo.
-Hum-rum. –murmurou enquanto seu pescoço era tomado. –As masmorras são mais perto. –e assim que terminou foi puxada e se viu andando muito rápido pelos jardins.

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