A mente
Respirou fundo sem notar que havia prendido o ar nos pulmões por segundos, o braço que mantinha a varinha presa pendeu e Hannah tinha um turbilhão de pensamentos correndo em sua mente. Viu quando seu pai puxou a própria varinha e começou a murmurar sobre o ferimento de Severo, que gemeu de dor mais algumas vezes enquanto uma luz azul o envolvia. O sangue estancou, mas a ferida continuava feia.
-Você terá de ir à enfermaria, Severo. –Dumbledore disse por fim, guardando a varinha. –Talvez uns dias em repouso...
-Se você está pensando que irei deixar de dar aulas e lutar junto a Ordem está muito enganado, Dumbledore! –exclamou raivoso e tentou levantar-se do sofá.
-Severo, por favor, não faça idiotices. –Hannah finalmente fez-se notar na sala, a voz baixa, mas firme. Seu pai a olhou e estendeu a mão até a varinha presa entre os dedos da mulher, tirando-a.
-Querida, acho que Severo precisa trocar essa roupa e descansar um pouco, assim nós poderemos conversar, você poderia ajudar? –ela concordou e no segundo seguinte estava de pé ajudando, com a pouca força que tinha, levar Severo até o quarto. Depois que ele já estava deitado, com as roupas trocadas e os ferimentos limpos foi que voltou a falar.
-Dumbledore foi embora? –perguntou com a voz ainda rouca, provavelmente ele ainda sentia dor.
-Foi sim, e disse que você descansasse e é o que fará! –autoritária.
-Preciso contar a ele o que aconteceu.
-Ele já sabe, Severo.
-Não! –exclamou aborrecido. –Ele não sabe como o Lord das Trevas descobriu tudo.
-Isso não importa agora.
-Importa sim! E eu não irei descansar enquanto não conversar com ele. –Hannah suspirou, sabia que nada faria Severo mudar de idéia, saiu do quarto sem dizer nada e subiu até o escritório de seu pai.
Voltou minutos mais tarde com Dumbledore junto, abriu a porta do quarto devagar, evitando barulho, na esperança que ele tivesse adormecido de exaustão, mas não, assim que a porta abriu os olhos negros se focaram no portal.
-Severo, você deveria estar dormindo se quer mesmo voltar a dar aulas ainda esta semana. –Dumbledore reclamou com o homem.
-Por Salazar, Dumbledore, pare de me mandar dormir e escute o que tenho a dizer! –ele estava, obviamente, aborrecido. O velho suspirou e sentou-se na beirada da cama, esperando. –Foi pelo Potter. Foi pelo Potter que o Lord descobriu tudo.
-Como? –Hannah exclamou, mas Dumbledore não demonstrou nenhuma reação, parecia até que já tinha conhecimento da informação.
-Potter tem de estragar tudo, sempre! Deve ser algum tipo de aptidão especial da família. Draco ouviu quando ele veio bancar o intrometido na noite em que da fatídica reunião da Ordem.
-Mas me ver com o Harry não tem nada demais...
-Não tem enquanto ele não faz a imbecilidade de lhe chamar de Professora Snape. Apenas não entendi como o Potter já sabia sobre...
-Ele não sabia sobre nada Severo, ele estava tentando ser sarcástico.
-Pirralho imbecil.
-Continue, Severo, e, se possível, evitando os insultos. –Dumbledore pediu.
-Draco, com a maldita mania de tentar agradar Lucius, contou o que tinha ouvido, que contou para o Lord, que resolveu arriscar, mais uma vez, um contanto com a mente vazia de utilidades do Potter, e, aparentemente, não precisou buscar muito. Ele há muito tempo buscava “o traidor” e sua pequena aventura valeu o risco... –terminou amargurado.
-Mas, pelos deuses, como você conseguiu fugir? –Hannah estava assustada com toda história.
-Você não acha mesmo que com todos esses anos entre comensal e membro da Ordem eu não saberia fugir dos dois imbecis que ficaram me guardando, não é?
-Mas ele devia ter te matado na hora...
-Muito obrigado, Hannah. –ele continuava no mesmo tom amargo. –O Lord gosta de demonstrar o que é capaz de fazer, ele estava esperando que todos os comensais estivessem presentes seria executado. Não que antes ele não tivesse brincado um pouquinho comigo, como você notou.
-Agora, Severo, você irá me obedecer e ir dormir um pouco. –Dumbledore levantou-se sem mais explicações.
-O que você vai fazer, Dumbledore?
-Cuidarei do assunto, Severo, agora descanse. –virou as costas e foi-se.
-Juro que numa hora como essa tenho a imensa vontade de matar esse velho!
-Será que você pode tentar matar meu pai depois? Vamos, pare de se fazer de criança birrenta e deite-se direito. –começou a empurrá-lo nos travesseiros. –Deixe-me só limpar isso aqui... –apontou para a própria camisola manchada de sangue. Pegou a varinha dele e murmurou um feitiço simples e logo a camisola estava limpa novamente. Deitou-se junto a ele e beijou seus lábios machucados. –Eu te amo. –sussurrou sem mesmo ter resposta ao beijo.
-E por isso que está correndo risco, isso é uma idiotice! –ela respirou fundo, digerindo a grosseria.
-Não é um bom momento para que você comece com seus venenos, nem eu sou o alvo ideal, se você não quer acordar mais machucado do que foi dormir é melhor ficar quieto e engolir metade das besteiras que estão rondando sua cabeça. –ainda o olhou alguns segundos, talvez com esperança de um pedido de desculpas, antes de virar para o outro lado e fechar os olhos tentando, inutilmente, dormir.
O sol parecia relutante em aparecer, os tímidos raios dourados anunciaram ao castelo adormecido que era hora de despertar. Nas masmorras um relógio fez o trabalho do sol oculto, mas era um trabalho dispensado para o casal que havia passado a noite em claro. Hannah fingiu não ver quando ele levantou-se e ainda demorou alguns minutos para fazer o mesmo. Meia hora depois ele reapareceu no quarto, já com as vestes negras e pronto para ministrar aulas.
-Severo, apenas por hoje fique em repouso.
-Não.
-Severo... –apelou.
-Já disse que não. –e então foi embora.
O mau humor latente de Severo estava atingindo Hannah totalmente, não que ele não tivesse direito de estar daquela forma, mas ela não já não estava sentindo-se bem com todas as coisas acontecendo e Severo a tratando da forma que estava só piorava tudo. Depois do almoço contou o que tinha acontecido a Remo.
-Isso não é só preocupante em relação a vocês, mas tem também o Harry. Agora nós sabemos que a mente dele ainda está exposta para Voldemort. Não podemos confiar que ele não vai entrar na mente do Harry num momento crítico, precisamos fazer algo. –Hannah o olhou incrédula, será que ele não tinha escutado que agora tudo tinha piorado.
-Remo, acho que você não escutou. Eu estou encrencada!
-Você sabe muito bem que sua vida corre perigo desde que voltou à Hogwarts, então pare com as lamentações e vamos arranjar uma maneira de manter sua alma dentro do corpo. –os ombros dela caíram.
-Ótimo! –os olhos brilharam de irritação. - Estou grávida, no meio de uma guerra, com um megalomaníaco assassino querendo minha cabeça, meu afilhado tem a possibilidade de ser influenciado por ele. Meu namorado é jurado de morte, está todo ferido, mas é orgulhoso o suficiente para não tentar se curar, resolveu ficar com o pior humor do qual eu jamais provei. E, agora, para completar, meu melhor amigo parece não ter preocupação alguma com isso e me manda para de lamentar! Preciso de mais alguma coisa? –Remo deu um sorrisinho que fez Hannah estreitar os olhos.
-Sem falar nos hormônios que sua gravidez anda liberando. –riu. –Essa sua mudança de comportamento deve ser atribuída a eles, acredito.
-Vai cuidar de barretes-vermelhos vai, Remo! – saiu da sala batendo a porta, irritada.
A noite encontrou Hannah sentada no escritório do diretor esperando para começar uma conversa, e ela tinha esperanças de que ele dissesse alguma coisa que a fizesse sentir-se segura.
-Entre. –o velho sentado a sua frente falou em resposta a uma batida na porta, ele parecia tão cansado. Escutou os passos, tão firmes e quase totalmente silenciosos, era Severo. O homem sentou-se ao seu lado, o humor dele não parecia ter melhorado. –Vamos, então, direto ao assunto. –Dumbledore ergueu os olhos para o casal. - Conversei com Harry e ele contou que acordou uma noite com a cicatriz doendo, mas que não comentou com ninguém, pois dores na cicatriz tem sido mais que normal.
-Imbecil! –Severo interrompeu raivoso.
-Contei a ele o que havia acontecido. –continuou como se não tivesse interrompido. –E ele aceitou voltar a ter aulas de oclumência, então, acredito, que já estamos resolvidos, ele terá aulas comigo e...
-Tudo resolvido, Alvo? E o estrago que já foi feito?
-Severo, vocês estão bem protegidos aqui.
-Tão bem protegidos como da vez que Lucius lançou um imperdoável na sua filha?
-Severo... –Hannah segurou a mão dele, ele não poderia se exceder, estava com raiva, mas o culpado não era Dumbledore e ele não devia descontar na pessoa errada.
-Ridículo, tudo isso é ridículo! –tirou a mão debaixo da dela e saiu da sala. Hannah suspirou.
-Não está nada fácil. –falou triste.
-Eu sei, querida.
-Não vou mentir dizendo que o que Severo pensou não passou por minha cabeça. Pelo contrário, passei a noite inteira pensando que se tivesse que lutar eu não terei forças suficientes, não vou poder usar de todos os poderes, papai, isso pode fazer algum mal ao bebê, o senhor sabe.
-Meu bem, - ele sorriu docemente. – você não devia preocupar-se como isso, a criança que você carrega na barriga é forte e eu até ousaria dizer que no momento em que precisar ela cuidará de você. –agora sim tudo estava confuso em sua cabeça.
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