Mudanças



Era de longe a décima vez que ela mudava de posição na cama, na terceira vez, Severo a tinha soltado e virando-se para o outro lado, não ia conseguir dormir, tinha certeza que não conseguiria. Remo não estaria enganado e agora que ela começava a aceitar que estava realmente grávida podia sentir um tipo de magia diferente a envolver. Mudou a posição novamente.
-Tem fadas mordentes do seu lado da cama? –Severo virou-se e a encarado.
-Não. Apenas não consigo dormir. –será que ele poderia parar de ser irritante alguma hora do dia?
-E pelo que estou vendo nem eu, afinal você não para de se mexer.
-Não tem problema, eu vou para meu quarto. –sentou-se, ele iria dar um jeito dela não ir, nem precisava levantar.
-Não disse que você fosse embora. –dito e feito. –Só que se você não parar por um tempo e relaxar, amanhã nós estaremos com o humor péssimo.
-Não que isso seja novidade para você. –o olhou por cima do ombro com um sorriso no canto dos lábios.
-Não, não é. Mas onde irá parar sua reputação de “professora querida” se isso acontecer? –Hannah riu e se jogou sobre o peito dele, ela esquadrinhou por um tempo os traços do rosto dele, aquele era o pai do seu filho, o homem que ela amava e carregava em seu ventre o fruto do que sentia. Severo observou um brilho estranho se apoderar dos olhos dela. –Que foi?
-Nada. –deitou a cabeça nele e concentrou-se na respiração de ambos.
-Quem pediu para sermos francos foi você. –insistiu passando a mão pela nuca dela.
-Acredite, você não quer saber agora. –suspirou, tinha de achar uma maneira de contar sem que ele tivesse um ataque do coração.
-Eu não sou dado à prorrogações, Hannah, se é para me dizer, seja lá o que for, me diga agora. –levantou o rosto dela para olhá-la nos olhos. Hannah sacudiu a cabeça em negação, tinha de admitir, estava com medo da reação dele. –Vamos. Ainda pretendo dormir esta noite.
-Então é melhor nem falar... –mas o olhar que recebeu deixou bem claro que, ou falava, ou passava o resto da noite ali o olhando. Suspirou mais uma vez. –Eu estava enganada.
-Acho que perdi algum ponto da nossa conversa. –Hannah sentou-se talvez a reação dele fosse mais forte do que ela podia suportar.
-O bebê... –tinha acha uma frase menos chocante.
-Não acredito que vai começar com essa história novamente, você quer uma poção do esquecimento para apagar essa conversa? Novamente, Hannah, não há bebê algum. –Severo focou os olhos dela, prendeu a respiração, abriu a boca, mas desistiu. Hannah mordeu os lábios e baixou o olhar. A respiração de Severo estava a cada vez ficando mais rápida, ele ficou de pé, andou alguns passos a mão na testa. –Não há bebê algum, certo? –enfim perguntou parando de frente pra ela os braços caídos ao lado do corpo, os sentimentos confusos, ele queria uma resposta negativa, queria uma resposta positiva. Talvez tudo mudasse com uma pequena resposta, eles estariam mais expostos do que nunca, ela viraria um alvo mais desejado.
-Sinto muito, Severo. –lutou contra uma lágrima, chegou a pensar que ele poderia aceitar a idéia quando visse que era real, mas a reação dele... Merlin! Ele não queria aquele filho de forma alguma. –Você não precisa aceitá-lo se não quiser, eu posso cuidar de meu filho... –não entendeu boa parte do que ela tinha dito, também não importava agora, precisava ficar só, saiu o mais rápido que pode, tinha que colocar seus pensamentos em ordem, ou melhor, tinha de ter novos pensamentos.
Não sustentou mais as lágrimas quando ele deixou o quarto, não ia ficar ali, não queria. Vestiu o robe e saiu das masmorras, chorando sabia de quem precisava, bateu na porta e esperou, claro, ele devia estar dormindo, encostou-se na parede ao lado da porta, abraçando a si mesma, por que ver que ele não queria um filho dela era tão dolorido? Nem ela esperava aquele filho. A porta se abriu. Nem falou, jogou-se nos braços dele, as lágrimas molhando o robe surrado.
-O que aconteceu com você? –perguntou doce como sempre, a colocando dentro do quarto e fechado a porta.
-Eu contei a Severo sobre o bebê, e a reação dele foi... –balançou a cabeça.
-Hannah, - a abraçou novamente. –você tem de entender que para ele é algo muito novo e estranho, mais estranho que para você que tem alguma idéia de família e viver com ela. Ele não, não está acostumado a ser amado.
-Isso não tem nada a ver com ser amado, Remo! –o lábio inferior tremendo.
-Acho que você precisa se acalmar antes de qualquer coisa, o seu bebê –sorriu –precisa de paz. –a levou até a cama e obrigou que se deitasse. –Tente dormir. Snape não irá resolver nada agora e não vai adiantar ficar contando as estrelas durante toda a noite. –segurou a mão da amiga até que ela dormisse de pura exaustão.
Caminhou pelo próprio quarto em busca de uma opção para ajudá-la, mas infelizmente seus pensamentos caíram em Sírius. O que ele faria quando soubesse que Hannah esperava um filho de Snape? Não queria nem imaginar o tamanho do caos que se seguiria. Olhou através da porta a mulher adormecida em sua cama, tinha de fazer algo, ela mesma já tinha feito tanto por ele, iria falar com o Snape, o mestre de poções às vezes tinha a estranha capacidade de ser um tremendo idiota. Desceu até as masmorras e bateu diversas vezes na porta de entrada dos aposentos do diretor da Sonserina. Já devia estar ali há cerca de uma hora e nada de Snape atender a porta, até que observou que no inicio do corredor um vulto se formou e veio caminhando silencioso e firme, sem sombra de dúvidas era Snape.
-Qual o problema, Lupin, resolveu dormir na minha porta? –perguntou ríspido, aquilo não seria divertido.
-Vim falar-lhe, Severo. –usou o primeiro nome do homem a sua frente, coisa que raramente fazia, mas hoje seria necessário, observou quando ele franziu a testa estreitando os olhos negros.
-O que você quer, Lupin? –aquela não era uma boa hora para as brincadeiras de Maroto.
-Entrar. –respondeu simplesmente.
-Em meus aposentos? Há essa hora? –perguntou com uma sobrancelha erguida.
-É. - Remo queria entender onde ele queria chegar.
-Ora, ora, e eu que pensei que você realmente estivesse gostando da “multicolorida”, - abriu um sorriso maldoso. - mas, desculpe, - fingiu sentir-se triste. -você não faz o meu gênero. Tem coisas demais no lugar onde não deveria ter nada.
-Realmente muito engraçado, mas se agora você não se importa eu gostaria de conversar a sério com você, talvez até pelas suas preferências... Então o que prefere que seja, menino ou menina? Não vale aquela conversa de que eu quero mesmo é que nasça com saúde. –riu com satisfação da cara que Snape fez. –Tudo bem, pra você eu deixo dar essa resposta. –Snape abriu bruscamente a porta e Remo entrou antes que houvesse tempo de ser deixado de fora.
-Quando Hannah lhe contou?
-Na verdade, foi quando eu contei a Hannah, e foi esta noite depois da nossa aula conjunta. –Snape o lançou um olhar de incredulidade, como poderia ter sido o Lupin a contá-la? Lupin entendeu que o homem estava perdido. –O faro, Severo. –agora ele tinha entendido. –Hannah não quis acreditar a principio, mas falou em alguma sobre um sonho com a Lílian e acabou aceitando que está grávida, porém não sei se ela fez algum exame, mas também não faz diferença... Ela está grávida sim! Agora, me diga, Severo, o que você vai fazer? Espero que não o mesmo que você fez hoje à noite.
-Quem você pensa que é para falar comigo assim? –o viu cerrar os pulsos.
-Eu sou o melhor amigo da sua mulher, que chegou ao meu quarto hoje a noite chorando por que você é estúpido o suficiente para não ficar feliz com a dádiva de ter um filho! –Remo havia se irritado apesar de ter saído de seus aposentos dizendo que isso não aconteceria.
-Ela não é minha mulher! –Snape gritou de volta.
-Ah, não? Então me diga o que ela é pra você? Você a trata como se fosse sua mulher! Mas é claro que o mundo não pode saber, afinal você não pode admitir que ama alguém, você a quer, a tem, mas ainda assim não a trata como deveria.
-O que é que você quer, em? Que eu noticie no O Profeta Diário que estou com a Hannah? Seria ótimo, pois estaríamos sendo notícia por dois dias seguidos, um quando eu falasse sobre nosso relacionamento e no outro quando nos encontrasse mortos. Ou você acha que o Lord das Trevas vai ficar tão feliz que vai oferecer presentes a mim e a ela quando souber? Estou preocupado com ela, será que você não pode entender, Remo? –ele o tinha chamado pelo primeiro nome? Aquele era um momento de real fraqueza, um momento tão raro que ele nunca tinha presenciado. Viu Severo desabar numa cadeira de frente para a lareira apagada. –Não que eu esteja dizendo que estou em choque pela notícia. –começou num sussurro. – Eu não vou ser um bom pai, não posso ser um bom pai. Veja como trato os meus alunos, quero que eles se esforcem cada vez mais, como vou fazer isso com meu próprio filho? –a mão na testa e os cotovelos sobre os joelhos. Remo sentou na cadeira ao seu lado.
-Com seu filho seria diferente, eu sei que você é capaz de amar, eu vejo isso. Você ama a Hannah. –não era uma pergunta, ele tinha plena certeza do que dizia.
-Não tive um bom exemplo para ser “bom pai”. Eu odeio essa sensação. Eu não sei o que fazer. –Remo observou tudo por cerca de um minuto. Aquele era um daqueles momentos em que tudo mudava, sua relação com Snape estava mudando agora.
-Acho que você quer essa criança, Severo, e se você quer é melhor lutar para poder tê-la, e para começar era bom me acompanhar até meu quarto e pedir desculpas a mãe da criança por deixá-la sozinha. –pensou por uns minutos, não respondeu, mas levantou-se e acompanhou Remo.
O quarto estava iluminado apenas por uma vela perto da cama e era só do que ele precisava, fechou a porta isolando-se da sala onde Remo tinha ficado. Caminhou cauteloso até a cama, onde ela dormia com as costas nos travesseiros, os cabelos espalhados, a boca entreaberta, o passo que daria agora nunca mais teria volta, a partir de agora ele teria uma família, estava aceitando ter a sua família. Sentou-se devagar na cama, puxou o lençol de cima dela e levantou a camisola branca deixando a barriga (que não apresentava nada de novo para ele) de fora, colocou a mão espalmada na pele dela, ali estava seu filho, era uma sensação nova, era um pouco de orgulho, alegria, medo e responsabilidade. Olhou novamente para o rosto dela sem tirar a mão de seu ventre, acariciou o rosto dela com a outra mão livre, Hannah fez um barulhinho de reclamação pelo seu sono perturbado, mas não acordou. Pensando bem ele já tinha imaginado essa situação, não tinha? Tinha até pedido que se um dia tivesse um filho com ela, ele não herdasse o seu nariz e sim dela... Agora, não era, definitivamente, a hora de pensar em narizes. Desceu a cabeça e beijou o ventre dela.
Hannah acordou e por um segundo pensou que ainda estava sonhando. Severo estava no quarto de Remo beijando sua barriga? Pôs a mão na cabeça dele pra ver se era de verdade, e era! Severo levantou a cabeça quando foi tocado e a olhou nos olhos, aquele brilho. Ele tinha voltado. Tomou os lábios dela antes de dizer qualquer coisa, afinal ele não era um grifinório, precisava de uma fonte de coragem. Só quando sentiu o sabor salgado das lágrimas dela foi que separou-se.
-Você não acha que já chorou o bastante por hoje, não? –ela fez que sim com a cabeça, e ele beijou de leve seus lábios. – Eu precisava pensar, foi assustador, mas eu tenho que estar junto da minha família quando estiver confuso, e nós vamos resolver isso juntos. – respirou aliviado, tinha dito, tudo bem que não tinha dito com todas as palavras, mas ela entenderia o que ele queria dizer. Hannah esperou para poder falar, talvez ainda estivesse tentando digerir o fato de que ele a tinha chamado de família, mas era isso que ela queria ter certeza.
-Eu sou sua família, Severo? –perguntou com a voz embargada.
-Não. –ela desviou o olhar, por algum tempo pode pensar que ele tinha dito que... –Você e nosso bebê. Vocês são minha família. –afirmou, estava surpreso consigo mesmo, os atos de coragem dele estavam maiores do que se podia esperar.
-Oh, Deus... –e mais lágrimas, hoje ela realmente tinha extrapolado o limite de choro. Agarrou-se ao pescoço dele e o beijou com paixão.
-Acho que seu amigo quer dormir. –avisou quando ela o soltou do beijo, mas não do abraço. Ela concordou, e Severo pensou que depois dessa noite, Remo não fosse apenas amigo de Hannah.

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