A visita da madrinha



Quase uma semana depois e ela ainda evitava Severo, não que eles estivessem exatamente brigados, mas ela o evitava sim. Estar o tempo todo ao seu redor e procurá-lo em todo o seu tempo livre não estava mais sendo prioridade, na verdade ela corria quando via que ele estava vindo, estava tornando-se ridícula, como ela corria de dia dele e a noite dormia em seus braços? Talvez à noite quando ele a abraçava daquele jeito ela não soubesse pensar que ele tinha sugerido matar seu filho. Não que ela estivesse realmente grávida, não estava, não podia estar... Severo não tinha mais tocado no assunto, apesar de Hannah ter certeza que ele a analisava procurando algo que provasse para ele que ela não estava grávida, ou, terrivelmente, o contrário. Ela estava cansada com o final daquela sexta-feira. Não havia dormido direito, pois tinha ficado com Remo, Tonks e Moddy, vigiando um lugar específico, que se perguntasse a ela agora não conseguiria informar, o dia tinha sido cheio com as turmas de alunos que pareciam particularmente elétricos, ou era ela que estava muito cansada, além de aturar mais um dia de indiretas e “caras feias” de Sírius. Só queria sua cama quente e macia, adormecer no vazio da mente e relaxar, precisava muito de descanso. Agradeceu intermináveis vezes a Merlin, quando depois de tomar seu banho jogou-se em cima das cobertas. Já estava num estágio inconsciente quando foi trazida de volta a realidade pelo braço dele em volta de sua cintura. Provavelmente ele a ficou esperando por um bom tempo nas masmorras, com esperança de que ela estaria lá, mas como tinha sido durante toda a semana, quem acabou dormindo fora de seu quarto foi Severo.
-Você está bem? –perguntou ao ouvido dela, obtendo como resposta um aceno afirmativo da cabeça, ela ainda com os olhos fechados. –Por que você não fala mais comigo? –ela abriu os olhos no susto, ele não estava pedindo atenção, estava?
-Eu falo com você, Severo. –ela franziu a testa momentaneamente.
-Não conversa mais comigo, que está acontecendo? –não pode acreditar ele realmente estava sentindo falta da atenção dela.
-Estou com sono, Severo. –fechou os olhos, aquele não era o momento para conversar o que estava sentindo.
-Ultimamente eu só encontro você com sono, e quando chego perto durante o dia você simplesmente foge. Eu não sou imbecil, Hannah. O que está acontecendo? –ele sentou-se esperando uma resposta. Ela virou-se para olhá-lo.
-Não sei como falar isso...
-Tente. –encostou-se demonstrando que ela daria a resposta a ele.
-Não sei, Severo... É que todas as vezes que chego perto de você eu lembro do bebê.
-Que bebê, Hannah? Não existe bebê algum.
-Eu sei que não, mas lembro que você queria que eu matasse o meu filho, o nosso filho.
-Em momento algum eu disse isso.
-Mas sugeriu, por alto, mas sugeriu.
-Eu não sou conhecido por minha paciência, sabia? E você a está testando durante toda a semana por causa de algo que não existe?
-Mas e se eu estivesse ficado grávida?
-Você quer que eu comece a considerar todos os “e se” da minha vida? –ela o repreendeu com o olhar, ele respirou profundamente tentando se acalmar. –Tudo bem, seria um grande problema e foi estúpido que eu disse, eu não mataria seu filho. –entregou-se e jogou a cabeça pra trás.
-Nosso filho.
-Tá, tudo bem, como você preferir.
Escutou seu nome ser chamado tão longe que achou melhor nem responder, mas quem a chamava resistiu, devia ser alguém muito chato, pois tirá-la de onde estava era uma verdadeira crueldade. Lílian há pouco tinha estado com ela num lugar desconhecido, ela tinha saudade da amiga, e vê-la era tão difícil que não queria voltar, talvez se a procurasse mais um pouco obtivesse êxito. Dessa vez o encontro tinha sido mais dolorido, Hannah tinha chorado, e ainda chorava, mas não queria sair. A voz ficou mais forte e ela pode reconhecer, era Severo. Será que o que ele tinha para falar era tão importante que não podia esperar que ela terminasse de falar com Lílian? Sentiu seu corpo ser puxado e pode ver o rosto de Severo pela cortina d’água que formava-se em seus olhos, ele parecia preocupado.
-Você está bem? –segurou o rosto dela que agora sentia dor no peito como se tivesse passado por uma aparatação muito longa.
-Acho... Que sim. –passou as mãos pelos olhos. –O que houve?
-Me diga você. –ele ainda não a tinha soltado. –Você começou a chorar e falar o nome da Lílian Potter, parecia que você conversava com ela. –ele realmente estava assustado. Hannah sentou-se acomodando-se na cama.
-Oh, Merlin. –fechou os olhos. –Preciso ver meu pai. Aconteceu novamente.
-Ainda é muito cedo. Dumbledore deve estar dormindo e o que aconteceu novamente? –Hannah suspirou lembrando do “encontro”.
-Eu vi Lílian.
-Você estava sonhando.
-Não, Severo, não era um sonho comum, já aconteceu outras vezes. Preciso ver meu pai agora. –levantou-se.
-Isso é estupidez.
-Não é, e você vai ver que não é. - disse enquanto vestia o robe por cima da camisola. Severo levantou-se e a acompanhou.
Seguiram pelos corredores que começavam a ficar acinzentados com os primeiros raios de sol que adentravam pelas janelas, de vez em quando Severo resmungava alguma coisa e Hannah preferia ignorar. Estava focada no objetivo e ia falar com seu pai, ela sempre conversava com ele quando tinha um “sonho” desses e não ia ser agora que ia mudar, quando estava longe sempre escrevia uma carta quando acordava contando tudo que tinha visto. Chegaram à gárgula e Hannah disse a senha fazendo a estátua pular para o lado dando a entrada da escada, eles pisaram no primeiro degrau e ela se moveu. Já em frente da porta Hannah bateu e seu pai a abriu prontamente com um camisolão de dormir todo colorido e com os chinelos e touquinha combinando, ela lançou um olhar para Severo como se dissesse “Está vendo?” e ele montou uma carranca.
-Então, querida, o que tem para me contar? –Dumbledore perguntou quando os dois estavam sentados, enquanto Severo os observava de um canto da sala.
-Eu tive outro daqueles sonhos. Dessa vez era a Lílian, ela é tão difícil de ver. –Dumbledore apoiou o queixo nas mãos.
-O que ela lhe disse, querida?
-Que estava feliz por eu estar próxima ao Harry e que ele precisa de força, pois ele passará pela ultima provação em breve. Que o Remo finalmente encontrou alguém que “dá certo”, pediu que eu tivesse paciência com o Sírius - Severo fez um barulhinho do seu lugar que foi ignorado. – disse que ele estava sofrendo e tudo ainda seria dolorido para ele. Teve uma parte que ela falou, mas que não tenho certeza se entendi, ela falou que estava muito feliz por mim e que queria passar esse momento comigo, mas não podia.
-Compreendo que Lílian iria querer mesmo estar com você durante os próximos meses. –os olhos dele cintilaram da mesma forma que tinha cintilado na semana passada.
-Mas por quê? O que vai acontecer? Ela ainda falou que... –ele a olhou daquele jeito, daquele jeito que era como se ele a visse por dentro e sua oclumência não servia para nada. –Deixa pra lá. –virou o rosto, ele já devia saber de tudo de qualquer forma. Levantou-se. –É melhor que eu vá logo.
-Não se preocupe com isso, querida. –passou a mão pelo rosto dela e beijou-lhe a testa.
-Não vou. –quando já estava no corredor quando lembrou-se de Severo, olhou para trás e ele só estava a alguns passos dela. Como conseguia ser tão silencioso, ou será que era ela que não estava prestando atenção? Disse a senha ao quadro e entrou, e Severo veio logo atrás.
-Você vai ao jogo? –perguntou quando entrou no quarto e Hannah já estava jogada na cama com um travesseiro no rosto.
-Que jogo? –tirou o travesseiro.
-Campeonato de xadrez jogado pelos trasgos do Reino Unido, estão tentando descobrir qual deles é uma mente brilhante. –Hannah lançou-lhe um olhar digno dele e colocou o travesseiro de volta no rosto. Sentiu quando ele sentou na cama. As mãos de Severo se estenderam e alcançaram os braços dela afastando-os e descobrindo o rosto da mulher, ela estava de olhos fechados, mas abriu quando recebeu a luz na face. –Jogo de quadribol, é lógico, Hannah. Qual outro você esperava?
-Eu não vou. –respondeu por fim.
-A Sonserina vai jogar contra a Corvinal.
-Não tenho motivos para ir. Não tenho nada com as casas.
-Pensei que tivesse ao menos algo na Sonserina que você quisesse. –ele estava tentando ser engraçado? Por que o tom de voz dele era cômico, ao menos pareceu aos ouvidos de Hannah, riu pelo nariz.
-O que eu queria da Sonserina já consegui.
-Não fale com tanta certeza, pode parecer arrogante, e arrogância não é uma característica da sua preciosa Grifinória.
-Fica quieto, Severo. –puxou o braço dele fazendo com que ele deitasse junto dela e a abraçasse. –Me irritar não vai funcionar de nada.
-Foi apenas um sonho, Hannah, e você prometeu ao seu pai que não iria se preocupar.
-Novamente, não foi um sonho comum, e que estou apenas cansada.
-Então vou deixar que você descanse, preciso voltar para as masmorras. –levantou-se e Hannah o puxou para beijá-lo. –Incrível. –disse quando separaram-se.
-O que? –ele não poderia estar falando do beijo, aquele era o beijo mais bobo que tinha dado em toda a sua vida.
-É a primeira vez em dias que você me beija espontaneamente. –ela ainda tentou pensar em algo para dizer, mas Severo logo pegou sua roupa e foi vestir-se na sala. Ele estava certo, ela vinha agindo como uma estúpida e provavelmente fazendo Severo sofrer por causa disso, claro que ele nunca iria admitir, mas ela sabia que ele estava sentindo-se rejeitado, e com certeza ele não precisava mais disso na vida dele. Levantou tão rápido que sentiu o quarto girar, mas ignorou. Quando chegou a sala, Severo estava terminando de abotoar os botões da camisa branca, correu até ele e o abraçou por trás subindo as mãos pelo peito dele enquanto ficava na ponta dos pés para dar beijinhos em sua nuca. Severo virou-se, a levantou e a pôs sentada no encosto do sofá, tomando seus lábios logo em seguida. Ele a beijava com vontade, com saudade do que ela era de verdade, quando não existia nenhuma atitude forçada.
-Desculpe. –pediu quando ele deixou seus lábios e apoiou a cabeça em seu ombro, as mãos apertando sua cintura e passeando pelas suas costas como se ele quisesse senti-la, conhecê-la novamente. – Eu agi errado com você, não devia ter feito isso. Desculpe-me. –Severo levantou a cabeça e a encarou por alguns segundos antes de morder o lábio inferior dela.
-Você sabe muito bem que sou vingativo. –um sorriso com os cantos dos lábios dele, fez Hannah abrir um sorriso e colar os lábios no dele. Ela estava perdoada.
Ela estava simplesmente morrendo de sono, agora ela vivia assim, mas não sabia como explicar. Estava na sala do primeiro andar com Remo, eles estavam terminando de colocar a sala em ordem, Hannah sentou-se numa das cadeiras de alunos.
-Você está passando mal? –Remo perguntou deixando um dos objetos enfeitiçados de volta no chão e chegando perto da amiga.
-Apenas excessivamente cansada, estou sempre assim agora, acho que é algum tipo de estafa, ou sei lá... –Remo ficou de joelhos na frente dela.
-Posso te perguntar algo? –Hannah levantou os olhos para ele e permitiu com um aceno da cabeça. –É eu venho sentindo um cheiro diferente vindo de você...
-Você tem o que, Remo Lupin? –o que ele estava querendo dizer com aquilo.
-É o faro de lobisomem, Princesinha. –falou com calma. –Você sabe que eu sinto o cheiro de substâncias com uma distância considerável, e também as que o corpo exala que as pessoas normais não podem sentir, ou pelos menos não tem consciência de que sentem.
-Eu sei, Remo, mas...?
-Há mais ou menos uma semana eu tenho sentido que você está com o cheiro de... –ele não sabia se devia dizer talvez ela não soubesse ainda.
-De que? –ela já estava impaciente com todo esse mistério.
-De mulher grávida. –demorou cerca de um minuto para Hannah processar a informação.
-Você está maluco, Remo. –Hannah levantou.
-Não estou não. Só se você estiver com sérios problemas com seus hormônios. Eu pensei que Severo como um mestre de poções não ia deixar você sem tomar alguma poção contraceptiva.
-Eu tomo, mas... –deixou-se cair na cadeira. –no dia que Sírius entrou em meu quarto nós esquecemos completamente dela. Eu sempre tomo pela manhã, você sabe não exatamente pela manhã, mas depois...
-Mas, Hannah, essa poção é mais fácil de esquecer e se você tomar depois de engravidar ela é anulada.
-Eu sei. Foi o que aconteceu, mas é Severo disse que essa poção não ia me fazer mal, por isso eu só tomava essa. Mas mesmo assim, eu não estou grávida!
-Está sim, pode fazer... –ela não escutou mais o que Remo estava dizendo, como num daqueles filmes trouxas o sonho que tivera com Lílian passou pela sua cabeça. O que ela tinha dito... E que Hannah não tinha contado a ninguém, pois não tinha entendido o que ela queria dizer, agora tudo fazia sentido...Fazia tanto sentido que ela poderia tocar, poderia tocar em seu ventre.
-Oh, Merlin!
-Que foi? Você está sentindo alguma coisa?
-Eu estou grávida, Remo! –ela estava assustada.
-Você escutou alguma coisa que eu disse? Eu já disse isso umas dez vezes.
-A Lílian sabia...
-Eu vou chamar Madame Pomfrey. Fique calma.
-Não, Remo! Eu estou bem, foi só um sonho que tive com a Lílian e ela disse que...
-Ela disse que... –Remo encorajou.
-Quem queria estar comigo agora, e que se ela estivesse com certeza faria de tudo para ser a madrinha. –Remo a olhou com os olhos arregalados. –Ela sabia.

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