Sob a maldição
-Professora! Professora! -ela escutou alguém chamando as suas costas enquanto andava pelo corredor do 4° andar. Era segunda-feira, a última do mês de outubro, a última vez que estivara com Severo tinha sido na sexta-feira na sala de seu pai, depois que sairam de lá, não mais ficaram juntos, ela tinha saído a pouco de uma aula com uma turma do 4° ano, a última de seu dia, tinha agora um horário vago. Virou-se para ver quem a procurava, viu uma menina que andava apressada, seus cabelos castanhos e muito cacheados balançavam com seus movimentos.
-O que houve Srta. Granger?
-Professora, desculpe, -ela ofegava, na certa tinha vindo correndo Merlin sabe de onde. -é que o Prof. Snape, mandou chamá-la, e disse que era urgente! -Hannah assustou-se.
-Obrigada, Granger. -tinha de disfarçar- Aconteceu algo ao seu professor? -perguntou calma. -Onde posso encontrá-lo.
-Creio que não tenha acontecido nada a ele, professora, ele a espera nas masmorras.
-Obrigada, novamente, estou indo pra lá.
Ela saiu embalada assim que perdeu Hermione de vista, quando chegou nos corredores das masmorras diminuiu os passos ficou atenta a qualquer movimento, olhando pros lados a procura de Draco, não o viu. Bateu a porta dos aposentos de Severo, a porta deu um "click" e ela entrou.
-Que aconteceu? -perguntou assim que a porta atrás de si fechou-se, correu até a mesa onde ele estava sentado.
-Lucius vem aqui hoje. Quero você o mais longe possível dele. Se você souber que ele está nas masmorras suba até a torre de astronomia ou vá tomar um chá com a maluca da Sibila, ou se ele for ao escritório de Dumbledore se esconda na sala mais baixa das masmorras. Entendeu? -Hannah até que tentou, mas não conseguiu conter o riso. -O que diabos é tão engraçado?
-Severo, num castelo desse tamanho como vou saber onde o Malfoy está, mas acredito que ele não vai sair por aí para fazer um tour por Hogwarts, eu vou evitar as masmorras.
-Hannah quem tá pedindo agora sou eu. Tome cuidado. Você sabe como o Lucius é, mas você não tem idéia do que ele pode tornar-se se tiver você nas mãos.
-Ele não vai ter.
-Não subestime o Lucius, para ele seria uma realização pessoal ter você.
-Ok, Severo.
-Agora, vá que ele deve chegar a qualquer momento. -ele levantou-se e depositou um beijo rápido nos lábios da mulher na sua frente.
Hannah tomou seu caminho de volta quando saiu da sala de Severo. Iria visitar Remo ver como ele estava, só o tinha visto na manhã do dia anterior. Subiu as escadas para o segundo andar. Quando chegou à porta, bastou empurrá-la, tinha sido uma boa idéia Remo ajustar as proteções para que ela entrasse. Passou o pequeno escritório que antecedia a porta que dava para o quarto, bateu de leve e então pôs apenas a cabeça para dentro do quarto.
-Aluado, posso entrar?
-Pode. -ele respondeu da cama com a voz fraca, ela entrou no quarto que tinha uma penumbra, iluminado apenas pelas poucas velas em cima do criado-mudo. Remo tinha um livro nas mãos, provavelmente estava lendo antes de Hannah chegar, ele o fechou e deu um sorriso fraco. Ela avançou pelo quarto indo sentar-se na ponta da cama dele.
-Como se sente? -ela perguntou com carinho passando a mão pela testa molhada dele.
-Como sempre, cansado, enjoado as vezes e sempre com um pouco de febre. Já me acostumei.
-Tomou a dose da poção de acônito hoje?
-Já sim, Severo me trouxe a pouco.
-Ah, foi? -ele não tinha comentado nada com ela, mas ele parecia bastante ocupado em avisá-la sobre Malfoy.
-Ele parecia estranho, nervoso, talvez.
-Não sei. -mentiu descaradamente, mas era melhor mudar de assunto antes que Remo notasse. -Estou indo dar nossa aula daqui a pouquinho.
-Vai sozinha?
-Hum-rum. -afirmou.
-Devia ter pedido a alguém que te axiliasse, talvez seja difícil dar atenção a uma turma tão grande.
-Eu faço um teste hoje, se não der certo no próximo mês eu peço ao papai para conseguir alguém. Você tá bem mesmo não é, Aluado? -ela perguntou novamente.
-Na medida do possível, não se preocupe.
-Não adianta. Que é que você estava lendo?
Ela ainda ficou algum tempo conversando com Remo, até que achou melhor ir andando para a sala-de-aula que ficava um andar a baixo. Ela foi andando pelos corredores do primeiro andar que estavam particularmente desertos, o que não era normal. Tinha o pressetimento de que, talvez, não devesse estar alí, o que era uma grande bobagem, pensou. Já estava no final de um longo corredor quando uma figura alta e loira surgiu na sua frente, vinha na direção oposta e pôs um sorriso, que a fez sentir-se mal, nos lábios. Ela não ia recuar, estava dentro de seu domínio, Hogwarts era sua casa, e ainda tinha seu orgulho e sua coragem grifinória, que por uns momentos parecia ter deixado seu corpo.
-Ora, ora, ora se não é a Srta. Dumbledore. -aquele sorriso desagradável aumentou.
-Ora, ora, ora se não é o Sr. Malfoy. -ela o imitou com um sorriso cínico no rosto, ele aproximou-se mais dela e as palavras de Severo vieram a sua mente.
-Então, resolveu nos dar o prazer de sua presença depois de tanto tempo?
-Ah, não, você não vai ter o prazer da minha presença por muito tempo, não. Na verdade...-ela puxou a manga da veste do braço esquerdo e olhou em seu relógio de pulso. -seu prazer acaba agora. -sorriu falso e foi seguindo sua direção. Sentiu quando ele puxou seu braço.
-Não brinque comigo, sua traidorazinha-do-sangue. Você não sabe do que sou capaz!
-Terminou?Solte meu braço agora. -ele a empurrou contra a parede com força e ela sentiu suas costas doerem.
-Sabia que você seria uma diversão maravilhosa para hoje a noite? Tem alguém que ficaria muito satisfeito em te ver. Ele quer você a algum tempo, e devo dizer que eu também.-ela tentava pegar a varinha no bolso, mas do jeito que ele segurava seus braços estava sendo impossível, talvez ela pudesse trazê-la com um feitiço não-verbal, mas sua cabeça começava a doer e a respiração a faltar, ela não desmairia agora, ou ele a levaria para Voldemort, não, que pensamento tolo, como ele sairia comigo daqui? -Então, vai comigo com suas próprias pernas ou eu vou ter de lançar uma imperdoável em você. -precionou mais o corpo contra o dela. -Vamos eu sei que você não acha tão ruim assim. -falou ao ouvido dela. "Pense, pense, pense!" tinha de fazer algo contra ele, onde estava Severo quando ela mais precisava? Era isso ela precisava trazer Severo até ela. Tempo, ganhar tempo.
-É melhor me soltar, Malfoy, ou as coisa não vão ficar nada boas pra você. - ele a olhou incrédulo, e ao mesmo tempo ela pensanva fortemente nas palavras "Severo, no primeiro andar, corredor maior, preciso de você." ela não tinha muita certeza se ia funcionar, mas a ligação de confiança que eles fizeram nas aulas para resgatar Sírius era bastante forte, sem contar com o laço que eles tinha.- Sabe, não vai ser nada bom um aluno passar pelo corredor e ver a professora sendo atacada pelo pai de um aluno. Ainda mais se o pai desse aluno esteve em azaskaban a pouco tempo, você não quer voltar pra lá, quer? Narcisa iria ficar desapontada. -ela só podia está maluca, ou melhor era a convivência com Severo, ela já estava aprendendo a ameaçar as pessoas. Porém numa situação dessas era maluquice. Não parava de pensar nas palavras.
-Vamos parar de enrolação. Império.- Hannah sentiu uma paz sem tamanho, simplesmente toda a agonia que estava sentindo por Malfoy estar alí desapareceu, ela parou de pensar.
-Contente em me ver, Hannah? -a pergunta lhe invadiu a mente, mas logo em seguida veio uma voz "Diga que sim. Você está muito contente. Diga que sim, vamos."
-Estou, muito. -respondeu numa voz calma e um sorriso bobo apareceu em seu rosto. E novamente aquela voz veio a sua cabeça "Beije-o. Vamos, beije. Você quer. Beije." ela juntou seus lábios aos do homem que estava a sua frente, foi estranho. A voz continuava incitá-la, mas algo dentro dela começou a dizer que ela não devia, que não podia, a vozinha baixa repetia cada vez mais forte " Ele não é o Severo. Não é." Hannah começou a querer se afastar daquele beijo, daquelas mãos que estavam em seu corpo, como se um balde de água a tivesse atingido era recobrou a conciência e se viu beijando avidamente Lucius Malfoy, ela tentou empurrá-lo, porém ele a apertou mais forte, ela tentou gritar, mas não adiantava.
-Conduta perfeita para uma professora, Dumbledore.- era Severo, graças a Merlin ele tinha chegado. Malfoy no susto afastou-se de Hannah e sorriu desagradável para Severo.
-Ah, Severo, meu caro, não seja tão rude com ela, você sabe nós ainda somos jovens. -Hannah teve vontade de matá-lo alí mesmo.
-Não, não sei. -Severo não olhava pra ela. -Dumbledore, seus alunos a esperam. -ainda sem se virar.
-Já estou indo. -disse com a voz e a cabeça baixa, mas não se mexeu, achou que se movesse um passo cairia de baque.
-E eu também já vou indo, tenho muito o que fazer. Foi bom reencontrar você, Hannah. -ele ajia como se nada tivesse acontecido. -Severo. -tocou o ombro do moreno e saiu pelo corredor.
Eles ficaram alí parados no meio do corredor, ela não soube dizer quanto tempo, achou que demorou, pois ele queria ter certeza de que Malfoy tinha ido embora, ele espiou algumas vezes as janelas, porém não foi tempo suficiente para que ela parace de tremer. Quando achou seguro pois-se a falar.
-O que foi que eu disse?Parece que você não me escuta, não é mesmo? -ele falava num tom baixo e letal, mas que ela entendia perfeitamente.- Eu não devia me importar, já que você não se importa de beijar o Lucius no corredor da escola.
-Império. -ela murmurou, não tinha muitas forças pra falar.
-O que? -ele estava irritado, a melhor palavra seria ódio.
-Império! Ele me dominou com uma Império!
-Ele o que? Por Slytherin, ele perdeu o juízo. -ele correu até ela e a abraçou e só então percebeu como ela tremia. -Vou matá-lo! Mas antes vou torturá-lo com nunca fiz com qualquer pessoa, então depois vou matá-lo devagar, talvez eu prepare algumas poções...- Hannah estava se assustando da forma como ele falava.
-Você não vai matar ninguém. -disse ainda com a voz fraca abraçada a ele. -Só me tira daqui, -ela o afastou subitamente. -não é bom que nos vejam assim. -ele concordou com a cabeça e segurando-a com a mão atrás das costas a guiou até a sua masmorra que era, sem dúvida, o lugar mais próximo. Quando passaram a porta de entrado do quarto de Severo, Hannah tinha uma sensação terrível que percorria seu corpo inteiro, ela não tinha voltado a falar durante o caminho. Ele a fez sentar na cama e encostar nos travesseiros, tinha vontade de chorar, porém as lágrimas não vinham aos seus olhos, a garganta ardia e a cabeça doia como se tivessem demolindo coisas dentro dela. Não entedia direito por que sentia-se tão mal, talvez a Império de Lucius fosse muito forte, ou o susto, a sensação de quase-desmaio, mas o pior, o pior de tudo era ter ficado tão próxima a aquele homem, não que ela lembrasse de todo o beijo, apenas lembrava da voz e das coisas que tinham acontecido como se fosse um sonho, algo distante dela, mas sentiu o gosto dele, lembrava nitidamente do momento em que conseguiu livrar-se da maldição, a dor da realização dos fatos. Ela estava mal, muito mal.
-Espere um minuto que vou avisar Dumbledore. -ele disse seco. Hannah apenas o olhou, e Severo saiu rápido. Com os olhos vidrados ela nada via, em sua mente passava repetidamente Lucius apertando-a contra parede, ela fechou os olhos e uma lágrima quente rolou pelo seu rosto, era melhor mesmo chorar do que guardar tudo que ela estava sentido, ficou de olhos fechados enquanto seus rosto era lavado. Para completar Severo estava estranho, provávelmente estava chateado com ela, devia achar que tinha ido no encalço do Malfoy para, nas palavras dele, "Praticar os atos heróicos dos Grifinórios.", ele estava a estava evitando, apesar de ter dito que ia matar o Malfoy ela sabia que ele também estava com ráiva dela, soluçou. Era essa a dor maior, o sentimento que ela tinha em relação a Severo, o peito doeu, apertado.
Ele voltou e a encontrou chorando de olhos fechados, não gostava de choro. "Por Merlin, pare com isso.", apelou em pensamento. Por que ela tinha de ser tão burra e ir atrás de Lucius? Não, era orgulhosa demais para acatar uma ordem dele. Seu coração quase parou quando escutou Hannah chamando por ele, há alguns minutos "Severo, no primeiro andar, corredor maior, preciso de você.", ele levantou assim que escutou e correu em direção de onde ela estava, quando chegou no início do corredor, viu a mulher sendo impressada na parede, porém ela não resistia, pelo contrário retribuia, tinha as mãos no pescoço de Lucius, e ele não mantinha sua mãos paradas em um ponto fixo, movimentava-as por todo corpo dela. Uma onda de ódio subiu seu corpo, ele era o único que tinha direito de abraçá-la daquela forma, de beijá-la, de tocá-la. Por que diabos ela permitia aquilo? Será que era realmente uma fingida? Até que ele viu que ela começou a bater as mãos no peito do homem que a prendia, emitiu um som estrangulado. Alguma coisa alí estava fora do lugar. Era a hora de intervir.Olhou novamente a mulher em cima da sua cama, ela agora estava de bruços agarrada a um travesseiro, mas ainda chorava. Foi aproximando-se, sentou-se na cama e acariciou os cabelos dela.
-Chega. -disse mais rude do que pretendia chegando mais perto do rosto dele escondido pelo travesseiro. -Vamos, pare com isso, está tudo bem. -afastava os cabelos dela.
-Não, não está. -ela respondeu com a voz abafada.
-Hannah, olhe pra mim. -ordenou, mas ela levantou-se rápido, com urgência. -Hannah? -ela tinha corrido para o banheiro. Ele foi atrás, hesitou um momento antes de abrir a porta, mas decidiu-se e a empurrou. Ela estava sentada no chão, soluçando, ele viu que ela tinha vomitado "Efeitos da maldição.", ele mesmo já tinha passado por isso algumas vezes, era bem o tipo de "brincadeira" que Lucius gostava de fazer, ficava lançando maldição em todos, só que quando se resistia a uma maldição forte como a dele o seu corpo sofria as reações, infelizmente aquele idiota servia para fazer algo, mesmo que fosse algo ruim. Ele puxou a descarga do banheiro, e pegou Hannah nos braços, a colocou na banheira, com um aceno da varinha tirou a roupa dela, então abriu a água, saiu para arrumar a cama, era melhor que ela dormisse. Quando voltou ao banheiro ela tinha os cabelos molhados, devia ter mergulhado na banheira.- Venha. -ele chamou com a toalha aberta, fez com ela vestisse uma de suas camisas de dormir, a pegou novamente nos braços e a estava levando para o quarto.
-Desculpe. -ela murmurou olhando nos olhos dele.
-Depois conversamos. -e a deitou na cama. -Tome isso. -e estendeu uma taça a ela. Hannah cheirou o conteúdo da taça.
-Não...-tentou argumentar.
-Beba!- mandou rígido e ela o fez. Severo a aconchegou nos travesseiros e puxou a coberta para cima do corpo dela. -Seu pai deve vir aqui em pouco tempo, mas é melhor que você durma.
-A aula. -ela lembrou, mas seus olhos estavam começando a pesar.
-Foi resolvido. Durma.- ela segurou a mão dele, e o puxou para beijá-lo. Severo colocou a mão no rosto dela e a beijou de leve.
-Obrigada. -ela falou antes de fechar os olhos.
Severo ficou alí observando a mulher dormindo em sua cama, ele estava sentindo-se mal por ela, estava triste de vê-la daquela maneira, estava frágil, mas ao mesmo tempo tinha uma ráiva que borbulhava dentro dele, a cena de Lucius a beijando continuava viva e ardia como se tivesse sido marcada a brasa em sua mente. Escutou batidas na porta, levantou-se para atender, atravessou rápidamente a sala e abriu a porta.
-Alvo. -disse vendo o homem alto e barbudo na sua frente.- Entre.
-Obrigado, Severo. -disse o senhor entrando.- Onde está Hannah? -ele parecia preocupado.
-No quarto. -respondeu sem parar de andar em direção a porta do seu quarto. -Dei uma poção para ela dormir.
-Fez bem, meu caro. -eles entraram no quarto e o velho observou sua filha adormecida.- Meu anjo, -disse passando as mão pelos cabelos dela. -as vezes acho que não passo de um velho tolo. -disse num tom tão baixo que Severo não pode escutar.- Meu filho, -virou-se para Severo.- você vai jantar no salão?
-Não.
-Imaginei que não, então pedi para um elfo trazer seu jantar, ele deve chegar daqui a pouco. Hannah deve acordar ainda hoje?
-Não, só amanhã pela manhã.
-Ótimo, então a deixarei sob seus cuidados. -levantou. -Severo, meu rapaz, -colocou as mãos nos ombros do homem.- não crie mais amarguras em seu coração, você já tem muitas. -Severo desviou o olhar e não respondeu. -Boa noite e tente dormir, sim?
Logo depois que o diretor saiu um pequeno elfo trouxe a bandeja com o jantar do professor, que comeu muito pouco. Depois de tomar um banho demorado, Severo achou que era melhor obedecer Dumbledore e tentar dormir um pouco. Deitou do lado direto da cama e virou-se de lado de forma que seu rosto ficou de frente para o de Hannah que dormia tranquilamente. Ele passou a tarefa de observar todos os pontos do rosto dela, as sobrancelhas, as pálpebras, os cílios, o nariz delicado, a boca pequena, a pele muito branca. Ele imaginou que os marotos deviam tê-la apelidado de "boneca de porcelana", seria mais parecido com ela. Passou o dedo pela bochecha dela. Talvez um dia ele tivesse coragem o suficiente para apelidá-la assim. O que está acontecendo com você Severo Snape? Você que sempre foi tão "durão", agora fica imaginando apelidos para uma mulher, seu grande tolo! Nem sabe quanto tempo isso vai durar, sabe que não vai ser para sempre, sabe que terá de se afastar para não matá-la. Mas estava sendo tão bom tê-la em seus braços, a forma que ela o tratava. Observou novamente o nariz dela. Se um dia eu tiver um filho...Você não vai ter, muito menos com ela! Mas se eu tiver quero que tenha o nariz dela. Você está sendo um grande imbecil. Nunca vou ter essa vida. Casar? Ter filhos? Isso não é pra mim. Não está ao meu alcance e eu também não ia prende-la a mim, fazê-la passar a vida com uma pessoa como eu. Não, é melhor que ela fique livre para ir embora quando quizer. Para que possa mandá-la embora quando eu quizer... Entre devaneios e observações sobre Hannah, Severo adormeceu.
Já era manhã quando ele acordou, novamente alguém batia a porta, abriu os olhos sonolento. Viu que Hannah estava deitada com a cabeça no peito dele. A tirou com cuidado, não tinha a minima idéia da hora, mas pedia a Deus que não tivesse perdido a hora da aula. Levantou, estava apenas com a calça de dormir cinza, puxou um robe preto que tinha pendurado num cabide e desceu as escadas vestindo-se. Quando abriu a porta era o mesmo homem da noite anterior, não falou nada apenas afastou-se para que o velho entrasse, ele tinha nas mãos o que parecia ser algumas vestes dobradas, Severo logo deduziu que seriam roupas para Hannah.
-Vejo que lhe acordei, Severo. -disse o diretor observando a cara de sono do professor, e tinha um ar divertido ao fazê-lo. Severo não respondeu, amarrou a cara.- Hannah já acordou? -o diretor não deu a minima importância a expressão fechada dele.
-Não. -o diretor foi seguindo até o quarto onde a mulher dormia.
-Acho que ela estará bem para dar aulas hoje. -disse quando entrou no quarto e colocou as roupas em cima da cama.
-Creio que sim.
-Os alunos ficaram preocupados e Minerva...-Hannah se mexeu na cama.- ah, Minerva, ela quase que me mata para vir até aqui ver Hannah.
-Isso não seria uma boa idéia. Ela iria querer me matar por está com a filha dela.
-Não, Minerva faz muito alarde, só isso, quando se trata de Hannah, é claro. -Severo reprimiu um bocejo.
-Que horas são, Alvo? -perguntou achando estranho o sono que sentia.
-Ah, ainda é muito cedo. Eu vim agora para que vocês não se atrasassem para o desejum, você sabe, não quero preocupar a Minerva mais ainda, ela chega a me deixar louco.
-Imagino. -disse numa careta. - O que disse a ela? Disse o por que de Hannah está aqui? -perguntou assustado, ele não queria ver a cara de Minerva se ela descobrisse sobre ele e sua filha.
-Ah, disse a verdade. Que você foi que encontrou Hannah e que você conhecia melhor sobre a maldição, e já que Remo não está passando bem, e nós não queremos chamar atenção para o incidente, não era bom que ela fosse para enfermaria. -deu uma piscadela em direção a Severo.
-Papai? -Hannah tinha acordado e começava a sentar.
-Oi, meu anjo. -ele beijou a testa da filha. -Sente-se bem?
-Sinto.- ela olhou de relançe para Severo que estava em pé com os braços cruzados sob o peito.
-Trouxe umas roupas para você, sua mãe que pegou. -acrescentou e ela sorriu. - Para você descer até o salão. Está disposta para dar suas aulas?
-Claro. Aquele imbecil, desculpe. Aquele, bem, ele não me derruba por muito tempo- ela viu Severo dar um sorrisinho sarcástico. Será que ele não se controlava?
-Ótimo, então eu vou indo e espero vocês no salão. -o senhor saiu do aposento dando "adeusinhos" aos dois.
Ela ficou encarando Severo durante um tempo até que resolveu falar.
-Por que o sorrisinho sarcástico?
-O orgulho de vocês grifinórios é incrível: "ele não me derruba por muito tempo".- mais um sorrisinho sarcástico.
-Ah, então foi isso? -ele deu de ombros e tirou o robe o colocando de volta no lugar.
-Seu pai tinha de me acordar de madrugada? Será que ele não sabe que tenho dificuldade para dormir? -perguntou sentando do lado dele da cama.
-Não é madrugada. E ele deve saber sim que você tem dificuldade para dormir. Será que dá pra parar de reclamar de tudo?
-Não. -mais um dos sorrisos típicos.
-Eu não vou me aborrecer com você logo cedo. Por mais que você tente eu não vou.
-Que disse que estou tentando?
-Ai, Severo, para. -ele riu, mas era um sorriso verdadeiro.
-Vem cá. -ele a puxou para cima dele. -Não estão tentando aborrecer você. Não hoje. Não depois de ontem.
-Nós precisamos conversar sobre ontem...
-Precisamos sim, mas não agora. A noite, o seu quarto.
-Tem certeza?
-Absoluta. -e beijou a ponta do nariz dela descendo para a boca.
-Eu quero dormir mais. -apoiando a cabeça no peito dele.
-Acho que te dei poção demais. Mas mesmo assim, não pode.
-Por que?
-"Não é madrugada." - disse colocando-a nos braços e levantando-se.
-Sabia que você é irritante?
-Sabia. -disse orgulhoso.
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