Um novo inicio



Mordeu a ponta da pena ao mesmo tempo em que uma madeixa lhe caiu sobre o olho direito. Era o que fazia sempre que estava nervosa. Lilian bufou enfadada, soltou o cabelo vermelho e atou-o num novo puxo no alto da cabeça, talvez assim estive livre para pensar em condições, sem cabelos intrometidos caindo-lhe sobre a face. Passado alguns momentos tamborilou na mesa com as pontas dos dedos, apoiando a cabeça na mão livre.

A sala de aula estava silenciosa, apenas se distinguiam as pontas das penas roçando o papel com certa pressa. O pergaminho à sua frente intrigava-a. O professor devia ter batido com cabeça nessa manhã, escrever a sua opinião sobre o amor? Qual era a deficiência dele? O que é que isso tinha ver com História da magia? Nada, ela achava! Queria aprender matéria, mas afinal estavam perdendo tempo com banalidades.

Nenhuma ideia, o seu cérebro era um traidor (a sério? olha a novidade), mas isto já era demais, não que o professor não tivesse a sua, grande, dose de culpa, por dar um trabalho tão estúpido como este, no entanto o facto de nada lhe vir à cabeça irritava. Amor…que raio de palavra. Sei lá, fácil de prenunciar, ao principio qualquer pessoa se diz apaixonada, mas não sabe o que isso realmente significa, em que é que consiste e quais as suas consequências. Por outras palavras: o amor é fudido! Claro que não ia colocar isso no pergaminho… Merlin livre de tal coisa, Lily era uma garota atinada e pretendia manter a sua fama.

O seu pensamento foi interrompido por um empurrão na cadeira, que a fez inclinar ligeiramente sobre a mesa. Olhou para trás com um olhar assassino, adivinhando a espécie de palhaço que se encontrava atrás de si. James sorriu-lhe ladino mexendo no cabelo no seu tique “oh yeah…irresistível”. Ela lançou-lhe um sorriso forçadamente sarcástico e virou-se para o seu pergaminho em branco. Sentiu de novo um pontapé na cadeira.

-Queres levar um estalo?? – Ameaçou dando-lhe um tapa no pé. Ele sorriu debochado e provocador, como se estivesse a fazer de propósito para enervá-la. Lily revirou os olhos, não estava com paciência nem para matar alguém. Novamente. – POTTER!! – A turma virou-se para ela. – Que foi? Nunca viram? É ele que me a anda a abanar a cadeira!

-Eu?? – Cortou com falsa indignação. – Andas a sonhar comigo Evans.

-Era o que tu querias! – Ele riu.

-Por acaso ando a sonhar com a Stacie, ela não é sabes…indecisa?

-Digamos que tem paciência de santa para te aturar!

-Ah! Agora já é santa, ainda ontem era uma vadia e…

-Então? Estamos em aulas meninos! – Cortou o professor.

-Desculpe. – Disse a ruiva.

-Ela começou…au. – Queixou-se depois de ser atingido por uma folha de papel amarrotada. Viu-a sorrir de lado enquanto se endireitava na cadeira. – Onde é que eu ia? – Continuou suficientemente alto para a ruiva, à sua frente, ouvir. – O amor é algo muito bonito especialmente se a pessoa retribuir, a partir do momento em que a amada não retribui começa a ficar aborrecido, uma vez, duas vezes, três, quatro, cinco. -James apenas falava não escrevia.

-Cala-te pá! – Bradou Sirius atrás de si.

-Okey, estava só a rever o que tinha escrito.

-Quer dizer que já acabaram. – Concluiu o professor. Sobrevoando a sala. – Mr. Lupin, queira partilhar connosco a sua opinião.

O rapaz levantou-se hesitante, a sua expressão fechara para algo mais frio e abatido. Maureen e Mary olhavam-no ansiosa e apreensivamente.

-Amor. Não se sabe o que se tem, não temos noção do quando sortudos somos quando o temos perto de nós. Em minha opinião uma pessoa só se apercebe do valor das coisas, independentemente do que seja, quando as perde. No amor não é muito diferente. Como dizia um filosofo – parou um pouco onde respirou pesadamente – se perdeste o teu amor, perdeste mais do que se perdeste no teu amor. – Mary baixou a cabeça, as suas entranhas estavam a deixá-la maluca, e aquele sentimento da palavra não dita. –E…também acho que é uma coisa muito bonita e tal, mas ás vezes parece não valer a pena.

-Tristemente bonito o texto. – Observou Kate brincando com as unhas, mas não afastando os olhos do decorrer da aula.

-Muito bem…podia ser mais coerente, mas percebi a idéia e dado a tua recente perda é compreensível. – Deu-lhe um sinal gestual para se sentar de novo. -Uma pena, não é? – Insistiu o professor.

-Tudo bem, estamos a ultrapassar bem o assunto. – Interrompeu James.

-Também ninguém falou contigo Pontinhas. – Zombou Sirius.

-Também ninguém falou contigo Pontinhas.-Imitou James numa voz forçada e exagerada. – Rafeiro felpudo. – Sirius dá-lhe um pontapé forte fazendo com que Potter quase batesse com a testa na mesa.

-Mas o que é que aconteceu? no primeiro trimestre ela pareceu estar tão bem, digo normal. – Continuou o professor.

-Realmente foi tudo muito depressa, apanhou-nos completamente de surpresa. – Lily falou enrolando a ponta da madeixa de cabelo que caíra de novo.

-Ela tinha um aneurisma, segundo os médicos trouxas. – Informou Mary tamborilando na mesa, dando a perceber o seu nervosismo.

-Tu é que tiveste uma espécie de prenomição, né Mary? – Articulou James.

-Premonição? – Estranhou Peter. Lily foi quem também se virou para o moreno de sobrolho franzido, e com uma expressão interrogativa.

-Sim senhor! Ela disse-me que estava a sonhar com isso quando ela morreu! – Persistiu Sirius balouçando na cadeira com as sobrancelhas erguidas dando ênfase à sua afirmação.

-Espera aí, como é que sabes que ela morreu ao mesmo tempo? – James perguntou ao fim de algum tempo de meditação.

-Ai que chato! – Vez de Maureen refilar.

-Bem…-começou Maryanne com um meio sorriso.

Flashback

- Maryanne! Que é que estás a fazer acordada a esta hora? – Perguntou uma senhora de roupão à porta do quarto da garota que olhava fixamente para a janela.

-Eu…-desviou o olhar da janela – eu estou com um péssimo pressentimento.

-Pressentimento? Mary, deves ter tido um pesadelo, dorme. – Apagou a luz.

-Mãe! Não! Eu estava a dormir no sofá e deu-me uma espécie de…sei lá, eu sonhei com a Ashley numa cama e à volta uma serie de médicos.

Mrs. Andrews não disse nada, continuou a olhar para ela inexpressiva. Luzes azuis iluminaram-lhe a cara por instantes, a sirene da ambulância ao longe preencheram-lhe os ouvidos. Mary virou-se quase por reflexo e correu para a janela. A ambulância parou na mesma rua, mas do outro lado da estrada. Ashley era sua vizinha, mas do prédio em frente ao seu. Era mau demais. Ela está em Hogwarts.. A morena vestiu um caso comprido e calçou umas botas à pressa. Ainda enrolava o cachecol à volta do pescoço quando chegou à rua onde os bombeiros fechavam a ambulância.

-Esperem! Eu conheço-a! – Eles ficaram a olhar para ela abismados, quando viu a descer as escadas do prédio onde também morava a amiga, uma senhora de idade com a sua filha. Abriu a porta para ver um idoso a soro com uma máscara de oxigénio. – Desculpem eu pensei que era uma amiga. As minhas desculpas e as melhoras. – Curvou-se e virou costas. Ao entrar em casa a mãe entregou-lhe uma carta, com uma expressão ansiosa no rosto. –O que é?

-Vê tu mesma.

Fim de flashback

-…na carta dizia que Ashley Roberts tinha dado entrada no hospital pelas 18:49h e que tinha falecido às 22:17h. Os médicos tinham-lhe feito uma autopsia e detectaram um aneurisma que tinha rebentado. Assim que souberam entraram em contacto com a família e a mãe dela enviou-me uma coruja. – Mary acabou quase a chorar, tentando forçar um meio sorriso.

-Hei! Não percebi nada! – Falou Sirius com cara de burro a olhar para um palácio. James acenou com a cabeça.

-Até falavas português corrente.

-Uma veia rebentou-lhe no cérebro. – Explicou Mary impacientemente.

-Que horror. – Disse Kate visivelmente incomodada.

-Ela era tão nova meu Merlin. – Acrescentou o professor. – Mas vocês parecem estar a lidar bem com a situação.

-É…-começou Lily. – Quer dizer, foi um choque demasiado grande quando soubemos foi mau demais. Num dia pensávamos que estava tudo bem, que ela estava aqui com a Maureen.

-Mais ninguém sabia que ela tinha voltado para casa. – Acrescentou Maureen.

-Pois. – Concordou Mary com a ponta do dedo mindinho no canto da boca.

-Foi muito de repente, ela era nossa amiga…– Disse Sirius olhando para o chão.

-Os dias a seguir ao funeral foram um autentico pesadelo, -continuou Remus – muito estranho -encolheu os ombros. Como se ela tivesse viajado.

-Ainda por cima aquele francês de meia tigela apareceu. –Falou James de braços cruzados e num tom quase inaudível como se estivesse a pensar alto.

-A sério?? – Disseram Maureen e Lily ao mesmo tempo.

-Quem é o tipo? -Entreviu Kate confusa.

-O Ralph-sou-o-maior-Stewart. – Advertiu James. -Não tou a gozar, o gajo apareceu mesmo… nem sei como não lhe fui ao focinho. – Acrescentou mais baixo batendo com o punho fechado contra a palma da outra mão.

Flashback.

O sorriso de Ashley iluminava a foto da moldura em cima do caixão. O descampado permanecia coberto com uma nuvem negra. Remus estava de cabeça baixa, aquilo não podia estar a acontecer, Ashley não podia ter morrido, ela era a sua namorada e tinha-lhe prometido irem até ao lago na passagem de ano, sim porque ele queria estar com ela nesse dia. Sirius também estava visivelmente abalado, ao lado do amigo mantinha as mãos nos bolsos, com um olhar frio o suficiente para não chorar, tinha que manter o lado forte, não podia chorar. Com essa atitude estava também James que já mordia o lábio para se manter imune face aos berros e choros dos familiares da jovem, era de partir o coração. Peter deixou cair uma lágrima que logo limpou, queria mostrar-se forte para apoiar a melhor amiga Maryanne que se ajoelhou ao lado do caixão. Passou a sua mão por onde certamente estaria o rosto da amiga, queria tanto abraçá-la, dizer-lhe o quanto gostava dela, era tarde demais, Ashley fora-se. A cara de Maureen parecia uma cascata, não conseguia controlar, soluçava fortemente e instantaneamente abraçou Lilian que também sentia a cara molhada. Chegara a hora do mais difícil: o enterro. James atirou um ramo de flores e virou costas, foi para um canto. Não era capaz de suportar ver a amiga descer para debaixo da terra. Estava fora do alcance da maior parte das pessoas, passou a mão pela cara e sentiu a mão molhada pelas lágrimas que já não conseguia travar. Encostado a uma arvore a assistir ao espectáculo de longe estava Ralph Stewart. Só podes estar a gozar! James sorriu, estava decidido a acertar contas com aquele que fizera sofrer duas das suas melhores amigas. Ninguém estava a ver quando ouviu outro grito. A mãe de Ashley tinha desmaiado com o desgosto. Abanou a cabeça e disse algo como: Tiveste sorte..

- Prongs, ele foi mesmo? – Perguntou Remus mais uma vez muito sério.

-A sério! – Insistiu o moreno de óculos. – Eu disse ao Padfoot mas ele estava demasiado ocupado a tentar não chorar. – Sirius dá-lhe um tapa na nuca por trás, fazendo com que este se encolhesse - E é verdade!

-Tu se calhar não estavas a chorar como uma madalena perdida!

-E não!

-É que és insensível Potter! – Reprovou Maureen, abanando negativamente com a cabeça.

-Eu só tou a dizer a verdade carago!

-Sabes que ficas muito melhor calado?? – Retorquiu Lily lançando-lhe uma olhar ameaçador. Ele ergueu as sobrancelhas, aborrecidamente derrotado.

-Mas o primeiro mês é sempre mais difícil, é doloroso ver a reacção das pessoas, despedaçou-me o coração ver os pais chorar daquela maneira no funeral. – Disse Maureen mostrando claramente ser a que ainda se encontrava muito inconformada com a morte da amiga.

-Foi horrível. – Contou Peter. – Um verdadeiro pesadelo.

-Mas faz parte do ciclo da vida não é? – Interrompeu James.

-É, mas custa. – Continuou Maureen. – Então…o meu Natal foi muito bom! Não haja duvida, sem pais, sabendo que a Ashley estava morta.

-O quê? - Interrompeu Sirius - Eu só soube no 26.

-Sorte a tua. – Nem Maureen nem Sirius se olharam.

-É! Eu também. – Concordou Remus assim como o resto dos Marauders.

-Olha eu soube no 24…uma véspera de natal, o.p.t.i.m.a. - Contou a ruiva.

Kate sorriu tristemente. – Eu não a conhecia bem. Mas parecia ser muito legal…

-ENTÃO POVO!! –Disse James com um sorriso forçadamente alegre. –A vida é assim! Uns morrem outros vivem! Ela se sobrevivesse ao aneurisma…

-Não se sobrevive. – Emendou Mary rapidamente.

-Não interessa. O que importa é que ela foi para um sitio melhor. Não está paralítica ou com alguma deficiência, não está a sofrer, está algures lá em cima, a olhar para nós e com certeza muito triste por saber que nós estamos sofrendo com a morte dela. Deixem a mulher descansar em paz, eu adorava aquela maluca, mas o que mais desejo agora é que ela descanse em paz, não tenho nada pendente com ela, é difícil mas tenho que aprender a ultrapassar. Vamos viver a pensar nela?

-Não.

-AH! Pensei que não! É a vida pessoas!

-Não temos outro remédio senão aceitar a realidade e continuar a viver normalmente, apenas que agora a Ashley só participa nas memórias…que são para sempre. –Disse Maureen acariciando o cabelo de Mary para acalmá-la.

-viver a vida, não em base das recordações, nem prender essa pessoas especial nas memórias, viver…normalmente, continuando a amar-

N/A: Desculpem a demora, a sério, mas eu ando com o stress á flor da pele e nem consigo concentrar-me para me dedicar áquilo que mais gosto.

Comentário: Sem comentário o/

Beijos ;***
Mariana

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