Capitulo 12



CAPÍTULO XII


Tradicionalmente, o movimento no Blackhawk's era tranqüilo nas noites de domingo. Sem música ao vivo para atrair, o primeiro dia da semana de trabalho costumava ser desanimado.

Aproveitando o clima agradável, muitos moradores de Denver saíam para passear a noite e passavam uma hora ou mais saboreando drinques e aperitivos.

De olho na entrada, após verificar as saídas, Hermione observava rostos e contava cabeças. A intervalos regulares, escapava para a área do salão e se informava sobre a situação do cerco à casa de Lyle.

O estabelecimento se esvaziava conforme avançavam as horas e sobraria um punhado de clientes na ora do fechamento.

Onde estaria Lyle?

— Detetive. — Harry a tocou no ombro. — Achei que gostaria de saber que um homem cuja descrição corresponde à de Lyle anda perguntando a meu respeito, segundo uma de minhas fontes.

Sobressaltada, ela o puxou para um canto escuro.

— Quando? Onde?

—Agora há pouco, em meu outro estabelecimento.

—No Fast Break? — Hermione agarrou o telefone. —Não colocamos ninguém lá. Nunca pinçaram alvo lá. Não é do estilo dele.

— O barman informou que o indivíduo que podia ser Lyle, embora usasse óculos e barba, sentou-se numa banqueta e começou a especular se eu costumava aparecer por lá.

— Espere um pouco — pediu Hermione, ao ser atendida — Balow? Destaque dois do cerco e mande-os ao Fast Break. — Informou o endereço. — Alguém que pode ser Lyle esteve lá hoje. De óculos e barba. — Desligou.

Harry retomou o relato:

— Bem, meu funcionário não desconfiou de nada princípio, mas então reparou que o homem parecia nervoso e, depois de meia hora, despediu-se pedindo para me avisar que nos veríamos.

— O centro dele está desmoronando. Fora de si, o impulso para agir deve estar muito forte. — Hermione pensou numa maneira de tirar Harry do caminho. — Escute, por que não sobe e avisa seu barman de que dois policiais estão a caminho de lá?

— Por acaso me acha com cara de bobo?

Longe de acatar a sugestão, ele foi abordar uma mesa de clientes que se preparavam para ir embora.

De repente, gritos na cozinha, seguidos de um barulhão de pratos se quebrando. De arma em punho, Hermione correu para a porta do anexo, que se abria.

Lyle estava mesmo de óculos e a barba por fazer se assemelhava a uma camada de sujeira em seu queixo. Hermione acertara. Ele já estava fora de si, de olhos arregalados e selvagens.

Segurava a pistola nove milímetros com o cano encostado no pescoço de Beth.

— Ninguém se mexe, ninguém se mexe! — gritava ele em meio aos gritos e atropelos dos clientes apavorados.

— Calma — pedia Hermione. — Fiquem todos calmos. - Mantinha a arma apontada para o criminoso, tentando não se impressionar com a expressão aterrorizada da refém. — Lyle, solte-a.

— Eu a mato! Estouro os miolos dela!

— Se fizer isso, estará morto. Pense, raciocine. Aonde isso o levará?

— Baixe a arma! Deixe-a cair, chute-a para cá, ou ela morre!

— Não vou fazer isso. Nem os outros policiais que estão aqui. Sabe quantas armas você tem apontadas para sua testa neste instante? Acabou, Lyle. Entregue-se.

— Eu a mato! — Tremulo e colérico, ele olhava ao redor, tentando contar as armas. — Depois, mato você!, ficarei satisfeito!

Alguém soluçava. De soslaio, Hermione viu na área do bar dos civis sendo retirados do estabelecimento.

—Isso significa que não quer viver? — questionou ao psicopata. — Madeline ia querer que você vivesse.

—Não diga o nome dela! Não se atreva a pronunciar o nome de minha irmã! — Apertou a pistola com força no pescoço de Beth, extraindo-lhe um grito.

Sem saída, relembrou Hermione. Madeline também se vira sem saída e, mesmo assim, voltara-se e atirara.

—Ela amava você. — Aproximando-se devagar, obrigava Lyle a se concentrar nela. Se conseguisse fazê-lo desviar a arma apenas alguns milímetros do pescoço de Beth... — Ela morreu por você.

—Ela era tudo o que eu tinha! Não tenho nada a perder agora. Quero o tira que a matou, e também Potter. Agora! Já, ou ela morre!

Com o rabo do olho, Hermione viu Harry avançar.

— Olhe para mim! — gritou ao psicopata. — Fui eu quem matou sua irmã.

Lyle emitiu algo semelhante a um uivo de dor lancinante e afastou a pistola do pescoço de Beth, apontando-a para Hermione. Ouviu-se um disparo entre movimentos indistintos e lamentos de terror.

Apavorada, Hermione correu ao ponto em que Harry e Lyle se engalfinhavam. Ambos apresentavam mancha de sangue.

— Harry, seu idiota! Ficou louco? — Em desespero, começou a apalpá-lo, tentando localizar ferimentos. Ele se atirara na frente da arma. Na frente da arma.

Ainda respirava. Era uma esperança. Ele ainda respirava e ela faria com que continuasse respirando.

— Harry... Oh, Harry...

— Estou bem. Pare de me cutucar.

— Bem?! Você pulou na frente da arma no instante em que ele a disparou. Podia ter morrido!

— Você também. — Ele olhou para o ponto no chão estrelado atingido pela bala, a menos de três centímetros de onde Hermione estivera.

— Estou de colete.

— E ele protege sua cabeça dura também?

Ainda sentados no chão, observaram um policial virar o corpo de Lyle para cima.

— Está morto.

Harry fitou o rosto do psicopata pela última vez e então fitou Hermione.

— Vou acalmar meus clientes. Levantaram-se.

— Não vai acalmar ninguém assim, todo sujo de sangue. É todo dele?

—A maior parte.

—Como... a maior parte?

— Vou acalmar meus clientes e funcionários. — Harry a manteve a um braço de distância antes que o agarrasse de novo. — Faça seu trabalho e me deixe fazer o meu.

Com cuidado, tirou Beth dos braços da policial que a amparava.

— Vamos, querida, reaja. Está tudo bem agora.

Hermione massageou a têmpora e contemplou o que restara de Matthew Lyle.
— Sim, está tudo bem agora.


— Entrou pelos fundos — relatou Hickman a Hermione, no bar quase vazio. Os clientes já tinham ido embora, o cadáver já fora removido e a equipe de peritos já recolhia seu material.

Ela imaginou que horas seriam e quando poderia enterrar o rosto no travesseiro e desligar o mundo.

— Acabou-se. Ele não pensa mais — comentou, filosófica, mais para si mesma.

— Não mesmo. Vestindo um daqueles uniformes brancos e de bandeja na mão, conseguiu enganar o policial de guarda na cozinha, até que o inferno estourou.

- Ele não esperava ver tantos tiras aqui — opinou Hermione. — Levou um choque. Acho que ele planejou entrar de mansinho e tomar a mim ou Harrycomo refém, exigindo a entrega do policial que matou sua irmã. Acreditava que conseguiria se vingar e ainda escapar ileso.

— Que arrogante. Por falar nisso, onde estava com a cabeça quando se apresentou como a pessoa que ele procurava?

— Ora, não entendo por que ele não veio logo atrás de mim primeiro.

Hickman olhou-a de alto a baixo.

— Você está diferente... Não parece a Granger.

— Pode me deixar em paz, Hickman? Quer saber, Lyle veio aqui atrás de Harry. Quando me apresentei como a assassina da irmã, ele viu uma tira, só mais uma tira... Sem rosto, sem forma. Não conseguiu me relacionar à moça que trabalhou aqui.

— Talvez. — Hickman levantou-se. — Acho que nunca saberemos. – Examinou o chão de estrelas trincado. – Que estrago... Aposto como vai custar uma fortuna consertar.

— Talvez Harry deixe assim mesmo. É uma atração.

— Isso é. — Hickman continuava analisando a ação — Sabe, podíamos ter acertado em Lyle, mas ele teria disparado, de qualquer forma. Daquela distância o colete teria segurado a bala, porém, se Harry não tivesse desviado o tiro, você podia ter se machucado bastante.

Distraidamente, Hermione levou a mão à região entre seios e imaginou a dor.

— Já levou um tiro com colete?

— Não, mas Deloy me contou como é. O impacto o arremessou para trás como uma boneca de pano e deixou um hematoma do tamanho de uma bola de beisebol. Bateu a cabeça na calçada e teve concussão. Isso é que doeu mais.

— Mesmo assim, é preferível a levar o tiro.

— Se é. Bom, vou para casa. Até amanhã.

— Até. Está de parabéns.

— Você também. Ah, seu namorado está na cozinha, recebendo curativo.

Hermione empalideceu.

— Curativo?

—Parece que a bala passou raspando nele.

—Raspando? Por que ninguém me disse nada?

Hickman não se incomodou em responder. Hermione já voava pelo salão rumo à cozinha.

Escancarando a porta, ela invadiu o recinto com os olhos flamejantes e avistou Harry junto a uma das mesas, sem camisa, calmamente tomando conhaque, Enquanto Will lhe enfaixava o braço.

—Espere, espere, deixe-me ver isso! — Empurrou Will, desenrolou a gaze e cutucou o ferimento comprido e raso até ter o rosto afastado por mãos aflitas.

—Mione, pare com isso! — protestou Harry.

—Vamos já para o hospital.

Encarando-a convencido, ele bebericou o conhaque.

— Não.

—Que insensatez é essa agora? Você levou um tiro!

—De raspão. Agora, se não se importa, Will tem dedos mais leves do que você. Deixe-o terminar o serviço para poder ir embora.

—Mas pode infeccionar!

—Também posso ser atropelado por um caminhão, mas nenhuma das duas coisas vai acontecer.

Apaziguador, Will se colocou entre os dois.

— Não se preocupe, Mione. — Pegou a ponta da gaze e começou a enrolar. — Limpei bem o ferimento. Já passamos por piores nos velhos tempos, não é mesmo, Harry?

—Com certeza. Já tenho mais cicatrizes do que você e vou ganhar, mais uma.

Hermione pegou o conhaque.

— Como são engraçadinhos.

— Pensei que detestasse conhaque.

— Odeio.

— Por que não pega uma taça de vinho? — sugeriu Will. — Já estou terminando aqui.

Hermione expirou longamente, tentando se acalmar.

— Não, estou bem. — Sentiu as mãos começarem a tremer. — Potter, acho que foi a minha bala que passou raspando em você!

— Também acho. Mas, considerando as circunstâncias, não a culpo.

— Quanta consideração. Só que...

— Frannie levou Beth para casa — comentou para distraí-la. — Já estava melhor. Ainda assustada, mas melhor. Ela queria lhe agradecer, mas eu disse que você estava ocupada e que podia deixar para depois.

Will levantou-se.

— Prontinho. Seu braço está melhor do que a camisa. Essa eu acho que já era. — Ergueu a peça toda manchada de sangue. — Quer que eu pegue outra lá em cima antes de sair?

— Não, obrigado. — Harry ergueu o braço e o examinou. — Bom trabalho. Não perdeu a mão.

—A gente faz o que é preciso. — Will pegou a jaqueta. — Gostei de ver, Mione. Podia ter acontecido uma desgraça aqui hoje, mas você deu conta do recado.

—A gente faz o que é preciso.

—Eu tranco tudo. Boa noite.

Hermione permaneceu quieta à mesa até todos os sons cessarem. Então, voltou à carga com Harry:

- Muito bem, espertinho, que história foi aquela? Você interferiu em uma operação policial!

— Ah, na hora, achei que aquele lunático ia matar você e... Ai. — Ele ergueu o cálice de conhaque. — Pode trazer mais uma dose? Você tomou tudo.

- Claro. Pode se embebedar, que eu não me importo. - Hermione chegou a se levantar e pegar o cálice, mas mudou de idéia e o abraçou pelas costas. — Nunca mais me assuste desse jeito de novo, ouviu bem?

— Não assusto se não me assustar. — Harry voltou o rosto para os cabelos dela e respirou fundo. — Vou ver você avançando ao encontro daquela arma por um longo tempo. Isso é o mais difícil.

— Eu sei.

— Mas me conformo, Mione, porque é assim mesmo. - Voltando-se, ele a fitou nos olhos. — Certas coisas, a gente tem de analisar e ver se agüenta. Se quer agüentar.

— Por exemplo?

Harry se levantou, despejou mais conhaque no cálice e Pôs a garrafa na mesa.

— Restou algum policial no bar?

— Além de mim?

- É.

— Não. Estamos sozinhos.

—Então, sente-se.

Hermione puxou a cadeira.

— Parece sério.

— Minha mãe sumiu quando eu tinha dezesseis anos. - Harry não sabia por que começara a narrar daquele ponto. Simplesmente, ocorreu-lhe. — Não a culpei na época e ainda não culpo. Meu pai era difícil e ela se cansou.

— Deixando você com ele?

— Eu já era auto-suficiente.

— Aos dezesseis anos?

— Mione, meus dezesseis anos nem se comparam a seus. E eu já tinha seu pai nessa época.

Ela se enterneceu.

— Que coisa linda você disse.

— É só um fato. Ele me fez ir para a escola. Estava sempre por perto quando eu precisava, ou seja, a maior parte do tempo. Foi a primeira pessoa que me disse que eu valia a pena. A enxergar o que eu poderia me tornar. George é... Não conheço ninguém que se compare a ele.

Hermione pegou-lhe a mão sobre a mesa.

— Também o amo demais.

— Só me deixe terminar. — Ele lhe apertou a mão e a soltou. — Não quis ir para a universidade, nem Granger conseguiu me obrigar. Fiz uns cursos na área de administração, que achei suficientes. Quando tinha vinte anos, meu pai morreu. Ele fumava três maços de cigarros ao dia e foi se acabando em lenta agonia. No fim, senti só alívio.

— Por que está me contando isso agora?

— Nota o contraste tanto quanto eu.

— Sim, você teve uma criação difícil, enquanto eu era uma princesa de conto de fadas. Mas, por capricho do destino, ambos tivemos sorte e ganhamos George Granger como pai. Não faça essa cara. Ele é seu pai.

— Gostaria de deixar algo claro, antes de prosseguirmos. Eu não era uma vítima, Hermione. Era um sobrevivente e fazia o que era preciso. Roubei, trapaceei, enganei e não me arrependo. Podia ter acabado de um jeito bem pior se seu pai não tivesse aparecido, mas apareceu e deu tudo certo.

— Concordo.

— Não me interrompa. Sou empresário. Se não roubo nem trapaceio hoje em dia, é porque não preciso. Isso não quer dizer que não lance mão de meus truques quando jogo.

— Pensa que me engana, Potter? Por trás dessa fachada durona e gelada, tem um coração enorme e muito mole. Mole, ouviu bem?

Divertindo-se com a reação chocada dele, Hermione levantou-se, saltitou até a geladeira e pegou uma garrafa de vinho branco. O cansaço sumira. Sentia-se elétrica.

— Acha que não levantei sua ficha, companheiro? Que não procurei seus amigos, ouvi todas as histórias? Você é quase uma galinha de tão meloso e derretido.

Implacável, Hermione abriu um armário e encontrou os cálices.

— Frannie, você tirou das ruas, curou do vício, deu-lhe emprego. Will, você endireitou, liquidou suas dívidas antes que ele fosse mutilado, deu-lhe um terno e alguma dignidade.

Harry bufava, raivoso.

— E daí?

— Ainda não terminei. — Sacando a rolha, ela despejou a bebida. — O suposto homem de gelo encontrou Beth num abrigo para mulheres espancadas, comprou presentes de Natal para seus filhos, porque ela estava sem dinheiro e energia, e a apoiou até estar em condições de trabalhar, num emprego arranjado por ele. Imagine só: Harry Potter comprando bonecas e carrinhos!

— Não fui que comprei! — rosnou Harry, furioso — Foi Frannie. E isso não vem ao caso.

— Claro que não, mas há a história de Maury, hoje um de seus chefs de cozinha. — Hermione sentou-se e apoiou os pés na mesa. — Você emprestou a ele uma bolada e digo emprestou por delicadeza, para ajudar a mãe dele a superar uma fase difícil, não é mesmo?

— Basta.

Ela apenas sorriu, mergulhou o dedo no vinho lambeu.

— Sherry, a moça que carrega bandejas, trabalhava para pagar a faculdade, mas no último semestre enfrentou dificuldades e você quitou para ela, não foi? Ah, e Pete também se viu em apuros no ano passado quando um bêbado avançou o sinal e acabou com o carro dele, mas o patrão de coração derretido ajudou!

— Investir em pessoas é um bom negócio.

— Quem sou eu para discutir?

Harry não sabia se sentia mais irritado ou constrangido

— Está passando dos limites, Hermione.

— Mesmo? — Ela se inclinou para a frente e ofereceu o queixo. — Faça-me calar a boca, homem de gelo, acerte bem aqui. Atreva-se.

— Cuidado. — Harry se levantou. — Não sei aonde quer chegar com essa ladainha.

Hermione cruzou os tornozelos e riu.

— Está pedindo... — rosnou ele.

— Ai, que medo!

Harry perdeu a cabeça e a fez se levantar.

— Mais uma palavra, estou avisando, e vai se arrepender de ter nascido!

Ela o mordiscou no lábio ainda sensível.

— Coração de manteiga.

Ele a empurrou para o lado e seguiu para a porta.

— Aonde vai?

— Vestir uma camisa. Não dá para conversar com você.

Hermione o alcançou no meio do salão.

— Vou rasgá-la todinha. Sabe, tenho um fraco por brutamontes feridos feitos de gelatina por dentro. — Risonha, Hermione atirou-se nos braços dele. — Sou louca por você, Potter.

— Fora daqui! Vá prender bandidos! Para mim, chega de tiras por hoje!
— Nunca se fartará de mim. — Ela o lambeu no lóbulo, no ombro. — Venha me dar uma lição, venha...

Ele teria conseguido. Disse a si mesmo teria conseguido. Mas, por azar, seu olhar caiu naquele ponto do chão que a bala estilhaçara e desmoronou. Hermione podia ter morrido!

Abraçou-a, com tanta força que sentiu suas costelas estalarem. Apoderou-se daquela boca tentadora, da língua ferina, com um ardor nascido do desespero.

— Assim está melhor, Harry, muito melhor... Tem de ser aqui. Agora. Precisamos nos unir outra vez. Quero que me ame... Como se nossas vidas dependessem disso.

Num segundo, deitavam-se no chão. Harry só pensava em provar a si mesmo que Hermione estava inteira, sã e salva sob seu corpo.

A superfície fria e lisa do piso podia ser um colchão de penas, um monte de nuvens, a camada de neve na encosta de uma montanha. Nada importava senão Hermione agarrada a ele, a respiração quente e ofegante contra sua pele, o coração pulando febril contra o seu.

Hermione sentiu que purgava toda a tensão e pavor sob as carícias de Harry. Ávida e ansiosa, esforçava-se para livrar todas as barreiras entre ambos. Precisar libertar para a louca corrida ao êxtase.

Quando ele a penetrou, tomado de raiva, paixão e desespero, foi como alcançar o lar.

Arquejante, esgotado, Harry continuava investindo contra ela.

— Só mais um minuto... — Hermione enterrou o rosto no ombro dele. — Abrace-me forte... — Então, sentiu uma umidade quente e viscosa nos dedos e se desvencilhou. — Você está sangrando! Venha, vou refazer o curativo.

— Não precisa, estou bem.

— É só um minuto.

— Mione, deixe para depois.

Ela estreitou o olhar.

— Nem pense em se distanciar agora. Desta vez não vou deixar você fugir.

— Vista-se. — Harry puxou os cabelos para trás e começou a cumprir a própria ordem.

Hermione também recolheu suas roupas.

— Você quer assim, será assim. Seu estúpido!

Ao notar o tremor na voz dela, ele praguejou. Amaldiçoou a si mesmo.

— Não chore. É golpe baixo.

— Não estou chorando. Acha que eu choraria por você?

Harry sentiu o coração se desintegrando ao enxugar uma lágrima no rosto dela com o polegar.

— Pare.

Com uma fungadela, Hermione passou as mãos nas bochechas para secá-las e rosnou.

— Odeio você!

Calcinada pela fúria nos olhos dele, ela se encheu de prazer. Levantou-se e ele a imitou.

— Está apaixonado por mim. — Hermione o golpeou no peito. — Mas não admite. Porque é burro e cabeça-dura!

— Será que não ouviu uma palavra do que eu disse?

— Assim como você não ouviu uma palavra do que eu disse! Estamos empatados.

Harry lhe segurou o rosto entre as mãos.

— Escute, você tem ligações...

Hermione ficou vermelha de raiva.

— Como se atreve a citar a influência de minha família num momento destes?

Ele a sacudiu para que se calasse.

— Não estou falando de influência! Não quero saber de seu álbum de filhinha de papai. Minha história é mais interessante. Falo de ligações emocionais, fundações, raízes, sei lá!

— Você também tem: Frannie, Will, Beth, meu pai... — Cansada de repente, Hermione sentou-se. — Mas entendi. Está dizendo, em resumo, que uma moça criada como uma princesa feito eu deve se casar com um homem de família... Estável e proeminente, digamos. Da alta classe média. Um profissional de nível superior com trabalho fixo, como um médico ou um advogado. Tudo bem até aqui?

— Mais ou menos.

Ela aquiesceu, resignada.

— Entendo. Sabe quem se encaixa nesse perfil? Dennis Overton, lembra-se dele? Funcionário do gabinete da promotoria pública que andava me seguindo, que cortou os pneus do meu carro, um total desequilibrado!

Hermione deu meia-volta e o encurralou no canto, satisfeita em vê-lo fumegar.

— Pare de arranjar desculpas, Potter. Seja homem e diga o que sente por mim e o que quer para nós. - Lançou os cabelos para trás e enfiou a camisa na calça. — Missão cumprida por aqui. A gente se vê, companheiro.

Harry alcançou a porta antes dela. Era bom nisso. Desta vez, porém, segurou-a bem fechada, para fúria da amante.

— Não se atreva a me dar às costas antes de acabar de falar.

— Acontece que eu já acabei.

— Cale-se e ouça.

— Se me mandar calar a boca mais uma vez...

Harry a calou com um beijo duro e impetuoso.

— Nunca amei outra mulher. Nunca cheguei perto disso. Portanto, segure-se e ouça.

Hermione sentiu o coração se acelerar, mas permaneceu fria e recuou um passo.

— Está bem. Despeje.

— Você me acertou entre os olhos no instante que adentrou meu escritório. Ainda estou atordoado.

Ela se sentou numa banqueta.

— Bom começo. Prossiga.

— Está vendo esse seu jeito? — acusou Harry, apontando o indicador. — Dá vontade de bater em você.

— Você bateria, se não gostasse tanto.

Mal contendo a ira, ele apoiou as duas ma balcão, prendendo-a entre os braços.

—Eu te amo. É isso.

— Só? Mas o que propõe?

— Que você desalugue seu apartamento e se mude para cá.

— Com direito a sala de ginástica e sauna?

Harry não conseguiu abafar o riso.

— Pode ser.

— Interessante. Que mais você oferece?

— Ninguém nunca vai amar você mais do que eu. Garanto. Ninguém suportaria você. Mas eu vou suportar.

— Melhorou. Mas ainda não é o bastante.

Harry estreitou os olhos verdes faiscantes.

— O que você quer?

Ela se recostou no balcão.

— Casamento.

Ele estremeceu de ódio.

— Sério?

— Você não ouviu? Sendo uma mulher moderna, eu até poderia propor, mas em se tratando de um homem que abre a porta para damas e compra presentes de Natal para crianças carentes...

— Pode pular essa parte.

Hermione se inclinou para frente e o beliscou nas bochechas.

— Bem, concluí que você, tão tradicional, gostaria de propor. Sendo assim, fique à vontade. — Cruzou as mãos à nuca dele. — Sou toda ouvidos.

— Olhe, já é muito tarde, estamos num bar e meu braço está sangrando...

— Seu lábio também.

— Pois é. — Ele enxugou o sangue com as costas mão. — Cenário perfeito para nós dois.

— Concordo.

Harry abriu a presilha e soltou os cabelos dela.

— Primeiro, diga que me ama. E diga meu nome.

—Eu te amo, Harry.

—Então, vamos nos casar e ver no que vai dar.

—Fechado.



Obs:Tem mais o Epílogo..... Leiam a seguir!!!!

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