Capitulo 10



CAPÍTULO X


Pela primeira vez em semanas, Hermione não teve que pular da cama e correr para o trabalho.

Glorioso domingo.

Como a noite de sábado no Blackhawk's fora ainda mais movimentada do que a de sexta-feira, passara a maior parte do dia de pé ajudando no salão, mentalmente em serviço policial: protegendo Harry.

Ele fazia vista grossa aos guardas no carro diante do bar, mas não engoliria tão facilmente o fato de ela estar ali para lhe servir de escudo.

Certos assuntos, era melhor não discutirem.

Além disso, estavam trocando favores. Ela não podia voltar a seu apartamento enquanto ele não estivesse limpo e remobiliado. Ele lhe cedia um lugar confortável no qual ficar e, para compensar, ela lhe servia de guarda-costas. Nada mais justo e racional, em sua opinião.

E aquele trato apresentava um benefício colateral soberbo. Disposta a usufruir, passou a mão no peito de Harry e começou a mordiscar o corpo que protegia com o máximo prazer.

Ele despertou, totalmente excitado, com a boca tomada por beijos ardentes e gulosos.

- Vamos, vamos... — entoava Hermione, já se sentando nele, cavalgando. Não sabia que seu sangue podia ferver tão rápido, que suas necessidades podiam passar de adormecidas a desesperadas entre duas batidas de coração.

Apossou-se de Harry, cercando-o, e sentiu o corpo se sacudir e arquear para trás sob as garras afiadas prazer.

No quarto totalmente em breu, Harry só ergueu-se para tomá-la nos braços. Posse. Era o que movia ambos. Ele se apossava de sua boca, seu pescoço, seus seios, alimentando a fome que ela provocava tão facilmente em seu ser, antes que conseguisse fazer qualquer coisa além de sentir.

A liberação de Hermione deu-se na forma de uma açoitada, cortando a carne. Sentindo-a derreter-se em torno dele, ele fez com que se deitasse e começou a amá-la.

Um beijo, suave como as sombras. Um toque, terno como a noite. Quando ela tentou alcançá-lo, tomou-lhe as mãos e as beijou, num gesto rico e suntuoso cuja sensação se misturou à das necessidades ainda insatisfeitas.

- Agora, a minha vez...

Foi totalmente diferente. Cheio de paciência, doçura e vagar. Como um fogo abafado do qual restavam brasas brilhantes.

Hermione se entregava, numa derrota tão poderosa quanto a sedução. Harry lhe murmurava palavras bonitas, que tocavam a alma tanto quanto o corpo. Com a resa, Hermione flutuava entre as finas e delicadas camadas das sensações.

O roçar dos dedos dele, dos cabelos, o calor dos lábios, o deslizar da língua elevavam-na mais e mais. Concomitante ao desejo cada vez mais intenso, um anseio profundo evoluía para uma necessidade latejante, fazendo-a murmurar o nome do amante entre gemidos.

Ele a conduziu sobre a primeira fronteira acetinada.

Precisava tocá-la assim, tomá-la dessa maneira. Precisava, ao menos nas sombras, exercer tal direito. Ali, ele podia ter Hermione.

Ela o abraçou com força quando a beijou profundamente, até se perder nela. E foi assim perdido que a penetrou, prolongando a união, desesperada e irremediavelmente apaixonado.

Quando finalmente relaxaram quietos, Hermione encaixou o rosto no pescoço dele, ávida por sentir seu gosto só mais um pouquinho.

— Não, não se mexa — sussurrou. — Ainda não... - Hermione sentia o corpo ouro, puro ouro. Podia jurar que até o escuro tinha molduras douradas. — Ainda é noite. — Ela o afagava nas costas, sem parar. — Enquanto estivermos assim, ainda será noite.

— Pode ser noite pelo tempo que quiser.

Ela pressionou os lábios contra a pele dele.

— Só mais um pouquinho... — Suspirava, contente por abraçar e ser abraçada. — Eu ia me levantar e usar seus aparelhos de ginástica, mas... bem, você estava à mão e achei que me satisfaria mais usando você.

— Ótima idéia. — Harry fechou os olhos, colado a seu amor.

Deixaram a manhã passar lânguida. Então, exercitaram-se na academia particular de Harry, assistindo a programas esportivos na televisão portátil.

Saborearam um desjejum de pãezinhos e café, lendo o jornal de domingo, na cama. Nada mais natural, quase doméstico, pensou Hermione, enquanto se vestiam para sair.

Não que um homem como Potter pudesse ou devesse ser domesticado. Mas aquela manhã de domingo tranqüila e sem complicação talvez marcasse uma boa mudança de ritmo.

Sentada na beirada da cama, Hermione amarrava os cadarços dos tênis velhos. De camiseta, Harry lhe admirou as pernas longas, intermináveis.

— Vestiu esse shortinho indecente só para me distrair na quadra e vencer?

Ela ergueu o sobrolho.

— Por favor, não me ofenda. Com minha habilidade, não preciso recorrer a golpes baixos.

— Ótimo, porque, quando entro em um jogo, nada me distrai até que esmague o oponente.

Hermione levantou-se e enfiou os ombros fortes na apertada camiseta sem manga.

— Vamos ver quem sairá esmagado, Potter. Agora, vai ficar aí parado falando da boca para fora ou está pronto para me enfrentar?

— Mais do que pronto, detetive Doçura.

Não se provocaram mais até se acomodarem no carro dele. Hermione achava ótimo que Harry ainda não tivesse desconfiado do lugar aonde iriam jogar. Quando mais adiassem a discussão, melhor.

Esticando-se sob o painel, preparou-se para a viagem. Sorriu maldosa quando ele lhe admirou novamente as longas pernas.

- E então, quando é que vai me deixar dirigir esta máquina?

Harry ligou o motor.

— Nunca.

— Por que não?

— Compre um carro esporte, se quiser. Onde é a quadra que será o palco de sua derrota?

— Fala da quadra em que pretendo cobri-lo de humilhação? Eu ensino o caminho. Claro, se me passasse o volante, chegaríamos em dois tempos.

Harry lançou-lhe um olhar compadecido e pôs os óculos de sol.

— Onde é a quadra, Granger?

— Perto do lago Cherry.

— Por que diabos quer trocar raquetadas lá no fim do mundo? Há vários clubes por aqui.

— O dia está bonito para jogarmos ao ar livre. Claro, se tem medo de um ventinho...

De marcha à ré, Harry tirou o carro da vaga no estacionamento.

— Mas o que é que você costuma fazer nos dias de folga, além de usar aquele maravilhoso equipamento em cima do seu bar? — indagou Hermione.

— Assisto a um bom jogo, visito galerias... — Olhou-a de soslaio e sorriu maldoso. — Pego mulheres.

Hermione o observava por sobre o aro dos óculos de sol.

— Assiste a que esporte?

— Depende da estação. Havendo bola em jogo, estou lá.

— Eu também. E que tipo de galeria?

— A que parece melhor no momento.

— Você tem uns trabalhos bonitos, no bar e no apartamento.

— É, eu gosto.

— E que tipo de mulher?

— Dócil.

Hermione riu e olhou para a frente.

— Está me chamando de dócil?

— Não, você é selvagem. Gosto de variar, de vez em quando.

— Sorte a minha. — Hermione voltou a estudar o perfil dele, encantada com as linhas másculas, com os óculos escuros escondendo os fascinantes olhos verdes. — Você tem muitos livros. Não consigo imaginar você mergulhado numa boa leitura.

— Atento — corrigiu Harry. — Mulheres mergulham em leitura, homens atentam.

— Oh, desculpe-me. — Hermione prestou atenção no caminho que seguiam. — Pegue a próxima saída para entrar na dois-dois-cinco. E tire o pé do acelerador. A polícia rodoviária adora multar playboys com máquinas quentes como esta.

— Conheço gente da polícia, sabe.

— Acha que vou salvar a sua pele, sendo que nem me deixou dirigir seu carro esporte?

— Acontece que conheço o chefe da polícia de Denver. — Harry leu a placa no acostamento. — Disse lago Cherry?

— Isso mesmo.

Ele saiu da estrada e estacionou ao lado de uma loja de conveniência.

Hermione estava confusa.

— O que foi?

— Sua família mora no lago Cherry.

— Exatamente. Lá em casa, tem uma linda quadra de basquete... Ou melhor, meia-quadra, pois foi o máximo que meus irmãos e eu conseguimos, após ferrenha campanha. Tem também churrasqueira, que meu pai aproveita muito. Tentamos nos reunir domingo sim, domingo não.

— Por que não me disse que íamos à casa dos seus pais?

Ela percebeu a raiva na voz dele.

— Combinamos jogar e lá é um lugar tão bom quanto qualquer outro.

— Não quero me intrometer numa reunião de família. — Harry saiu de ré com o carro. — Deixo você lá. Arranje uma carona para voltar depois.

— Espere aí. — Hermione girou a chave na ignição, desligando o motor. Se ele estava zangado, podiam brigar, mas não deixaria que ele a colocasse na geladeira. — Quem disse que estará se intrometendo? Vamos marcar umas cestas, comer carne. Não precisa de convite impresso para isso.

— Não vou passar o domingo com a sua família.

— Porque é uma família de tiras?

Ele tirou os óculos escuros, jogando-os longe.

— Não tem nada a ver uma coisa com outra.

— Então, sou boa o bastante para que durma comigo, mas não para que me faça companhia diante da minha família?

— Não diga bobagem. — Harry saltou do veículo e foi contemplar uma estreita faixa de relva. Hermione foi atrás.

— Então, explique.

— Você me enganou, Hermione. Para começar.

— Foi só uma artimanha inocente. Harry, conhece meu pai há séculos, mas nunca aceitou nenhum convite dele para ir lá em casa. Por quê?

- Porque é a sua casa e não tem lugar para mim lá. Porque devo muito a George. E agora estou dormindo a filha dele, pelo amor de Deus!

- Eu sei. Ele também sabe. Acha que ele vai lhe um tiro entre os olhos quando entrar pela porta?

Ele bufou, desconsolado.

- Pare de fingir que não entende!

Hermione não respondeu, atenta ao desabafo que enfim chegava.

- Sempre viveu num mundo perfeito — começou Harry. — Um mundo sólido, equilibrado, estável. Não tem idéia de como era o meu antes de George entrar na minha vida, nem de como seria agora, se não tivesse essa sorte. E é assim que retribuo...

- Está retribuindo com insultos — replicou Hermione. – Não assume seu relacionamento comigo, como se fosse algo vergonhoso. Acha que não sei como era sua vida? Não fui criada numa redoma, Potter. Sou filha de policial. Não há nada que tenha vivido que eu ainda não tenha visto, pelos olhos dele. E, agora, pêlos meus. – Ela espetou o dedo no peito dele. – Portanto, supere de vez esse complexo de inferioridade. Não importa de onde cada um partiu, hoje estamos no mesmo nível. Ponha isso na sua cabeça!

Harry segurou-lhe o dedo.

- Pare de me apoquentar!

- Eu estava só elogiando você.

- Igualmente.

Ele se afastou mais, permanecendo longe até recuperar algum controle. Ao acusá-lo de se envergonhar dela, Hermione o atingira fundo. Podia estar zangado por se apaixonar pela filha de George, mas jamais se envergonharia disso.

— Tenho uma proposta. — Harry indicou o carro com dois policiais que estacionara perto do deles. — Você se livra dos guardas e passamos umas duas horas com sua família.

— Só um minuto.

Hermione aproximou-se do sedã de cor escura e conversou com o motorista. Voltou para junto de Harry com as mãos nos bolsos.

— Vão nos deixar em paz pelo resto da tarde. Foi o máximo que consegui. — Ela exercitou os ombros. Pedir desculpas sempre a deixava tensa. — Olhe, perdoe-me por ter agido assim. Eu devia ter falado, para discutirmos antes de sair de casa.

— Não falou porque sabia que eu não teria concordado.

— Isso mesmo. — Hermione mostrou-se derrotada. — Desculpe-me. Minha família é importante para mim. Estamos envolvidos e quero que se sinta à vontade com eles.

— À vontade é pedir demais, mas não me envergonho de estar envolvido com você e não quero que pense isso.

— Não penso. Mas, Harry, significaria muito para mim que tentasse se descontrair lá em casa esta tarde.

— É mais fácil discutir com você quando está cabeça-dura.

Hermione riu.

— É o que meu irmão Bryant sempre diz! Vão se dar bem. — Sedutora, enganchou o braço no dele e seguiram para o carro esportivo. — Só mais uma coisinha...

— O quê?

— É que... Não vamos encontrar só minha família lá em casa. Está havendo um encontro, entende, com mais gente. Tios, tias e primos do Leste, uma velha parceira de papai com toda a família... Vai ser melhor a você! — afirmou, quando Harry cerrou o punho fingiu esmurrá-la no queixo. — É mais uma horda do que um grupo e ninguém vai nem reparar em você. Ei, posso dirigir o resto do caminho?

- Minha vontade é fazer você desmaiar e enfiá-la no porta-malas.

- Deixe para lá, eu sabia que não ia concordar. — chegou a tocar na maçaneta da porta do passageiro, mas Harry conseguiu passar à frente e abri-la antes dela.

- Você não existe, Potter! — exclamou ela, risonha. Após lhe dar um beijo sonoro, sentou-se na poltrona. Assim que ele se acomodou ao volante, afagou-o no rosto. — São apenas pessoas. Gente muito boa.

- Não duvido.

- Harry, se não se sentir à vontade após uma hora, quero que me diga. Invento uma desculpa e saímos. Está bem?

- Se não me sentir à vontade em uma hora, eu saio e você fica. É assim que tem de ser. De acordo?

- De acordo. — Hermione recostou-se e travou o cinto de segurança. — Vou adiantar alguns nomes, para você ir memorizando. Vai conhecer tia Natália e o marido, Ryan Piasecki. Ela tem parte nas Indústrias Granger, mas sua menina dos olhos é a Lady's Choice.

- Roupa de baixo?

- Lingerie. Não seja caipira.

- Os catálogos são o máximo.

- Faz questão de cueca da moda, é?

- Não. Gosto de ver as fotos de mulheres seminuas.

Hermione riu, aliviada por terem superado a crise.

— Vá reto agora. Tio Ry integra o Corpo de Bombeiros de Urbana e tem três filhos, de catorze, doze e oito anos, se não me engano. Tia Débora, irmã de mamãe, é promotora pública em Urbana e casada com Gage Guthrie.

— Aquele que tem mais dinheiro do que o tesouro nacional?

— É o que dizem. Quatro filhos, de dezesseis, catorze, doze e dez anos. Escadinha. — Hermione forçava a memória. — A capitão Althea Grayson, ex-parceira de papai, é casada com Colt Nightshade, detetive particular. Dá cabo de qualquer problema, é uma espécie de canhão solto. Vai gostar dele. Eles têm dois filhos, um de cada, de uniões anteriores, de quinze e doze anos, ou melhor, treze.

— Basicamente, vamos passar a tarde com um time de beisebol adolescente.

— São divertidos — adiantou Hermione. — Não gosta de crianças?

— Sei lá. Até hoje tive pouco contato com a espécie.

— É a próxima saída — instruiu ela. — Bem, vai tirar o atraso hoje. Deve ter conhecido meus irmãos, em alguma época. Bryant trabalha nas Indústrias Granger, é um tipo que resolve todos os problemas, também. Viaja muito e encosta gente na parede. Adora isso. E Keenan é bombeiro. Fomos visitar tia Natália logo depois que ela fisgou tio Rye e Keen se apaixonou pelo enorme carro vermelho. Decidiu na hora. Dobre à esquerda no próximo semáforo. Acho que já falei de todo mundo.

— Estou com dor de cabeça.

— À direita na esquina e desça dois quarteirões.


Harry já reparara na vizinhança: estável, abastada e exclusiva, com belas e amplas residências construídas em ótimos terrenos. Por algum motivo inexplicável, o cenário lhe dava comichões.

Sentia-se bem na cidade, cujas ruas o lembravam de que se esquivara a um destino terrível, cheias de rostos anônimos. Já ali, entre árvores majestosas e gramados impecáveis, luxuriantes à proximidade do verão, entre flores mil e casas chiques, não se sentia só um estranho.

Sentia-se um intruso.

- É aquela à esquerda, com o cedro na frente e os degraus de pedra. Parece que todo mundo já chegou. Parece um estacionamento.

De fato, a rua estava cheia de carros. A casa em si era um singular estudo de telhados em vários níveis, com amplas janelas de vidro, embelezada por árvores e arbustos floridos, a qual se chegava por uma trilha tortuosa de ardósia subindo a colina suave.

- Quero reformar o acordo — declarou Harry. — Acrescentem-se favores sexuais exóticos. Mereço, depois do que vou passar aqui.

- Fechado.

Hermione tentou abrir a porta, mas ele a prensou de costas contra o banco. Não abria mão do cavalheirismo. Saltou. Mas, antes que contornasse o veículo, ouviu-se um grito de guerra e uma bonita menina de cabelos castanho-escuros desceu correndo a colina. Ela agarrou Hermione num abraço apertado assim que esta saiu do carro.

- Até que enfim! Todo mundo já chegou. Sam já empurrou Mick na piscina e Bing fez o gato do vizinho subir numa árvore. Keenan conseguiu tirá-lo de lá, mas levou uns arranhões e minha mãe está passando remédio neles.

Abriu um sorriso para Harry.

— Oi. Sou Addy Guthrie. Você deve ser Harry. Tia Cilla disse que viria com Mione. E verdade que tem um bar? Que músicas tocam lá?

— Ela se cala duas vezes por ano, por cinco minutos — brincou Hermione, apertando os ombros da prima num abraço. — Já marcamos. Sam é do ramo Piasecki e Mick é irmão de Addy. Já Bing é nosso cachorro que, por não ter modos, se adaptou muito bem à família. Não tente memorizar tudo de uma vez, ou vai piorar a dor de cabeça.

Foi pegar a mão dele, mas a priminha espevitada se antecipou.

— Posso ir ao seu bar? Só vamos voltar na quarta-feira. Talvez na quinta, se eu insistir. Um dia a mais. Céus, você é mesmo alto! — Cochichou à prima: — E bonitão. Bom trabalho, Hermione.

— Addy...

— Por que vivem me chamando a atenção?

Lisonjeado, apesar de tudo, Harry sorriu.

— E adianta?

— Claro que não.

O barulho aumentou, com muitos gritos. Um casal de adolescentes de sexo indeterminado correu para a rua armado de assustadoras pistolas de água. Na varanda, uma loira conversava seriamente com uma ruiva. Um grupo de homens, alguns sem camisa, jogava basquete brutalmente numa quadra revestida de preto. Outro grupo de jovens, ensopados, atacava uma mesa lotada de comida.

— A piscina fica no outro lado da casa — explico Hermione. — E coberta e cercada, para que possamos usá-la o ano todo.

Um dos jogadores de basquete deu um giro e enterrou a bola. Ao avistar Hermione, deixou a quadra.

Encontraram-se no meio do caminho, rindo muito quando ele a arrebatou pêlos pés.

— Ponha-me no chão, seu retardado! Está todo suado!

— Também estaria, no comando de um time prestes a conquistar a segunda vitória consecutiva. — Ele a colocou no chão, enxugou a mão na camiseta e a estendeu. — Sou Bryant, irmão muito superior de Mione. Que bom que veio. Uma cerveja para começar?

— Seria ótimo.

O rapaz mediu tamanho e compleição com o olhar.

— Joga alguma bola?

— Às vezes.

— Ótimo, precisamos de carne fresca. Mione, pegue uma cerveja para ele enquanto acabo de esmagar esses bobocas.

— Vamos lá? — Solidária, ela esfregou o braço de Harry. — Não esquente. É difícil conhecer muita gente de uma vez.

Subiram num deque, onde havia outra mesa farta de comida, mais uma enorme cuba metálica cheia de gelo e latas. Hermione pegou duas cervejas e seguiu para as portas corrediças.

A cozinha espaçosa dividia-se em áreas familiares, de acordo com os balcões e a mesa de bufe. Num canto, um homem moreno tentava se livrar de uma mulher morena.

— Vou viver, tia Deb! Mãe, ajude aqui!

— Não seja criança. — Com a cabeça enfiada na geladeira, Cilla praguejou. — Vamos ficar sem gelo! Eu sabia. Não disse que íamos ficar sem gelo?

— Fique quieto, Keenan. — Débora acabou de lhe cobrir os arranhões de gato com curativos adesivos — Pronto, não mereço um pagamento?

— Estou cercado de aproveitadores. Por falar nisso aqui está Mione!

— Tia Deb! — Hermione correu a abraçar a parenta, depois beliscou a bochecha do irmão. — Oi, meu herói. Este é Harry Potter. Harry, minha tia Débora e meu irmão, Keenan. Já conhece minha mãe.

— Claro. É um prazer revê-la, Sra. Granger.

Um pequeno exército escolheu aquele momento pra invadir o recinto, aos gritos, perseguido por um cachorrão incrivelmente feio.

Hermione viu-se envolvida em alegria pura. E Harry também, antes que conseguisse fugir.

Harry pretendia se retirar em uma hora. Trato era trato. Concordara em conversar polidamente, manter-se fora do caminho tanto quanto humanamente possível e então sair de fininho, pegar seu carro e voltar à cidade, cujas regras conhecia.

De algum modo, porém, viu-se sem camisa e partindo para uma disputa de basquete com os tios, primos e irmãos de Hermione. No calor da competição esqueceu-se das resoluções.

Mas sabia perfeitamente que a própria Hermione lhe cortara o caminho e impedira de marcar mais pontos.

Ela era rápida e ardilosa, constatava, ao tomar a bola de um oponente e lhe lançar um olhar mortal. Pudera, não fora criada nas ruas, tendo que decidir entre uma bola para brincar e um hambúrguer para matar a fome, na hora de gastar um dólar.

A lembrança o tornou mais rápido. E mais ardiloso.

— Gosto dele. — Ignorando o grito de vingança do filho, Natália enganchou o braço no de Althea.

— É teimoso, mas George sempre gostou dele. Oh, mais ele joga sujo!

— E há outra maneira? Ha-ha, Ryan estará mancando amanhã. Que aprenda a lição. Enfrentar um camarada com metade da idade dele. Belo traseiro...

— O de Ry? Sempre achei.

— Tire os olhos de cima do meu marido, capitão. Eu me referia ao namorado de Mione.

— Ah, e Ryan sabe que você cobiça homens mais novos?

- Claro, não estou morta.

- Bem, tenho que concordar. O namorado de Mione tem um belo traseiro. Ai, essa doeu!

— É, ele tem chance... — Natália riu da expressão espantada de Althea. — No basquete. Que mente poluída a sua! — Envolveu os ombros da amiga com o braço. — Vamos tomar vinho e arrancar todas as informações possíveis de Cilla.

— Leu meus pensamentos.


— Não sei de nada — assegurou Cilla, despejando mais gelo na cuba. — Deixem-me em paz.

— É o primeiro namorado que Mione traz para uma reunião de família — observou Natália.

Empertigada, Cilla fingiu fechar o zíper dos lábios.

— Desistam — aconselhou Débora. — Estou tentando há meia hora e não consegui arrancar nada.

— Também, com essa fala mansa de advogada. — Althea agarrou Cilla pelas lapelas. — Tiras sabem como extrair a verdade. Desembuche, O'Roarke!

— Truculência não vai adiantar. Além disso, não sei de nada mesmo. — Pela janela, Cilla avistou Hermione puxando Harry pelo deque. — Mas vou descobrir. Sumam daqui dêem-me cinco minutos.

O casal entrou na cozinha.

— Não é nada... — insistia Harry.

— É sangue. Normas da casa. Se há sangue, tem de ser desinfetado.

— Ah, mais uma vítima! — Cilla esfregou as mãos enquanto as amigas e parentas se dispersavam. — Traga-o aqui.

— Ele bateu o rosto em alguma coisa.

— Em seu punho — esclareceu Harry, com certa amargura. — Que eu saiba, defender não inclui cruzados de esquerda.

— Aqui pode.

— Vamos ver isto. — Séria, Cilla examinou o lábio cortado dele. — Nada grave. Mione vá ajudar seu pai.

— Mas...

— Vá ajudar seu pai — repetiu a mãe. Vendo a filha se retirar, olhou em torno. — Vejamos, onde coloquei meus instrumentos de tortura?

— Sra. Granger...

— Cilla. Fique quieto e bico calado. Gemidos são severamente punidos aqui. — Ela pegou um pano úmido, gelo e anti-séptico. — Mione o acertou mesmo, hein?

— Se acertou.

— Puxou ao pai. Gostaria de lhe agradecer por não revidar.

— Não bato em mulher. — Harry franziu o cenho ao ter o ferimento limpo.

— Bom saber. Ela é difícil. Acha que vai agüentar?

— C-como?

— É só sexo ou vai levar o pacote todo?

Harry não sabia o que o chocava mais, se a pergunta descarada ou a ardência do anti-séptico. Praguejou e então cerrou os dentes.

— Desculpe-me...

— Essa é sua resposta?

— Sra. Granger...

— Cilla. — Aproximando o rosto, ela o fitou bem nos olhos. Belos olhos, firmes, límpidos. — Ficou sem graça. Eu devia ter imaginado. Já estou quase acabando. Segure o gelo em cima um minuto.

Sentando-se no banco de frente para ele, Cilla cruzou os braços sobre a mesa. Pelos seus cálculos, tinha dois minutos antes que alguém invadisse o recinto.

— George achou que você não viria. Eu tinha certeza de que viria. Hermione é incansável quando põe uma coisa na cabeça.

— Eu que o diga.

— Não sei o que pensa, Harry, mas sei um pouco a seu respeito e sei o que vejo. Gostaria de lhe dizer algo.

— Na verdade, eu não pretendia me demorar...

— Calado — impôs-se à mulher, branda. — Há séculos, conheci um policial. Um policial irritante, fascinante e cabeça-dura. Eu não queria me interessar por ele, muito menos me envolver com ele. Minha mãe era policial e morreu numa ação. Nunca superei o trauma. Nunca mesmo.

Cilla respirou fundo antes de prosseguir.

- A última coisa que eu queria na minha vida era gostar de um policial. Sei como pensam, como são, como se arriscam. Céus, eu não queria esse tormento na minha vida! Mas aqui estou eu, séculos depois, casada com um tira e mãe de outra.

Olhou pela janela para o marido e a filha juntos.

— Não é estranho o destino? Não foi fácil, mas não abriria mão de nenhum segundo que vivi. De nenhum.

Dando tapinhas na mão de Harry sobre a mesa, Cilla levantou-se.

— Estou feliz que tenha vindo.

— Por quê?

— Porque assim pude ver você ao lado de minha filha. Pude ver você bem de perto. Só havia me dado essa oportunidade umas duas vezes em... dezessete anos? Bem, Harry, gosto do que vejo.

Ele ficou sem resposta e Cilla ergueu do balcão uma travessa de pastéis.

— Poderia levar isto para George? Sem reposição de comida a cada duas horas, o clima fica tenso por aqui.

— Claro. — Harry pegou a travessa e retribuiu sorriso da mulher de quem Hermione herdara os olhos. - Vocês duas se parecem muito.

— Mione herdou tudo de mim e as piores características de George. Não é engraçado? — Pondo-se na ponta dos pés, Cilla o beijou no canto do lábio machucado.

— Faz parte do tratamento.

Harry nunca se sentiu tão constrangido. Jamais alguém o beijara onde doía.

— Eu já estou de saída. Obrigado por tudo.

— De nada. É sempre bem-vindo aqui, Harry.

Cilla sorriu malévola às costas dele.

— Sua vez agora, George — murmurou a si mesma. - Aproveite.



Obs:Capitulo postado!!!!Espero que tenham curtido!!!Logo logo tem mais atualização!!!!Bjux e tenham uma ótima semana!!!!Adoro vocês!!!

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