Capitulo 9
CAPÍTULO IX
Não se deixaria abalar. Não podia. Era uma policial, lembrou a si mesma, e não podia ceder às pressões. A invasão a seu apartamento fora um ataque direto e pessoal. Devia reagir com racionalidade e objetividade, concentrando-se em seu trabalho.
Quando a equipe de peritos se retirou, após acrescentar um pouco mais de destruição à de Lyle, Harry mandou-a encher uma bolsa com roupas. Não discutiu, ficaria com ele até aquela história se encerrar. Não comentaram a respeito do passo gigantesco que davam no relacionamento, dizendo a si mesmos que se tratava tão-somente de um arranjo lógico e conveniente.
Na cama de Harry, entrelaçados, venceram o que restava da madrugada.
- Dobramos a guarda de Fricks — informou-a Kiniki, na reunião matinal. — Lyle não conseguirá pegá-lo.
- É esperto demais para tentar. — De pé no cubículo do tenente, Hermione mantinha as mãos nos bolsos. Já superara o terror e o medo. — Vai esperar. Não tem pressa de se vingar de Fricks pelo erro que levou à morte de sua irmã.
Além da parede de vidro do escritório de Kiniki, os telefones tocavam, pondo os detetives para trabalhar. Hermione tentava se colocar no lugar da mulher morta com quem convivera por alguns dias.
— Jan Norton era cuca-fresca. Encarava tudo como uma aventura, romântica, entusiasmada. Acreditava estar segura com Lyle. A investigação apurou que dois vizinhos viram um casal que se encaixa da descrição de Lyle e Jan entrar no prédio por volta das oito horas. De mãos dadas — acrescentou. — Ela o ajudou a destruir meu apartamento e, então, na rodovia, ele a matou. Ela não tinha mais serventia.
Hermione tivera tempo para reconstituir aquela seqüência de acontecimentos, insone na cama de Harry por toda a madrugada.
— Lyle não faz nada sem propósito. Parece nutrir ressentimento contra a classe privilegiada. Nota-se um padrão em seus antecedentes, que o levaram à prisão anteriormente. Sempre foram crimes contra ricos: a pirataria por computador, os furtos. Quando programador de uma empresa, planejou assaltos contra seus superiores bem de vida.
Hermione tirou as mãos dos bolsos e as retorceu.
— Dinheiro, autoridade... Autoridade, dinheiro. Para Lyle, são sinônimos e pretexto para seu modo de agir. Se for mais esperto do que todo mundo, por que os outros levam vida boa e ele, não?
Mentalmente, virava as páginas do dossiê de Lyle Matthews.
— Filho de família da baixa classe média, ele nunca passou fome, mas também não usufruiu conforto. O pai passou a vida intercalando períodos de inatividade com empregos sem qualificação. O lar se desfez, a mãe se casou de novo e o padrasto era arrogante e dominador, padrão que Lyle seguiu. Os ex-supervisores e ex-colegas dele com quem falei ressaltaram a mesma impressão: Lyle era técnico brilhante, porém inepto socialmente, arrogante e agressivo demais permanecendo um solitário. Com a morte dos pais, a única pessoa íntima passou a ser a irmã.
Hermione voltou-se para a parede de vidro e apreciou a movimentação além.
- A irmã alimentava as fraquezas dele, o ego monumental. Agora que ela morreu, vê-se completamente só.
- Aonde ele iria?
- Não longe — apostava Hermione. — Ainda não acabou, Falta dar uma lição em mim, nos Barnes e em Potter.
- Acho que está no caminho certo — opinou Kiniki. - Como o Sr. e a Sra. Barnes estão em outra casa, protegidos, os alvos são você e Potter.
Hermione voltou-se.
- Não quero correr riscos desnecessários, mas seria bom permanecer visível, cumprir a rotina, para que ele não adie a desforra. Antes de me pegar, ele quer me meter medo, me fazer suar.
- Vamos colocar guardas na frente do seu prédio.
- Não creio que ele irá atrás de mim primeiro.
- Potter?
- Sendo eu o alvo mais importante, ele deverá me deixar por último, de modo que a próxima vítima na mira dele, pela lógica, é Potter. O problema é que ele quer cooperar.
Ainda a intrigava o fato de Harry ter recusado sua oferta de proteção.
— Podemos destacar dois policiais para segui-lo à distância.
— Ele perceberia nem que se mantivessem a quilômetros de distância e sumiria. Tenente, nós... estamos íntimos. Ele confia em mim. Eu dou conta do recado.
— Está no comando de uma investigação, Granger, e tem seu próprio traseiro para proteger.
— Dei conta de três tarefas disfarçada de garçonete lá no bar. Acredito que posso atrair Lyle, fazê-lo agir, mostrando-me com Potter boa parte do tempo.
— Não é possível que ele saiba que foi você que abateu a irmã dele. O incidente não foi divulgado de forma alguma.
— Ele sabe que faço parte da equipe, que descobri o esquema de dentro do bar. Com a ajuda de Potter, planejamos a ação que resultou na morte da irmã dele.
— De acordo, então. Vou colocar dois policiais na proteção a Potter por setenta e duas horas. Depois, reavaliamos.
— Sim, senhor.
— Mudando de assunto, foram encontradas impressões digitais de Overton nas calotas das rodas de seu carro. Uma vistoria no automóvel dele revelou uma faca de caça comprada recentemente, com vestígios de borracha de pneu. O laudo da perícia deve confirmar o detalhe. O gabinete da promotoria pública o demitiu e pede a você que registre queixa.
— Mas, senhor...
— Sem mas, Granger. Se não registrar queixa, ele continuará livre para agir. Já se registrar, a promotoria pública poderá recomendar que ele seja avaliado psicologicamente. É preciso. Ou vai esperar que ele transfira a obsessão para outra pessoa?
Hermione resignou-se.
— Tem razão. Vou registrar a queixa.
— Agora mesmo. Basta um lunático por aí perseguindo um de meus detetives.
O fato de não haver alternativa não facilitava a obrigação. Devia ter prestado mais atenção no comportamento doentio do ex-namorado, percebido os sinais. Nada disso justificava as atitudes dele, porém lhe imputava uma parcela de culpa em seu desencadeamento.
- O que foi Granger? Levou uma dura?
Hermione encarou Hickman, à vontade recostado em sua escrivaninha.
- Não. É que estou para formalizar queixa contra uma pessoa.
O colega deu uma mordida em sua rosca matinal.
- Isso costuma me deixar feliz da vida.
- Porque é um bruto sem coração.
- Adoro quando me elogia.
- Se eu o chamar de retardado acéfalo, me faz um favor?
Hickman deu outra mordida no quitute, espalhando migalhas sobre a mesa dela.
- Por você dou a vida, beleza.
- Depois que eu registrar a queixa e for expedida a intimação, pode ir buscar Dennis Overton? Ele conhece você e não ficará tão assustado.
- Posso ir, Mione, mas ele não merece seu pesar e consideração.
- Eu sei. — Ela se levantou e tirou a jaqueta do encosto da cadeira. Sorrindo, quebrou um pedaçinho da rosca do colega e o comeu. — Além de tudo, você é muito feio.
— Garota dos meus sonhos! Vamos casar?
Grata por ter Hickman para reanimá-la, Hermione deixou seu cubículo.
Duas horas depois, adentrava o gabinete de seu pai, o chefe da polícia de Denver. Recebendo-a à porta, ele lhe esfregou os braços antes de analisar as feições.
— Que bom ver você — murmurou ele, afetuoso. Ela se atirou nos braços dele, absorvendo a força, a estabilidade.
— Sempre posso contar com você e mamãe. Estão sempre ali. Queria dizer isso, primeiro.
— Ela está muito preocupada com você.
— Eu sei, e lamento. — Hermione deu mais um aperto e se desvencilhou. — Sei que está a par de tudo, mas queria que visse que estou bem. Lyle não deve demorar para agir, pois agora está sozinho. Tudo indica que ele precisa de alguém, de uma mulher, que o admire, que lhe alimente o ego, jogue seu jogo. Sozinho, deverá se desintegrar.
— Concordo. E, na mente doentia dele, é a mulher que deve ser punida por tudo. Você é a eleita.
— Isso mesmo. Já cometeu o primeiro grande erro ao invadir meu apartamento. Expô-se. Deixou impressões digitais por toda parte. Com aquela demonstração de raiva e sofrimento, revelou o que é e o que quer. Usou minha faca para matar Jan só para eu saber que podia ter sido eu.
— Análise perfeita, mas posso saber por que está sozinha?
— Ele não atacaria de dia. Trabalha à noite. Não pretendo correr riscos desnecessários, pai. Só queria avisar também que formalizei queixa contra Dennis.
- Ótimo. Não pode se distrair por causa dele, a esta altura. Passei no seu apartamento hoje de manhã.
- Terei de redecorar.
- Não pode ficar lá. Fique lá em casa conosco até encerrarmos este caso.
- Ah, eu já... arranjei um lugar para ficar. — Sem jeito, Hermione enfiou as mãos nos bolsos e balançou nos calcanhares. Aquela era a parte mais difícil. — Lá no Blackhawk’s
- O quê? Mas não pode acampar num bar... — De repente, Geroge entendeu. Abalado, passou a mãos nos cabelos e foi até a escrivaninha. De lá, meio cambaleante, encaminhou-se à cafeteira. — É, vocês dois estão...
- Dormindo juntos.
De costas para a filha, Geroge fez um gesto indefeso.
Hermione aguardou calada.
- Você é adulta — murmurou ele, por fim, baixando o bule. — Raios...
- Refere-se à minha idade ou a meu relacionamento com Potter?
- Ambos. — George voltou-se. Era tão linda aquela mulher que gerara.
- Tem algo contra ele?
- Você é minha filha. Ele é um homem. Não se atreva a rir enquanto tenho uma crise de paternidade.
Hermione se conteve.
- Desculpe-me.
- Se não se importa, prefiro imaginar você e Harry discutindo clássicos da literatura.
— Como queira, pai. Posso levá-lo no churrasco de domingo?
— Ele não vai.
— Vai, sim. — Hermione sorriu marota. — Ah, se vai.
Hermione passou o resto do experiente acompanhando os progressos do caso Lyle e tratando de outros dois. Encerrou um caso de assédio sexual e iniciou as investigações acerca de um assalto a mão armada.
Livre do trabalho, estacionou o carro num lugar seguro e caminhou um quarteirão e meio até o Blackhawk's.
A primeira coisa que viu ao entrar no bar foi Hickman, curvado sobre o balcão. Teria notado seu olho roxo a um quarteirão de distância. Aproximou-se preocupada e ergueu-lhe o queixo.
— O que houve?
— Seu ex-namorado doido reagiu mal à intimação.
— Oh, ele resistiu?
— Fugiu feito uma lebre. — O investigador captou o olhar de Frannie e pediu mais bebida em seu copo. — Tive de correr atrás dele. Na hora das algemas, ele me acertou. — Tomou o resto da cerveja. — Além da cara de palhaço, ainda tive de ouvir bronca do chefe.
— Lamento, Hickman. — Para provar, Hermione roçou os lábios no hematoma. Ao endireitar o corpo, viu Harry dobrando a esquina do balcão. Ele ergueu o sobrolho ao vê-la com o braço nos ombros do colega e então chamou Will.
— Nunca pensei que fosse tão arisco — resmungava Hickman, mostrando o buraco no joelho da calça. — Isto ele me fez depois que o atirei no chão. Pulava feito truta fora da água, chorando e uivando.
Hermione meneava a cabeça, inconformada.
— Parece que ele está piorando.
— Mais uma demonstração de solidariedade por aquele sujeito, Granger, e lhe dou um murro. — Hickman degustou salgadinhos. — Só gostaria de saber o que viu nele...
— Sei lá. Frannie, coloque a despesa de Hickman na minha conta, está bem?
— Acho que vou querer uísque importado, então.
Risonha, Hermione olhou por sobre o ombro quando Wil a chamou.
— Não me acostumo com tiras freqüentando meu bar — brincou ele. — Que tal um pouco de gelo nesse olho roxo, policial Hickman?
O outro recusou.
— Não precisa. — Com o olho bom, deu uma boa olhada em Will. — Algum problema com tiras?
— Há cerca de cinco anos, não. Diga-me, o sargento Maloney ainda está na sessenta e três? Ele me pôs no xadrez duas vezes.
Divertido, Hickman girou na banqueta.
— Continua lá, apurando tráficos de entorpecentes.
— Quando o vir, mande lembrança — pediu Will. - Ele sempre agiu direito comigo.
— Pode deixar.
— Bom, o chefe mandou levar comida para seus colegas no carro estacionando no outro lado da rua. Devem estar com fome, após tantas horas girando os polegares.
— Eles vão adorar — afirmou Hermione, irônica
.
— E o mínimo que podemos fazer. — Com um tapa amigável nas costas de Hickman, Will foi para a cozinha.
— Preciso tomar umas providências. — Ela examinou mais uma vez o olho roxo do colega. — É bom pôr gelo nisso — aconselhou, e se encaminhou ao salão à procura de Beth. Encontrou-a digitando códigos na máquina registradora. — Beth, tem um minuto?
— Hoje é sexta-feira, estamos com muitas reservas e duas garçonetes avisaram que não vêm.
Hermione não se intimidou ante o tom frio da mulher.
— Posso esperar seu intervalo.
— Não sei quando poderei tirar um. Estamos muito ocupados.
— Eu espero. Não vou tomar muito do seu tempo.
— Como queira. — Sem se dignar olhá-la, Beth se afastou.
— Ela está sentida — explicou Will. Hermione voltou-se.
— Está em toda parte?
— A maior parte do tempo. — Ele endireitou os ombros. — É meu trabalho. Beth treinou Jan, assim como treinou você. Acho que ficamos todos abalados com o que aconteceu.
— E culpando a mim?
— Eu, não. Apenas cumpriu seu dever. Beth também vai superar. Ela preza demais o patrão. Quer uma mesa? A banda começa a tocar em uma hora e é das boas, de modo que não vai sobrar nem um espacinho aqui.
— Não, obrigada, Will.
— Se mudar de idéia, grite.
Hermione lhe apertou o braço e sorriu.
— Obrigada.
— De nada. Sabe, não tenho nada além de respeito pêlos tiras... Há pelo menos cinco anos.
Beth a fez esperar uma hora. Hermione já tinha a cabeça latejante ao som da segunda música da banda quando a garçonete se apresentou.
— Consegui dez minutos e vou lhe ceder cinco. É o máximo que posso fazer.
— Ótimo. — Aumentando o volume da voz, Hermione questionou: — Podemos ir para a sala de descanso ou prefere ficar gritando aqui?
Sem responder, Beth deu meia-volta e rumou para fora do salão. Destrancou a porta do reservado aos funcionários, sentou-se no sofá e descalçou os sapatos.
— Mais perguntas, detetive Granger?
Hermione fechou a porta, livrando-se da maior parte do barulho.
— Serei breve e objetiva. Está a par do que aconteceu com Jan?
— Sim, bem a par.
— Os pais dela já foram avisados — informou Hermione, no mesmo tom impessoal. — Chegarão a Denver amanhã e vão querer as coisas dela. Gostaria de encaixotar o que ela guardava no armário.
Com os lábios trêmulos, Beth desviou o olhar.
— Não sei a combinação da fechadura.
— Eu sei. Ela tinha escrito na agenda de endereços.
— Para que precisa de mim, então?
— Preciso de uma testemunha. Gostaria que conferisse a relação de todos os objetos que encontrarmos no armário dela e confirmasse que não acrescentei nada nem me apropriei de nenhum item.
Beth olhou-a indignada.
— É só isso o que vê na morte dela? Mais uma tarefa a cumprir?
— Quanto antes realizarmos todos os procedimentos, mais cedo pegaremos quem fez isso com ela.
— Ela não era nada para você. Nenhum de nós era. Mentiu para nós.
— Sim, menti. Sob as mesmas circunstâncias, mentiria de novo. Não posso pedir desculpas por isso.
Hermione foi até o conjunto de armários e digitou o segredo na fechadura do de Jan.
— Sabe se alguém mais podia abrir este armário além de Janet Norton?
— Não.
Hermione removeu a fechadura e abriu a portinhola. Sem tocar no conteúdo, tirou da bolsa um saco plástico destinado à colheita de provas.
— Tem o perfume dela — comentou Beth, emocionada. — O que quer que tenha feito, não merecia morrer daquele jeito, ter o corpo atirado num acostamento feito carniça.
— Não, não merecia. Quero pegar quem fez isso tanto quanto você. Mais do que você.
Beth chorava.
— Por quê?
— Porque tem de haver justiça, ou não há nada. Porque os pais dela a amavam e estão desolados. Também sinto o aroma do perfume dela. Bolsa de cosméticos... — Hermione abriu o zíper do acessório cor-de-rosa. — Dois batons, pó compacto, três lápis delineadores para olhos...
Parou quando Beth tocou em seu braço.
— Quer que eu escreva enquanto verifica?
Tirando um lenço de papel do bolso, enxugou os olhos e o guardou de novo antes de pegar o bloco de anotações.
— Eu gostava de você, entende? — desabafou. — Gostava de quem pensava que você era. Fiquei ofendida ao descobrir que era outra pessoa.
— Agora que sabe, podemos começar daqui.
— Talvez. — Beth posicionou o lápis e começou a escrever.
Hermione pediu uma refeição leve no bar, de olho em Harry. À medida que o estabelecimento se enchia com os freqüentadores de sexta à noite, ela constatava a dificuldade crescente em protegê-lo.
Seria ainda mais difícil convencê-lo a mudar o comportamento até que prendessem Matthew Lyle.
Considerando-se em serviço, Hermione bebia só café. Quando a cafeína começou a afetar seu organismo, passou a tomar água.
Quando não agüentava mais ficar parada, informou a Frannie que ia ajudar e pegou uma bandeja.
— Eu não tinha demitido você? — ironizou Harry, ao vê-la carregar uma bandeja de louça suja para a cozinha.
— Não. Eu pedi a conta. — Parando no bar, Hermione transmitiu ao barman vários pedidos: — Pete, um chope, um campari e soda, um Merlot com gelo e a gengibirra de cortesia para o companheiro ali.
— Entendido, morena.
— Suba e descanse os pés — ordenou Harry. — Está cansada.
Hermione estreitou o olhar.
— Pete, este sujeito disse que estou com má aparência e passou a mão no meu traseiro.
— Quebro a cara dele para você, doçura, assim que liberar as mãos.
— Meu namorado novo tem físico de lutador de boxe — advertiu Hermione a Harry, ajeitando a cabeleira de um jeito convencido. — Eu tomaria cuidado, se fosse você.
Ele a segurou pelo queixo e beijou-a até que ficasse sem fôlego.
— Não vou pagar a você — declarou, afastando-se.
— Eu trabalharia por esse tipo de gorjeta — comentou a freqüentadora na banqueta próxima. — A qualquer hora, em qualquer lugar.
Hermione expirou longamente.
— Quem não?
Trabalhou até fecharem. Então, apossou-se de uma mesa no salão e elevou os pés, enquanto a banda cessava e os funcionários se preparavam para ir embora.
Sentada mesmo, adormeceu.
Harry sentou-se diante dela, quando o estabelecimento mergulhou em silêncio.
Will era sempre um dos últimos.
— Precisa de mais alguma coisa?
Harry olhou-o.
— Não. Obrigado.
— Ela parece esgotada.
— Logo se reanima.
Will agitou as moedas nos bolsos.
— Bom, vou tomar meu drinque com Frannie, então saímos e tranco tudo. Até amanhã.
O homem estava apaixonado, concluiu Will, a caminho do balcão. Quem podia imaginar? Harry Potter de quatro por uma policial!
Frannie lhe serviu o conhaque com que encerrava cada expediente.
— O patrão gamou na tira.
— Só agora percebeu?
Will coçou o queixo.
— Acha que vai dar certo?
— Não entendo muito de romances, mas eles formam um belo casal e não podem brigar muito, pois ambos são cabeça-dura.
— Ela desmaiou lá na mesa. — Will olhou na direção do salão e bebericou o conhaque. — Ele gosta de ficar olhando enquanto ela dorme. Acho que dá para saber o que um homem sente pelo modo como olha uma mulher.
Reparando que apreciava Frannie do mesmo jeito enquanto ela limpava o balcão, Will enrubesceu e se concentrou na bebida, como se esta de repente apresentasse a solução para um problema muito difícil.
Só que, desta vez, Frannie percebeu. Percebeu por que queria perceber. Mas continuou limpando o balcão impecável enquanto analisava a própria reação. Um pouco de atração, constatou, acompanhada de um ligeiro calor.
Não sentia, ou não se permitia sentir, algo assim por um homem havia muito tempo.
— Vai direto para casa? — indagou a ele, casual.
— Acho que sim. E você?
— Pensei em encomendar pizza e mergulhar na maratona de filmes de terror daquele canal a cabo.
Will sorriu.
— Sempre gostou de monstros.
— É, nada como tarântulas gigantes ou vampiros para espantar os problemas da gente. Só que... Sozinha não tem muita graça? Está a fim?
— A fim?! — Agitado, Will derramou conhaque no balcão que Frannie acabara de limpar. — Oh, desculpe-me... Sou um desastrado.
— Não foi nada. — Ela abriu o pano sobre o líquido derramado e o fitou nos olhos. — Quer rachar uma pizza, Will, e assistir aos meus filmes de monstro em preto-e-branco juntinho de mim no meu sofá?
— Eu... Você... Quero dizer... — Ele teria se levantando, se sentisse os pés. — Está falando comigo?
Frannie sorriu e estendeu o pano molhado na pia.
— Vou pegar minha jaqueta.
— Deixe que eu pego. — Ele se pôs de pé, aliviado por não cair. — Frannie?
— Sim, Will?
— Acho você linda. Resolvi dizer agora, para o caso de ficar nervoso demais depois e me esquecer.
— Eu o lembrarei de repetir, mais tarde.
— Bem... Vou buscar sua jaqueta. — Agitado, retirou-se ligeiro.
Harry respondeu às despedidas de Will e Frannie e se levantou para verificar pessoalmente todas as fechaduras e alarmes, deixando Hermione ainda adormecida à mesa. Com os saltos batendo no chão prateado, foi para o fundo do palco e selecionou a iluminação e a música mais condizentes com seu estado de espírito.
Satisfeito, refez o caminho, inclinou-se sobre Hermione e a acordou com um beijo.
Ela emergiu do mundo dos sonhos sentindo o sabor do amado amante. No contato rude e quente, ele dava a entender que estava pronto. Ao abrir os olhos, foi como se milhares de estrelas iluminassem o céu noturno.
— Harry?
— Vamos dançar. — Sempre mordiscando-lhe os lábios, ele a fez se levantar.
Antes que sua mente se livrasse do torpor, Hermione se deixou conduzir por Harry, seus corpos moldando-se em meio aos acordes melodiosos.
— Que música... — Ela roçou o rosto no dele.
— Não gosta? Posso colocar outra.
— Não, adoro. — Hermione deixou a cabeça pender para trás, liberando o acesso a seu pescoço. — É a canção favorita de meus pais. Sabia que minha mãe foi disc-jóquei lá na KHIP antes de ser promovida a gerente da rádio? Ela tocou essa música para todos ouvirem na noite em que aceitou o pedido de casamento de meu pai. Não é uma linda história?
— Acho que George já tinha me contado umas partes.
— Precisa ver como se olham quando dançam ao som desta música. É lindo de morrer.
Ela enterrou os dedos nos cabelos dele enquanto deslizavam sobre as estrelas no chão.
— Você dança bem, Potter. Nunca imaginei. — Por sobre o ombro dele, contemplou as luzes cintilantes. — Todos já foram?
— Já. Ficou só você, completou Harry, roçando lábios na cabeleira castanha. — Só você.
Obs:Oi pessoal!!!!Desculpem a demora para atualizar as fics, mas é normal se ter problemas com a net!hehehe....Bom, espero que tenham curtido o capitulo e entre sábado e domingo tem mais atualização!!!Ah, antes que eu me esqueça eu queria agradecer a Fernanda Destro por ter dedicado à mim a última atualização da fic dela "Casamento de Amigos". Aconselho a todos que leiam, por que a história é maravilhosa!!!Bjux e OBRIGADA todos por acompanharem minhas fics!!!!Adoro vocês!!!!
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