Capitulo 6



CAPÍTULO VI


Hermione pegou a chave do vestiário com Harry e foi logo buscar a bolsa. Saiu em seguida, despedindo-se de Frannie com um aceno quando esta a chamou de trás do balcão do bar.

Confiava em Harry para responder a todas as perguntas. Quem melhor do que ele para a tarefa, imaginou, correndo dois quarteirões até o carro. Da parte do patrão, ninguém questionaria um monossílabo, um dar de ombros. Ninguém discutia com Harry Potter.

Tinha que chegar ao condomínio Federal Heights antes que a ação começasse.

A princípio, pensou que estivesse vendo coisas. Mas a noite estava clara e fresca e sua visão, excelente. Não havia equívoco: todos os quatro pneus de seu carro estavam cortados!

Praguejando, chutou violentamente a borracha em frangalhos. Que hora para Dennis Overton se vingar! Pegou o telefone celular e chamou uma viatura.

Que desperdício de tempo, era só no que pensava enquanto andava em círculos pela calçada. Já estava de distintivo na mão e dentes cerrados quando um carro da patrulha estacionou no meio-fio.

— Algum problema, detetive?


— Sim, ligue a sirene e siga para o norte pela 25. Direi quando for hora de silêncio.

— Entendido. Qual é a ocorrência?

Hermione se acomodou no banco traseiro da viatura, quando tinha vontade de assumir o volante e pisar fundo no acelerador.

— Já os ponho a par. — Tirou a arma da bolsa e sentiu-se mais Hermione Granger ao afivelar o coldre ao ombro.

— Podem chamar um guincho, por favor? Não quero meu carro na rua desse jeito.

— Que vergonha fazerem isso com um carro desses...

— É. — Hermione já se esquecera de seu automóvel quando tomaram a interestadual com a sirene no volume máximo.

A um quarteirão da casa dos Barnes, Hermione saltou da viatura e correu ao encontro de Hickman.

— E então?

— Vieram para cá sem pressa. Segundo Balou e Dietz, que os pegaram a partir do bar, conduziram o veículo como cidadãos respeitáveis, sem ultrapassar o limite de velocidade e sinalizando as conversões. A mulher ao volante usou o celular. Carson e eu assumimos quando entraram na 36. Pararam para reabastecer. A mulher passou para a traseira da minivan e iniciou alguma tarefa que não pudemos determinar qual seria.

— Estava reproduzindo as chaves. Aposto duas semanas de pagamento como ela faz isso dentro da minivan.

— Tenho cara de quem faz apostas? — Hickman esquadrinhou a rua silenciosa. — Bem, temos uma unidade à espera. Os suspeitos estacionaram a van a um quarteirão do endereço-alvo. Foram a pé até a porta da frente, destrancaram-na e entraram como se fossem donos da casa.

— Barnes informou que há sistema de segurança.

— Mas o alarme não soou. Já estão lá dentro há dez minutos. O tenente está a sua espera. O quarteirão tá isolado e a casa, cercada.

- Então, vamos agir e acabar com a festa.

O colega riu e lhe passou o rádio.

— É todo seu.

— Obrigada.

Deslocando-se rápido e sem fazer barulho, os integrantes da equipe se posicionaram na rua, atrás de árvores, em sombras, junto a veículos.

— Que bom que chegou, detetive. — Kiniki indicou a residência em questão. — Eles não são nada discretos, concorda?

Luzes brilhavam nas janelas dos dois pavimentos da ampla casa. Por um segundo, um vulto marcou presença atrás de uma cortina no térreo.

—Dietz e Balou tomam conta dos fundos. A casa está cercada. O que sugere?

Hermione tirou um molho de chaves do bolso.

— Vamos avançar por todos os lados, incluindo a frente. No momento da ação, uma viatura estaciona de atravessado na rua, bloqueando a passagem.

— Pode dar as instruções.

Pelo rádio portátil, Hermione determinou posições e distribuiu ordens. Num segundo, foi como se o inferno descesse à terra.

Três disparos cortaram o ar e tiros de revide ecoaram na noite. Antes que Hermione conseguisse sacar sua arma, vozes alarmadas se manifestaram pelo rádio:

— Dietz alvejado! Policial alvejado! O atirador é homem e fugiu no rumo leste a pé! Policial baleado!

Os integrantes da equipe rodearam a residência. Hermione chutou a porta da frente e, com o sangue latejando nos ouvidos, esquadrinhou a sala de estar fazendo mira com a pistola. Logo atrás, Hickman tomou a escada a seu sinal, enquanto ela dobrava à direita. Alguém gritava, o som zumbindo em sua mente. Luzes piscavam.

A casa se abria como um leque. Hermione recordou a criação da planta que Barnes lhe passara, enquanto os demais integrantes da equipe se espalhavam. Ultrapassava as portas com os olhos na mira da arma, conforme fora treinada, a respiração rasa e curta.

O som de novos estampidos chegava abafado lá de fora. De repente, viu entreaberta a porta deslizante daquilo que devia ser um pequeno solário.

Ao captar um aroma muito feminino, seguiu o instinto e pulou para junto da porta.

Viu a mulher, ou melhor, sua silhueta, fugindo na direção de uma sequência de árvores ornamentais.

- Polícia! Pare onde está!

Repetiu a ordem duas vezes. A mulher continuou correndo. No encalço dela, Hermione informou sua posição e situação através do rádio portátil.

Dali a pouco, ouvia passos juntando-se aos seus, vozes familiares apresentando-se.

Encurralariam a suspeita quando ela chegasse à cerca de um metro e oitenta que delimitava a propriedade!

Beco sem saída.

Ganhando terreno, captava o perfume e o pânico que a mulher deixava para trás em sua fuga. O luar a destacava das sombras, realçando os cabelos castanhos escuros, o fluir da capa preta curta.

Sem diminuir o passo, a mulher olhou por sobre o ombro e o luar se refletiu no revestimento cromado de seu revólver.

Hermione a viu erguer a arma e levou um choque ao sentir o calor da bala zunindo ao lado de sua cabeça.

— Largue a arma! Agora!

No mesmo instante em que a mulher girava o corpo e apertava de novo o gatilho, Hermione disparou sua pistola.

A mulher estacou, a imagem congelada por vários segundos, e deixou o revólver cair. Hermione pensou ouvir um suspiro rouco. Mas o que parecia se gravar em sua memória como ácido em vidro era a mancha escura crescendo entre os seios da mulher.

Condicionada pelo treinamento, avançou até alcançar o revólver caído, sobre o qual pisou.

— Suspeita alvejada — informou pelo rádio, agachando-se para sentir a pulsação da mulher.

Hickman foi o primeiro a chegar. A voz dele assemelhava-se ao de ondas revoltas distantes. Era como se sua cabeça se enchesse de líquidos e sons.

— Foi atingida? Mione, foi atingida?

Ele já a apalpava tentando detectar ferimentos.

Apesar dos lábios duros, Hermione conseguiu instruir:

— Chame uma ambulância. — Então, inclinou-se para frente e posicionou as mãos sobrepostas no peito da mulher, tentando bloquear a hemorragia.

— Já está a caminho. Venha, levante-se.

— Ela precisa de pressão no ferimento. Ela precisa de uma ambulância...

Hickman guardou a arma no coldre.

— Mione, não pode fazer mais nada por ela. Está morta.

Segurando-se como podia, Hermione observou o policial ferido ser colocado numa ambulância e o cadáver da assaltante, encerrado numa capa preta com zíper.

— Detetive Granger?

Ela se voltou para o tenente

— Sim, senhor. Como está Dietz?

— Estou indo para o hospital. Logo saberemos.

Hermione cobriu a boca com as costas da mão.

— E o suspeito?

— Os paramédicos disseram que vai viver. Em duas horas, poderemos interrogá-lo.

— Eu... Poderei participar?

- O caso continua seu. — Kiniki a puxou pelo braço. - Mione, sei como se sente. Mas pergunte a si mesma, agora, se poderia ter agido de outra forma.

— Não sei...

— Hickman estava logo atrás de você e Carson vinhal da esquerda. Ainda não falei com ela, mas Hickman disse que você se identificou e ordenou que ela parasse, ela se voltou e atirou. Você a mandou largar a arma e ela se preparou para disparar de novo. Você não teve escolha. Quero que repita essa seqüência de fatos durante o inquérito padrão amanhã de manhã. Quer que eu chame seu pai?

— Não. Por favor. Falo com ele amanhã, depois do inquérito.

— Então, vá para casa e descanse. Telefono quando tiver notícias de Dietz.

— Senhor, a menos que me dispense, prefiro ir ao hospital aguardar novidades sobre Dietz, permanecendo à disposição para interrogar o suspeito quando isso for possível.

O tenente Kiniki concluiu que seria melhor para Hermione executar todo o procedimento.

— Vamos na minha viatura.


O pânico era como as garras de um animal selvagem no pescoço. Harry nunca o experimentara antes, a não ser em hospitais. Por isso, detestava hospitais. O cheiro anti-séptico lhe trazia à lembrança os últimos meses de vida do pai, bem como a consciência de que se salvara por um triz de ter o mesmo destino que ele, aos cinqüenta anos.

Haviam lhe assegurado que Hermione não se ferira na ação. Mas sabia que algo dera errado, ou ela não estaria num hospital. A informação vaga bastara para arrancá-lo do Blackhawk's e seguir como louco ao encontro dela, só para se certificar de que ela estava bem.

Ao vê-la abandonada numa cadeira no corredor do Centro de Terapia Intensiva, a sensação de pânico diminuiu.

Ela soltara os cabelos, como costumava fazer quando estava tensa ou cansada. A cortina de cabelos castanhos lhe encobria parcialmente o rosto, mas os ombros caídos e as mãos cruzados em torno dos joelhos eram indicação de seu estado de espírito.

Agachou-se na frente dela e conferiu sua palidez e olheiras.

— Oi. — Pousou a mão sobre as dela. — Mau dia?

— Péssimo. — Hermione imaginava ter linhas cruzadas dentro do cérebro. Não conseguia adivinhar o motivo de Harry estar ali. — Um dos integrantes da equipe encontra-se em estado crítico. Não sabem se ele resistira até o amanhecer.

— Lamento.

— Eu também. Os médicos não nos deixam falar com o desqualificado que o alvejou. O suspeito se identificou como Richard Fricks e dorme tranqüilamente sob efeito de remédios, enquanto Dietz luta pela vida. A mulher dele está na capela, rezando.

Hermione queria fechar os olhos e usufruir a escuridão, porém continuava fitando os de Harry.

— Como se isso não bastasse, matei uma mulher. Um tiro certeiro no coração. Como se ela fosse o alvo e eu estivesse praticando.

Ele sentiu as mãos dela tremulas, e então ela cerrou os punhos.

— É, foi um mau dia. Venha.

— Aonde?

— Para casa. Eu a levo. — Como ela não se mexia Harry a puxou pelas mãos. Ela se levantou sentindo-s leve, frágil como cristal. — Não há nada que possa fazer aqui agora, Mione.

Ela fechou os olhos e respirou fundo.

— Foi o que Hickman disse lá na cena. Não nada que possa fazer. Acho que os dois têm razão.

Deixou-se conduzir ao elevador. Não adiantava nada permanecer ali no hospital, nem argumentar, nem fingir que queria ficar sozinha.

— Posso destacar uma viatura.

— Eu a levo, já disse.

Não adiantava discutir, conformou-se, nem resistir ao braço forte dele em torno de sua cintura.

— Como descobriu que eu estava aqui?

— O policial que foi ao bar acompanhar os Barnes até em casa contou rapidamente o ocorrido e onde eu poderia encontrá-la. Por que seu pai não está com você?

— Porque não sabe de nada. Falarei com ele amanhã.

— O que há com você?

Hermione piscou, como se saísse de um quarto escuro para a luz, ofuscada.

— O quê?

Harry a tirou do elevador e seguiram pelo saguão.

— Quer que ele saiba por outra pessoa? Sem ouvir sua voz, para ter certeza de que não se feriu na ação? Será que não pensa?

Hermione passou a mãos nos cabelos.

— Tem razão. Acho que não estava raciocinando. - Revirou a bolsa à procura do celular. — Só mais um minuto...

Já no carro dele, ela procurou se acalmar, controlando a respiração.

— Agora, sim — sussurrou, enquanto Harry ligava o motor. Digitou o número, aguardou o primeiro toque e então atenderam.

— Mãe? — Apertou o pequeno aparelho na mão, num esforço para normalizar a voz. — Tudo bem. E vocês? É... estou indo para casa, mas gostaria de falar com papai. Sim, assunto de polícia. Obrigada.

De olhos fechados, Hermione ouviu a mãe chamar o pai, os dois riram ao longe e então a voz sonora do chefe da polícia de Denver se manifestou:

— Mione, o que foi?

— Pai... acho melhor não contar a mamãe.

Pausa.

— Entendido.

— Estou bem, não me feri e já estou indo para casa. A ação ocorreu hoje, mas foi mal-sucedida. Um dos nossos foi baleado e está no hospital, bem como um dos suspeitos. Amanhã teremos notícias dos dois.

- Que mais, Hermione?

- Pai... Tive que atirar. Estavam armados. Os dois suspeitos estavam armados e abriram fogo. Ela não parou... eu a matei.

- Estarei aí em dez minutos.

- Não, pai, não precisa. Fique com mamãe. Terá de contar a ela e vai ficar abalada. Já estou indo para casa. Conversamos amanhã, está bem? Estou tão cansada...

- Se tem certeza de que está bem...

- Estou, eu juro.

- Quem foi alvejado?

- Dietz. Len Dietz. — Hermione fez pausa e levou a mão livre aos lábios. Já não estavam tão duros. — O estado dele é crítico. O tenente continua no hospital.

- Entrarei em contato com ele. Tente dormir um pouco. Mas pode ligar a qualquer hora, se mudar de idéia. Estarei com você num minuto. Sua mãe também.

- Eu sei. Telefono de manhã. Acho que estarei me sentindo melhor quando o sol nascer. Amo vocês.

Desfeita a ligação, Hermione deixou o celular cair dentro da bolsa. Viu que já estavam diante de seu prédio.

- Obrigada por... — Confusa, viu-o saltar, contornar o carro, abrir-lhe a porta e estender a mão. — Não consigo ordenar os pensamentos. Que horas são?

- Não importa. Dê-me a chave.

- Ah, claro, o tradicionalista. — Hermione saiu do carro agarrando-se à mão dele como se fosse uma corda salva-vidas. — Será que vou ganhar flores na próxima vez?

Atravessaram o saguão e chamaram o elevador.

— Sabe, tenho a impressão de que preciso fazer alguma coisa... mas não sei o quê. Nós a identificamos. Foi fácil, pois portava carteira de identidade: Madeline Ellen Fricks. — Hermione saiu do elevador meio flutuando. - Trinta e sete anos, endereço em... Englewood. Alguém foi checar. Eu devia estar checando.

Harry destrancou a porta do apartamento e a fez entrar.

— Sente-se, Mione.

Ela olhou ao redor para a sala de estar. Estava exatamente como a deixara pela manhã. Nada mudara. Por que aquela sensação de que tudo mudara?

Como ela continuava de pé, Harry a arrebatou nos braços e carregou para o quarto.

— Aonde estamos indo?

— Vai se deitar agora. Tem alguma bebida aqui?

— Alguma.

— Eu acho. — Ele a acomodou na cama.

Na cozinha, descobriu dentro de um armário estreito uma garrafa de conhaque. Rompeu o lacre e despejou três dedos num cálice. De volta ao quarto, viu Hermione sentada, abraçada aos joelhos erguidos.

— Acho que estou tendo um chilique. — Mantinha o rosto enterrado contra os joelhos. — Se tivesse algo para fazer, não estaria tendo um chilique.

— Eis do que precisa. — Harry sentou-se no colchão, fez com que erguesse o rosto e aproximou o cálice. — Beba isto.

Obediente, ela tomou um gole, tossiu e rejeitou o resto.

— Detesto conhaque. Alguém me deu essa garrafa no último Natal, sei lá por quê.

- Só mais um pouquinho — insistiu Harry. — Granger , tome seu remédio!

Contrariada, Hermione tomou mais um bom gole. Seus olhos se umedeceram e sentiu as faces afogueadas.

— Isolamos três quarteirões, cercamos a casa... não tinham como fugir. Estavam encurralados.

Harry pôs de lado o cálice, todo ouvidos ao desabafo.

— Mas fugiram.

— Estávamos para invadir quando ele... Fricks... Saiu pelos fundos, já atirando. Acertou duas balas em Dietz. Alguns integrantes haviam se posicionado nas laterais para o cerco. Eu e Hickman entramos pela frente... eu primeiro. Fomos um para cada lado, iniciando a varredura.

Hermione revia toda a cena na mente, o deslocamento ágil e seguro, as luzes ofuscantes.

-Ouvíamos tiros e gritos lá de fora. Quase voltei, acreditando que os dois já haviam fugido... que estavam juntos. Então, vi a porta deslizante do solário meio aberta. Avistei-a assim que saí, correndo na direção oposta à do parceiro. Para obrigar a polícia a se dividir também, pensei. Identifiquei-me, ordenei que parasse. Ela se voltou e atirou. Errou. Ordenei novamente que parasse e largasse a arma. Ela não tinha escolha... Para onde iria? Mas ela se voltou de novo... - Ela se voltou de novo... — Revivendo o momento dramático, Hermione parecia inconformada. — A lua brilhava muito... Iluminava o rosto dela, os olhos, o revólver. Foi quando atirei.

- E tinha outra escolha?

Hermione respirou fundo.

- Não. Tenho certeza de que não. Harry, treinei tanto para agir e saber enfrentar as conseqüências, mas não estava preparada para isso... Nunca imaginei que fosse me sentir assim.

Uma lágrima rolou e ela a enxugou, impaciente.

— Nem sei por que estou chorando. Ou por quem.

Harry a puxou pelos ombros e fez com que encostasse o rosto em seu peito, aconchegando-a.

Enquanto ela chorava, recordou toda a narrativa emocionada.

"Errou", dissera Hermione, a respeito do primeiro tiro da assaltante, como se desconsiderasse o fato de terem tentado matá-la. No entanto, agora chorava por não ter tido escolha na hora de tirar uma vida.

Policiais. Pousou o rosto nos cabelos dela. Jamais entenderia os policiais.

Hermione dormiu por duas horas, mergulhada no sono como pedra em um lago, solidamente presa ao fundo. Quando acordou, viu que se abraçava a Harry no escuro.

Permaneceu imóvel por alguns segundos, orientando-se, sentindo o coração dele pulsando forte sob a palma da mão. De olhos abertos e mente mais lúcida, avaliou o próprio estado geral. Sentia uma leve dor de cabeça, nada grave, apenas ressaca do ataque de choro. Perdurava uma sensação de constrangimento, mas acreditava que sobreviveria a ela, também.

Exercitou os dedos dos pés e descobriu que estava descalça. A bainha com a lâmina chata não estava mais colada a seu tornozelo.

O coldre de ombro com a pistola também sumira.

Harry a desarmara, concluiu, e de várias maneiras. Despejara em cima dele toda a história, chorara no ombro dele e agora dormia com ele no escuro. O pior era perceber que queria continuar assim.

Crente em que ele dormia, tentou se desvencilhar.

— Está melhor?

Hermione não chegou a se sobressaltar, mas quase.

— Estou. Bem melhor. Acho que lhe devo uma.

- Deve.

No escuro, ele se apossou de sua boca e iniciou um beijo íntimo.

Macio, inesperadamente macio. Quente, deliciosamente quente. Sim, queria continuar ali e se abriu para Harry. Tomou-lhe o rosto nas mãos e aceitou quando ele a fez se deitar de costas e a apertou contra o colchão.

O peso sólido dele, os contornos duros do corpo, o calor inebriante da boca eram exatamente o que ela queria. Abraçou-o com força, prendendo-o, assim como a prendera enquanto chorava e enquanto dormia. Harry parecia entregue à delícia de seus lábios, aos suspiros que ela deixava escapar, às curvas femininas e desejosas sob seu corpo. Enquanto ela dormia, permanecera quieto a seu lado, mas a mente era um tormento só. O desejo por Hermione era como uma febre em seu sangue.

Ao sentir que ela despertara, mal coubera em si de ternura.

No entanto, agora que ela se entregava, via-se contrariado, incapaz de tomá-la, recuou, limitando-se a acariciá-la no rosto.

— Não é hora — concluiu, e deixou a cama.

Hermione não podia acreditar. Seu corpo latejava de desejo, sua mente começava a flutuar. Agora, sentia-se livre.

- Escute, se desistiu por achar que estava se aproveitando...

— E não estava?

— Ainda sei dizer sim e não. Sou grata por ter me trazido para casa, por ouvir meu desabafo e por não me deixar sozinha, mas jamais retribuiria suas boas ações com sexo. Tenho muita consideração por mim. Bolas, tenho muita consideração pelo sexo!

Harry riu e sentou-se na beirada da cama.

— Vejo que melhorou mesmo.

— Então... — Hermione achegou-se, lançou os cabelos para trás e encostou os lábios no pescoço dele.

Ele sentiu o pulso se acelerar e uma bola de fogo explodir nas entranhas.

— Você está me tentando... — Grato por conseguir respirar, afastou a mão dele e se levantou. — Mas não, obrigado.

Ofendida, Hermione quase disse um palavrão. Mas então recordou o mau exemplo do ex-namorado Dennis e se conteve.

— Está bem. Posso saber por quê? — Dadas as circunstâncias, parecia uma pergunta razoável.

— Por dois motivos.

Harry acendeu o abajur e encarou o rosto sério. Estar tão próximo sem tocá-la era como levar um soco entre os olhos.

— Como você é linda...

Ela sentiu renascer a esperança.

— Por que não faz amor comigo, então?

— Eu a desejo. Tanto que me dói. É isso que me impede.

Distraidamente, enrolou uma mecha dos cabelos de Hermione no dedo e então a soltou.

— Penso em você, Mione, demais para meu conforto. Como gosto de me sentir confortável, ainda não decidi se quero me envolver com você. Se eu realizar com você metade das minhas fantasias, ficarei envolvido. Esse é o motivo número um.

Hermione sentou-se nos calcanhares.

- É, você sabe como cortar uma linha quando quer.

- Nunca tive dificuldade antes. Mas, com relação a você, é difícil.

Ela já não se sentia ofendida nem chateada.

- Estou pasma. Pensei estar diante de um sujeito que toma tudo o que quer sem pensar nas conseqüências.

- Enganou-se. Eu calculo e assim elimino as conseqüências. Só então tomo o que quero.

- Em outras palavras, eu deixo você nervoso.

- Pode se gabar — confirmou Harry. — Não a culpo.

Hermione ergueu o sobrolho.

- Disse que eram dois motivos. E o segundo?

- Esse é mais fácil de entender. — Ele voltou para junto da cama e lhe tomou o queixo. — Não gosto de tiras.

Roçou os lábios nos dela. Quando ele estava para cessar o beijo, Hermione deslizou contra o dele e sentiu seu tremor. Nada a teria deixado mais satisfeita.

- Seu nome é encrenca — murmurou ele. — Já vou.

- Covarde.

- É humilhante, mas vou sobreviver. — Calmo, vestiu a jaqueta que deixara na cadeira e calçou os sapatos.

Hermione sentia-se fabulosa, invencível.

- Por que não volta aqui e luta como homem?

Harry contemplou-a ajoelhada na cama, a desafiá-lo com o olhar, a cabeleira castanha fazia uma moldura para seu rosto e ombros.

O sabor dela ainda lhe queimava a língua.

Mas meneou a cabeça e foi para a porta. Teve que se torturar olhando-a mais uma vez.

— Vou odiar a nós dois pela manhã — previu.

Retirou-se perseguido pelo riso de Hermione.



Obs:Capitulo 6 postado!!!!!Espero que tenham curtido!!!!Final de semana tem atualização!!!Bjux!!!Adoro à todos!!!!

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