Capitulo 5
CAPÍTULO V
Seis dias após o furto na casa dos Chambers, Hermione apresentava-se na sala do tenente Kiniki. A fím de ganhar tempo, já vestira a roupa de garçonete para o trabalho à noite, guardando o distintivo policial no bolso traseiro da calça e colando a bainha de uma lâmina chata pouco acima do tornozelo.
- Até agora não rastreamos uma única peça furtada — Sabia que aquilo não era o que o superior esperava ouvir. — Nenhuma novidade nas ruas. Até as fontes inesgotáveis de Hickman secaram. Quem quer que seja o cabeça dessa quadrilha é esperto, discreto e paciente.
- Está no Blackhawk's há uma semana.
- Sim, senhor. Mas não sei mais do que no primeiro dia. Entre as imagens dos videocassetes e minhas próprias observações em campo, marquei vários clientes freqüentes, mas nenhum continuou suspeito. Para consolidar, meu disfarce segue sem levantar suspeitas.
- Felizmente. Feche a porta, detetive. – Hermione sentiu um peso no estômago, porém obedeceu, barulho da delegacia diminuiu no pequeno cubículo de vidro do tenente. - É sobre Dennis Overton.
Ela já previra. Uma vez apresentada a queixa no gabinete da promotoria pública, era inevitável que parte da artilharia caísse em seu próprio telhado.
— Lamento o incidente, tenente. Entretanto, no fim das contas, meu disfarce saiu fortalecido, em vez de levantar suspeitas.
— Não se trata disso. Por que não apresentou queixa no gabinete da promotoria antes? Ou a mim?
Ou a seu pai, completaram ambos, em pensamento.
— Era um assunto pessoal e, até esse lamentável incidente, restrito a meus horários pessoais. Acreditei que podia lidar com a situação sem envolver meus superiores ou os de Dennis.
Kiniki compreendia a postura defensiva porque compreendia Hermione.
— Falei com o promotor público. Em sua queixa formal, declara que Overton, a partir da primeira semana de abril, passou a incomodá-la com telefonemas tanto aqui quanto em casa, a dar plantão na porta de seu apartamento, a segui-la dentro e fora de seus horários de trabalho.
— Mas nunca havia interferido com meu trabalho — observou Hermione, e calou-se ao ver o tenente contrariado.
Kiniki baixou a cópia do documento e pousou sobre ele as mãos cruzadas.
— Estabelecer contato contra a sua vontade dentro ou fora de seu horário de trabalho interfere, sim. Não está a par da legislação com referência a perseguições, detetive?
— Na verdade, não. Quando se tornou evidente que o indivíduo não desistiria do comportamento, não se deixaria desencorajar e poderia interferir numa importante investigação, expus o caso ao superior dele.
- Mas não registrou queixa na delegacia.
- Não, senhor.
- Nem requisitou um mandado de prisão.
- Achei que uma reprimenda do superior seria suficiente.
- Mais uma "advertência" de Harry Potter?
Hermione abriu a boca e a fechou novamente. Não relatara parte do incidente ao promotor público.
- Overton afirma que Potter o atacou, sem que o provocasse, num ataque de raiva.
- Oh, não... — Hermione não pôde evitar a expressão desgostosa, mas logo recobrou a compostura profissional — Não é verdade, senhor. Não mencionei o incidente porque não achei necessário. Mas, se Dennis insiste nessa versão incorreta dos fatos, posso apresentar um relatório completo.
- Faça isso. Quero uma cópia na minha mesa até amanhã à tarde.
- Ele pode perder o emprego.
- É problema seu?
- Não. — Hermione expirou, odiando ter de prestar contas sobre sua vida pessoal. — Tenente, Dennis e eu namoramos por três meses... fomos íntimos, mas então ele começou a ter ataques de ciúme, a se mostrar possessivo e irracional. — Estranhamente, agora que começara a desabafar, não conseguia mais se conter: — Quando eu me atrasava para um encontro ou telefonava cancelando, ele me acusava de estar com outro homem. Eu não agüentava, brigávamos, mas logo ele me procurava e telefonava, cheio de desculpas, prometendo que seria diferente. Quando eu relutava, ele se tornava desagradável, ou caía em depressão.Tenente, dormi com ele e, reconheço que parte do que acontece é culpa minha.
Kiniki demorou um pouco a responder, mordiscando o lábio inferior enquanto a observava.
— Poucas vezes disse uma bobagem feito essa. Se aparecesse aqui agora uma vítima se queixando de agressão, diria que a culpa é dela? — Como Hermione não respondia, prosseguiu: — Acho que não. Você cumpriria o procedimento. Pois cumpra-o agora.
— Sim, senhor.
— Mione? — Embora a conhecesse desde os cinco anos, Kiniki tentava manter à parte o relacionamento pessoal tanto quanto ela, mas em certos momentos... — Seu pai está sabendo?
— Não. Com todo o respeito, senhor, prefiro que ele continue sem saber.
— Se quer assim. Não concordo, mas respeito. Prometo não contar a seu pai se me prometer que vai me comunicar imediatamente se Overton sequer respirar a menos de dez metros de você. — Inclinou a cabeça para o lado ao ver os lábios dela trêmulos. — Disse algo engraçado?
— Não, senhor. Sim, quero dizer... — Hermione desistiu da formalidade. — É que Harry disse praticamente a mesma coisa, tio Lou. Acho essa atitude... Doce, de um jeito masculino, é claro.
— Sempre dúbia. Agora, dê o fora daqui e descubra algo sobre esses furtos!
Considerando que nem toda aprendiz de garçonete ia ao trabalho dirigindo carro novo, Hermione acostumara-se a estacionar a dois quarteirões de distância do Blackhawk's e vencer o resto da distância a pé.
No trajeto, aproveitava para relaxar, apreciar Denver em plena primavera. Adorava a cidade grande, com seus edifícios e torres prateadas arranhando o céu. Também apreciava as montanhas, brancas de neve no inverno, cobrindo-se de verde no verão.
Mesmo adorando as montanhas e tendo passado férias memoráveis na cabana dos pais, preferia vê-las ali, nas ruas de Denver. Sua cidade.
Em Denver, caubóis de botas surradas caminhavam ao lado de executivos em impecáveis ternos italianos. A cidade negociava gado, tinha comércio e vida noturna comparava-se a um garanhão selvagem, escovado e lustroso, porém não totalmente domado.
O leste do país jamais a fascinaria tanto.
E, quando a primavera atingia o auge, derramando sol quente sobre os picos que guardavam a cidade, seu ar, não havia lugar melhor no mundo.
Separou-se de Denver ao entrar no Blackhawk's.
Harry estava no bar, apoiado no extremo do balcão, bebericando sua costumeira água e ouvindo as queixas de um cliente habitual.
Ele cravou os olhos verdes em Hermione assim que ela entrou mais sem denunciar nenhum sentimento.
Desde aquele encontro afogueado no escritório, ele não a tocara mais e pouco lhe dirigira a palavra. Melhor assim. Trabalho e luxúria não combinavam e sempre acabavam prejudicando um ao outro.
Com tudo, era frustrante vê-lo noite após noite, próximo o bastante para alimentar ilusões, mas sem poder avançar nem recuar.
E desejando-o, como jamais desejara um homem na vida.
Despiu a jaqueta e pegou no batente.
Harry sentia-se como se o matassem bem lentamente. Sabia o que era desejar uma mulher, sentir o sangue ferver, a virilha inchar, a cabeça rodar com imagens sensuais. Assemelhava-se à fome queimando o estômago, corroendo-o até ser satisfeita.
Assim era seu desejo por Hermione. Mas não tinha como saciar aquela fome. E assim prosseguia a tortura, aguda, constante, dolorosa.
Nenhuma mulher jamais o fizera sofrer.
Ainda guardava na boca o sabor de Hermione. Não conseguia se livrar dele. O simples fato o enfurecia, porque concedia a ela uma vantagem que nunca ninguém tivera sobre ele. O fato de ela não o perceber não negava a fraqueza.
E qualquer ponto fraco representava vulnerabilidade.
Queria que aquela investigação se encerrasse logo. Queria que Hermione retomasse a vida em seu mundo, para que ele pudesse reequilibrar o dele.
Lembrou-se então da paixão com que ela o agarrara, devorando-o com beijos ardentes, enterrando as mãos em seus cabelos. Chegara a temer nunca mais conseguir firmar os pés no chão.
— Ainda bem que não há tiras por aqui.
Imerso na fantasia, Harry não ouvia e olhou para Frannie.
— Como?
Ela abriu uma cerveja e a despejou num copo.
— Um homem pode ser preso por olhar para uma mulher desse jeito. Trata-se de assédio, ou algo assim. Sua intenção é evidente, ao menos quando ela não está olhando.
Harry assustou-se.
— É mesmo? Vou tomar mais cuidado.
- Ela também está olhando bastante — murmurou Frannie, afastando-se.
- O homem está preocupado — comentou Will com Frannie na outra ponta do balcão.
- Está com mulher na cabeça. E não consegue tirar.
Com uma piscadela, ela lhe serviu um corpo do refrigerante que ele consumia aos galões durante o expediente.
- Ele nunca ligou tanto para nenhuma mulher.
- Mas para essa está ligando.
Will sorveu o drinque esquadrinhando a multidão na área do bar.
- Bom, ela é bonita.
- Não é por isso. A beleza superficial não significa muita coisa. Essa moça o atinge mais fundo.
- Acha mesmo? — Will puxou a barba curta. Não entendia as mulheres e não fingia entender. Considerava-as criaturas intrigantes de poder esmagador e formas maravilhosas.
- Vá por mim. — Frannie deu um tapinha na mão do colega, fazendo seu coração disparar.
- Duas margaritas, congeladas com sal, duas cervejas e um club soda com lima. — Jan pousou a bandeja e simulou com os dedos uma escalada pelo braço de Will , provocando-o.
— O que há, querido?
Ele enrubesceu, como sempre.
- Oi Jan. Com licença, preciso dar um giro.
Frannie meneou a cabeça ao vê-lo fugir.
- Não devia fazer isso com ele.
- Não posso evitar, ele é tão doce. — Frannie lançou os cabelos para trás. — Tenho uma festa hoje. Vou depois que fecharmos aqui. Quer vir junto?
— Depois que fecharmos aqui, vou para casa dormir na minha caminha e sonhar com astros de cinema.
— Sonhar não adianta nada.
— E eu não sei? — murmurou Frannie, ligando o liquidificador.
Hermione carregava mais uma bandeja de copos usados, o bloco de anotações já cheio de pedidos em meia hora de trabalho. Aquela seria uma longa noite. Desanimou-se ao ver o patrão se aproximando.
— Hermione, gostaria de lhe falar. — Sobre qualquer coisa, sobre nada. Cinco minutos sozinho com ela deveriam bastar. Raios. — Poderia subir ao escritório no seu intervalo de descanso?
— Algum problema?
— Não — mentiu Harry. — Problema nenhum.
— Está bem, mas é melhor avisar Will. Ele guarda seus domínios como um lobo.
— Tire o intervalo agora. Vamos subir.
— Não posso, clientes sedentos me aguardam. Mas subo assim que for possível, se é tão importante. — Hermione afastou-se rápido, porque sentira o calor dele avisando que a tal conversa não tinha nada a ver com trabalho.
Aproveitando a pausa enquanto Pete preparava os drinques, procurou se acalmar apoiada no balcão. Observando distraidamente a multidão, reparou num casal de vinte e poucos anos em franca discussão. Três homens de terno falavam de beisebol. Um flerte se iniciava entre uma mulher sozinha e o mais atraente de dois homens junto ao bar. Abundavam contatos visuais e sorrisos.
Numa das mesas, outro casal ria de alguma piada particular. De mãos dadas, namoravam, embora usassem alianças no dedo anular da mão esquerda. Bem casados, felizes, situação financeira estável, a julgar a bolsa de grife pendurada na cadeira da mulher, combinando com os sapatos.
Na mesa além, um casal conversava baixo sobre algo agradável. Pairava um ar de intimidade ali também, notou Hermione. Linguagem corporal, gestos, olhares apaixonados por sobre os cálices de vinho.
Era invejável aquele... Conforto, diria, de ter alguém no outro lado da mesa concentrado no parceiro, a despeito da multidão, atento a suas palavras, ou ao que ele não precisava dizer.
Seus pais usufruíam isso, um respeito que acrescia real dimensão ao amor e atração.
Se já era maravilhoso assistir, como não se sentiria se experimentasse?
Ainda meditava a respeito quando ouviu risos das clientes ao lado, pois Pete acabara de contar mais uma de suas piadas. Como seu pedido ainda não estava pronto, voltou a esquadrinhar a imensa clientela do Blackhawk's.
O casal de mãos dadas chamou Jan. A mulher apontou para a garçonete um item no menu do bar. Jan fez um comentário qualquer, divertindo a cliente.
— Quanto mais quente, melhor! — disse a mulher.
- Reservamos mesa no salão só para as oito horas e enquanto isso vamos aproveitar aqui.
Jan rascunhou o pedido no bloco e se afastou. Hermione sorriu ao ver o marido aproximar a mão da esposa dos lábios e mordiscar-lhe o nó dos dedos.
Não fosse a pontada de inveja fazendo-a demorar o olhar um pouco mais sobre o casal, talvez não tivesse reparado na mínima mudança de cenário.
A bolsa da mulher continuava pendurada no espaldar da cadeira, mas em ângulo diferente e com o zíper meio aberto.
Teria sido Jan? Então, viu. A mulher na outra mesa, sentada de costas para a primeira, sempre sorrindo ao acompanhante, deixou cair dentro da bolsa em seu colo um molho de chaves.
Bingo!
— Está no mundo da lua, Mione? — Pete lhe cutucou o ombro. — Seus clientes já devem ter morrido de sede.
Hermione ergueu a bandeja, de olho na mulher suspeita, que já se levantava com a bolsa debaixo do braço.
Um metro e sessenta de altura. Cinqüenta e quatro quilos. Cabelos e olhos castanhos. Trinta e tantos anos, tez morena, feições marcantes. Encaminhando ao toalete feminino.
Como não podia abandonar o disfarce, correu para a área do salão, avistou Will e lhe empurrou a bandeja.
— A mesa oito está esperando isto. Diga a Harry que preciso falar com ele. Preciso fazer uma coisa.
— Ei, mas...
Hermione já atravessava o salão, rumo aos toaletes. No banheiro feminino, verificou sob a porta de todas as divisórias e localizou o par de sapatos que procurava na última. Ela devia estar tirando moldes das chaves em cera, concluiu, voltando-se para a pia. Deixou correr água, atenta à mulher suspeita. A tarefa requeria poucos minutos, porém exigia privacidade. Satisfeita, Hermione voltou à área do bar. A garçonete Beth a abordou.
— Mione, os pedidos estão se acumulando. Onde está sua bandeja?
— Desculpe-me, houve uma pequena emergência — retrucou Hermione, sorrindo sem graça. — Já estou reassumindo.
Sem perder tempo, captou o olhar de um dos policiais disfarçados de clientes e parou junto a sua mesa.
— Branca, quase quarenta anos, olhos e cabelos castanhos. Sai do banheiro em minutos. Conjunto de calça azul-marinho. Ocupa uma mesa na área do bar com um branco de quarenta e poucos anos, grisalho, azuis, suéter verde. Fiquem de olhos neles, mas não façam nada. Vamos agir conforme o combinado.
De volta ao balcão, pegou outra bandeja. O homem de suéter verde já pagava a conta. Em dinheiro. Parecia a vontade, mas consultou o relógio de pulso e olhou na direção dos toaletes.
A mulher voltou para junto da mesa, mas, em vez de se sentar, abaixou-se para pegar a capa curta preta que pendurara no encosto da cadeira. Durante alguns segundos, seu corpo bloqueou a visão da bolsa da outra mulher. Então, ela se endireitou, sorriu para o acompanhante e lhe entregou a capa.
Dedos leves, constatou Hermione. Dedos muito leves.
Ao ver Harry entrar na área do bar, indicou-lhe discretamente o casal que se preparava para sair. Disfarçando, foi ao encontro dele e passou a mão em seu braço, afetuosa.
— Mandei dois homens atrás deles. Vamos deixá-los executar todo o esquema. Quero esperar um tempo antes de alertar os alvos. Nessa hora, vou precisar do seu escritório.
— Certo.
— Aqui embaixo, tudo deve continuar normalmente. Se puder ficar por aqui, darei um sinal quando chegar a hora e você pede a Beth para que sirva as minhas mesas pois precisa de mim para outra coisa. Não quero alarme de jeito nenhum.
— Entendido. Pode deixar comigo.
— Dê-me o código do seu elevador, para o caso de precisar subir sem você.
Harry lhe sussurrou ao ouvido:
— Dois, sete, cinco, oito, cinco. Pegou?
— Peguei. Não olhe muito para mim até eu conseguir tirar os alvos da área do bar.
Hermione agia com toda a energia, porém mantinha a mente tranqüila. Esperou quinze minutos. Quando a mulher-alvo se levantou para ir ao toalete, seguiu-a.
Dentro do banheiro, após rápida checagem nas divisórias, Hermione sacou o distintivo policial.
— Com licença, sou a detetive Granger, polícia de Denver.
A mulher recuou um passo instintivamente.
— Qual é o problema?
— Preciso de sua ajuda numa investigação. Gostaria de lhe falar, e com seu marido. Se puderem me acompanhar.
— Mas não fizemos nada...
— Eu sei, senhora. Já explicarei tudo. O escritório lá em cima está à disposição. Poderia se encaminhar para lá o mais discretamente possível? Sua ajuda seria muito bem-vinda.
— Não vou a lugar nenhum sem Don.
— Avisarei seu marido. Ao sair daqui, vá par esquerda e espere no corredor.
— Espero que tenha um bom motivo.
— Logo estarão a par de tudo. — Hermione pegou a mulher pelo braço, apressando-a. — Por favor. Tomarei poucos minutos de seu tempo.
As duas saíram do banheiro.
— Não queremos encrenca — avisou a mulher.
— Por favor, espere aqui. Vou chamar seu marido. — Sabendo que a mulher não teria muita paciência, Hermione foi rápido até a mesa do casal e recolheu os copos vazios. — Senhor? Sua esposa está ali no corredor dos toaletes e lhe pede que vá encontrá-la.
— Claro. Será que está com algum problema?
— Não, ela está bem.
Hermione levou os copos ao balcão e voltou depressa ao corredor.
— Detetive Granger — apresentou-se ao marido, ao se juntar ao casal. — Preciso falar com o senhor e sua esposa em particular. — Digitou o código no painel do elevador.
— Ela não diz do que se trata, Don. Não será perigoso...
— Por favor, é muito importante — insistiu Hermione, praticamente empurrando-os para dentro do elevador.
— Não gosto nada de me envolver com a polícia — Declarou a mulher, nervosa.
— Lynn, acalme-se. Está tudo bem.
— Desculpem o atropelo. — Hermione passou ao escritório de Harry e indicou as poltronas. — Sentem-se, já os porei a par de tudo.
Lynn cruzou os braços, toda rígida.
— Não quero me sentar.
Que seja, pensou Hermione.
— Estou investigando uma série de furtos praticados em Denver e adjacências nas últimas semanas.
A mulher deu uma fungadela.
— E parecemos ladrões?
— Não, senhora. Parecem um casal de alta classe média, bem-estabelecido e que tem sido, até hoje, o alvo mais freqüente dessa quadrilha de ladrões. A menos de vinte minutos, uma mulher que, suspeitamos, integra a quadrilha tirou chaves da sua bolsa.
— Isso é impossível. Minha bolsa ficou comigo a noite toda. — Para provar, a mulher abriu o zíper do acessório.
Hermione segurou-lhe o pulso.
— Por favor, não toque nas chaves.
— Como poderei tocar nelas se afirma que não estão aqui?
O marido massageou o ombro da esposa.
— Lynn, acalme-se. — Voltou-se para Hermione. — Qual é a tese?
—Acreditamos que a mulher tira moldes das chaves, que são devolvidas, de modo que a vítima permanece alheia. Em seguida, a quadrilha invade a casa e rouba tudo o que lhe interessa. Vamos tentar evitar que isso aconteça com vocês. Agora, sentem-se.
Visivelmente abalada, a mulher cedeu à voz autoritária e ocupou uma poltrona.
— Seus nomes, por favor — pediu Hermione.
— Don e Lynn... Sr. e Sra. Barnes.
— Sr. Barnes, pode me dar seu endereço?
Ele engoliu em seco e se sentou no braço da mesma poltrona da mulher. Ditou o endereço residencial.
— Quer dizer que estão em nossa casa agora, roubando nossas coisas?
— Não creio que sejam assim tão rápidos. — Mentalmente, Hermione calculava o tempo de viagem. — Há, alguém nesse endereço neste instante?
— Não. Moramos sozinhos. — Barnes passou a mãos por entre os cabelos. — Céus, não consigo acreditar...
- Vou informar seu endereço à minha equipe para pormos em ação nosso esquema. Só um minuto.
Hermione pegou o telefone no instante em que as portas do elevador se abriam.
- Já estão a par — informou a Harry.
Ele foi ao encontro do casal.
- Sr. e Sra...?
- Barnes — respondeu o homem. — Don e Lynn Barnes.
- Don, você e sua esposa gostariam de tomar alguma coisa? Imagino o quanto estão assustados.
- Acho que uma bebida vai me fazer bem. Uma boa dose de uísque puro, creio.
- Não os culpo. E Lynn?
- Eu... — Ela ergueu a mão e então a deixou cair. – Eu não entendo...
- Talvez um conhaque. — Harry foi até a parede e abriu um painel que ocultava um bar bem abastecido. - Podem confiar na detetive Granger — afirmou, enquanto selecionava copos e garrafas. — Enquanto a equipe age, tentaremos mantê-los o mais à vontade.
- Obrigada. — Lynn aceitou o cálice de conhaque. - Muito obrigada.
Um tanto invejosa de Harry por conseguir acalmar o casal em tão pouco tempo, Hermione voltou a se manifestar:
- Sr. Barnes, as viaturas já estão a caminho de sua residência. Pode descrevê-la para mim, o estilo, as portas, as janelas...
— Claro. — Ele riu, nervoso. — Bolas, sou arquiteto.
Descreveu a casa de modo conciso e objetivo, informações que Hermione transmitiu à equipe antes de estabelecer as coordenadas para a ação.
— Reservaram mesa para jantar aqui esta noite, não é mesmo? — confirmou ela.
— Sim, para as oito horas. — Barnes expressou desconsolo. — Planejamos uma noitada.
Hermione olhou as horas.
— A quadrilha pensa que dispõe de muito tempo. — Queria que o casal descesse, terminasse os drinques no bar e fosse jantar com uma aparência de normalidade, mas não sabia se poderia contar com a mulher, tensa e nervosa.
Contornou a mesa e se recostou na beirada.
— Sra. Barnes... Lynn, vamos deter esses delinqüentes. Eles não vão levar nada, nem danificar sua casa. Mas preciso que me ajudem aqui. Você e seu marido devem descer e fazer tudo o que haviam planejado para esta noite, como se não houvesse nada errado. Se agüentarem por pelo menos uma hora, creio que conseguiremos pegá-los.
— Quero ir para casa.
— Vamos acompanhá-los até lá. Mas em uma hora. É possível que um integrante da quadrilha permaneça aqui com a missão de ficar de olho em vocês. Já estão ausentes de sua mesa há quase vinte minutos. Podemos disfarçar esse período, mas não mais uma hora. Não queremos que eles se evadam.
— Se eles se evadirem, não vão invadir minha casa.
— Não, mas vão invadir a casa de outro casal, da próxima vez.
- Deixe-me falar com ela. – Barnes levantou-se e pegou as mãos da mulher. - Lynn, encare como uma aventura. Vamos nos gabar dela durante anos. Temos só que descer e encher a cara.
- Harry, vá com eles – pediu Hermione. – Ah, espalhe que você sugeriu um drinque especial que não caiu muito bem no estômago deles. Já melhoraram, mas ainda estão um pouco enjoados. Por isso, a despesa do bar fica por conta da casa, certo?
- Claro. – Harry estendeu a mão para a Sra. Barnes. – E a despesa do jantar, também. Eu os acompanho. Assim que se sentirem mal, ofereci meu escritório para que descansassem. – Olhou para Hermione enquanto apertava o botão do elevador. – Está bom assim?
- Perfeito. Vou dar mais alguns telefonemas e desço em seguida. Aliás, vou largar o serviço antes do fim do expediente. Emergência na família.
- Boa sorte. – desejou Harry, retirando-se com os Barnes.
Obs:Fic atualizada!!!!!Espero que tenham curtido o capitulo!!!!Segunda tem mais!!!!Bjux!!!!E obrigada a todos pela compreensão!!!!
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