Capitulo 4



CAPÍTULO IV


Hermione telefonou para o Blackhawk's e se surpreendeu ao ouvir a voz de Harry.

— É Granger. Não pensei que fosse fã do dia.

— Não sou. Mas às vezes tenho de abrir exceção. Em que posso ajudá-la, detetive?

— Pode descer e me deixar entrar. Estarei aí em dez minutos.

— Não pretendo sair. — Ele fez breve pausa. – Mas... o que está usando?

Hermione teve vontade de rir, mas conseguiu abafar.

— Meu distintivo — declarou, e desligou.

Harry pôs o fone no gancho, recostou-se e se distraiu imaginando Hermione Granger usando o distintivo e mais nada. Ante a imagem nítida, sedutora demais, saltou de detrás da escrivaninha.

Não tinha nada que imaginar a filha de George nua. Ou melhor, não tinha nada que fantasiar sobre a filha de seu grande amigo de maneira alguma. Nem cogitar qual seria o sabor de seus lábios. Ou o perfume que sentiria sob o contorno daquele belo queixo obstinado. Céus, daria tudo para enterrar os dentes naquele corpo macio. Só uma vez.

Fruto proibido, resignou-se, andando para lá e para cá, já que ninguém o observava. Hermione era fruto proibido e, por isso mesmo, mais tentadora. Embora nem fosse seu tipo. Talvez gostasse de morenas de pernas longas. Talvez gostasse de morenas de pernas longas, inteligentes e determinadas. Mas preferia mulheres mais amigáveis.

Mais amigáveis e desarmadas, completou, divertido.

Não conseguira tirá-la da cabeça, principalmente sua temporária condição de fragilidade enquanto cochilava na poltrona ao lado no carro.

Bem, sempre tivera um fraco por carentes, lembrou mesmo, ao abrir as persianas da janela do escritório. O que deveria resolver seu problema quanto a Hermione. A despeito da breve mostra de vulnerabilidade naquela madrugada, carente era adjetivo que não se aplicava à estonteante detetive.

Ela apenas o usava temporariamente. Concluída a tarefa, voltariam cada um para seu canto em seus mundos distintos. E seria o fim da história.

Viu quando ela estacionou diante do bar. Ao menos, tivera o bom senso de pegar o carro, em vez de atravessar a pé metade de Denver.

Foi sem pressa abrir-lhe a porta.

- Bom dia, detetive. — Admirou o automóvel de luxo vermelho e branco. — Belo carro. É da polícia? Oh, perdão, seu pai não teria como explicar...

- Se pensa que consegue fazer piada acerca de um carro, vai se decepcionar. Pelo jeito, nunca esteve numa sala cheia de tiras.

- Vou me aprimorar — prometeu Harry, tocando na lapela do blazer marrom em padrão discreto que ela usava. — Bonito.

— Então, ambos gostamos de grifes italianas. Podemos comparar nossos guarda-roupas depois.

Só para irritá-la, porque apreciava o brilho dourado nos olhos dela quando se irritava, ele bloqueou a passagem.

— Posso ver o distintivo?

— Deixe disso, Potter.

— Não. Quero ver.

Bufando, Hermione sacou o distintivo do bolso e o encostou no nariz dele.

— Já viu?

— Estou vendo. Número 31628. Vou comprar um bilhete de loteria com esse número.

— Tenho outra coisa que vai gostar de ver. — Ela desdobrou a autorização judicial e a estendeu.

— Jogo rápido. — Harry não esperara menos. - Vamos subir. Estive revendo as fitas. — Seguiram para o elevador. — Você parece descansada.

— Estou.

— Algum progresso?

— A investigação prossegue.

— É, a polícia. — Harry a convidou a entrar no elevador. — Parece que estamos perdendo muito tempo nisso, não?

— Faria um favor a seu coração subindo pela escada.

- Meu coração nunca me deu problemas. E o seu?

- Inteiro e saudável, obrigada. — Hermione saiu quando as portas se abriram. — Oh, você deixou o sol entrar! Estou chocada. Por favor, as fitas. Passarei um recibo.

Ela não usava perfume, reparou Harry. Só sabonete e pele. Estranho como tal simplicidade podia ser erótica.

— Está com pressa?

— O tempo voa.

Ele entrou numa sala adjacente.

Após breve batalha interior, Hermione foi dar uma espiada. Era um quarto pequeno, com uma cama redonda negra sem cabeceira sobre uma plataforma elevada.

Ergueu o olhar e sentiu branda decepção por não ver um espelho no teto.

- Seria óbvio demais — explicou Harry, em resposta a seus pensamentos.

- A cama já diz tudo.

- Não prefere a franqueza?

Sem responder, Hermione atentou a detalhes no cômodo. Fotografias em preto-e-branco emolduradas ornavam as paredes. Artísticas, interessantes, incluindo cenas noturnas sem retoques, ou obscuras.

Reconheceu dois artistas e apertou os lábios. O homem tinha olho para arte e um gosto satisfatório.

- Tenho uma igual a esta. — Indicou o estudo de um ancião com chapéu de palha dormindo sob uma marquise de concreto rachada, um saco de papel apertado na mão. — Shade Colby. Gosto do trabalho dele.

- Eu também, assim como o da mulher dele, Bryane Mitchell. Aquela do lado é dela. O casal de velhos de dadas no banco do ponto de ônibus.

- Belo contraste, desespero e esperança.

- A vida é feita dos dois.

- Aparentemente.

Hermione perambulava pelo quarto. Havia um closet fechado, uma porta de saída, bem trancada, e aquilo que presumia ser um banheiro ou lavabo. Pensou nas vibrações sexuais a que Lydia Carson se referira. Sim, aquele cômodo as tinha, quase fumegava com elas.

- O que tem aqui? — indagou, apontando para porta.

Em vez de responder, Harry a incentivou a entrar e ver por si só.

Ela abriu aporta e soltou um suspiro de prazer.

— Ah, agora gostei! — A sala de ginástica totalmente equipada a atraía bem mais do que a cama enorme.

Harry a observou passar os dedos nos aparelhos, erguer os pesos e se exercitar um pouco enquanto inspecionava. Dava o que pensar o fato de ela ter rosnado à cama e agora babar diante do aparelhos de ginástica.

— Tem até sauna? — Cheia de inveja, Hermione encostou o nariz na janelinha de uma porta de madeira.

— Quer fazer?

Ela se voltou novamente carrancuda.

— Para que tudo isto, se há tantas academias de ginásticas nas proximidades?

— Academias de ginástica são freqüentadas por outras pessoas, para começar. Funcionam por muitas horas, mas em algum momento fecham. E, para completar, não gosto de usar equipamentos alheios.

— É muito individualista, Potter.

— Acertou em cheio. — Ele tirou uma garrafinha de água de um geladeira pequena. — Quer uma?

— Não. — Hermione pousou o peso e voltou à porta. - Obrigada por mostrar a casa. Agora, as fitas, Potter.

— Sim, o tempo voa. — Ele desenroscou a tampa da garrafa e tomou um gole de água. — Sabe o que mais me fascina em trabalhar à noite, detetive Granger?

Ela olhou para a cama redonda e o encarou.

— Imagino.

— Isso também, mas o que mais me agrada em trabalhar à noite é o fato de sempre ser a hora que você quer que seja. O horário que mais gosto é o das três da madrugada. Muita gente o considera o mais difícil de todos. Mas, se a gente não dorme, essa é a hora em que a mente desperta e pensa no que fez ou deixou de fazer naquele dia, ou no que vão fazer ou deixar de fazer no dia seguinte, e no posterior, e assim por diante, até o fim da vida.

- E você não se preocupa com o ontem ou com o amanhã.

- Perde-se muito do agora fazendo isso. Há tanta coisa para se fazer agora.

- Não tenho muito do agora para continuar filosofando com você.

- Só um minuto, — Harry recostou-se num lado do batente da porta e Hermione, no outro. — Boa parte de meus clientes são gente da noite... Ou gente que quer se lembrar de que já foi da noite. A maioria tem emprego agora, exerce uma função que paga bem e que a torna cidadã responsável.

Ela tirou a garrafa da mão dele e bebeu água.

- Seu trabalho paga bem.

Ele sorriu. A boa indireta era uma das características de Hermione que o atraíam.

- Está insinuando que não sou um cidadão respeitável? Meus advogados e contadores não concordariam com você. O que quero dizer é que as pessoas vêm aqui para esquecer suas responsabilidades por algum tempo. Para se esquecerem do despertador e que têm de bater cartão às nove em ponto. Ofereço um lugar sem relógio... Ao menos até a hora de fecharmos.

Hermione devolveu a garrafa.

- Concluindo?

- Esqueça um pouco os fatos. Olhe para as sombras. Está caçando gente da noite.

Gente como Potter, pensou Hermione. Sem dúvida ele integrava o grupo, com aquela cabeleira negra e frios olhos felinos.

— Eu sei.

— Mas está raciocinando como eles? Miram a presa e agem rápido, muito rápido. Seria menos arriscado reconhecer o terreno e executar os furtos durante dia. Escolhido o alvo, aprenderiam seus hábitos: a que horas sai para o trabalho, a que horas volta. Não levariam mais de dois dias para fechar o plano.

Harry tomou mais água.

— Seria muito mais eficiente. Por que não fazem isso? – perguntou ele.

— Porque são arrogantes.

— São, mas não é esse o motivo principal. Pense.

— Gostam da adrenalina, da excitação.

— Exatamente. Gostam da excitação de trabalhar à noite.

Intrigava Hermione o fato de Harry ter chegado quase a mesma conclusão que ela.

— Acha que eu já não tinha pensado nisso?

— Pode ter pensado, mas será que levou em conta que gente que vive à noite é mais perigosa do que gente que vive de dia?

— Incluindo você?

— Incluindo a mim.

— Mensagem recebida. — Ela se voltou para sair e então olhou para a mão dele fechada em seu braço.

— O que há, Potter?

— Só agora me ocorreu. Por que não mandou um policial aqui pegar as fitas?

— Porque estou cuidando do caso.

— Não.

- Como não?

- Queria me ver. — Harry achegou-se para provar. – Por que não me esmurrou ainda?

- Não costumo bater em civis. — Hermione ergueu o queixo quando ele a prensou contra o batente. — Mas posso abrir exceção.

- Sua artéria está palpitando.

- Sempre palpita quando me irrito. — Na verdade, estava excitada e a sensação se espalhava por seu corpo. Ágil, moveu-se de modo a fincar o cotovelo no abdome dele e assim, se desvencilhar. Mas ele estava preparado e soltou-lhe o braço só para lhe agarrar o pulso.
Instintivamente, ela girou o corpo e posicionou o pé atrás do dele, tencionando derrubá-lo.

Harry deslocou o peso do corpo e a empurrou contra a porta. Ela disse a si mesma que era a ira que a tornava ofegante, não a maneira sensual como os contornos másculos se adaptavam aos seus.

Hermione chegou a cerrar o punho para esmurrá-lo, mas concluiu que o sarcasmo era a melhor arma contra ele.

- Na próxima vez, pergunte se eu quero dançar. Não estou com humor para... — Calou-se ao vislumbrar algo perigoso nos olhos dele, uma resolução ousada que lhe descompassou a pulsação.

Esqueceu a autodefesa, esqueceu o punho cerrado pronto para atacar.

- Raios, Potter, largue-me! O que quer de mim?

- Quero tudo. — Ele punha de lado as regras e as conseqüências de violá-las. Tudo o que via era Hermione. - E você?

Caída no chão, a garrafa derramava sobre o tapete o que restava de seu conteúdo. Ávido por pousar as duas mãos sobre Hermione, Harry as usou para prender os braços dela acima da cabeça e aproximar os lábios dos dela.

Hermione contorcia o corpo, se em protesto ou convite, a ele não importava. De qualquer forma, iria se danar por aquela afronta. Sendo assim, aproveitaria ao máximo.

Mordiscou-a, do jeito que imaginara, no lábio inferior liberando o calor e a maciez, dos quais absorvia. Hermione deixou escapar um gemido, tão primitivo quanto a necessidade que o devassava.

O cheiro dela, de sabonete e pele, contrastando com o sabor, quente e suculento, o levavam à loucura, atiçando uma voracidade que jamais experimentara.

Baixou as mãos, deslizando-as pelo corpo cheio de curvas, detendo-se nos quadris. Tinha que satisfazer a ânsia, tomar o que desejava sem pensar duas vezes.

Foi quando roçou na arma dela.

Recuou como se fosse alvejado.

O que estava fazendo? Céus, o que estava fazendo?

Hermione não disse nada, fitando-o com olhos enevoados. Mantinha os braços acima da cabeça, como se ele ainda os prendesse ali. Seu corpo todo tremia.

- Não devia ter feito isso — murmurou ela, ofegante.

- Eu sei.

- Não devia mesmo.

De olhos bem abertos, Hermione o agarrou pela nuca e colou suas bocas.

Desta vez, foi Harry quem estremeceu, mas o choque repercutiu no corpo dela, até a medula dos ossos. Ele a explorara com aquele primeiro beijo selvagem e ela queria viver de novo a sensação. Oh, faria com que ele repetisse, vezes sem conta, até que seu corpo parasse de exigir.

Não conseguia respirar nada além dele e, a cada inspiração, era como se inalasse uma droga poderosa.

Os efeitos dessa droga se intensificavam em seu corpo, enquanto suas línguas travavam uma batalha mortal.

Violento, Harry arrancou-lhe a blusa do cós da calça e introduziu a mão por baixo, até alcançar um seio.

Ambos gemeram febrilmente.

— No instante em que a vi... — Harry abandonou os lábios de mel para degustar a pele lisa do pescoço. - No instante em que a vi...

- Eu sei... — Hermione ansiava pela boca dele outra vez, precisava recuperá-la. — Eu sei...

Ele já lhe puxava o blazer pelos braços quando a sanidade começou a sobrepujar a loucura, que o incitava a possuir Hermione, rápido e sem maiores considerações. Por que não? Era só arrancar o que queria, do jeito que quisesse, e se satisfazer.

- Mione... — Ao pronunciar o nome, deleitar-se com som antiquado, a realidade caiu como uma pedra, embora Harry não se movesse, ela o viu se afastar, colocar uma distância entre ambos, pela mudança em olhos. Aqueles lindos e fascinantes olhos verdes.

- Tudo bem. — Inspirou profundamente. — Está tudo bem. — Pousou a mão no ombro dele, até que se afastasse. — Foi só... — Passou ao escritório. — Bem, foi só...

- Nada de mais.

- Só preciso de um minuto para clarear a mente - Hermione jamais se entregara a uma paixão de modo a perder a noção de tudo, como havia pouco, mas ponderaria a respeito mais tarde. Agora, era essencial recuperar o equilíbrio. - Acho que... Ambos sabíamos o que estava latente e...Foi bom termos posto para fora.

Afim de ganhar tempo, Harry se abaixou, pegou a garrafa de água vazia e a pôs de lado. Com as mãos, nos bolsos, para esconder seu tremor, passou ao escritório também.

- Concordo com a primeira parte da análise, mas vejo com ressalvas a segunda. O que vamos fazer agora?

-Agora... Vamos esquecer o que aconteceu.

Esquecer? Harry não se conformava. A mulher o pusera de joelhos e agora o dispensava com o rabo entre as pernas?

- Como queira — replicou, orgulhoso. Foi até escrivaninha e tirou três videocassetes da gaveta. – Creio que isto atende à exigência de sua autorização judicial.

Hermione sentia a palma das mãos suadas mais não se rebaixaria enxugando-as. Pegou os videocassetes e os guardou na bolsa.

- Vou fazer um recibo.

- Não precisa.

Ela já abria um bloco de papel.

- É procedimento.

- Claro, devemos observar os procedimentos. – Harry pegou a folha de papel. – Não se prenda por mim Granger. O tempo voa.

Ela se encaminhou a saída, mas mandou para os ares a dignidade e se voltou.

- Não precisamos fingir. Você começou, eu continuei. Foi empate e já acabou.

- Querida... Ou melhor, detetive Granger, se estivesse acabado, estaríamos nos sentindo bem melhor agora.

- Sobreviveremos — retrucou Hermione, sentindo-se recompensada ao bater a porta da escada.


Hermione não nascera para ser garçonete. Teve certeza disso ao despejar um drinque na cabeça de um cliente sem-vergonha que lhe apalpara as nádegas e a convidara para o ato sexual ilícito que era proibido em vários Estados.

O cliente protestara. Sem saber o que fazer, ela aguardara o resgate, que logo se apresentou na forma de Will, acostumado a lidar com situações semelhantes.

Passara a noite toda fumegando de raiva. Mas, se na segunda noite de trabalho teve certeza sua falta de talento para servir mesas, na terceira já estava desesperada para mandar aos ares aquele disfarce.

Queria ação. Mas não do tipo que se via num bar, na forma de drinques escorregando pelo balcão e pedidos voando para cozinha, de onde saíam na forma pratos.

Aos vinte minutos de serviço em sua terceira noite no Blackhawk's, sentiu profundo respeito por aquelas que, além de limpar mesas, toleravam falta de educação, gorjetas ofensivas e propostas indecentes.

— Odeio gente — desabafou Hermione com Pete, enquanto aguardava a feitura de um drinque.

— Não odeia, não.

— Odeio, odeio, sim! As pessoas são rudes, desagradáveis. E todas freqüentam o Blackhawk's.

— E ainda são só seis e meia.

- Seis e trinta e cinco, por favor. Cada minuto conta. – Ela olhou invejosa para Jan, deslocando-se desenvolta entre as mesas, limpando, servindo, exibindo os dotes - Como ela consegue?

- Algumas pessoas nascem para isso, morena. Desculpe-me a franqueza, mas não é o seu caso. Não que seja incapaz de fazer o serviço, mas lhe falta paixão.

Hermione volveu os olhos ao teto.

- Os pés também — completou. Já erguia a bandeja, esquadrinhando o salão, como sempre, quando avistou um homem entrando pela porta da frente. — Oh, Pete, peça a Jan que leve este pedido à mesa oito. Lembrei-me de uma coisa...

- Mione, o que faz aqui?

Isso foi tudo o que Dennis conseguiu dizer antes que Hermione o arrastasse pelo bar até a cozinha e através da porta dos fundos.

- Dennis o que está fazendo aqui?

O ex-namorado expressou aborrecimento.

- Não é da sua conta. Por que me arrastou aqui para fora?

- Estou trabalhando. Se ficar aqui, vai me entregar, entende? Já lhe disse o que aconteceria se começasse a me seguir de novo!

- Não sei do que está falando. — Com aquele ar ofendido, Dennis a convencera mais de uma vez.

- Escute aqui. — Hermione espetou o dedo no peito dele. – Está tudo acabado entre nós e não adianta você insistir. Se continuar me seguindo, farei com que leve uma advertência e prometo transformar sua vida em um inferno.

Ele afinou os lábios e baixou o olhar, encurralado.

- Isto aqui é um lugar público. Não pode me proibir de procurar um bar e tomar um drinque quando tiver vontade.

— Mas não pode me seguir nem ameaçar meu disfarce, em uma investigação policial. Se me prejudicar, apresentarei queixa à promotoria pública pela manhã.

— Não precisa se preocupar. Vamos, Mione. Como eu podia adivinhar que estava trabalhando aqui? Eu só estava passando e...

— Não minta. — Ela chegou a cerrar o punho e erguê-lo, mas se conteve e o encostou na testa.

— É que sinto tanto a sua falta. Penso em você o tempo todo. Não consigo evitar. Sei que não devia ter seguido você... mas tinha esperança de conversar, só isso. Vamos, meu amor... — Dennis a segurou pelos ombros e enterrou o rosto em seus cabelos. — Vamos conversar...

— Não toque em mim. — Empertigada, Hermione tentou desvencilhar, mas o ex-namorado a segurou com mais força.

— Não, não se afaste! Sabe que fico louco quando me trata com essa frieza...

Com dois movimentos, Hermione o teria lançado de costas chão e posto o pé em seu pescoço, mas não queria chegar a esse ponto.

— Dennis, não quero magoar você, mas tem que me deixar em paz. Solte-me agora ou será muito pior para você.

— Não. Vai ser diferente, juro que vai ser diferente. Se voltarmos, eu provo.

— Não. — Rija, Hermione esforçou-se para escapar do abraço. — Solte-me.

A porta da cozinha se abriu, despejando luz para fora.

— A moça pediu que a soltasse — advertiu Harry. - É bom atender.

Hermione fechou os olhos, raivosa e constrangida, além de frustrada.

— Pode deixar que eu resolvo isto.

- Não duvido, mas estamos no meu estabelecimento e aqui mando eu. Tire as mãos de cima dela.

Dennis voltou-se, mas puxou Hermione.

— Estamos tendo uma conversa particular.

— Que já acabou. Entre, Mione.

— Isto não é da sua conta — desafiou Dennis, E cacarejante. — Caia fora.

— Não gostei do seu linguajar.

Hermione se soltou e pulou entre os dois homens quando Harry avançou, com um brilho assustador nos olhos lembrando um raio sobre gelo fino.

— Não. Por favor.

A força bruta não o teria detido agora, nem uma ordem, mas o apelo exausto nos olhos de Hermione conseguiu.

— Entre — repetiu, brando desta vez, apertando-lhe os ombros.

— Então, é isso! — Dennis ergueu os dois punhos cerrados. — Disse que não havia mais ninguém nesta história, mas era mentira. Há quanto tempo dorme com esse sujeito, sua desclassificada?

Harry deu o bote tal qual uma serpente. Hermione já presenciara brigas de rua, até se envolvera em algumas quando trabalhava de uniforme, mas daquela vez pode apenas pular para trás e ver Harry prensar Dennis contra a parede.

— Pare! — pediu, puxando-o pelo braço. Foi como se tentasse deslocar uma montanha.

Harry lançou-lhe um olhar glacial.

— Não. — E deu um murro na barriga de Dennis. — Não suporto sujeitos que forçam e xingam mulheres. — Baixou a voz ao desferir o segundo golpe. — Não admito esse tipo de coisa em meu estabelecimento. Você ouviu?

Solto, Dennis escorregou para o chão.

— Acho que entendeu.

Desolada com os gemidos do ex-namorado, Hermione levou a mão à testa.

— Maravilha. Acaba de espancar um assistente da promotoria pública.

— E daí?

— Ajude-me a levantá-lo.

— Não. — Harry a segurou pelo braço. — Ele chegou aqui sozinho e vai sair sozinho.

— Não podemos deixá-lo caído na rua deste jeito!

— Daqui a pouco ele se levanta. Certo, Dennis? — Impecável em suas roupas negras, Harry agachou-se junto à figura delirante. — Daqui a pouco, você vai se levantar e ir embora. E nunca mais vai voltar aqui. Vai se manter bem longe de Hermione, também. Aliás, se por acaso sentir que está respirando o mesmo ar que ela, vai reter o fôlego e correr na direção oposta.

Com dificuldade, Dennis se pôs de quatro. Os olhos encharcados de lágrimas não ocultavam o brilho do ódio.

— Você a merece... — Cheio de dores, levantou-se. — Ela vai usar você e depois jogar fora. Como fez comigo. Você a merece... — Repetindo a ladainha, tomou um rumo qualquer.

- Parece que é toda minha agora. — Harry endireitou-se e correu os dedos pela camisa, como se removesse fiapos. — Mas, se vai começar a me usar, prefiro que seja lá dentro.

- Muito engraçado.

Atando-a detidamente, Harry notou a piedade em seu olhar.

— Lamento tudo isto. Vamos entrar. Descanse em meu escritório até se sentir mais calma.

— Estou bem. — Apesar da declaração, Hermione lhe deu as costas e soltou os cabelos, como se a presilha a tolhesse. — Não quero conversar sobre isso agora.

— Como queira. — Ele pousou as mãos em seus ombros e fez pressão com os polegares, aliviando a tensão. — Apenas respire fundo, então.

— Odiei quando ele me tocou e me sinto mal por ter odiado. Será que alguém percebeu?

— Não. Segundo Pete, entrou algum conhecido seu, você ficou colérica e o arrastou para fora.

— Bom, se alguém perguntar, vou dizer a verdade. É um ex-namorado que não me deixa em paz.

— Perfeito. — Harry a fez se voltar. — Agora, pare de se preocupar e de se sentir culpada. Não é responsável pelos sentimentos dos outros.

— Sou, sim, se ajudei a criá-los. De qualquer forma ... — Hermione retirou a mão que ele mantinha em seu ombro. — Obrigada. Eu teria me arranjado sozinha, mas obrigada.

— De nada.

Sem poder evitar, ele se aproximou. Observou-a baixar os cílios e erguer os lábios ao encontro dos seus. Estavam quase se beijando quando a porta se abriu derramando luz outra vez.

— Oh, desculpem-me. — Em meio ao barulho de louça da cozinha, Frannie estacou com isqueiro e cigarro posicionados nas mãos.

Hermione afastou-se, furiosa consigo mesma por esquecer as prioridades.

— Eu já ia entrar. Já estou atrasada. — Lançou breve olhar a Harry antes de correr para dentro. Frannie esperou a porta se fechar e foi se recostar na parede. Acendeu o isqueiro.

— Ela é bonita — comentou, com uma baforada.

— É.

— E inteligente. A gente vê.

—É.

— Bem o seu tipo.

Desta vez, Harry encarou a funcionária.

— Acha mesmo?

— Tenho certeza. — A brasa do cigarro brilhou quando ela deu um tragada. — Ela tem classe. É adequada a você.

Era mais difícil do que ele imaginara analisar a verdade com uma velha amiga.

— Veremos.

Frannie já vira tudo. Encaixavam-se como chave e fechadura.

— Qual foi a pendenga com o sujeito de terno?

Harry olhou na direção que Dennis tomara.

— Nada de mais. Um "ex" que não gosta da situação.

— Foi o que pensei. Bem, se quer saber, gosto dela.

— Queria saber, sim, Frannie. — Harry achegou-se e a tocou no rosto. — Sua opinião sempre será muito importante para mim.



Obs:Capitulo 4 postado!!!!Espero que tenham curtido!!!!Desculpem a demora, mas tive problemas com a linha telefonica!!!Logo tem mais atualização!!!Bjux!!!!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.