º Lyn Granger... º



Dois dias mais tarde, deitada num leito suave da ala lateral da casa de saúde, a moça observava o sol brilhante que entrava pela janela aberta, dando um brilho alegre ao chão encerado. O tique-taque do relógio sobre a porta, o ruído dos passos das enfermeiras pelo corredor, o som dos instrumentos cirúrgicos na sala de esterilização, os risos das mulheres na cozinha, tudo era familiar, agora. No momento estava sozinha no quarto, pois a outra paciente que lhe fazia companhia tinha tido alta no dia anterior. A cama vazia cheirava fortemente a desinfetante. No criado-mudo um buquê de crisântemos amarelos exalava um perfume suave.
A porta se abriu e entrou uma jovem estudante de enfermagem.
- O doutor já vem vê-la – os olhos azuis da garota brilhavam de alegria. – Agora preciso ir arrumar as outras camas. Até já.
Suspirou, tinha se tornado amiga da estudante, que gostava de passar por ali para conversar um pouco nos momentos de folga, que aliás não eram muitos, pois a enfermeira-chefe vigiava-a da manhã à noite.
Tinha sido submetida a uma série de testes nos últimos dias, inclusive exames psiquiátricos, mas sua memória continuava rebelde, embora o ferimento já estivesse cicatrizado. Os médicos pareciam não ter pressa. Eram educados e amigáveis, mas não lhe davam qualquer informação sobre seu estado e ignoravam sua sensação de pânico e isolamento.
A porta se abriu outra vez e o médico entrou apressadamente. Era um homem de quase quarenta anos, seco, que parecia estar sempre atrasado, sempre com pressa. Passou os olhos pela ficha dela e sorriu levemente.
- Como está passando hoje? - Olhou para a freira parada atrás dele, séria e fria.
- Muito bem, ela está se recuperando magnificamente. Não há lesões internas e nada a obriga a continuar aqui. Pode ir para casa quando quiser.
Ela tremeu. Para casa? Ficou chocada com tanta falta de sensibili¬dade, mas sua mente confusa sentiu-se aliviada quando Harry entrou no quarto.
Vinha visitá-la todos os dias e sua chegada era sempre recebida com alegria. Sentia-se tomada pela estranha sensação de que ele era o único laço que ainda a ligava ao mundo exterior, o único ser que não pertencia a esse triste mundo do hospital, seu lar no momento.
Ele vestia um casaco de lã e uma camisa marrom aberta no peito, demonstrando força e determinação no rosto viril. Aproximou-se dela e entregou-lhe um buquê de flores silvestres.
- Obrigada - disse encantada.
Cumprimentou o médico, que sorriu com cumplicidade.
- Estava dizendo a ela que não há razão para continuar aqui. A amnésia é passageira, provavelmente provoca da pela batida na cabeça. Segundo os psiquiatras ela tem maiores chances de recuperar a memó¬ria se voltar a um ambiente familiar.
- Entendo - Harry concordou.
O médico sorriu para ela com simpatia.
- Pode ir embora hoje mesmo, se quiser. - Depois disso saiu do quarto em companhia da freira.
Ela olhou desamparadamente para Harry.
- O que vou fazer? Ninguém me procurou... Será melhor avisar a polícia? Alguém em algum lugar deve estar se preocupando comigo.
Harry sentou-se na beira da cama e olhou-a inexpressivamente. - Você me pertence - disse com indiferença.
A surpresa foi tanta que ela só conseguiu abrir a boca e arregalar os olhos, incrédula.
- Seu nome é Lyn - disse com calma. - Lyn Granger. Tem vinte e dois anos e não tem família. Seus pais morreram há muitos anos.
Ela engoliu em seco.
Lyn, o nome soava ligeiramente familiar. Ergueu os olhos, tentando adivinhar o que ele queria dizer ao afirmar, que ela lhe pertencia.
- Se você sabia quem eu era, porque ninguém me disse?
- Decidimos esperar para ver se a memória voltava sem nossa ajuda. Os médicos acharam melhor não forçá-la. No começo pensaram que a amnésia fosse conseqüência de um traumatismo craniano mas, quando descobrimos que não havia lesões que concluíram que a causa devia ser outra.
Ela olhou para ele, espantada.
- Que outra causa?
Os maxilares dele se contraíram.
- Quem sabe?
Ela se sentou, amarrou o laço da camisola com os dedos trêmulos.
- Fale sobre minha vida.... onde vivo? Em que trabalho?
- Trabalhava como assistente em uma galeria de arte. Parou observou-a por alguns instantes. – Até que ficamos noivos.
- Noivos? Os olhos castanhos revelavam incredulidade. – Não, isso não é verdade! Por que não o reconheci quando nos encontra¬mos depois do acidente? Por que se mostrou tão indiferente? Se hou¬vesse alguma coisa entre nós, você não teria agido daquela maneira. Está mentindo... mentindo por piedade. - Seus olhos se encheram de lágrimas e ela escondeu o rosto nas mãos, soluçando. – Não quero piedade, quero a verdade!
Ele se inclinou e abraçou-a, fazendo-a deitar a cabeça em seu ombro.
- Estou falando a verdade - disse baixinho.
- Por que está mentindo? – Afastou-se para poder examinar o rosto duro e sombrio. - Se me conhecesse teria demonstrado isso. Somos estranhos um para o outro.
O rosto dele se contraiu.
- Fiquei admirado quando a vi lá no campo. E também estava com raiva. Tínhamos tido uma briga alguns dias antes e pensei quê você estivesse em York. Assim que a encontrei fiquei furioso, mas quando vi sangue na sua testa levei-a imediatamente para Wind Tor, depois para o hospital.
- E por que não disse que me conhecia? - Recordou claramente o antagonismo que ele demonstrara em relação a ela. A mãe dele também o comportamento estranho dos dois podia talvez justificar-se pelo que ele tinha acabado de contar.
- No começo pensei que estivesse fingindo - comentou com indiferença.
- Por que faria isso?
- Havia razões. Não vamos falar sobre isso agora. Já lhe disse que tivemos uma briga Lyn.
Perturbada e confusa, ela olhou pára ele. Se fossem noivos, certamente sentiria nele algo de familiar, mas tinha certeza de que jamais o vira antes.
- Como foi que nos conhecemos? - Perguntou com cuidado.
- Fiz uma visita à galeria de arte onde você trabalhava - res¬pondeu. - Convidei-a para jantar e três semanas depois ficamos noivos.
- Tão depressa?
Ele sorriu com ironia.
- Algumas pessoas agem depressa - disse em tom estranho.
Ela corou, em dúvida quanto ao significado daquelas palavras.
- Há muito tempo que estamos noivos? – Parecia impossível que tivesse se apaixonado por esse homem – desagradável e ríspido a ponto de concordar em se casar com ele.
- Um mês - respondeu secamente.
- Um mês? - Estava incrédula. Disse timidamente: - Mas... mas é tão pouco tempo.. . mal nos conhecíamos, então.
- Nós nos conhecemos melhor do que você pensa – acrescentou com aspereza.
O sangue subiu ao rosto dela. O que será que ele queria dizer?
Os olhos verdes transpassavam-na como se quisesse ler o que ia por trás dós olhos castanhos e surpresos dela.
- De qualquer maneira - disse ele depois de um longo silêncio - não adianta nada falarmos sobre este assunto. Prometi ao doutor que cuidaria de você. Não pode voltar a viver sozinha naquele apartamento, precisa de alguém que tome conta de você. Não tem alternativa senão voltar para Wind Tor comigo.



Wind Tor ficava num vale protegido na região dos pântanos. A construção maciça de pedra batida pelo tempo parecia flutuar no meio de um oceano interminável de urze. As poucas árvores que rodeavam a casa inclinavam-se na direção imposta pelo vento constante e já começavam a tingir-se de bronze por causa do outono. Alguns corvos que voavam por ali gritaram estridentes quando O Land-Rover se aproximou do pátio atrás da casa.
Harry entregou a ela algumas roupas, dizendo que tinham ficado lá durante sua última visita. As roupas geralmente expressavam a perso¬nalidade do dono, mas aquelas a intrigavam. Será que algum dia teria realmente gostado delas? As calças de seda branca marcavam cada curva do seu corpo e eram tão justas que, ela mal conseguia abotoar o cinto. A blusa, profundamente decotada, deixava à mostra o início dos seios.
Certo dia, no hospital, tinha se examinado no espelho do banheiro e experimentara um profundo sentimento de rejeição. A imagem, refletida parecia não combinar com ela.
Harry olhou-a durante longo tempo, com ar enigmático. Ela sentiu claramente o antagonismo nos olhos dele.
Corando, ela disse:
- Devo ter engordado no hospital, porque a roupa quase não me serve.
Os lábios dele se contraíram com ironia.
- Está procurando elogios, Lyn? Sabe perfeitamente que está estonteante.
- Não queria elogios - gaguejou perplexa.
Neste momento a freira e várias enfermeiras entraram para se des¬pedir dela, que as recebeu com alegria, meio triste por deixa-las.
Tinham sido gentis durante aqueles breves dias e já eram praticamente amigas. As conversas que tiveram sobre os namorados, os jovens médicos, os novos filmes e os pequenos detalhes de suas vidas enchiam-lhe o próprio vazio.
- Você é uma boa ouvinte, Lyn – comentou a estudante de enfermagem, triste por vê-la partir. – Venha ver-nos quando voltar para o check-up.
- Claro que virei! – prometeu Lyn. O mundo delas tinha se tornado o seu próprio mundo durante aquele período. Incrível como uma pessoa se adaptava rapidamente àquela atmosfera opressiva, pensou, passando a entender de temperaturas, pressão sanguínea, horários de visitas médicas e refeições.
Janet, a estudante, lançou a Harry um olhar provocante.
- Vai cuidar dela, não é Sr.Potter? – As visitas de Harry a excitavas. O homem atraente e de olhar cínico era muito diferente dos visitantes habituais do hospital e Lyn percebeu que a garota já era ardente admiradora dele.
- Sim. – respondeu ele brevemente, com uma inclinação de cabeça.
Notando o ar desapontado da moça, Lyn abraçou-a, murmurando-lhe ao ouvido:
- ainda bem que já vou embora, sua sereiazinha. Não gosto dos seus sorrisos sedutores paraHarry!
Janet ficou vermelha como um pimentão, mas esqueceu a frieza de Harry deu uma risada.
- Você diz cada coisa!
Depois que o carro partiu, Lyn virou-se várias vezes para acenar, com lágrimas brilhando nos olhos. A jovem estudante continuou acenando até que o automóvel desapareceu ao longe.
Quando estacionaram no pátio dos fundos de Wind Tor, Lyn tentou reunir forças para o iminente encontro com a mãe de Harry. Relembrando o comportamento inamistoso da mulher, não se sentiu muito entusiasmada com a idéia de revê-la.
- Está se sentindo bem? – A voz de Harry era áspera.
Ela fez que sim com a cabeça, incapaz de falar. A imensidão vazia do pantanal pesava sobre ela, forçando-a a encarar o vazio de sua própria mente. Harry observava atentamente a palidez do rostinho oval, a suavidade dos lábios rosados.
- Por que não usou a maquilagem que levei? – perguntou bruscamente.
Ela ergueu os olhos e balançou a cabeça: No hospital tinha examinado a caixa de pinturas sem nenhum desejo de usá-las.
- Por que não? - tornou a perguntar. - Que comédia está representando agora, Lyn? Que jogo é esse?
- O que está dizendo? - Passou a língua pelos lábios secos: - É que... as cores eram muito escuras, não gostei delas.
Ele ergueu as sobrancelhas.
- Entendo. Desculpe. Não combinam com a cor da sua roupa, não é? Trouxe o que você deixou no seu quarto... não havia mais nada lá.
Ela sentiu as faces quentes. Seus olhos castanhos revelavam surpresa.
- Quarto? – A voz soou insegura.
- Ficou conosco durante duas semanas, não lembra? - Os lábios dele se contraíram. - Já lhe disse isso. Deixou algumas coisas e disse que mandaria buscar depois.
- É claro. - Ela suspirou.
O cão veio latindo ao encontro deles. De repente, parou e começou a rosnar para Lyn. Ela estendeu a mão sorrindo.
- Sam... olá sam.
Por um instante os músculos fortes do corpo esbelto do animal ficaram tensos, depois ele se aproximou e enfiou o focinho na mão estendida, abanando o rabo numa alegre excitação, Lyn ajoelhou-se e acari¬ciou-o, sorrindo.
- Oi menino! - Meu primeiro amigo, pensou, cheia de alegria.
A amizade do cão era para ela, um alívio caído do céu.
Harry ficou parado, observando-os com expressão dura.
- Vamos entrar - disse asperamente - aqui fora está frio e você ainda não está completamente recuperada. Acho melhor ir imediatamente para a cama.
Ela se levantou obediente e acompanhou-o até a casa.
- Isto antes era a sede de uma fazenda?
- Sim, mas antieconômica, porque as terras não são férteis. Criamos galinhas e coelhos para nós apenas, já que mamãe gosta de ovos e carne.
Entraram em uma vasta cozinha de fazenda. Fascinada, ela examinou as paredes imaculadamente brancas, as vigas de carvalho que sustentavam o teto e das quais pendiam réstias de cebolas e maços de ervas secas. Uma longa mesa de carvalho, já gasta pelo tempo, ocupava grande parte da cozinha. A sra. Potter movia-se de um lado para o outro atarefada, enchendo de geléia alguns potes alinhados sobre a mesa.
Lançou um olhar rápido e pouco amigável para Lyn.
- Acho melhor ela ir para a cama – disse, dirigindo-se a Harry. - O quarto já está pronto.
- Estou bem! - disse Lyn, não há nada de errado comigo, prefiro ficar aqui.
- É, acho que prefere – comentou a Sra. Potter novamente ocupada com os potes.
- Venha! – ordenou Harry, segurando-a pelo braço.
- Mas... – Lançou a ele um olhar suplicante.
- Já lhe disse! – começou a senhora Potter bruscamente. - Não a quero em volta de mim o dia todo. Sê faz questão que ela fique, então pode ficar. Mas tire-a do meu caminho, Harry!
Magoada, trêmula, Lyn seguiu-o até o vestíbulo sombiro. Subiu atrás dele com passos incertos, parando de vez em quando. Ele abriu uma porta e ela entrou, olhando em volta com prazer.
O vasto cômodo quadrado era mobiliado com peças antigas e sóbrias e representaria um refúgio seguro para ela naquela casa estranha.
A decoração consistia numa grande cama de madeira entalhada, coberta com uma colcha de seda verde, cortinas estampadas em suaves tons de verde, azul e vermelho, e uma cômoda com tampa de mármore verde. Agradavelmente surpresa, Lyn se aproximou. Passou a mão pela superfície macia. Dando um toque de requinte ao móvel, um jarro e uma bacia de porcelana chinesa.
Harry observava-a com expressão impenetrável. Ela se virou para ele e sorriu.
- É lindo!
Ele não fez comentários, mas seu rosto pareceu enfurecer ainda mais.
- Suas roupas estão no armário.
Ela abriu o guarda-roupa e examinou com incredulidade as roupas caras arrumadas com cuidado. Eram finíssimas, mas não se sentiu atraída por nenhuma delas, pois as cores eram muito fortes e os modelos muito chamativos.
- Você deixou só uma camisola – disse Harry num tom que pareceu irônico. Ele abriu uma das gavetas da cômoda e retirou uma peça minúscula e transparente, que chegava, a ser quase indecente. Lyn olhou para ela e corou.
- É melhor vestir isso e se deitar - disse Harry. – Daqui a pouco trago alguma coisa para você comer.
- Não... não posso vestir isso – murmurou sem conseguir acreditar que algum dia tivesse usado aquilo.
Os olhos dele encheram-se de zombaria.
- Por que não? Já a vi com menos que isso.
Ela quase perdeu o fôlego e arregalou os olhos.
- Não acredito em você. - Engoliu em seco. - Como posso ter certeza de que éramos noivos? O que sei a esse respeito é o que você me diz. Estas roupas. . . não acredito que sejam minhas. . . algumas são indecentes!
Ele examinou-a de alto abaixo com insolência.
- Deixe disso, Lyn. A perda de memória não iria modificá-la tanto. Decentes? Duvido que algum dia tenha sabido o significado dessa palavra. Foi outra vez até a gaveta e tirou alguma coisa que jogou violentamente sobre ela. - Se quer uma prova, aqui está. Agora vou descer e, quando voltar, quero encontrá-la na cama.
Depois que ele saiu ela olhou horrorizada para a fotografia que tinha nas mãos. O rosto era o dela, mas a expressão parecia total¬mente estranha. Estava estendida em um sofá, vestindo um minús¬culo biquíni branco. Ao lado dela, envolvendo-a possessivamente pela cintura, estava Harry.
Lyn continuou olhando para a foto, tentando descobrir ali o seu passado. Não havia como negar que a moça da fotografia era ela própria, nem que o ar de sofisticação era real. Mas o olhar provo¬cante e a atitude sensual eram completamente estranhos a ela. Seria aquele seu verdadeiro eu? Perguntou-se, desesperada. Que espécie de pessoa seria? Atirou-se na cama, soluçando desesperadamente, per¬seguida pelos segredos do passado.
Pela primeira vez sentiu medo de levantar o véu do esquecimento e descobrir a verdade sobre si mesma. Não queria ser como a moça da foto, de ar felino e sensual. . . mas os fatos ali estavam. As roupas, a hostilidade de Harry, a fotografia. .. a situação se tornava cada vez mais desagradável.
Não ouviu a porta se abrir. Os soluços sacudiam seu pequeno corpo estendido na cama. De repente sentiu que tocavam seu ombro. Tentou resistir, pois não queria que a vissem chorando, mas Harry era forte e obrigou-a a virar-se.
Ajoelhado na cama, inclinava-se sobre ela, observando o rosto molhado.
Ela fechou os olhos, fungando como uma criança, tentando limpar com as costas das mãos as lágrimas que insistiam em correr.
- Assim vai ensopar o travesseiro - disse com doçura.
Ela gemeu pateticamente.
- Desculpe. . .
Harry levantou o corpo trêmulo dela e abraçou-a com ternura de encontro ao peito forre. Acariciou-lhe a cabeça recostada ao seu ombro até que os soluços cessaram e os músculos dela se descontraíram. Ela continuou ali deitada, respirando de encontro ao peito bronzeado tranqüila e feliz. A mão dele desceu dos cabelos até o pescoço delicado, sem interromper a carícia. Com um suspiro satisfeito, ela se aconchegou mais nos braços dele, meio adormecida. Agora as mãos de Harry lhe acariciavam as costas e ela relaxou completamente confiante.
Subitamente a carícia cessou e ele se contraiu. Com um gemido ininteligível afastou-a de si. Ela abriu os olhos confiantes e sorriu com gratidão.
Jake olhou-a com desconfiança.
- Aprendeu bons truques, não é Lyn? – disse com ironia. - Meu Deus, você é tão convicente que me deixa espantado, mas não vai me enganar uma segunda vez. O que é que quer que quer, afinal de contas? Já sabe que não há nada que interesse a você aqui. – os olhos dele brilharam de raiva - Ou quer fazer comigo o mesmo que fez com aqueles outros idiotas antes de, se descartar de mim?
As palavras amargas e iradas a pegaram de surpresa, provocando lágrimas de dor e incredulidade.
- Harry, eu...
- Ora, cale a boca! – explodiu – não quero mais ouvir suas mentiras. Não precisa continuar com sua representação, Lyn, não vou me deixar envolver pelo seu jogo.
- Não estou representando – disse ela com tristeza. Sua palidez realçava ainda mais a mágoa dos olhos castanhos.
Ele a observava com uma expressão de rancor, mas o ar de fragilidade que via nos olhos dela fazia-o duvidar de que tudo fosse apenas uma representação.
- Diabo – murmurou entre os dentes – Troque de roupa e vá para a cama, Lyn.
- Não vou vestir essa coisa – disse teimoamente.
Ele hesitou por um instante depois, saiu voltou com uma camisola florida.
- É da minha mãe - disse secamente, jogando-a sobre a cama. Em seguida virou as costas e saiu.
A camisola era um pouco pequena, mas mesmo assim fazia-a sentir-se confortável. Aconchegada entre as cobertas, o único ruído que ouvia além das batidas do seu próprio coração era o rufar das asas dos pássaros que voavam lá fora.
O que teria acontecido entre Harry e ela para que ele se mostrasse tão amargo e revoltado? Dizia que tinham sido noivos e, no entanto, tratava-a com tanto rancor, revelando desconfiança e suspeita por trás de cada palavra. Será que ainda acreditava que a amnésia era uma mentira? Por que teria dito agora há pouco que ela estava querendo envolvê-lo? Mas envolvê-lo em que? Se ao menos conseguisse lem¬brar-se... que espécie de pessoa teria sido para inspirar tanto ódio?
As flores da camisola trouxeram memórias da infância... Infância... a palavra, ecoava em seu cérebro. Por um instante, sentiu que uma lembrança se gitava no interior da sua mente vazia, desaparecendo logo em seguida sem que pudesse captá-la.
A porta se abril e Harry entrou. Ela ergueu os olhos, corando.
- Devia ter batido antes de entrar!
Ele sorriu com sarcasmo.
- Não me idiga que a aminésia transformou-a a esse ponto, Lyn!
Ela arregalou os olhos chocada. O que será que ele queria dizer? Sem desviar os olhos ele disse:
- Pare de fingir. Pode ficar aqui o tempo que quiser. Mas pelo amor de Deus, acabe com essa palhaçada!
Ele colocou a bandeja sobre à cama e saiu. Ela olhou para a comida, tremendo. Qual o tipo de relacionamnto que teriam mantido no passado? Será que costumava entrar no quarto dela com tanta intimidade?
Começou a comer vagarosamente tentando esquecer as palavras amargas de Harry. A comida era simples, mas saborosa: peixe frito com vegetais. Esforçou-se para comer um pouco e depois afastou a bandeija. Será que algum dia se lembraria de alguma coisa? A névoa dos pântanos lá fora foi se adensando da sua cabeça, até que o sono tomou conta dela.
Quando acordou as cortinas estavam fechadas e o quarto imerso nas sombras. Alguém tinha vindo buscar a bandeja enquanto ela dormia.
Levantou-se e caminhou pelo quarto, examinando a mobília. O lugar era agradável, mas Lyn estava começando a temer pelo futuro. Precisava recomeçar sua vida, mas como fazer isso se não recuperasse a memória? Em que poderia trabalhar para, se sustentar? Harry tinha dito que ela trabalhava na galeria de arte, mas que espécie de trabalho seria? Examinou as próprias mãos à procura de uma resposta que não obteve. Uma batida na porta assustou-a.
- Entre – disse correndo de volta para a cama. Harry entrou e olhou-a com tal intensidade que ela corou.
- Até que enfim acordou – disse – faz horas que está dormindo. Está com fome? Não almoçou muito bem.
- A comida estava uma delícia, mas eu não tinha apetite – respondeu educadamente.
- Você nunca foi de comer muito mesmo - ele disse e deu de ombros.
- Harry, posso ajudar em alguma coisa? - perguntou ansiosa. - É aborrecido ficar aqui sozinha. Posso descer e ajudar sua mãe?
Ele franziu as sobrancelhas escuras.
- Ajudar minha mãe? - perguntou com ironia. - Em quê?
- Cozinhando, por exemplo - sugeriu.
- Sabe perfeitamente que não entende nada de cozinha.
- Não entendo de cozinha? - À àbstração intrigou-a. Tinha certeza de que sabia cozinhar, uma certeza natural, instintiva.
- Além disso, mamãe não quer você por perto – comentou , encolhendo os ombros. - Pode trazer o rádio para cima, se estiver aborrecida...
- Prefiro ler um livro - disse sem pensar.
Ele examinou-a com expressão impenetrável.
- Que espécie de livro?
- Qualquer um. Escolha você.
- Está bem. - Saiu e voltou daí a instantes com uma pilha de livros e um rádio transistor. - Vista seu roupão que vou lhe mostrar o banheiro - disse sombriamente.
Era um cômodo pequeno e escuro, com um aquecedor de água preso ao teto. Segundo Harry, o aparelho era temperamental e ruidoso, mas cumpria bem sua função. Ele deixou-a lá e saiu. Depois de tomar um banho reconfortante, ela voltou ao quarto ecomeçou a folhear os livros. Conhecia dois deles, que riu com ansiedade. Di¬ckens... reconheceu as ilustrações excêntricas, exageradas, engra¬çadas. Será que trariam alguma luz à sua mente?
Eram encadernados com um material vermelho, já gasto pelo, tem¬po. As folhas estavam amareladas. Começou a ler um deles e a sensacão de familiaridade persistiu, nas palavras e à história. Mas; embora fizesse um grande esforço, não conseguiu se lembrar de quando e onde o havia lido. Suspirou. Seriam lembranças da infância? Por que não conseguia se lembrar?
O psiquiatra tinha dito que muitas coisas lhe pareceriam familiares: música, poesia, determinados fatos, mas que a memória ficaria temporariamente apagada. Olhando para ela sem curiosidade, ¬por cima dos óculos, impessoal e distante, como se estivesse acostumado a fatos como esse, tinha dito:
- É claro que, subconscientemente, você sabe quem é. Utilizando determinadas técnicas pode-se chegar à verdade, mas isso não é relevante. Você é que tem que trazer à tona o passado escondido por uma razão qualquer, você fechou a porta de ligação entre o hoje e o ontem, talvez paea se proteger. Quando cessar o desejo de esquecimento, a porta se abrirá voluntariamente.
Lyn suspirou e tentou concentrar-se no livro, o que foi conseguindo aos poucos.
Algumas horas mais tarde, Harry bateu à porta e entrou com um copo de leite quente, dizendo calmamente que era hora de apagar a luz. Ela se rebelou quando ele tirou o livro de suas mãos.
- não estou cansada, já dormir muito hoje.
- Você está aqui para recuperar forças – disse com firmeza. – Quanto mais descansar, mais depressa voltará ao normal.
- E mais depressa irei embora da sua casa.
- Exatamente! - Concordou ele. - Da minha casa e da minha vida para sempre!
Ela ergueu o queixo, como um desafio.
- Você me odeia, não é Harry? Você disse que fomos noivos... mas não vejo aliança alguma no meu dedo e suspeito de que essa história de noivado seja uma grande mentira.
Olhos dele faiscaram de raiva.
- Você tem um anel, Lyn. Fui suficientemente estúpido para lhe comprar uma safira esplêndida... e você imediatamente respondeu que preferia um diamante e que, mesmo isso não era bastante bom pra você.
Ela piscou, surpresa. Sentiu o rosto quente.
- Devia estar zangada quando disse isso. Gosto muito mais de safiras do que de diamante - mordeu o lábio. – Por que o anel não está comigo? Por acaso eu o devolvi a você?
- Não, não devolveu.
- Onde está então?
- Com certeza na vitrine de alguma joalheria. Deve ter conseguido muito dinhei por ele.
Os olhos dela brilhavam furiosamenete.
- Jamais faria uma coisa dessas. Como ousa falar assim comigo?
- Por que conheço o seu lado mercenário – respondeu selvagemete.
Profundamente ferida pelo tom impiedoso, deitou-se e puxou as cobertas até a cabeça para esconder as lágrimas que teimavam em correr pelas suas faces. Momentos depois a luz se apagou e o quarto mergulhou na escuridão.
- Boa Noite – disse Harry em tom de desprezo.
Agitou-se durante muito tempo na cama sem conseguir dormir tentando desvendar o mistério que a envolvia. Será que a amnésia estaria ligada ao que acontecera entre ela e Harry? E se fosse, até a galeria de arte onde trabalhava antes? Talvez encontrasse al¬guém que pudesse despertar a memória adormecida. Mas se nem Harry nem a mãe dele, que a conheciam bem, quiseram ajudá-la, por que outra pessoa o faria?
Lá fora o vento assobiava melancolicamente pelos pântanos, fa¬zendo-a recordar o momento em que abrira os olhos e se encontrara naquele lugar deserto e inóspito, como um náufrago perdido numa ilha deserta, sem a companhia reconfortante de outro ser humano, sem sua própria identidade.
Tremeu ao pensar nisso. Subitamente lembrou-se do hospital, da alegre estudante de enfermagem e de suas confidências, de todos os ruídos que a rodeavam lá. Qualquer coisa era melhor que aquele profundo isolamento.
Exausta de tanto esforço mental, finalmente adormeceu.

--------------------------------------------------------------------------------------

Bom gnt, ta ae o cap. 2º... Mto obrigada a todos que visitaram a fic e que leram..
pode parecer estranho.. lyn? sendo fic HH ne?
mais qm realmente é essa lyn? esse é o grande misterio da fic.. algum palpite??
mto obrigada especialmente a:

* Laninha Potter * : Oiii.. joia lana? O nome do livro que eu tirei é o mesmo da fic.. é universo alternativo sim, e espero que vc continue gostando da fic cada vez mais.. mto obirgada pelo comentario e por te-la add nas preferidas.. abraços!!!


* Gabih!* Potter Black * Mto obirgada pelo seu comentario.. O 2º cap. acabo de sair.. ta ae!! espero que aprove e goste.. abraços!!


* fatGIRLslim! * Oi.. mto obrigada pela visita e comentario, sua fic é maravilhosa.. vou continuar lendo-a.. obrigada.. até..!!


* Mione_Potter_love * Oiiii Mi.. joia? a fic é confusa no começo sim, mais espero que voce continue lendo-a e que goste cada dia mais.. mto obrigada pelo coments..!! abraços!!


* nubia * Oii voce tb ja leu o livro? eu ameii.. tanto que a fic ta ae!! espero que goste mais ainda dela em fic.. o proximo cap ta aeee..!! espero que goste... abraços!!


* Janie * Oii.. espero que goste da historia, e aprove no final.. obrigada!!


* thamila moliterno * Que bom que vc gosto da fic..!! espero que ela agrade voce sempre..!! obrigada e espero que goste desse novo cap.

* Poly Figueiredo *Oiii.. o pq o Harry tem tanta raiva? Bom, isso no decorrer da fic com certeza voce ira saber... ahuahuah o cap. ta ae..!! mtissima obrigada pelo seu coments..!!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.