Sétimo Capítulo



—Que você está fazendo? — ele perguntou, demonstrando incredulidade.
Mas era óbvio o que ela estava fazendo. Uma maleta estava aberta sobre a cama dentro da qual ela jogava as roupas apressadamente, como se fosse de uma criminosa prestes a fugir.
—Hermione! — ele gritou, ao não obter resposta.
—Estou indo embora — ela respondeu, lutando para se manter firme diante das emoções contraditórias.
—Você não vai sair daqui! — ele replicou, severamente, apesar de se sentir inseguro.
Quando ele se aproximou, Hermione se voltou em um sobressalto, com uma expressão tão alterada como ele nunca havia visto na vida.
Cara… — ele murmurou roucamente. — Por Deus...
—Vou deixá-lo, Harry! — ela exclamou, com a voz alterada. —Hoje à noite! Nunca mais quero vê-lo.
Apesar de perceber o esforço que ela fazia para dizer aquilo, Harry não se sentiu melhor. Percebeu que ela realmente ia partir e que estava morta de medo.
Quando ela se voltou para continuar a arrumar as coisas, ele deu um golpe na maleta que a fez cair ao chão. Roupas se espalharam para todos os lados, peças simples como um jogo de roupa íntima, algumas saias, tops...
Ele tentou entender seu próprio comportamento... Precisava encontrar evidências para provar alguma coisa a si mesmo, mas teve de se conformar. Isso porque mulher alguma havia deixado Harry Potter somente com as roupas com as quais havia chegado!
Nenhuma mulher deixava Harry Potter.
—Você não vai a lugar algum antes de me responder algumas perguntas — ele resmungou, agarrando-lhe a mão. — Talvez depois que fizer isso, eu possa querer vê-la pelas costas. — Ditas essas palavras, ele a puxou, conduzindo-a atrás de si escada abaixo, apesar do esforço que ela fazia para se libertar.
Escancarando a porta, ele a forçou a entrar no escritório. Ainda segurando-a pela mão, digitou o número no painel do compartimento secreto e a introduziu no aposento. Depois a levou para frente do quadro Mulher no Espelho.
— Agora, vamos começar — ele disse, com a voz alterada. —Quem é ela?
Anastasia, Hermione pensou, emocionada, lutando para não irromper em choro. Era a triste, trágica e bela Anastasia.
— Espelho, espelho — ela sussurrou, enigmaticamente.
— O que quer dizer com isso? — Harry perguntou atônito.
Não adiantava querer mentir; tentar fingir que não sabia de nada. O jogo terminara. Hermione tinha de se expor como a fraude que era.
—Esta — ela disse —, é Anastasia...
Harry precisou de alguns momentos para entendê-la, por fim se conscientizar, e perguntou com um tom de horror na voz:
—Meus Deus! Está querendo dizer que ela é a sua irmã gêmea?
Um soluço irrompeu da sua garganta, e as lágrimas começaram a rolar dos seus olhos cor de âmbar, porque Anastasia teria adorado estar ali para ouvir aquele homem importante dizer aquilo.
—Não, ela não é minha irmã gêmea — ela murmurou baixinho. —Ela era a minha mãe... Minha pobre, desventurada e assombrada mãe — ela ficou a murmurar, enquanto o silêncio se tornava obsessivo ao redor deles.
—Mãe — Harry repetiu, sem poder acreditar. — Está querendo dizer que você e Draco na verdade...
Ele parou de falar.
Hermione voltou-se para olhá-lo.
Harry estava completamente aturdido pelo choque, horrorizado.
—O quê? — Ela logo indagou ao sentir a raiva surgir da percepção do que ele poderia estar imaginado. — Nós nos unimos para enganar os outros? Sim! — ela admitiu abertamente a fraude. — Quer saber se eu posei nua para Draco para que ele fingisse que eu era a minha mãe? Não! Eu não fiz isso. — ela negou. — Draco e minha mãe foram amantes durante dez anos! Ele a adorava. E respondo não novamente, antes que você tire conclusões errada. — ela acrescentou friamente. — Draco não partilhou da cama da minha mãe ao mesmo tempo em que partilhou da minha!
—Eu nunca imaginei isso... — Harry começou a se justificar.
Entretanto, ela o interrompeu, cheia de ressentimento.
—Você sempre imaginou isso! — ela exclamou. — Desde o começo, você imaginou que nós dois éramos amantes. Draco é meu amigo! — ela acrescentou. — Um amigo querido que chegou em nossa vida quando realmente precisávamos de alguém carinhoso e generoso como ele! Nós dois cuidamos de minha mãe durante a sua interminável e miserável doença. E qual foi o resultado daqueles anos de escuridão? —Ela fez um gesto com a mão, indicando a pintura. — Minha mãe queria que ele sempre se lembrasse dela. Mas, não destruída e acabada como ficara quando estava perto do fim!
As lágrimas inundaram os seus olhos, o corpo sacudido pelos soluços incontroláveis.
—Então, ele pintou uma mentira — Harry disse taciturnamente.
—E se for isso? — ela replicou. — O que importa aos outros se a imagem não corresponder à realidade cruel?
—Por isso o espelho!
Harry era muito bom em interpretar obras de arte, e Hermione tinha de reconhecer isso.
—Reflete o que era — ela confirmou. — Draco poderia pintá-la, ainda agora, exatamente assim. Ele a amava muito...
—Ainda que fosse rápido em vender os quadros quando a oportunidade surgia — Harry acrescentou cinicamente. — E se apressou em fazer com que você se passasse por ela, para conseguir notoriedade às vendas!
—Eu não disse que ele era perfeito — ela redargüiu. — E as pinturas foram exibidas antes que minha mãe morresse! — ela esclareceu. — A seu pedido! Para prazer dela! Ela se divertia quando as pessoas me tomavam por ela! E tudo o que a tornasse feliz, eu e Draco fazíamos! — Os olhos de Hermione brilhavam ao dizer isso, sem vislumbre de arrependimento.
Harry, entretanto, estava amargurado.
—Tudo bem... Mas você não acha que devia me dizer a verdade?
—Por que eu deveria? — ela respondeu indignada. —Você conseguiu o queria, Harry — ela lhe disse. — Conseguiu a mulher que estava na pintura. Você não tinha interesse por mim, queria apenas poder realizar uma fantasia!
Harry empalideceu, seu corpo se contraiu na confrontação.
—Isso não é verdade — ele se defendeu.
—É verdade, sim — ela insistiu. — Deixe de lado a glória de eu ser a modelo sensual dos quadros de Draco Malfoy e toda a atração se esvairá. Sempre soube disso.
Harry se manteve calado. Para ela, aquele silêncio dizia tudo. Olhando para a figura da mãe, uma vez mais, Hermione tocou com os dedos a marca de nascença que ela tinha no ombro. Sorriu e disse:
—Eu a amo. — Deixou de sorrir e se dirigiu para a porta.
—Para onde vai?
Ela se deteve, mas não olhou para trás.
—Para minha casa — ela murmurou. — Não há nada meu aqui.
—Eu estou aqui — Harry disse baixinho.
—Não, você não está. — Hermione sacudiu a cabeça. — Você está em um lugar onde eu nunca poderei alcançá-lo. É o que chamamos de escala social. Você não se importa de descer para as esferas mais baixas para se divertir de vez em quando. Mas quando se trata de elevar alguém até o seu status... Não há essa possibilidade!
Ela riu com amargura. — A elite se casa com a elite. Querido, vá que sua mamãe o está esperando.
—Deixe minha mãe fora disto — ele grunhiu, com raiva.
—E por que deveria? — ela se virou para perguntar.
Harry se mostrava tão sombrio e remoto que parecia já estar de volta ao seu lugar no status social, bem distante dela.
—Na verdade — ela disse, —estou muito agradecida à sua mãe pelo que ela fez hoje à noite. Ela me fez perceber como estive perdendo tempo ao viver com você aqui.
—Acha que perdeu tempo porque eu não a pedi em casamento? —ele retrucou, com desdém. — Porque não viu resultado no investimento que fez a longo prazo, cara?
Dê a um homem o que você acha que ele quer. Minta para ele, engane-o se necessário, com o intuito de receber de volta todos os dividendos?
Era assim que ele se via?
—Seu bastardo arrogante! — ela disse, cheia de indignação. — Eu investi no amor! — ela exclamou. — Como se o meu amor por você fosse suficientemente forte para fazer com que você gostasse de mim! Mas isso nunca aconteceu. Não foi, Harry? — Seus olhos começaram a brilhar como o diamante que levava preso ao colar. —E mesmo depois de um ano de vida em comum, você se envergonha de mim e recua de medo diante da desaprovação da sua mãe.
—Eu não me envergonho de você! — ele redargüiu enraivecido. —Envergonho-me da minha mãe!
Mas Hermione a já não estava ouvindo. Saíra do escritório, depois de dizer suas últimas palavras. Por alguns momentos, ele permaneceu ali, permitindo que ela se fosse para manter a dignidade. Lembrou-se depois da maleta jogada no chão do quarto e calculou quanto tempo ela precisaria para refazê-la.
Tomado de raiva, começou a praguejar. Odiava se sentir assim!
Ela estava no quarto, de pé com a maleta na mão.
—Está bem! — ele exclamou. — Case-se comigo! Se isso vai fazer com que você esqueça esta idiotice. Case-se comigo!
Ela se voltou para olhar para ele, com uma expressão indefinida nos olhos.
Abalado profundamente pela própria proposta e à espera da resposta, ele a observou se aproximar com uma expressão enigmática.
—Vá para o inferno, Harry! — ela murmurou vagarosamente, forçando-o a lhe dar caminho para passar.
Demorou para que ele se desse conta do que havia acontecido. Ouviu a porta do hall se fechar. Olhando ao redor, para o caos que ela havia deixado, sentiu-se como um homem no meio de ruínas, sem saber como tudo havia terminado.
Finalmente, conseguiu se mover e caminhar através das roupas atiradas no chão. Sentou-se na cama e inclinou-se para frente, com a cabeça entre as mãos.
Ele poderia agir como fizera anteriormente e ir atrás dela. Mas isso não lhe parecia uma boa opção dessa vez. Ela precisava se acalmar, e ele precisava retomar as rédeas dos acontecimentos!
Em um minuto era ele quem tinha todas as razões, no seguinte fora Hermione que descarregara todas as queixas contra ele. Suspirou profundamente, procurando se desfazer da raiva e da frustração, já que muito do que ela dissera era verdade!
A mãe dela... Ele ergueu-se repentinamente. Dirigiu-se de volta para o escritório, e parou de frente para o quadro, de onde ficou olhando para o rosto que ele acreditara conhecer. Entretanto, as diferenças já se manifestavam claras, como se alguém houvesse alterado certos detalhes com um pincel. A curva das sobrancelhas, o formato da mandíbula, a forma como o pescoço esguio se ligava aos ombros bem formados. A marca de nascença que ele presumira ser um descuido do pincel do pintor. Todas as diferenças sutis que só um olhar experimentado poderia notar.
Ele imaginara possuir um olhar experiente, acreditara ser um grande conhecedor, quando realmente era um dos que somente viam o que queriam ver. Agora ele podia olhar para aquela triste criatura e perceber uma centena de diferenças que existiam entre ela e a bela filha. Até parecia pecado. Sempre considerara Malfoy um voyeur e não estava se sentindo confortável ao perceber que o verdadeiro voyeur havia sido ele.
Teve vontade de tirar o quadro da parede, desfazer-se dele e esquecer para sempre que o vira. Mas aquela era a mãe de Hermione, ele pensou, tristemente. Hermione amara aquela mulher. Desfazer-se do quadro seria rejeitar alguém que era precioso para Hermione, como sua própria mãe era para ele.
Apesar disso, ele não queria pensar na mãe naquele momento.
E Hermione nunca se demonstrara incomodada com a nudez na pintura. Sua tristeza estava em ver alguém que amara e perdera, não a nudez em si.
Hermione havia vivido durante dez anos com um artista especializado em pintar formas femininas nuas. Ele tinha um dom. Não, era um gênio no gênero! Sendo assim, era natural que ela aprendera a ver a nudez como algo a ser apreciado como arte, e não algo a que se tinha de virar as costas com vergonha. Como acontecera com ele, até que descobrira para quem ele realmente estivera olhando!
Desde quando ele havia desenvolvido uma visão intolerante a algo tão especial?, Harry se perguntou. Aquilo era arte! Arte de um mestre! Se estivesse em boas condições mentais, teria comprado algumas das últimas obras de Malfoy. Não só como investimento, mas por que gostava do que Malfoy pintava!
Mas quem havia pintado a imagem de Hermione nua?, ele se perguntou depois, sentindo cair por terra toda a sua certeza. Sentiu raiva quando se conscientizou de que poderia aceitar Malfoy como o pintor do retrato dela, mas não algum outro homem.
Como ela conseguira desviar sua atenção a ponto de ele se esquecer sobre sua dúvida de quem fora o autor? E também havia a incógnita sobre qual a importância de Anton Gabrielli naquela história toda.
Atrás de Harry, o telefone começou a tocar. Isso o distraiu do pensamento que começava a irritá-lo novamente.
Aproximou-se da escrivaninha, incerto quando a atender ou não. Seria sua mãe? ele se perguntou. Querendo dizer da sua desaprovação com mais detalhes? Ou Malfoy desejando saber se Hermione ainda estava viva?
Deixou que a secretária eletrônica atendesse. No momento em que o telefone deixou de tocar, ele já havia fechado a porta do escritório. Não queria falar com ninguém.
Queria apenas Hermione. Mas não ainda, ele considerou, com o ar sombrio. E muito menos naquela noite. Somente quando aqueles sentimentos horríveis houvessem cessado de o atormentar.

Hermione tremia por dentro, o esforço para conter as lágrimas dificultava-lhe a respiração. Sem realmente saber o que estava fazendo, encaminhou-se para a cama, começando a se despir.
O zíper se prendeu na altura dos omoplatas. Ela lutou com ele, por momentos, com a cabeça abaixada e os olhos concentrados no diamante do colar. O zíper não queria deslizar, o que parecia um reflexo da noite que tivera. Dando um suspiro de frustração, ela dirigiu a atenção para o colar. Removeu-o e depois ficou ali olhando para o nada.
Teria ele realmente tido a ousadia de lhe oferecer casamento, para depois ficar com uma expressão de quem cometera um pecado mortal?
Ela se engasgou com o choro incontrolável. Deveria odiá-lo, deveria odiá-lo pela forma como formulara o pedido, mas não era ódio o que ela estava sentindo, era dor, porque ele não falara com sinceridade. Apenas estava determinado a não se deixar vencer! Que noite terrível! Que miserável noite de revelações!
A noite começara com Draco revelando aquela pintura sem avisá-los. Depois o incidente com a mãe de Harry, para aumentar a sua mortificação. E como se tudo não houvesse sido suficiente, ela teve de se encontrar com Anton Gabrielli! Um arrepio de ódio lhe percorreu o corpo. Como ele ousava pronunciar o nome de sua mãe, depois de tudo o que provocara!
Mas fazê-lo diante de Harry e de todos ultrapassou todos os limites do aceitável, e ela jamais lhe perdoaria. Ele havia sido a razão da ruína final. Fora a razão de ter de ir embora, com o risco de provocar um escândalo que Harry jamais perdoaria.
Será que Anton Gabrielli sabia? Teria ele percebido que se deparara frente a frente com a sua filha?
Não, ela pensou. Ela não era filha dele. Ele era meramente a semente que propiciara a sua concepção. Ela nunca o conhecera, nunca o havia encontrado e nem queria isso. De fato, ela preferia continuar a ser conhecida como a famosa Mulher do Espelho do que reclamar a paternidade de um homem que havia abandonado a sua mãe, logo que soubera que ela estava grávida.
E qual fora o argumento dele? Homens como eu não se casam com a amante. Não é a sua função.
Por Deus, como o odiava!
Portanto, devia odiar Harry também, já que ele usara palavras semelhantes, não havia muito tempo. O que sua mãe diria se soubesse sobre Anton Gabrielli? Ela poderia alegar que Hermione herdara o pecado da mãe. A mesma aparência, as mesmas pinturas, a mesma atração por milionários italianos altos e morenos!
A amargura e as lágrimas a embalavam. Ela se voltou para a porta, com a intenção de se manter fiel à decisão primeira de ir embora dali!
Mesmo quando chegou junto da porta, sentiu que não podia fazer aquilo! Oh, o que seria dela se não conseguisse partir, quando não restava mais nada para ela ali?
Eu estou aqui, dissera Harry.
Envolvendo-se nos próprios braços, ficou a repetir aquelas palavras como uma cantiga monótona, enquanto se encaminhava para as portas amplas que davam acesso ao terraço.
Abrindo uma delas totalmente, saiu para o ar fresco, com a intenção de se recompor da extrema confusão em que se achava. Dirigiu-se para uma espreguiçadeira, tirou os sapatos, sentou-se com os joelhos dobrados, apoiando o queixo sobre eles.
O terraço era uma das partes mais agradáveis do apartamento que abrangia toda a extensão do prédio. Quando Harry oferecia alguma das suas festas extravagantes, todas as portas eram abertas, de modo que todas as salas que davam para o terraço podiam ser usadas para as mais diferentes atividades, e o som da música e as risadas ecoavam por toda parte.
Entretanto, naquela noite tudo estava silencioso, como ela nunca vira. Mesmo o constante tráfico de Milão, abaixo dela, parecia ter diminuído.
Ou talvez fosse ela quem estivesse diferente, Hermione ponderou, tristemente. O destino a havia tratado naquela noite de maneira a fazê-la aceitar sua própria realidade.
Mas ela não queria a dura realidade, ela pensou dando um suspiro. Queria que as coisas voltassem a ser como antes, mesmo com mentiras, incertezas e tudo o mais.

Depois de tanto tempo, vocês devem querer matar-me. Kkk Mas e aí, entenderam o capítulo? Muito espantados? De queixo caído?
O Harry foi um fofo quando disse “Eu estou aqui” … E espero que o entendam, de certo modo, ele é muito orgulhoso, e ficou mesmo abalado com a verdade, normal as pessoas agirem por impulso e pareceram umas idiotas e estúpidas depois...
Pobre Mione, está de rastos… Tadita. Mas tudo vai melhorar… Ela vai ter o que tanto quer… sim…
Se tiverem alguma pergunta, dúvida, eu estou aqui.
Nos vemos no próximo capitulo.

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