Sexto Capítulo
A Galeria Romano desfrutava de prestígio no famoso Quadrilátero. Sua fachada era de vidro e moldura de aço preto, e o nome de Rosetta Romano aparecia em letras discretas na porta de entrada.
Não demonstrava classe, mas só as pessoas de posses ousavam visitá-la. Um recepcionista de terno escuro recebeu Harry e Hermione.
—Buon giorno, signor Potter... Signorina.
O interior da galeria era uma demonstração de concepções artísticas. As paredes e o chão eram brancos, e uma escada, também branca, conduzia para as salas principais de exposição. Spots negros estrategicamente colocados em uma das paredes, aumentava a perspectiva das obras.
Com a mão apoiada em sua cintura, Harry conduziu Hermione para a base da escada. Subiram-na juntos, indo de encontro a dois garçons que os esperavam com bandejas de prata, cheias de taças de champanhe. Nenhum dos dois aceitou a bebida. Seria impossível devido à tensão que aumentava desde que haviam deixado o apartamento.
Ela havia pensado em telefonar para Draco para obter informações sobre a pintura, e assim decidir se iriam ou não à galeria. Entretanto, duas coisas a haviam detido. Uma tinha a ver com lealdade, falar com Draco justamente naquele momento parecia colocar em dúvida sua lealdade para com Harry. E a segunda era porque sabia que Harry iria insistir em comparecer à vernissage, não importava o que ela decidisse. Draco o havia desafiado, e Harry daria o próprio pescoço para comparecer e manter intacto seu orgulho masculino.
Hermione pensara em várias possibilidades, lembrara-se de todas as pinturas dos dias em que vivia com Draco, procurando se recordar de alguma que ele não houvesse ainda exibido em público.
Não conseguia lembrar-se de nada em especial, o que a fazia ficar mais preocupada, já que ele deveria ter algo em mente, uma vez que fizera insinuações a Harry.
Hermione estava vestida de preto, da cabeça aos pés, tinha os cabelos presos no alto da cabeça por uma fita de veludo preto, e como único adorno uma grossa corrente de ouro enfeitada com uma gota de diamante que Harry havia colocado em seu pescoço pouco antes de deixarem o apartamento. O diamante contrastava com o negro do vestido e cintilava conforme ela andava.
—Estonteante. — Harry havia dito. — Adorável demais para se resistir. Perfeita demais para se tocar.
Mesmo assim, ela ainda não merecia usar o seu sobrenome, ela pensou, com uma ironia que estava longe de ser bem-humorada.
—Ah, buona será! — Rosetta Romano aproximou-se para saudá-los, com a extravagância peculiar a uma anfitriã italiana. —Harry, mi amoré... — ela o pegou pelo rosto e a aplicou-lhe beijos em ambas as faces. — Já faz um ano que você não vem aqui!
Era uma reprimenda feita da forma mais delicada possível. Enquanto Harry respondia polidamente, Hermione observava Rosetta Romano, que havia sido, no seu tempo, famosa por escolher maridos pelo tamanho das suas carteiras. Agora que sua beleza aos poucos a abandonava, preferia ser conhecida pelo seu faro artístico. Todos os grandes nomes haviam exibido suas obras naquela galeria. Dois anos atrás, Draco não teria tido chance alguma. Agora...?
Rosetta se voltou para Hermione. Os olhos argutos se estreitaram.
—Sim. — ela assentiu com a cabeça. —Vejo que sim. Draco me havia assegurado. Buona sera, signorina Granger. — ela a cumprimentou com um sorriso enviesado. —É um prazer finalmente conhecê-la.
Beijos em ambas as faces era uma necessidade em Milão. O que ela sussurrou no ouvido de Hermione, não.
—Draco é um homem terrível. Espero que você esteja preparada.
Não. Ela não estava, mas não demonstrou, mantendo o auto-controle. Entretanto, não pôde evitar sentir um frio correr-lhe espinha abaixo. Harry percebeu e a atraiu para si.
—O que foi que ela lhe disse? — ele perguntou, quando Rosetta se afastou para saudar outros convidados.
Hermione nem tentou dissimular a apreensão.
—Ela queria saber se eu estou preparada para o que vai acontecer.
—E você está? — ele perguntou laconicamente.
Ela lançou-lhe um olhar.
—A questão é: você está? — ela rebateu friamente. — Você parece acreditar que tudo que diz respeito a mim e a Draco destina-se deliberadamente a atingi-lo.
Ela estava certa, e Harry sabia disso. Contraiu a mandíbula, mas depois foi forçado a sorrir amavelmente para alguns amigos que se aproximaram. Sempre com o braço ao redor da cintura de Hermione, Harry conversou rapidamente com os convidados, e ficou procurando ver Draco no meio dos convidados que não paravam de chegar. Ele ainda não havia chegado.
O que Draco pretendia? Por que estava fazendo com que a tensão aumentasse tanto?
As pessoas começaram a preencher as salas adjacentes. Esgueirando-se entre elas, Harry conduziu Hermione para a galeria principal. Juntos ali ficaram, juntos aceitaram o que lhes serviam, juntos começaram a se aborrecer.
Isso porque nada havia nas paredes que pudesse confirmar o desafio, pelo qual Draco os havia atraído para lá. Isso se não se contasse com o fato de Draco haver encontrado um novo tema em que aplicar o seu talento.
A modelo era alta, negra e exoticamente diferente, o corpo esguio emanava uma sensualidade que perturbava os sentidos. A pele sedosa pedia para ser tocada, acariciada. Entretanto, como era usual com as pinturas de Draco, eram os seus olhos o ponto máximo de atração.
Nenhum sinal de espelhos ou fantasmas, mas uma escuridão luxuriosa que parecia encerrar todos os segredos do mundo.
Entenderam que naquelas molduras se encontrava a salvação de Draco.
Ele havia se libertado.
—Você está bem? — Harry perguntou rispidamente.
—Sim. — ela sussurrou, mas não estava.
Harry percebeu que ela estava à beira das lágrimas enquanto olhavam os quadros.
—Ela é incrível, não acha? — Hermione procurou disfarçar seu constrangimento.
—Bellisima. — Harry concordou simplesmente. Ele estava feliz com o que estava vendo, mas queria torturar Malfoy por escolher aquela forma de dizer que finalmente havia encontrado alguém que merecia o empenho da sua arte.
—Pela sua resposta, presumo que não saiba nada sobre ela, não?
—Nada. — ela respondeu, engolindo as lágrimas.
—Talvez devesse perguntar a ele. — Harry sugeriu, voltando sua atenção para onde Draco Malfoy estava desde que chegara, não muito longe deles, observando a reação de Hermione com uma intensidade que fez o sangue de Harry ferver.
Ela virou a cabeça, reteve a respiração por instantes e se separou de Harry. Sem uma palavra, atravessou a sala em direção a um homem que sempre exercera um grande poder sobre ela, para intranqüilidade de Harry. Carrancudo, ele a viu parar a uma certa distância de Draco, inclinando a cabeça quando desejava fazer uma pergunta. Viu Draco Malfoy sorrir e desejou bater naquele bastardo egoísta!
—Quem é ela? — foi a pergunta que Hermione fizera a Draco.
—Minha salvadora. — Draco respondera, com o mesmo sorriso.
—Como ela se chama? — ela perguntou.
—Tanya.
—Tanya... — Hermione repetiu, voltando os olhos para o quadro mais próximo, onde o sorriso de Tanya demonstrava conhecer a necessidade de todos os homens. — Combina com ela. — ela murmurou. Depois, começando a rir, atirou-se nos braços dele. — Oh, estou tão feliz por você! — ela exclamou.
Do outro lado da sala, Harry desviou os olhos da cena para também observar a pintura em sua frente, como se não sentisse nada ao ver sua mulher se lançar nos braços do ex-amante novamente. Alguém parou ao seu lado.
De certo que tinha de ser Gina.
—Eu realmente admiro a sua confiança naqueles dois, Harry. —ela murmurou, cheia de intenção. — Agora, se ele por ventura me pertencesse, eu já teria arrancado os olhos dela.
—Mas acontece que ele não lhe pertence. Ele pertence a ela. —Harry respondeu, indicando a bela mulher negra, cujo corpo nu e sensual se via retratado em todos os quadros. — E Hermione — ele acrescentou suavemente. —, pertence a mim.
Ao dizer aquilo, afastou-se, sem vontade de se submeter a diz-que-diz naquela noite. Queria sua mulher de volta, e naquele momento!
—Quando posso encontrá-la? Onde ela está? — Hermione estava perguntando a Draco.
—Voltou para Londres, para fugir de você. — ele respondeu vagarosamente. — Na hipótese de eu estar errado em relação a você, e você estar secretamente apaixonada por mim.
Ouvindo o ataque de riso de Hermione ao se aproximar, Harry também ouviu Hermione responder rindo:
—Certamente você lhe disse que eu sempre o amarei?
—Olá, Harry. — Draco o saudou, um pouco secamente. — Veio reclamar Hermione?
O homem parecia ler pensamentos.
—Temos de ir embora. — Harry respondeu, com delicadeza. —Outro noivado. —ele inventou com naturalidade.
No momento em que começou a falar, Hermione ficou ao seu lado, dando-lhe o braço, em uma demonstração pública que o agradou.
Mas por que ele se sentia em segundo plano quando ela agia daquela forma?
Sentiu uma ponta de irritação. Nunca havia ficado em segundo plano em sua vida!
—Posso pedir a opinião de um especialista em arte? — Malfoy perguntou, dirigindo-se para Harry, com uma expressão de desafio.
Mas Harry não queria continuar ali, muito mesmo aceitar o jogo de Malfoy. Queria ficar sozinho com Hermione em algum lugar tranqüilo para fazê-la se esquecer do nome de Draco Malfoy!
Dessa forma, respondeu apenas:
—Você deve saber que conseguiu o sucesso novamente. — ele disse, demonstrando sinceridade. — Já vendeu os direitos de reprodução?
—Ainda estou negociando. — Draco respondeu, sorrindo. Depois, acrescentou: — Obrigado, Harry, sua opinião é muito valiosa para mim.
Viu que Hermione sorria para Draco toda feliz, como se o elogio de Malfoy houvesse sido uma deferência especial. Isso o fez querer sacudi-la para deixar de se tão servil ao ego do pintor, quando ele não se preocupava a mínima com ela!
—Está na hora de irmos embora. — Harry disse uma vez mais, desejando nunca ter comparecido àquele evento. O homem era uma verdadeira ameaça para ele e para Hermione!
—Antes que o façam — Draco Malfoy acrescentou, olhando para Hermione: — tenho alguma coisa para você, querida, se você se lembra...
Ao seu lado, Harry a sentiu se enrijecer.
—Quer dizer que o que vimos já não foi suficiente? — ela perguntou, rindo, a voz demonstrando tensão.
—Não. — o sorriso do artista era enigmático. — Presentes especiais vêm em forma sólida.
Harry franziu a testa diante da resposta, porque aquilo não era verdade. Pelo menos, não no que dizia respeito a Hermione. Era uma lição que ele havia aprendido na última semana quando lhe dera o Lótus vermelho. Lembrou-se depois da observação de Draco quanto ao Mulher no Espelho, e sentiu a tensão aumentar, ao se lembrar da observação de Hermione sobre o significado do quadro.
—Está esperando no escritório de Rosetta. — Draco Malfoy disse, lentamente, voltando-se para se dirigir para o escritório particular de Rosetta Romano.
Harry e Hermione não tiveram outra escolha se não segui-lo.
—É bom que tudo isso tenha algum significado. — Harry murmurou.
—Espero que não. — Hermione respondeu baixinho, o que bem representava a opinião dos dois.
O escritório de Rosetta Romano era grande, espaçoso e o branco predominava na decoração moderna. Entretanto, naquele aposento destoava um gigantesco cavalete de pintor onde se encontrava uma grande moldura coberta por um pedaço de musselina preta.
No momento em que viu aquilo, Hermione soltou uma exclamação de reconhecimento — Draco... Não!
Mas Draco ignorou aquele pedido velado. Já de pé ao lado do cavalete, com enervante lentidão, começou a retirar o pano que o cobria.
Fez-se total silêncio. Hermione começou a tremer. Harry simplesmente a deixou ali e se afastou com medo de não suportar.
Poderia ter sido uma cópia do Mulher no Espelho. Certamente tratava-se do mesmo balcão, da mesma luz da manhã cobrindo de luz dourada a pele acetinada. E não havia dúvida de que era Hermione que ali se achava retratada nua, olhando para trás por sobre o ombro, da mesma forma como se encontrava no Mulher no Espelho.
Entretanto, não se tratava da mesma pintura, já que nela não havia o reflexo no espelho, e não se percebia o vazio nos belos olhos.
Em vez disso, o olhar se mostrava repleto de verdade.
Hermione estava paralisada diante da pintura, os olhos fixos no perfil de Harry, o coração disparado. Queria sair correndo, mas não tinha forças. Queria dizer algo em defesa própria, mas seria inútil porque as evidências eram fortes demais.
Draco se aproximou dela, tomou-lhe a mão e a apertou tentando confortá-la, inutilmente. Ficou a olhar o homem que amava tomar conhecimento de que ela o estivera enganando. Isso a fez estremecer de agonia.
—Não acredito que você tenha feito isso sem a minha aprovação. —ela conseguiu dizer, com voz entrecortada.
—Se eu lhe houvesse pedido, você não me teria autorizado. —Draco replicou.
—Mas, por que fez isso? — parecia uma traição sem igual partindo de uma pessoa em quem ela confiava completamente.
—Já era tempo dele ficar sabendo. — ele respondeu, simplesmente. — Você permitiu que tudo se prolongasse por muito tempo. Agora já deve ter percebido.
—Você não deveria ter feito isso. — ela sussurrou, sentindo os olhos arderem, enquanto Harry estendia a mão para tocar o quadro. Era como se ele a tocasse.
—Nunca vou perdoá-lo. —ela disse para Draco, distanciando-se dele e aproximando-se do homem que lhe era tão importante.
Harry se voltou para ela. O rosto parecia talhado em mármore.
Depois, olhando diretamente para Draco, exclamou:
—Você não pintou isso!
Era uma acusação clara e definitiva.
—É um conhecedor quem está dizendo. — Draco sorriu. —Realmente, não fui eu. — ele admitiu. — Foi...
—Fui eu. — Hermione interferiu. — É meu! — ela olhou para Harry, procurando compreensão.— Esse quadro me pertence! Ninguém...
Harry a olhou com uma expressão concentrada.
—Quem foi que o pintou? — ele perguntou.
—Isso importa? — ela suplicou. — Nunca foi exposto publica-mente e nem nunca será, Harry! Eu nunca...
—Não perguntei se ele já foi exposto. — ele a interrompeu. —Perguntei quem o pintou!
Ele estava furioso. Hermione recuou, espantada.
—Acho que você não está entendendo, Harry. — Draco acrescentou, rapidamente. — Não lhe mostrei este quadro para...
Aconteceu tudo tão de repente que Draco não teve tempo de reagir. Com um movimento inesperado, Harry balançou o corpo e impulsionou o braço, dando um soco no queixo do pintor.
Draco deu um gemido e se estatelou aos pés de Harry. Com um grito, Hermione se lançou para acudir.
—Por que você fez isso? — ela soluçou, enquanto se ajoelhava ao lado de Draco.
—Por se intrometer na sua vida, e por se intrometer na minha vida! — ele exclamou irado, dirigindo-se para a porta.
Hermione o ficou olhando ir embora, sem saber o que fazer. Dando um gemido, Draco sentou-se e pôs a mão no queixo. Sacudiu a cabeça, como se não acreditasse que aquilo houvesse acontecido.
—Olha só o que fez comigo! — Hermione soluçou.
—Realizei um dos seus maiores desejos e levei um soco na cara. —Draco respondeu secamente.
Sem qualquer vontade de brincar, ela se ergueu e o ajudou a se levantar.
—Ele o machucou? — ela perguntou.
—Não pareça tão compadecida assim. — Draco respondeu com ironia. — Só cortou o meu lábio — ele explicou, começando a gargalhar.
Isso a deixou furiosa.
—Pare! — Ela soluçou. — Como ousa rir em um momento como este? O que você fez para mim, Draco? Por que fez isso? — as lágrimas começaram a rolar pela face, enquanto ela ficou olhando para a porta fechada. — Ele jamais me perdoará por causa disso. Você sabe! — ela exclamou transtornada. — Foi embora, deixando-me aqui!
—Não aquele homem. — Draco disse, demonstrando certeza.
—Dê-me um minuto para pôr gelo no lugar do soco, e iremos atrás dele. Prometo. — ele disse, preocupado com a expressão preocupada de Hermione. — Ele vai estar lá...
Mas Harry não queria que o encontrassem. Depois da cena, ele estava na frente da Galeria, flexionando os dedos, e se preparando para enfrentar mais problemas.
Sua mãe havia chegado. Deus sabe de onde e por que motivo, quando ele imaginava que ela deveria estar segura na Toscana. Mas lá estava ela, no meio da ante-sala, cercada por uma porção de velhos amigos e conhecidos.
Com o péssimo estado de ânimo em que se encontrava, ele fingiu não vê-la, saindo rapidamente antes que ela o visse.
Só que não pretendia ir embora sem Hermione, ele decidiu, com uma certeza que prometia causar mais problemas para alguém. E o pouco bom senso que restava lhe dizia que não seria possível deixar de falar com a mãe!
Um encontro dela com Hermione? Gelou só de pensar nessa possibilidade. Dissimulou a raiva que estava sentindo, e se dirigiu para onde a mãe se encontrava, com a intenção de falar com ela antes que Hermione decidisse aparecer na companhia do famoso ex-amante.
Entretanto, a sorte não estava trabalhando a favor de Harry naquela noite. O salão estava repleto de pessoas da alta roda de Milão. Gente que se conhecia pelo primeiro nome. Isabella Potter era muito conhecida e apreciada por muitos.
Quando o filho se aproximou, ela se abriu em um sorriso adorável, embora forçado, ele sorriu e a abraçou, oferecendo-lhe a face que ela encheu de beijos.
Depois dos beijos, foram os carinhos e as declarações públicas de como ele era lindo, da sua crueldade em não responder às chamadas dela. Ele se desculpou e perguntou pela saúde do pai, demonstrando sinceridade.
—Ele está tendo uma ótima semana. — a mãe o informou, bem como às pessoas que a circundavam. — Ele me mandou viajar e não voltar senão em dois dias. Diz que eu me preocupo muito, mas, na verdade — ela confidenciou. —, ele quer jogar baralho e beber vinho com os amigos, sem que eu esteja presente para desaprovar.
Todos riram. Nesse instante, Harry percebeu que a porta do escritório de Rosetta Romano se abriu e ficou em estado de alerta.
Isabella olhou para o filho.
—E este aqui — ela anunciou para os que a ouviam. — nem tem tempo, na sua vida ocupada, para responder aos recados da mãe! Tenho de falar com a sua governante.
Hermione estava se aproximando dele pela direita. Ela estava pálida e demonstrava ansiedade. Ela não imaginava o que estava para acontecer.
—Deixei recados na secretária eletrônica. — sua mãe continuava a explicar. — Tive de telefonar aos amigos dele, para descobrir onde ele iria estar esta noite!
Harry sorriu e desejou saber quem fora o amigo que o metera naquela enrascada.
Hermione estava agora a poucos passos deles. Ao seu lado, Draco Malfoy sorria, mostrando o lábio ferido. Era hora de decisão, Harry ponderou. Ou a apresentava à mãe e se arriscava a ofendê-la por falta de decoro social, ou ignorava Hermione, fazendo com que ela se ofendesse. Uma escolha difícil.
Alguém se aproximou pelo lado esquerdo, desviando a atenção de sua mãe. Isabella sorriu satisfeita.
—Ah, Gina! — ela exclamou. — Hei-la! Bonita como sempre. Estava justamente dizendo a todos como tive de lhe telefonar para descobrir onde o meu próprio filho poderia ser encontrado nesta noite.
Tinha sido Gina, Harry pensou, com raiva. Saber disso fez com que ele se decidisse. Ninguém tinha o direito de manipulá-lo, nem à sua vida. E talvez fosse tempo de ambas ficarem sabendo disso!
Gina estava sendo recebida com os beijos usuais, quando Harry deslocou-se um pouco para poder ser visto por Hermione. Notou incerteza em seus olhos, já que ela devia ter percebido quem era o centro das atenções. Harry sentiu um calor no coração. Ela era tão bonita, tão sua mulher, não importava quais segredos ela escondesse. Estendeu o braço em um convite silencioso para que ela se juntasse a ele.
Com um ar de alívio no rosto, ela deu os poucos passos para se colocar sob os braços protetores de Harry e integrar o circulo sorridente de pessoas.
Esguia, finamente vestida em crepe preto fusco, os cabelos ruivos sedosos emoldurando a bela face, Isabella Potter estava acabando de se soltar do abraço de Gina, quando percebeu a chegada de Hermione. Sua expressão tornou-se fria.
—Mãe. — Harry disse, com uma postura formal. — Gostaria de lhe apresentar...
Como se ele não lhe houvesse dito nada, e nem Hermione estivesse lá, Isabella Potter simplesmente lhe voltou as costas. Pairou um silêncio profundo entre todos.
Fora um ato tão claramente deliberado que Hermione só pôde ficar ali plantada, os olhos baixos procurando dissimular a profunda humilhação, enquanto Harry mantinha-se como um pilar de granito.
Quantas pessoas haviam testemunhado o que havia acontecido, Hermione não sabia. Mas não era necessária uma audiência daquela para ela saber que o momento chegara.
Depois que o momento de tensão se desfez, ela sentiu o toque gentil de Draco.
—O que aconteceu foi imperdoável. — ele disse perplexo.
Ela começou a tremer, e o pintor olhou sombriamente para Harry que não movia nem um músculo sequer. Draco murmurou para ela:
—Vamos para o escritório de Rosetta...
—Não! — Harry exclamou, saindo do seu estado de perplexidade. — Nós vamos embora. — ele anunciou.
Hermione sentiu sua mão pressionar-lhe o ombro.
—Vou com vocês. — Draco declarou, ainda segurando o braço de Hermione. — Não pretendo...
Novamente Harry o interrompeu.
—Apreciamos o seu interesse, mas isso não lhe diz respeito.
—Tudo me diz respeito quando insultam Hermione. — Draco respondeu, com raiva.
—Foi a minha mãe quem a insultou. — Harry declarou friamente.
—Desculpem-me. — Hermione sussurrou, livrando-se de ambos. Ela precisava sair dali imediatamente. Lutando com as lágrimas, com o sentimento de humilhação e procurando manter a cabeça erguida, ela se dirigiu rapidamente para a escada. Se houvesse olhado para trás, perceberia que a mãe de Harry já estava sentindo o desconforto do arrependimento.
Isabella estava tocando o braço do filho, para lhe chamar a atenção. Mas Harry, sem ao menos olhá-la, correu atrás de Hermione. Prendeu-a pela cintura e a atraiu para si. Juntos começaram a descer os degraus. Na pressa, Hermione perdeu o equilíbrio sobre os saltos altos, e Harry a segurou.
Chegaram à porta de vidro no mesmo instante em que o porteiro a abriu. Não perceberam que a porta estava sendo aberta para alguém que acabara de chegar. Houve um encontro de corpos.
—Scuze signor... signorina. — disse uma voz profunda e modulada. Automaticamente, ambos olharam para quem se desculpara. Hermione se deparou com um estranho que a olhava e qualquer tentativa de falar foi totalmente sufocada naquele momento de espanto.
Um homem de cabelos grisalhos, olhos cinzentos com reflexos esverdeados, tão alto quanto Harry, porém mais magro, era um homem no outono da vida.
Hermione sabia exatamente quem ele era, e o pior, ele sabia que ela o conhecia.
— Madona mia. — ele sussurrou em visível consternação. —Anastasia.
Anastasia... Era muito para uma só noite! Ela se encolheu para encontrar abrigo nos braços de Harry.
Harry estava imerso em sua raiva, mas ainda assim pôde perceber aquela troca de olhares, além de ouvir aquele nome pronunciado pelo estranho. Sabia que algo estava acontecendo e que lhe era desconhecido.
—O senhor está equivocado. — ele disse para o outro homem. —E, por favor, desculpe-nos. — acrescentou friamente, saindo com Hermione, antes que algo mais acontecesse com eles.
Fora, o Quadrilátero estava repleto de passantes. O carro de Harry estava estacionado em uma rua lateral não longe dali. No trajeto, manteve-se calado, procurando se recompor.
Abrindo a porta do passageiro, ajudou-a a se sentar no assento de couro preto. Depois, inclinou-se para ajustar o cinto de segurança. Ela nem notou. Irritado, ele segurou-lhe o queixo e a obrigou a olhar para ele. Os olhos de Hermione estavam escuros, sua pele pálida e os lábios completamente sem sangue. Parecia frágil como uma peça de vidro veneziano, prestes a se quebrar.
De fato, Harry desejava que ela se quebrasse, para que ele pudesse descobrir a mulher real, já que aquela se tornara uma completa estranha para ele!
Com um suspiro, soltou-a, ergueu-se e fechou a porta. Foi se sentar à direção e deu partida no carro. Com o rosto contraído, dirigiu pelas ruas de trânsito caótico de Milão.
Estava com muita raiva! Raiva de Malfoy e das suas artimanhas. Raiva da imperdoável atitude da sua mãe! E raiva de Hermione por permitir que ele acreditasse que a pintura que tinha no apartamento fosse dela!
E agora havia acontecido aquele incidente na porta da galeria. Apesar de ter demonstrado o contrário, ele havia reconhecido aquele homem. Seu nome era Anton Gabrielli, um rico industrial recluso, que raramente se via em público, desde a morte da mulher, havia alguns anos.
Ele podia ter chamado Hermione de Anastasia, mas o erro era irrelevante. O que importava era que ele a conhecia! E, o mais relevante, Hermione o havia reconhecido!
—Como você conheceu Anton Gabrielli? — ele perguntou.
Era como se estivesse falando com um fantoche.
—Eu nunca o encontrei antes em minha vida. — ela respondeu baixinho.
—Não minta! — ele gritou. —Ele pode tê-la chamado pelo nome errado, mas vocês se reconheceram. O espanto mútuo foi muito revelador.
—Já disse que nunca o encontrei antes! — ela gritou descontrolada.
Diante da flagrante mentira, ele a olhou de soslaio. Ela estava tremendo tanto que o diamante do seu colar reverberava. Dando um pequeno soluço, ela virou o rosto para o outro lado, para que ele não a pudesse ver.
Mantendo-se calado, ele voltou a atenção para o tráfego, enquanto mais suspeitas começavam a surgir. Anton Gabrielli era da mesma idade de Malfoy. Se ela apreciava ter Malfoy como amante, por que não Gabrielli? Afinal de contas o que sabia da vida de Hermione antes do seu caso com Draco?
Absolutamente nada, ele percebeu.
Quando o monstro do ciúme já começava a tomar-lhe o coração, finalmente chegaram à garagem do apartamento. Desligou o motor do carro e, com a mão pesada sobre a coxa de Hermione, impediu-a de soltar o cinto de segurança.
—Espere. — ele ordenou. Ela não iria deixá-lo ali, para se dirigir sozinha para o elevador, como fizera anteriormente.
Ela se recostou no assento, ainda sob a pressão da mão em seu colo. Com um suspiro de satisfação, ele saiu do carro, contornou-o e foi abrir a porta para que ela saísse. Antes, inclinou-se e a ajudou a soltar o cinto de segurança.
O elevador os levou para cima. Hermione tremia, e Harry se continha para não agarrá-la e sacudi-la ainda mais! Quando chegaram, Harry abriu a porta já que Hermione não parecia capaz de fazê-lo. Dentro, os poucos segundos que ele levou para desativar o sistema de alarme, foram suficientes para ela escapulir para dentro de seu quarto.
Harry ficou onde estava, tempo suficiente para se acalmar antes de ir atrás dela, desejando que ela não houvesse trancado a porta.
A porta não estava trancada, e o que ele viu quando a abriu fez com ficasse parado de espanto.
Eu disse que confusões não faltavam neste capítulo. E, vocês também ficaram confusos?
Esperem pelo próximo capítulo, milhares de respostas ele trará. Muitas revelações.
E o que será que o Harry tá vendo para ficar parado de espanto?
Bjao
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