Âmbar



Harry não precisou pensar muito para tomar a decisão de não comparecer à aula para ler o tal “A Filosofia da Viagem no Tempo” que Prof. Diehl acabara de lhe entregar. Nem precisava pensar. Oras, de um lado seria aliviar esta tensão que lhe pesava os ombros; de outro seria assistir a uma aula que não lhe serviria de nada, uma vez que a tensão não lhe deixaria prestar a mínima atenção ao que o professor estava dizendo.

Correu em direção aos banheiros (afinal não podia correr o risco de ser pego andando pelos corredores em pleno horário de aula, ainda mais com um livro sobre viagem no tempo nas mãos, levantaria suspeitas) e entrou em um dos boxes.

Abriu o livro apressado, pois estava ansioso para que tudo se resolvesse logo, porém, algo bem no prefácio atordoou a Harry.

O propósito deste pequeno livro é para ser usado como um guia direto e simples em um momento de grande perigo.
Eu rezo para que isto seja simplesmente uma obra de ficção.
Se não for, então eu rezo por você, o leitor deste livro.
Se eu ainda estiver viva quando os acontecimentos prenunciados nestas páginas ocorrerem, então espero que você me encontre antes que seja tarde demais.

Roberta Ann Sparrow
Outubro de 1944


Não teve mais tanta certeza se queria mesmo continuar a ler aquilo. “Eu rezo para que isto seja uma obra de ficção”. A verdade poderia ser dolorosa demais. Bem mais dolorosa do que aquela ansiedade que lhe roia por dentro. E se naquelas páginas houvesse a revelação de algo assombroso? E afinal, quem era aquela tal Robert Sparrow que escreveu este livro? Como iria encontrá-la? Ela ainda estaria viva?

Mas a curiosidade falou mais alto do que as dúvidas e continuou a lê-lo:

O Universo Tangente

O Universo Principal é repleto de muito perigo: guerra, praga, fome e desastre natural são comuns. A morte atinge a todos nós.
A Quarta Dimensão do Tempo é uma construção estável, embora não impenetrável. Incidentes no tempo, em que a construção da quarta dimensão tornou-se corrompida são inacreditavelmente raros.
Se um Universo Tangente ocorre, ele será altamente instável, sustentando-se por não mais que algumas semanas, conseqüentemente, ele entrará em colapso caindo sobre ele mesmo, formando um buraco negro dentro do Universo Principal, capaz de destruir tudo que existe.


Parte de tudo aquilo começava a fazer sentido para ele.

- Vinte e sete dias, dezessete horas, quarenta minutos e quatorze segundos, este é o tempo que falta para o mundo acabar... – pensou em voz alta. – Isto são quatro semanas... – após ficar em silêncio pensativo por alguns instantes, logo percebeu a verdade. - Isto é um Universo Tangente...

A partir daí não pôde mais se conter e continuou a ler o livro. Tinha certeza de que as respostas estariam lá.

Água e Metal

Água e Metal são os elementos chave da Viagem no Tempo.
Água é o elemento (barreira) para a construção dos Portais do Tempo usados como passagens entre Universos no Vórtice (Turbilhão) Tangente.
Metal é o elemento transicional (de transição) na construção dos Artefatos Veículos.

O Artefato e a Vida

Quando um Universo Tangente ocorre, aqueles que vivem próximo ao Vórtice (Turbilhão), se encontrarão no epicentro de um perigoso mundo novo.
O primeiro sinal de que um Universo Tangente ocorreu, provém do aparecimento de um Artefato.
Se um Artefato ocorrer, os Vivos (as pessoas) irão recuperá-lo (tê-lo) com grande interesse e curiosidade. Artefatos são formados por metal, como a ponta de uma Flecha de uma antiga civilização Maia, ou como uma Espada de Metal da Europa Medieval.
Artefatos retornados ao Universo Principal são freqüentemente relacionados a imagens religiosas, para sua aparição na Terra provocar uma explicação lógica.
Intervenção Divina é considerada a única lógica conclusão para o aparecimento do Artefato.


- A turbina... – pensou ele. – Este definitivamente é um Universo Tangente... Mas o que água e metal querem dizer?

Continuou a ler para encontrar respostas.

O Receptor Vivo

O Receptor Vivo é escolhido para guiar o Artefato na posição para sua jornada de volta ao Universo Principal.
Ninguém sabe como ou porque um Receptor será escolhido.
O Receptor Vivo é freqüentemente consagrado com os Poderes Quadridimensionais. Isto inclui aumento de força, telecinese, controle da mente e habilidade para fazer surgir fogo e água.
O Receptor Vivo é freqüentemente atormentado por sonhos terríveis, visões e alucinações auditivas durante o tempo que estiver dentro do Universo Tangente.
Aqueles que rodeiam o Receptor Vivo, conhecidos como Manipulados, irão temê-lo e tentarão destruí-lo.


Agora estava mais claro para ele. Entendia o porquê de os professores olharem para ele como se fosse alguém importante. O episódio do banheiro cheio de água e completamente destruído também...

- “Não sou eu quem me controla neste mundo”. – lembrou-se das palavras do professor. – Seria ele um Manipulado? Mas por que tentou me ajudar? Não faz sentido...

Mas lembrou-se também de que nada fazia exatamente sentido nem se encaixava perfeitamente nos dias atuais.

Os Manipulados Vivos
Os Manipulado Vivos são freqüentemente os amigos mais próximos e os vizinhos do Receptor Vivo.
Eles são propensos ao irracional, ao grotesco e geralmente ao comportamento violento. Este é o resultado infeliz de suas tarefas, que é ajudar o Receptor Vivo a retornar o Artefato para o Universo Principal.
Os Manipulados Vivos farão de tudo para salvá-los do esquecimento.

Os Manipulados Mortos

Os Manipulados Mortos são mais poderosos que o Receptor Vivo. Se uma pessoa morre em uma Dimensão Tangente, eles são capazes de comunicar-se com o Receptor Vivo através da Quarta Construção Dimensional (tempo) que é feita, em aspectos físicos, de Água.
O Manipulado Morto freqüentemente armará uma Cilada [Segura] para o Receptor Vivo assegurar que o Artefato retorne em segurança ao Universo Primário.
Se a Cilada [Segura] é bem sucedida, o Receptor Vivo é deixado sem escolha, apenas usar seu Poder Quadri-Dimensional para enviar o Artefato de volta, em tempo, para o Universo Primário, antes que o Buraco Negro entre em colapso e caia sobre ele mesmo.


Tudo estava mais claro para ele agora. É por isso que Rony e Hermione andavam tão estranhos e Profª McGonagall tão ditadora. E também o porquê de ele precisar destruir aquele banheiro - para que Prof. Diehl viesse e lhe desse o livro, como Krum lhe disse. Por isto o sonho com Krum. Agora entendia também o sonho com Cedrico e Sirius: Krum precisava morrer neste mundo e isto só seria possível voltando ao tempo.

Mas... E quanto a Evie?

- Evie não morreu. Como ela pôde se comunicar comigo usando a quarta construção dimensional? – ele pensou mais um pouco. – Se ela ainda não morreu, significa que... Ela precisa morrer neste mundo, mas... Quem vai matá-la?

Logo se lembrou de Krum. Ele era um Manipulado Morto... Harry precisou voltar no tempo para que ele fosse morto. Precisaria fazê-lo de novo? Precisaria matar outra pessoa?

- Não, deve ter alguma outra forma...

Sonhos
Quando os Manipulados despertam da Jornada no Universo Tangente, eles são freqüentemente assombrados pela experiência em seus sonhos.
Muitos deles não se lembrarão.
Aqueles que lembrarem da Jornada são muitas vezes dominados por profundo remorso, pelas ações lamentáveis ocorridas dentro de seus Sonhos, a única evidencia física de que isso ocorreu é o Artefato, tudo o que restou do mundo perdido.
Antigos mitos contam-nos do Guerreiro Maia morto por uma ponta de Flecha que caiu de um despenhadeiro, onde não havia nenhum Exército, nenhum inimigo.
Contam-nos do Cavaleiro Medieval, misteriosamente empalado pela espada que ele não tinha ainda construído.
Contam-nos que essas coisas ocorrem por uma razão.


Ele virou a página e só encontrou um enorme espaço em branco. Não havia mais nada escrito. E aquele último capítulo não o ajudara em nada. Ele não queria mais se sentir culpado pela morte de ninguém. Já estava cansado de tudo aquilo...

- O que aconteceria se eu simplesmente mandasse a turbina de volta para o Universo Principal? – pensou alto.

- Eles não vão deixar, Harry. – respondeu-lhe uma voz . – Você precisa seguir o plano, há uma razão para tudo.

Ele olhou à sua frente e viu uma garota desconhecida. Era alta, extremamente magra, tinha cabelos loiros escuros levemente encaracolados, sua cor de pele era branca de quem não via sol há muito tempo ou vive num destes países nórdicos onde só há neve e - o que estava começando a se tornar um lugar comum - olhos acinzentados.

- Quem é você? – perguntou Harry levantando uma sobrancelha. – Eu nunca a vi na vida. Você é um manipulado?

- Meu nome é Amber. – disse ela sorrindo. - E você nunca vai me ver na sua vida.

- O que isto quer dizer?

Quando as respostas pareciam estar chegando logo lhe vinha esta outra visão confundi-lo.

- Você sabe o que é âmbar, Harry?

- Sei. É uma resina.

- Uma resina que pode servir de fóssil. Que carrega consigo a história daquilo que está dentro dela...

- O que isto tem a ver com qualquer coisa?

- Quem carrega a história de algo, mantém a história deste algo viva. E a história é vida. Eu carrego a vida, Harry.

- Quem exatamente é você?

- Eu sou uma anomalia... Bem, na verdade não. Um de vocês é uma anomalia... Eu era para ser um de vocês.

- Um de vocês quem?

- Equações, Harry... Já ouviu falar?

Ele levou as mãos à cabeça. Já havia absorvido informação demais com aquele livro e, de repente, aparecia uma garota vinda de sabe-se lá onde da quarta construção dimensional sendo mais enigmática ainda do que Evie.

- O que têm as equações? – perguntou ele.

- Se existe uma anomalia, precisa existir algo para equilibrar a anomalia, seja para mais, seja para menos, seja para o bem ou para o mal...

- Eu já não entendo mais nada... – disse ele dando um suspiro profundo, ainda encostado em suas mãos – Quem eu sou? Uma anomalia ou o Receptor Vivo?

A garota sorriu suavemente e disse:

- Você pode ou não ser uma anomalia, mas definitivamente é o Receptor Vivo.

- Você está aqui para me confundir?

Ela aproximou-se de Harry e sussurrou:

- Eu sou uma resposta, Harry, não uma pergunta. Você deve fazer o que é preciso e, depois, lembrar-se de que eu guardo uma vida, cabe a você decidir de quem vai ser.

Logo após esta frase, Harry ouviu um barulho agudo e irritante que o despertou. Era o sinal. Havia mais uma pessoa aparecendo para ele agora. Nem todas as perguntas lhe foram respondidas e já lhe apareciam mais... Estava cansado desta rotina, mas... Ele precisava “fazer o que é preciso”. De agora em diante tudo o que precisaria fazer seria deixar-se manipular pelas pessoas que o rodeavam e de alguma forma mágica tudo se consertaria.

Isto parecia fácil em um primeiro momento, mas... Ele teria que de alguma forma fazer Evie morrer. Era triste, mas necessário. Ele precisaria voltar no tempo outra vez. Mas para fazer o que exatamente? Não podia simplesmente aparecer e matá-la, primeiro porque não conseguiria. E não sabia de ninguém que pudesse ter a intenção de homicídio com relação a ela. Ele precisava descobrir algo mais sobre ela, mas seu diário já não lhe pertencia.

- Talvez se... – veio-lhe uma idéia.

Saiu apressado do banheiro. Precisava achar alguma anotação que escrevera em seu quatro ano antes do Baile de Inverno.

Continua...

***

Olá queridos,
Venho aqui pedir sinceras desculpas pela demora excessiva para postar o novo capítulo. É que, realmente, tem me faltado tempo e quando há tempo minha inspiração não ajuda muito.
No mais, espero que tenham gostado do capítulo novo e que, a partir dele, tenham entendido algumas coisas.
Tudo vai se explicar, eu prometo, tenham calma, a história já está se encaminhando para o final

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