A Filosofia da Viagem no Tempo
O Salão Comunal da Corvinal estava um verdadeiro burburinho. Alguns ainda falavam sobre o Salão Principal e o banheiro, outros falavam sobre o novo professor de Feitiços, sobre como ele era bonito ou sobre se Hogwarts estava ou não estava virando uma hierarquia por ter aceitado o marido de uma professora como novo professor e havia ainda outros que comentavam sobre o trabalho para o final do ano que Hilde Diehl havia mandado.
Mas Harry, como sempre, estava preso em seus pensamentos e não participava de nenhuma das discussões, de forma que, para ele, o almoço estava demorando demais a passar. Era longo demais para sua ansiedade, já que este tinha pressa em encontrar respostas. Tanta pressa que talvez até tivesse deixado alguma informação importante passar...
- E você, Harry? – perguntou Hermione. – O que acha?
- Hã? O que eu acho do que?
- Deste novo professor. – respondeu Mione. - Jan Diehl.
- A Mione ficou gamada nele. – comentou Rony risonho. - Até lembrou o nome!
- É claro que eu lembrei o nome dele! Eu não sofro de amnésia como certas pessoas que não conseguem decorar um nome de 3 letras e acham que quem consegue é porque está gamado na pessoa!
- Eu posso até sofrer de amnésia e não ter decorado o nome do cara, mas que você estava quase babando de olhar para o cara, você estava! No mínimo se apaixonou por ele. – começou a rir.
- Ei, eu não me apaixono por professores, meu caro! – disse Hermione ofendida com o comentário. – Muito menos pelos casados!
- Há sempre uma primeira vez para tudo...
Hermione ofendeu-se ainda mais e ia dar uma resposta atravessada para Rony, mas percebeu que Harry estava se sentindo incomodado com aquela discussão.
- Mas, então, como eu ia dizendo antes de ALGUÉM desviar o assunto... – olhou para Rony, que fez uma expressão de inocente. - O que você acha deste novo professor, Harry?
- Bem, ainda não tivemos aula com ele para dizer qualquer coisa, mas me chamou a atenção a especialidade dele: feitiços de viagem no tempo...
- Eu nem sabia que existiam tais feitiços... – falou Rony.
- Como não? Lembra-se que nós... – Harry tentou dizer, mas lembrou-se que o feitiço Chronos apagava o passado da memória de todos.
- Nós...? – o garoto quis saber.
- Nada não. – respondeu Harry.
- Como nada? Agora se explique, porque eu fiquei curioso! – disse Rony.
Hermione ia dar uma cotovelada em Rony, mas Harry respondeu antes:
- Não é nada mesmo... É difícil de explicar e não vale a pena.
- Harry, não é por nada não, mas você anda muito estranho ultimamente...
- Eu sei. – ele olhou para o nada e continuou. - Tudo anda muito estranho ultimamente.
Rony e Hermione trocaram olhares confusos, voltaram a olhar para Harry (que continuava a olhar para o nada), voltaram a se olhar, fizeram alguns gestos um para o outro que demonstravam não estarem entendendo coisa alguma, colocaram seus olhares novamente nos pratos agora vazios e ficaram calados. E o silêncio pareceu contagiar o Salão inteiro, mas por um motivo diferente: todos estavam apreensivos e olhando os relógios, pois faltavam exatos 30 segundos para a aula de Feitiços.
E, finalmente, o sinal veio trazer a voz às pessoas, recomeçando o barulho, que agora misturava vozes e passos por todo o trajeto até a sala de Feitiços.
Enfim, lá chegando, os alunos foram se espalhando pelas carteiras e logo após ficavam a observar e a cochichar sobre aquele belo professor alemão que estava na frente da sala: Jan Diehl. Ele era bonito, era bem verdade, embora o seu tipo físico fosse bem diferente do padrão de beleza instituído: Ele não era muito alto nem muito forte, seus cabelos eram castanhos escuros e bagunçados, os olhos eram cinzas, tinha um ar de intelectual revolucionário e aparentava ter uns 40 e poucos anos.
- Boa tarde. – ao contrário de sua esposa, Prof. Diehl não tinha sotaque nenhum. - Bem, como Profª. McGonagall já disse durante a aula de Poções eu vou ser o novo professor de Feitiços. Alguém daqui não estava sabendo? – ninguém se manifestou. – Ótimo. Como entrei aqui com as aulas já começadas gostaria de saber até onde foi que McGonagall chegou com vocês.
Mione manifestou-se:
- Ela chegou a dar o feitiço de bolha, mas... Eu sei que talvez não tenha relação com a sua matéria, mas a Profª. Diehl passou para nós um trabalho para o fim do ano e falou para não deixarmos para a última hora. Ela disse que talvez você pudesse nos ajudar...
- Sobre o que se trata este trabalho que ela passou, Srta... Hum...
- Granger. Bem, no trabalho temos que achar a relação entre um texto que ela leu que fala sobre destruição como forma de criação e a poção para fazer a massa de um corpo tender a zero.
O professor sorriu.
- O texto que ela leu por acaso era um de revolucionários que invadem casas, trocam os móveis de lugar (*) e queimam tudo, no final?
- Sim, exatamente este!
- Bem, eu não sei se ela explicou para vocês para que se usa esta poção, mas... – Ele coçou a nuca. – Eu não sei por que ela passou este trabalho... McGonagall não quer que se toque neste assunto com os alunos...
Harry manifestou-se:
- Mas por que não? Esse trabalho tem algo a ver com os acontecimentos recentes? A turbina e o banheiro? O que há de tão assustador nisto tudo que faz com que Profª McGonagall nos proíba de saber da verdade? Tem algo a ver com Voldemort?
O garoto acabara de perceber que havia proferido o nome de Voldemort em voz alta, e o resultado não poderia ter sido outro: a classe inteira mais o professor arregalaram os olhos e o encararam.
Passado o choque, Prof. Diehl conseguiu achar forças para responder, mas ainda tinha os olhos um pouco arregalados.
- Primeiramente, acho que você sabe que não deve proferir o nome dele, certo? – o garoto assentiu e pediu desculpas. – E quanto às suas perguntas...É mais complicado do que parece... É algo difícil de explicar...
- Mas, professor, como vamos fazer o trabalho? – perguntou Mione. - Precisamos saber se existe uma relação entre a poção e possibilidade de criação através da destruição. Precisamos aprender algo sobre isto.
- Eu vou conversar com Hilde e verei o que posso fazer. Esqueçam deste trabalho por hora, está bem?
Os grifinórios já estavam eufóricos e agradecendo a benção divina que era aquele novo professor que Minerva havia colocado para substitui-la, mas Harry continuou incrédulo.
Até antes da hora do almoço o professor estava disposto a contar sobre os acontecimentos. O que teria acontecido para ele mudar de idéia tão repentinamente? Não fazia sentido...
- Professor. – Harry levantou a mão.
- Diga, Sr. Potter.
- Quando é que McGonagall vai nos deixar ter acesso a estas informações?
- Não muito cedo, eu presumo.
- E se quando ela nos informar for tarde demais? Porque, afinal, eu sei que você sabe, estamos muito próximos de uma grande tragédia. – ao dizer isto a classe inteiro virou-se para ele – Eu não sei exatamente o que é, mas... É algo grande. Quase como o apocalipse. Ou talvez seja o próprio. E acho que foi exatamente por isto que a professora Hilde nos passou esta tarefa, porque... Ela sabe que se esperarmos demais... Algo irá acontecer... E então não poderemos fazer mais nada.
Ao ouvir aquilo a classe foi tomada por um silêncio profundo e os olhares todos se voltaram para Jan Diehl esperando que o professor dissesse algo. Percebendo todos os pares de olhos que o miravam, o professor respondeu:
- Não há nada que nenhum de nós possa fazer agora também, Sr. Potter. – ele mirou o garoto com aquele mesmo olhar de respeito. – Na verdade, só uma pessoa neste universo é capaz de fazer algo... Só estamos tentando descobrir quem é. É só o que eu direi sobre isto. E já é demais.
- O que você quis dizer com “neste universo”, professor? – perguntou Mione.
- Quando a hora chegar, vocês saberão. E sem mais perguntas sobre isto! – disse ele dando aquela conversa por encerrada. – Vamos continuar com o feitiço bolha.
Harry, porém, ainda não estava satisfeito. A mínima informação que o professor dera não era suficiente para conectar todas as informações. Na verdade não significada nada para ele. Viria a significar? Não durante aquela aula pedante sobre o feitiço bolha na qual ele não estava nem um pouco interessado... Até porque... Feitiço bolha o remetiam à segunda prova do Torneio Tribruxo, que logo remetia à prova do labirinto. Sim, já deveria ter esquecido daquilo. Havia acontecido, teoricamente, há anos atrás, mas sempre parecia ter sido ontem... Ele havia falhado. Duas vezes. Talvez devesse voltar de novo no tempo e ignorar toda esta miscelânea de informações sobre a qual não tinha qualquer controle.
Mas talvez Evie estivesse certa. Não havia um jeito de consertar as coisas. Elas eram como eram e ponto final. Talvez isto se aplicasse para a situação atual, também. Mas não... Sentia que ignorava algo importante, que faria a diferença. Mas o quê? Se ao menos pudesse lembrar claramente de tudo o que Evie dissera na primeira conversa que tiveram antes de toda esta história de viagem no tempo... Viagem no tempo, Feitiço Chronos, o diário, equações da vida, dizer algo a alguém com o nome D... Era só o que conseguia lembrar. E nada lhe servia para explicar os eventos surreais em sucessão. E, afinal, “D...” era um nome? Um sobrenome? Um apelido? Havia infinitas possibilidades.
Quanto às outras lembranças, preferia nem começar a pensar sobre elas. Se ao menos McGonagall não tivesse entrado tão cedo no Salão Principal e tivesse deixado Evie dar as últimas coordenadas. Se ele não tivesse feito tantas perguntas naquela ocasião... Mas já era tarde para lamentar.
E o pior problema era que estava sozinho para resolver este enigma. Hermione e Rony não se lembravam mais do passado e andavam muito estranhos, brigavam o tempo todo e pareciam querer distanciá-lo de seus pensamentos. McGonagall havia se tornado uma grande ditadora. Evie Diggory estava internada numa clínica por problemas psíquicos e pelo jeito não queria voltar a vê-lo tão cedo. E aquelas pessoas que apareciam em sonhos, visões ou sabe-se lá como mais chamá-los, pareciam mais confundi-lo do que ajudá-lo. Talvez não estivesse tão confuso se soubesse de mais algo...
O sinal que indicava o fim da aula veio livrar-lhe de seus pensamentos. Porém, ele demorou um pouco até sair totalmente do estado de subconsciência, de forma que enquanto todos saíam, ele estava arrumando seu material.
- Rony, Hermione, podem ir em frente. Alcanço vocês depois.
- Ok, Harry.
Depois de todos os alunos menos Harry terem saído, o professor aproximou-se de onde o garoto estava.
- Hum... Sr. Potter, nós ainda não sabemos bem se... Bom... Hã... Sabe...
Harry ficou olhando para o professor sem entender o que ele queria dizer.
- Talvez não seja você, ainda estamos esperando por mais uma manifestação, mas... Bem, olha... Eu tenho quase certeza de que é você mesmo, então talvez não tenha problema se... Hum...
- Prof. Diehl, vocês têm quase certeza de que eu sou quem?
Jan olhou para Harry um pouco hesitante e depois tirou um livro do bolso.
- Se eu estiver certo, e acho que estou, este livro irá ajudá-lo. Mas, se McGonagall perguntar alguma coisa sobre isto, não fui eu quem deu este livro para você. – ele estendeu o livro para Harry pegar, mas puxou-o de volta antes que o garoto pudesse sequer tocar. – Mas saiba que só estou fazendo isso, porque você é um grifinório. Se fosse um sonserino eu provavelmente esperaria até o último indício. Eu sei como eles são traiçoeiros. Eu estudei em Durmstrang, por lá todos são como os sonserinos.
- E por que está me contando isto? – perguntou Harry sem entender.
- Não sei. – respondeu estendendo novamente o livro. - Neste universo não sou eu quem me controla.
Harry pegou o livro e perguntou ainda mais confuso:
- Como assim? Quem o controla? – percebeu que poderia ser uma piada. – Sua esposa?
O professor riu.
- Ela também.
Harry saiu da sala estranhando o professor. O que foi aquele comentário final? E qual era a importância de dizer que sonserinos são traiçoeiros? Não é novidade para ninguém. E o livro que o ajudaria? Resolveu olhar o título.
- “A Filosofia da Viagem no Tempo”. Roberta Sparow...
Realmente, havia ignorado algo importante.
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(*) Nota da autora: Esqueci de citar anteriormente, mas esta idéia de revolucionários que invadem casas ricas e trocam móveis de lugar não é original minha, não, é uma referência ao filme Edukators – Os Educadores, eu só acrescentei a parte de queimar a casa no final. Ah, só como curiosidade: Jan é o nome de um dos Edukators.
Desculpe-me a demora pra sair o capítulo novo. Minha inspiração anda muito preguiçosa para o meu gosto...
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