Convite



Ao chegar à sua cama no dormitório, Harry foi espalhando todos os livros e folhas de pergaminho pelo chão, na esperança de encontrar algum escrito de 3 anos atrás. De preferência, um anterior ao Baile de Inverno. Empilhou aos poucos os livros e pergaminhos que eram daquele ano, e, para seu desespero, a pilha estava gigante e continha quase que o conteúdo inteiro que havia sido espalhado no chão. Alguns minutos depois, para o seu pânico geral, percebeu que não havia absolutamente nada ali que não fosse de seu último ano em Hogwarts.

Em um ato de terror, chacoalhou forte a sua mochila, deixando cair penas, tinteiros e fazendo uma pintura de arte moderna no chão. Foi então que, por cima do aglomerado de tinta e plumas caiu um papelzinho amassado. Pegou-o do chão e abriu-o, parecia um bilhete trocado durante alguma aula, as letras estavam um pouco apagadas, mas não muito, o que indicava que foi escrito há poucos anos atrás.

A letra de Rony estava na primeira linha: “Você já sabe quem vai convidar?”; na linha seguinte estava a letra dele: “Ainda não, meninas andam em bando é difícil convidar uma delas”. E a conversa continuava. Era sobre o Baile de Inverno que falavam.

Colocou a mão no bolso da vestimenta e tirou a varinha de lá, disse Chronos e leu a linha escrita por ele, torcendo para que fosse suficiente. A borboleta a bater asas na ponta de sua varinha logo lhe sanou a dúvida. Fechou os olhos para evitar a tontura que sentira da última vez.

Ao abri-los novamente conseguiu ver perfeitamente a sala de aula e Profª McGonagall na frente dando aulas. Olhou para baixo e viu a frase que acabara de ler. Completou-a com “Eu estive pensando em chamar a irmã do Cedrico Diggory, mas ela anda com Malfoy, é capaz dos dois rirem da minha cara quando eu for convidá-la”. E passou para Rony. Estava de volta no tempo alguns dias antes (talvez semanas) do Baile de Inverno.

O ruivo arregalou os olhos e virou-se para Harry discretamente. Escreveu algo na folha e passou de volta. Harry leu as palavras do amigo: “Diggory tem uma irmã?! Que anda com Malfoy?! Como assim?!”

Ele respondeu: “Sim, o nome dela é Evie. E ela está na Sonserina, mas, enfim, eu devo ou não convidá-la para o baile?”.

Rony retornou: “Ela é bonita? Você a conhece de onde?”

Harry respondeu à primeira pergunta de forma bem vaga, afinal, não iria dizer que havia voltado no tempo e nem recontar toda a sua jornada até o presente momento: “Eu a vi um dia por aí...”; e parou de escrever por um instante , escondendo o bilhete, pois McGonagall estava passando por perto. Quando ela se afastou ele prosseguiu: “Bem, ela não é feia. Pelo que eu me lembro, ela só é um pouco estranha. Na verdade eu só queria conversar com ela... Chamar para o baile é algo muito exagerado?”.

Rony respondeu: “Sei lá, mas agora você vai chamar, porque eu quero conhecer esta fulaninha Diggory”.

Harry, com a expressão séria escreveu: “Eu estou falando sério, Rony”.

Rony deu outra risada e escreveu: “Eu acho que você deve, sim, convidá-la. Afinal, dançar é uma ótima maneira de conversar, vai ser bem romântico, ao estilo Idade Moderna...”

Harry respondeu pouco antes que o sinal batesse: “Não quero ser romântico, só quero conversar sobre umas coisas”.

Ao bater do sinal, os dois se levantaram e Rony disse baixinho para Harry:

- Só acho que, se você pretende realmente convidá-la, é bom se apressar, pois o baile é hoje à noite, e, como você disse, ela não é feia...

- Hoje à noite?! – Harry espantou-se. – Que aula temos agora?!

Rony arregalou os olhos e levantou uma das sobrancelhas:

- Harry, você está passando bem?

- Por quê? – ele não entendeu.

- Não temos aula agora, é hora do almoço. E você não sabia que o baile é hoje à noite?

Harry coçou a nuca.

- É, eu... Me esqueci... Acho melhor eu correr. – e saiu em disparada sem esperar a réplica do amigo.

Ao descer as escadas para o Salão Comunal, a primeira pessoa a adentrar seu campo de visão foi Draco e sua cambada, mas neste grupo não se viu o mínimo indício de Evie. Pensou em perguntar pela garota, mas, depois pensou melhor e não queria dirigir uma palavra que fosse a Malfoy.

Ficou a andar por todo o Salão Comunal e nada de encontrá-la. Ela existia mesmo? Ou era tudo da cabeça dele? Continuou a procurá-la pelos cantos da escola, até chegar à biblioteca, onde se deparou, em uma prateleira afastada, com uma garota de cabelos loiros escuros e longos, que soou levemente familiar. Seria ela? Decidiu chamá-la para ver se respondia.

- Evie?

Ela assustou-se e derrubou o livro que estava segurando.

- Mas, que droga, você me assustou! O que foi?

Harry reparou na fisionomia da garota. Ela lhe soava familiar, embora não parecesse em nada com a Evie que havia visto 3 anos depois, exceto pelos olhos cinzentos e de forma alguma parecia ter 13 anos. Se não soubesse sua idade, teria chutado uns 16 ou 17. E ela era muito mais bonita do que podia lembrar, de uma forma até desconcertante.

- Bem, eu sou...

- Harry Potter, eu sei. Você me assustou para dizer quem você é? Obrigada, mas não precisava. – dizia ela irônica.

- Na verdade, eu queria saber se você... – ele engoliu seco, estaria convidando uma desconhecida, era estranho. – Gostaria de ir ao Baile hoje à noite comigo.

Ela arregalou os olhos por uma fração de segundo, mas depois tratou de voltá-los ao normal.

- Para quê? Para jogarem um balde de sangue de porco em cima de mim e depois rirem da minha cara? Não, obrigada, eu já conheço esta história: garoto popular convida a estranha da escola... E eu até já sei o fim. (*) – disse ela com o tom de voz irritado e já se retirando da prateleira da biblioteca

Harry não entendeu muito bem a referência que a garota acabara de fazer, parecia com algum filme que alguma vez alguém na casa de seus tios estava vendo, mas não deveria ser isso, afinal, como ela saberia de filmes se vivia no mundo dos bruxos? Mas não deu muita importância a isto. Seguiu-a pelos corredores da biblioteca e tocou-lhe o ombro esquerdo.

- Você não precisa ir ao baile comigo se não quiser, mas eu posso, pelo menos, conversar com você?

Ela virou-se e levantou uma sobrancelha estranhando tudo aquilo.

- Conversar? Sobre o quê?

- Qualquer coisa. Nada. Tudo. Como tem sido o seu dia. O sentido da vida. O tempo. Qualquer coisa.

- Você realmente só quer ir ao baile, não é? – disse ela deixando para trás o seu ar desconfiado e dando um leve sorriso.

- Sim. Quer dizer... Só se não for algo muito exagerado para você...

- Vamos ver... Como você soube da minha existência? – perguntou ela cabisbaixa.

- Eu a vi por aí...

- Então o Cedrico não falou nada sobre mim? – ela levantou a cabeça. – Bem, primeiro... Você sabe que eu sou irmã dele, certo?

- Sim, eu sei que você é irmã dele. E não, ele não me disse nada sobre você.

- Por que eu continuo me surpreendendo com isso? – ela disse dando um suspiro. – Que seja...

- Evie, eu achei que você andasse com Draco Malfoy... – Harry mudou o assunto drasticamente.

- Malfoy? De onde você tirou isso? – ela juntou as sobrancelhas. - Eu só digo “oi” e às vezes ele diz “oi” de volta. Fim. Esta é a minha relação com Malfoy.

- Eu pensei que, por vocês estarem na mesma casa, vocês se falassem.

- Não, na verdade, eles falam e eu escuto... Quando estou lá – disse ela com uma risada zombando dela mesma.

- Você fala com alguém de outra casa, então?

- Na verdade, Harry, eu estou falando mais agora do que eu falei nos meus 3 anos estudando aqui... – ela olhava para baixo enquanto falava.

- Você me parece legal. – Harry pareceu confuso. – Por que ninguém fala com você?

- Eu não sei. – ela deu de ombros. – Talvez eu não seja bonita o suficiente para merecer que alguém fale comigo, nem inteligente o suficiente, nem boa o suficiente. Ou talvez exista alguém que seja melhor do que eu em tudo de modo que... Eu não sou importante. Por isso eu sou tão rude com todo mundo. Eu comecei a achar que eles estão certos, sabe?

Harry sentiu pena daquela garota, mas, de alguma forma estranha, ele se sentia exatamente do mesmo jeito que ela.

- Eu sei como você se sente. Como se estivesse... Sobrando.

- Não, você não sabe, Harry. Você tem seus amigos, você tem familiares, você tem pessoas que se importam. Se você desaparecesse, tanta gente sentiria a sua falta... Eu não sou assim... Meus pais às vezes me esquecem na plataforma.

Nisso, o sinal voltou a bater, simbolizando o final do horário de almoço.

- Acho que é melhor eu ir. – disse a garota. – Tenho aula de Herbologia, agora.

- Certo. Vejo você hoje à noite?

Ela sorriu e disse:

- É... Vamos ver...


***


(*) Nota da autora: Referência ao filme “Carrie, A Estranha” de Brian DePalma.

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