Criação e Destruição



Hogwarts definitivamente não era mais a mesma desde o início do ano. Uma atmosfera de medo e caos devastador havia tomado conta de tudo e todos por lá. Não era para menos. A volta do Lorde das Trevas já era motivo suficiente para alarde. E agora mais turbina e banheiros destruídos, que todos acreditavam ser obra daquele que retornara; mas Harry desconfiava que não fosse. Tudo havia se desestabilizado a partir do momento em que havia voltado no tempo, mas não sabia se isto tinha alguma relação com os fatos recentes, o que o atormentava muito.
Havia mais aqueles sonhos que o assombravam e aos quais não podia fugir. Seria Lorde Voldemort tentando manipulá-lo? Ou não? Teria isto algo a ver com equações da vida e o fim do mundo? Não sabia. E não seria agora, a caminho da aula de Poções que ele descobriria.
Harry, Rony e Hermione passavam pelo corredor em direção à sala de aula de Poções enquanto conversavam sobre os recentes acontecimentos. Na verdade, Rony e Hermione conversavam, Harry permanecia calado somente escutando (ou nem isto).
- Será que Profª Diehl dirá algo sobre o que conversou com Profª McGonagall ontem? – perguntou Rony.
- Duvido. – respondeu Mione.
- Por quê?!
- Oras, se Profª McGonagall pediu para terminar a conversa na sala dela, provavelmente o assunto é confidencial...
- Mas ela não vai explicar nadinha de nada? Aquela história de a turbina estar relacionada com o banheiro?
- Se Profª McGonagall não deixou ela terminar na nossa frente ou, primeiro, a mulher não bate bem das idéias e estava falando besteira, ou, segundo, não é algo que interesse a nós alunos!
- Qual é, Hermione? Não tente esconder, você também está curiosíssima para saber que fim teve aquela conversa e entender o que a Profª Diehl estava falando. Se bem que... Eu nunca entendo o que ela fala mesmo... – disse Rony começando a rir.
- Não, não estou curiosa. Se Profª McGonagall não quer que a gente saiba deve haver algum bom motivo. E não é tão difícil entender o que a Profª Diehl fala. Ela só mistura o inglês com o alemão. Se bem que nem o inglês misturado fala direito, ela só usa “die” e “eine”, o que aconteceu com o “das”, o “der” e o “ein”?
-... Não entendi bulhufas do que você acabou de dizer, Mione, mas enfim...
- E você, Harry, o que acha disso? – Mione tentou puxar Harry para a conversa.
- Hã?
- Você acha que Profª Diehl vai dizer algo com relação ao que aconteceu ontem? – perguntou Mione.
- Acho que não. Embora devesse.
- Viu? Ele também acha que ela deve contar! – retrucou Rony.
- Mas por que você acha que ela deve contar? – perguntou Mione num tom indignado.
Harry ficou em silêncio. Não sabia o que responder. Profª Diehl deveria contar, porque talvez assim algumas respostas viriam. Mas não sabia nem que perguntas fazer, como saberia se a informação que a professora passasse seria uma resposta a qualquer coisa?
- Vai, Harry, responda! – disse Rony impaciente.
- Cale a boca, Rony, não vê que ele não quer falar?
- Oh, desculpe-me, srta. Eu-sei-tudo-o-que-todos-estão-sentido-e-como-devem-ser-tratados.
Hermione ia dizer algo, mas Harry interrompeu:
- Hei, vocês dois, será que dá para parar? Vocês andam impossíveis ultimamente! – os dois se calaram.
Chegando à sala de Poções, os três encontraram Profª Diehl, Minerva McGonagall e mais um rapaz conversando, na parte da frente do local. A discussão parou quando o rapaz, que estava de frente para a porta, percebeu os primeiros alunos chegando e disse algo a McGonagall, que se dirigiu aos recém-chegados:
- Oh, entrem, entrem. – disse McGonagall. – Nós temos um recado para passar para todos os alunos.
Os três entreolharam-se e adentraram a sala, seguidos de outros alunos que haviam chegado um pouco mais tarde. Assim que todos haviam se estabelecido dentro do cômodo e miravam o sujeito desconhecido enquanto cochichavam, Minerva tomou a palavra:
- Creio que todos aqui têm conhecimento dos atuais incidentes ocorridos nesta escola. – todos consentiram. – Venho então lhes informar que, devido a estes, começarei a partir de hoje a me dedicar estritamente à função de diretora e não mais lecionarei a matéria de “Feitiços”, o novo professor será Jan Diehl, este que está ao meu lado, ele é marido da Profª Hilde Diehl, foi por isso que me dei o direito de interromper a aula dela. Bem, ele é especialista em feitiços de viagem no tempo, mas também entende de feitiços comuns. – McGonagall apontou para o rapaz ao seu lado. – Também venho avisar que a partir de hoje passarei a realizar testes para que possamos verificar... As causas... Dos... Acontecimentos recentes.
- Sra. McGonagall, nam seria melhor explicar o que está acontecendo? – perguntou Profª Diehl.
- Hilde está certa, eles precisam saber. – apoiou Jan Diehl.
- Não, eles não precisam! E não devem! Eles já estão confusos e atormentados demais! Lembram-se do que conversamos?
- Sim. - responderam os dois baixando a cabeça. – Desculpe-nos.
McGonagall continuou falando, mas Harry Potter não ouvia mais nada, estava distante. O que ela estava tentando esconder dos alunos? Por que estava tentando esconder? Com certeza aquilo que estava acontecendo não tinha nada a ver com Voldemort, porque, senão, ela iria avisá-los. E este Jan Diehl. Ele era especialista em feitiços de viagem no tempo... Ele poderia ajudá-lo? Seria a fonte das respostas que viriam?
Uma enxurrada de perguntas, de repente, invadia sua mente e ele tentava fazer conexões entre os sonhos, as conversas com Evie, estes novos acontecimentos, os novos professores, mas não chegava a lugar algum. Tudo ainda estava muito obscuro. Ele estava perdido. Nada fazia sentido. E, pelo jeito, demoraria a fazer... Demoraria se McGonagall continuasse a esconder informações. Mas, se Evie estivesse certa e aquele sonho com a Floresta Proibida não fosse mero sonambulismo, tinha pouco menos de um mês para arranjar as respostas. Não podia demorar muito...
- Harry, Harry! – Hermione, que estava sentada ao seu lado balançou-o, fazendo com que abandonasse seus pensamentos.
O garoto olhou para aquela que o balançava, perguntando:
- O que aconteceu?
- É a sua vez!
- Hã?
- McGonagall explicou que estava fazendo testes, não explicou? – Harry não soube responder a esta pergunta. -Vá lá na frente e escreva na lousa: “Eles me obrigaram a fazer isto”. – disse Hermione empurrando-o.
Harry dirigiu-se até a lousa e escreveu a frase com a sua varinha. Ao voltar para sentar-se pôde perceber que McGonagall fazia um círculo em volta de seu nome, por mais que tentasse ser discreta, e que Hilde e Jan Diehl cochicharam um ao outro com os olhares voltados para o garoto. Olhares estranhos. Do tipo que você solta quando vê alguma pessoa importante.
Acomodou-se na cadeira enquanto a diretora voltava a chamar os alunos. Voltou a inundar-se em seus pensamentos, que agora estavam mais confusos. Ele tinha alguma noção aproximada de porque McGonagall fez um círculo em volta de seu nome, mas... E os outros dois professores. Que diabos foram aqueles olhares? O que eles estavam cochichando?
Foi então que se lembrou que era, embora tentasse negar, o que as pessoas chamam de “gente importante”. Mas não podia ser só por isso... Não, não podia. De alguma forma isto deveria estar conectado com: o fim do mundo, viagem no tempo, maldições proibidas, equações da vida. Estava. Tinha que estar. De que outro jeito chegaria a alguma resposta? De que outro jeito poderia evitar o triste fim que todos teriam? “Toda criatura viva deste mundo morrerá sozinha”. Ele não se importava de morrer sozinho. Ele fora uma criatura solitária desde que nascera. Mas seus amigos não, e não queria que a vida terminasse assim para eles. Pois ele sabia o que era estar sozinho no mundo, e não era das sensações mais agradáveis, muito pelo contrário. Não era uma sensação pela qual pessoa qualquer que fosse devesse passar. Você pode agüentar viver assim, pois ainda havia esperança de encontrar alguém e morrer junto desta pessoa, mas nunca ter vivido de forma solitária e morrer assim. Sozinho. Sem ninguém. Abandonado. Sem alegria nenhuma para levar para o outro mundo... Significa perder tudo de repente. Nada faria sentido se todos fossem terminar assim...
Mas, afinal... Por que estava levando tudo isto tão a sério? Estas visões, alucinações, premonições... Ele nem sabia como chamá-las. Elas o perturbavam tanto que nem conseguia se concentrar em como consertar o passado. Agora ele precisava impedir que algo fosse destruído. O que valia mais? Consertar o passado ou evitar um futuro devastador?
E novamente seus devaneios filosóficos foram interrompidos. Desta vez por McGonagall, que noticiava que, por hora, era somente este o teste pelo qual passariam, verificaria a importância e necessidade de novo teste e manteria os alunos informados, desejou uma boa aula a todos e retirou-se seguida por Jan.
Ao fechar da porta, a classe tornou-se um verdadeiro alvoroço. Todos falavam alto e ao mesmo tempo. Entre os comentários audíveis, a maioria era sobre como aquele novo professor era lindo e sobre McGonagall querer esconder informações.
- Silêncio! – a voz da professora soou autoritária e mais alta do que a dos alunos, fazendo a maioria calar-se. – Extamos en horário de aula, agora! Ich sei que McGoneigall deixou-os muito curiosos, mãs ela nain me deixou falar qualquer coisa sobre este assunto. Então, podemos aproveitar die latzen minutes da aula para algo produtivo?
A maioria já estava pegando pergaminhos, pena, tinta e o livro, porém, algumas garotas sentadas perto da professora continuavam a conversar, agora não tão alto. A professora olhou sério para elas e depois disse:
- Nain precisam dizer que mein marido ist muito bonito, ich sei. Mas ele nain gostar de garotinhas, mesmo que bonitinhas, menores de idade ou que nain prestam atenção em die aula. – a professora continuou a olhar sério para elas, que se sentiram constrangidas e logo foram também pegando o material.
Aquela forma de deixar os outros sem graça, usada pela professora, lembrou a Harry um pouco do modo como Evie falava quase sempre: de modo seco e/ou sarcástico, deixando qualquer um embaraçado.
- Certo, agora que todos estain ATENTOS... – ela olhou novamente para as garotas. - Abram seux livrox en die página 27.
Harry não pôde deixar de perceber que inclusive o tom de voz dela era muito parecido com o de Evie, mas ele não havia reparado antes por causa do sotaque carregado, que chamava mais atenção do que o tom de voz. E, reparando melhor, até mesmo o físico da professora lembrava Evie: os cabelos louro-acinzentados, o rosto fino, a tez clara de quem não vê sol forte há alguns anos... Estranho. Muito estranho. Como poderiam ser tão parecidas sem qualquer relação de parentesco?
O garoto logo percebeu que não estava prestando atenção à aula, então tratou de deixar seus pensamentos de lado por alguns instantes e dar atenção ao que a professora dizia. Ela segurava um livro, que não era de Poções, era um romance de algum autor bruxo. Ela o estava lendo em voz alta.
- “E então, o fogo ateado por toda a casa crepitou, desenhando altas labaredas. E brilhou. Feito todo o ouro que havia na casa, feito todos os galeões que lá estavam, feito as riquezas que a casa continha, feito a chama que faz a fênix renascer.” – ela olhou para a classe. – O que vocês entendem por isto?
Hermione estendeu a mão.
- Diga, Srta. Granger. – atendeu a professora.
- Que eles invadiram uma casa riquíssima pura e simplesmente por vandalismo, afinal, eles não roubam nada, apenas destroem tudo o que vêem pela frente. Não há nada demais neste texto. – disse Hermione. – E, afinal, o que isto tem a ver com a poção da página 27, que serve para fazer a massa de um corpo tender a zero?
- Destruir, Srta. Granger? No final, sim, mas no começo eles apenas mudam die objetos de lugar. Und depois... Eles queimam die casa. Por quê? Mudar tudo de lugar und depois queimar? Por que nain queimar desde o início se die intenção ist die vandalismo? Quanto à relação com die poção da página 27, este ist eine trabalho que vocês farão: encontrar o que une este texto a esta poção. Têm até die final do ano para me entregar, mas, já vou avisando, nain deixem para latzen hora, poderá ser tarde. – ela continuou. – Mãs para fazer este trabalho vocês terain que entender este texto corretamente. Alguém tem mais alguma idéia do que este texto possa significar?
Parvati Patil levantou a mão.
- Diga, Srta. Patil.
- Talvez isto expresse a rebeldia juvenil. Eles fazem algum tipo de crítica à sociedade, mas de forma passiva, sem destruir nada.
- Mas queimam die casa. Estranho, não? E se você tivesse prestado atenção ao começo, die envolvidos tinham de 30 a 40 anos, nain sain exatamente o que chamaríamos de juventude... Mais alguma idéia?
Harry não havia prestado atenção à primeira parte do texto, mas com os comentários tinha alguma noção do que se tratava, então arriscou levantar a mão.
- Diga, Sr. Potter.
- Talvez esteja representada neste texto a idéia de destruição como forma de criação. – disse Harry. – Quer dizer, mudar os objetos de lugar representa a construção de algo novo através da mudança. E no final, queimar a casa representaria destruir para se construir algo novo ou reconstruir...
- Exatamente, esta ist die essência deste trecho: destruição como forma de criação. Muito bem, Sr. Potter.
Nisto o sinal veio para anunciar o término da aula.
- Estain dispensados. Mas nain se esqueçam da tarefa. E, por sinal, mein marido poderá ajudá-los, se precisarem. – a professora sorriu e retirou-se da sala.
Os alunos saíram logo em seguida para o almoço. Logo após viria a aula de Feitiços. Harry nunca quis que uma aula começasse logo, mas era o que mais desejava no momento.

Continua...

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