O subsolo da St.Mungus
Na manhã seguinte, despertou e foi logo perguntando à Madame Pomfrey:
- Madame Pomfrey, será que a Sra. poderia me dar alta?
- Você já está bem melhor, já pode ir.
- Muito obrigado por tudo. – agradeceu o garoto dirigindo-se à porta.
A enfermeira dirigiu-lhe a palavra antes que ele saísse:
- Harry, lembre-se: “Se está feito, está feito.”
- Sim, eu me lembrarei. – respondeu o garoto fechando a porta.
Após isso ele foi até o Salão Principal em direção à mesa da Grifinória, onde todos estavam tomando café da manhã.
- Bom dia, pessoal. – disse ele após sentar-se em um lugar próximo de Mione e Rony.
- Olá, Harry! – disseram os dois. – Já está melhor?
- Já.
- Ah, que bom. – disse Mione. – Cho pediu que avisássemos quando estivesse melhor que ela iria visitá-lo no fim de semana mais próximo.
- Diga a ela para não se incomodar. – disse Harry. – E eu já tenho planos para o fim de semana.
- Está bem então. – disse Mione estranhando tamanha frieza de Harry.
Houve um longo momento de silêncio. Harry tinha a impressão de que os dois haviam combinado de não comentar nada sobre o que ele falou na enfermaria.
O café prosseguiu silencioso, assim como foram as aulas de Herbologia, Trato de Criaturas Mágicas, na de Poções até teve alguma conversa pelo fato de uma professora nova ter entrado no lugar de Snape, porém durante o almoço, as aulas de Feitiços e Proteção Contra as Artes da Trevas e até a hora de dormir, o silêncio inicial retornou e tomou conta dos três.
Harry só tinha uma coisa em mente: o seu plano para falar com Evie e fazer com que tudo desse certo; mas este parecia ser o último assunto sobre o qual Rony e Mione gostariam de falar já que envolvia o período em que esteve na enfermaria. Vez ou outra os dois amigos de Harry tentavam quebrar o silêncio perguntando algo sobre a Cho, mas a resposta geralmente era: “Não sei”. Ou “Como vou saber?”; e aqueles mesmos olhares confusos da enfermaria voltavam à tona.
Por três dias seguidos esta foi a rotina de Harry, Rony e Hermione. Silêncio, silêncio, silêncio, alguma tentativa de quebrar o silêncio, silêncio e mais silêncio.
Mas então, finalmente, chegou o Sábado. Na noite anterior havia dormido com as vestes por precaução. De manhã bem cedo, Harry sentiu estar sendo balançado.
- Quem é? – perguntou em voz baixa.
- Sou eu, Harry. – dizia o garoto que o balançava. – Neville! Estou indo a St. Mungus.
Harry despertou de súbito e foi logo procurando sua capa de invisibilidade.
Neville coçou a cabeça confuso e perguntou:
- Hã... Harry... Como você pretende ir lá sem autorização?
- Assim. – disse Harry logo após achar a capa de invisibilidade.
- Com uma capa?
- Não é uma capa comum. – disse ele vestindo-a e deixando somente o rosto de fora. – Viu?
- É uma capa de invisibilidade!
- Isso! – Harry deu a conversa por terminada. – Vamos agora? Senão Rony vai acordar.
- Você não contou para ele?
- Não... – pensou em explicar o porquê, mas demoraria muito. - Vamos! – falou Harry com pressa cobrindo o rosto.
Os dois desceram as escadas até o Salão Principal onde Minerva McGonagall estava à espera de Neville.
- Sr. Longbottom, espero que não se incomode, mas os professores estavam todos ocupados então eu estarei levando-o para a Clínica St. Mungus.
- Não, eu não me incomodo, Profª. McGonagall. – disse ele.
Minerva olhou para a porta e disse:
- Então... Vamos?
- Ah, sim... – disse ele abrindo a porta de modos que Harry pudesse passar também.
Assim os três atravessaram as portas do Salão Principal. Neste momento Harry descobriu que não havia pensado em algo: a lotação da carruagem era de 3 pessoas, mas se Harry sentasse em um dos cantos, McGonagall perguntaria a Neville por que ele não estava sentado mais para o canto, e se ele sentasse no meio, McGonagall perceberia que havia alguém entre ela e Neville.
- Hã... – Neville também havia percebido este pequeno contratempo. – Profª. McGonagall... onde você prefere se sentar?
A diretora estranhou a pergunta, mas respondeu:
- Ora, Neville, não se incomode com isto, qualquer lado está bom.
- Tudo bem, Neville. – cochichou bem baixinho Harry, já que a distância entre Neville e a professora era relativamente grande. – Eu irei sentar no chão, quando eu tiver entrado eu cutuco o seu pé.
- Mas, mas...
- Sr. Longbottom...?
- Certo, certo... você é quem sabe. – respondeu alto a Harry, porém McGonagall achou que fosse uma resposta para ela.
- Então... podemos ir? – perguntou a professora.
- Ah, claro! - disse Longbottom. - Harry, você tem certeza? - cochichou muito baixo ao garoto.
- Tenho! Mas se você demorar demais McGonagall irá desconfiar de algo!
Dito isso Neville entrou apressadamente na carruagem, pois morria de medo de ser pego desobedecendo a uma regra do colégio, sentou-se na outra extremidade da carruagem e abriu a porta o lado dele. Em seguida Harry e McGonagall entraram ao mesmo tempo. Neville logo percebeu que Harry estava ali.
- Sr. Longbottom... por que você abriu a porta ao seu lado?
- Hã... Ah, essa porta... bem, eu... precisava tomar um ar, sabe...
A diretora soltou um olhar sombrio para Neville e começou a dizer com uma voz séria:
- Harry Potter! Eu sei que está aqui em algum lugar. Apareça!
Harry continuou encolhido na parte baixa da carruagem.
- Onde está ele, Sr. Longbottom?
- E... e... eu... eu...
- Você...?
- Não sei...
A professora começou a tatear qualquer espaço no banco que estivesse aparentemente vazio, Harry começou a entrar em pânico encolhendo-se mais ainda, mas por sorte, a professora nada encontrou.
- É, parece que não há ninguém aqui... – concluiu. – Podemos prosseguir viagem.
Neville fechou a porta do seu lado e McGonagall do seu.
O cocheiro acenou com a cabeça e a carruagem ganhou movimento. Harry estava bem mais aliviado por não ter sido pego, agora tudo poderia se resolver, bastava falar com Evie, mas... ela lembraria de alguma coisa ocorrida no passado? Ou suas lembranças também haviam sido apagadas? Essas dúvidas rondaram a mente de Harry até a chegada na Clínica, que foi perceptível, já que o cocheiro deu uma parada brusca fazendo Harry quase se desprender da capa, por sorte parte nenhuma dele havia se revelado... será?
- Sr. Longbottom... essa varinha é sua? – perguntou a professora apontando para uma varinha caída no chão e olhando para Neville.
- Hã... bem... – neste momento Harry havia tirado a mão da capa e recolhido sua varinha. – Que varinha?
- Esta... – a professora voltou a olhar para o chão. – Eu podia jurar que havia uma varinha caída aqui.
- Ah, devem ser... sombras dessas cortinas. É, isso, sombras das cortinas! – disse Neville, que estava com uma capacidade incrível e nunca antes vista de conseguir improvisar e se livrar de alguma enrascada. – Bem, podemos entrar?
- Ah, claro. – disse a professora com um tom muito desconfiado, ainda tinha certeza de que havia mais alguém ali.
Os três passaram pela portaria, onde o porteiro cumprimentou McGongall e Neville, e logo após subiram as escadas e entraram em uma imensa porta de entrada que lembrava muito um portal de uma Igreja Gótica, aliás, aquela construção em si parecia muito uma Igreja Gótica, só não haviam os vitrais.
Ao abrirem a porta pareciam ter penetrado em outra dimensão, o local era fracamente iluminado, tinha um cheiro forte de substâncias e poções dos mais diferentes tipos, ouviam-se muitas gargalhadas e gritos e via-se pessoas correndo e andando para todos os lados com enfermeiros bruxos vigiando-os para que não fugissem.
- A escada é para o lado de lá. O café da manhã será servido às 8h para os pacientes. – disse Neville bem baixinho apontando para o lado direito. – Então, alguém vai pedir para ir ao subsolo 5, parte de psiquiatria
- Você disse alguma coisa, Sr. Longbottom?
- Hã...
Harry não estava muito interessado em saber qual desculpa Neville iria usar desta vez, então correu o mais rápido que pôde para a direita, chegando à escada, desceu-a, mas ela parava em uma parede. Ficou esperando algum funcionário passar por lá para descobrir como descer as escadas.
Depois de muito tempo, uma enfermeira passou por lá e disse:
- Konoikidessuka.
A parede desapareceu e em seu lugar havia um cômodo totalmente escuro.
- Subsolo 5. – continuou a enfermeira.
Imediatamente percebeu-se uma escada surgindo ao final do cômodo e aproximando-se cada vez mais, até encaixar-se no final da escada já existente.
A enfermeira desceu as escadas e Harry seguiu-a. Ao fim das longas escadarias formadas, havia a ala de psiquiatria, onde se via um corredor cheio de pequenos quartos; todos eles tinham pequenas janelinhas quadradas com telas protetoras que permitiam que se visse quem estava lá dentro. Passou pelas portas de todos os quartos que haviam naquele lado procurando por Evie.
Lá estava ela, no 5º quarto. Seus cabelos (aqueles que da última vez que vira - ou teria ele nunca os visto antes? - eram prateados e muito bem penteados) tinham uma coloração cinza levemente prateada, lembravam a penugem de um rato e estavam completamente embaraçados. Não pôde reparar no rosto, pois ela o tinha apoiado nas mãos, como quem está chorando ou dormindo sentada. Havia uma mesa à sua frente e...
- Puxa, que agonia olhar para essa garota, ela era tão linda. – dizia a enfermeira que Harry havia seguido. – Pobrezinha.
Ela apontou a varinha para um cadeado que havia na porta e disse:
- Apseionoribi! – e o cadeado se destravou.
Provavelmente aquela palavra complicada que Harry nem se lembrava mais qual era, seria uma senha para destravar o cadeado.
Ele seguiu a enfermeira para dentro do quarto de Evie.
- Olá, Srta. Diggory! Como se sente hoje?
- Hã? – ela desencostou a cabeça das mãos. – Ah... estou ótima, não está vendo?
A enfermeira simplesmente sorriu estendendo uma bandeja para ela.
- Aqui está seu café da manhã e as poções que você tem que tomar. Volto daqui a dez minutos para recolher a bandeja, espero ver tudo vazio quando voltar...
- Algum dia você recolheu ela cheia?
- Bem... não.
- Acho que isso dispensa lição de moral, não?
- Bem... eu volto em dez minutos. – disse, por fim, a enfermeira usando novamente a senha para abrir o cadeado.
Harry observou os movimentos da enfermeira, quando a viu virando o corredor, chamou Evie:
- Evie!
- Ah, não... outra voz? Duas já eram o suficiente. Vá embora, não estou interessada em matar ninguém!
- Eu não sou uma voz. – disse Harry tirando a capa de invisibilidade. – E isso não é uma ilusão!
Evie olhou para a cicatriz na testa de Harry e fez um olhar de desprezo.
- Veja quem está aqui. Harry Potter o campeão do Torneio Tribruxo, o trapaceiro que mandou o meu irmão para Azkaban! Que honra! O que faz por aqui?
- É exatamente sobre isso que eu quero falar. Eu sinto muito, eu...
Ela começou a rir.
- É para isso que você veio aqui? – ela pensou por um instante e continuou sarcasticamente - É para isso que você quebrou as leis de Hogwarts e veio à clínica com esta capa de invisibilidade? Para me pedir desculpas? Ora, ora... neste caso acho que devo aceitá-las, não?
- Evie, eu não estou brincando. – dizia sério o garoto – Eu só fiz isso tentando evitar coisa pior.
- Ha! O que é pior do que isso?!
- O seu irmão teria morrido não fosse por isso, Evie!
- Ah, então você quer dizer que há uma causa nobre por trás disso, não? Você fez isso para salvar o meu irmão. – Harry tentou dizer algo, mas ela interrompeu. – O inferno que você fez isso por ele! Ele estaria morto não fosse por isso?! E qual a grande diferença? Ele está apodrecendo numa cela imunda de Azkaban, isso é muito melhor, não?
- Evie, eu sei, eu tentei consertar algo, mas só estraguei tudo. Eu quis que tudo desse certo! Eu achei que se eu voltasse no tempo e consertasse no passado o que eu havia feito de erra...
Ela fez uma expressão assustada e então disse:
- Potter! Você usou a maldição de Chronos! É isso o que você está tentando me dizer?
- Sim!
- Você é um idiota, sabia?! No que você estava pensando quando usou essa maldição?!
- Você mesma voltou no tempo há alguns anos no futuro! Você quis que eu salvasse o seu irmão! – ele começou a gritar.
- Então o meu destino é ser louca para o resto da vida... não, eu não queria isso...
Harry tentou consolá-la:
- Há um jeito de consertar tudo isso, Evie. – ela olhou para ele - Você conhece essa maldição, não é?
- Sim. – ela novamente olhava para baixo.
- Você só precisa me dizer como fazer as coisas darem certo!
- Não existe certo e errado, Harry!
- Mas existe um jeito de fazer as coisas funcionarem melhor! Tem que existir!
- Harry, quer um conselho? – Harry acenou com a cabeça. – Pare de bancar um deus. Você não pode mudar o passado de uma pessoa sem perder o controle sobre o futuro! Qualquer mínimo detalhe que você alterar pode fazer com que tudo ao seu redor mude. Você pode conseguir salvar o meu irmão, mas pode acabar matando outra pessoa, na verdade é bem assim que as coisas funcionam. A vida funciona em equação, Harry!
- Evie, você mesma me disse que existe um jeito! Então deve haver! Você também disse que... –Harry insistiu.
- ESQUEÇA O QUE EU DISSE! ESQUEÇA TUDO, HARRY! ESQUEÇA! VIVA A SUA VIDA E PARE DE SE IMPORTAR COM ISSO! – ela gritou. – É isso o que você deveria ter feito desde o começo. Você não pode mudar o modo como as coisas funcionam! Elas são assim e pronto!
Harry estava incrédulo. Tinha que haver um jeito de melhorar as coisas!
- Quer saber? Eu mandarei uma carta quando tudo tiver dado certo!
Nisso a enfermeira voltou.
- Mas o que é isso? Harry Potter! – disse ela olhando para a cicatriz. – O que você faz aqui? Você não é parente da Srta. Diggory, como entrou aqui?
- Hã... eu...
- Não interessa. Provavelmente McGonagall não sabe disso, não é?
Harry olhou para baixo e disse:
- Não, ela não sabe.
- Acompanhe-me, por favor. – disse a enfermeira, puxando-o para a porta do quarto.
Evie simplesmente olhou para ele e disse:
- Está bem, então, ficarei esperando a sua coruja, idiota...
Continua...
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