... E Transforme Tudo



Harry despertou. Estava na enfermaria. Ainda estava zonzo. O que significavam aquelas imagens? Teria este sido o destino modificado por Harry? “Ele reencarnou ou algo assim?”, “Você irá entender quando o vir”... as palavras proferidas durante a terceira tarefa ecoavam na cabeça de Harry, mas vieram a ser interrompidas pela enfermeira Madame Pomfrey:
- Harry, que bom que acordou.
- Olá Madame Pomfrey. – disse Harry - Onde estão Rony e Hermione?
- Estavam esperando por você, mas tinham outras aulas a assistir. Foram embora agora a pouco. Ficaram um bom tempo por aqui.
- Madame Pomfrey, você pode me explicar o que aconteceu?
- Você desmaiou no meio do banheiro, seu amigo Sr. Wesley chamou a Prof.ª Minerva, que levou funcionários e foram tirá-lo de lá. – disse a enfermeira. – Depois ela percebeu que...
- Não, eu quis dizer... tudo o que aconteceu. – tentou explicar Harry. – A última coisa de que me lembro é... do labirinto no 4º ano. A Profª. McGonagall entrando e...
- Harry... – Madame Pomfrey dizia pausadamente com timbre espantado. – Não me diga que você usou... a Maldição de Chronos!
O garoto pensou no que dizer para a enfermeira. Se dissesse sim, provavelmente viria uma lição de moral. Se dissesse não, a enfermeira desconfiaria e lhe daria uma lição de moral sobre como é feio mentir. Preferiu o silêncio.
- Eu vou lhe dizer algo, Harry. – começou a enfermeira. – Ouça atentamente, na minha época de aprendiz era muito comum as pessoas usarem essa maldição, que era considerada um feitiço. Eu mesma usei uma vez.
- Então você sabe como... – tentou dizer algo Harry.
- Ouça. Eu me arrependi amargamente de ter usado, pois... o que eu tentei consertar se quebrou para sempre e sem volta.
- Eu sei o que é isto. – disse Harry com ar deprimido.
- Não use este feitiço, Harry. Ele é perigoso. Se está feito, está feito e se não dá para consertar, agüente(*)!
- Mas a Evie disse para mim que...
- Evie? A Diggory?
- Sim.
- Harry, ela tem problemas emocionais. – disse Madame Pomfrey. - Desde que o irmão dela foi preso, está internada na Cliníca St. Mungus.
- Mas ela... voltou para Hogwarts! Eu conversei com ela.
- Eu até acredito em você, mas... a maldição que você usou apagou da lembrança de todos a volta dela. Só você sabe disso.
O barulho de conversa no cômodo foi rompido repentinamente sendo trocado por um melancólico tempero.
- Madame, quando eu terei alta?
- Bem, você me parece bem melhor... mas mesmo assim é melhor que fique aqui por hoje para garantir sua recuperação
- De qualquer modo, você poderia chamar Profª. McGonagall aqui?
- Harry, acho que ela está ocupada e... bem, acho que posso fazer isso por você. – disse ela como se soubesse o que Harry estava planejando.
- Muito obrigado. – disse Harry.
Alguns minutos se passaram até que Minerva adentrou a enfermaria.
- Harry, Madame Pomfrey falou que você estava me chamando. – disse Minerva. – Algum problema? Você está melhor?
- Ah, sim, estou bem melhor. – disse Harry sorrindo. – Eu chamei a Sra. aqui, porque... Gostaria de pedir sua autorização para ir a St. Mungus no fim de semana.
A diretora estranhou o pedido do garoto. E ficou pensativa por um instante.
- O que você pretende indo a St. Mungus, Harry?
- Visitar uma amiga.
- Seria a Srta. Diggory?
- Sim, ela mesma.
- Bem, Harry, eu só posso permitir que você vá até lá em caso de visita a parentes. Desculpe-me, mas não posso abrir exceções.
- Certo. – disse Harry desapontado. – Eu entendo. Também não poderei ir a Azkaban visitar o Cedrico, não é?
- Para lá muito menos.
Harry olhou tristonho para o teto e disse:
- Certo... era só isso que eu queria lhe dizer, Profª.
- Sinto muito, Harry, mas são as regras.
- Eu entendo. – disse ele.
Minerva McGonagall mirou o olhar de Harry com pena, mas nada podia ser feito. Ela abriu a porta da enfermaria e de lá saiu, enquanto outra pessoa entrava.
- Olá, Harry. – dizia uma voz conhecida, parecia de mulher. – Eu vim visitá-lo. Ouvi dizer que estava mal.
Harry virou-se para ver quem era.
- Cho? A que devo tamanha honra? – perguntou ele com um tom áspero carregado de ironia.
- Harry, eu notei esse seu tom irônico, está bem? – disse ela. – Eu só vim aqui visitá-lo... Você está melhor?
- Sim, eu estou bem melhor, mas... você ainda não respondeu a minha pergunta.
Cho olho-o confusa.
- Harry... Não é honra nenhuma receber uma visita da sua namorada, é?
- Minha namorada? – ria Harry. – Então você é minha namorada? Desde quan...
Imagens vinham invadir-lhe a mente. Via claramente Cho vindo falar com ele, aquela devia ser a despedida das escolas Durmstrang e Beauxbatons. Pôde ouvir claramente, na lembrança, as palavras vindas da garota: “Acho que fiz a escolha errada... escolhi o garoto errado...Estava pensando se você poderia reconsiderar...”; E novamente Cho: “Escreva-me, está bem?”; “Ah, claro.”; e vinham em sua mente duas corujas, uma era Edwiges, outra... não sabia ao certo. Então vinham lembranças do quinto ano, mas... estavam diferentes, por algum motivo ele e Cho estavam sempre juntos e... nunca acontecera a briga entre eles. E no sexto ano... via eles dois ainda juntos... e sempre juntos... e uma conversa: “Harry, é meu último ano aqui, mas... eu prometo vir visitá-lo, está bem?”, “Ah, claro. E eu prometo escrever.”, “Certo.”; Cho sorria e as imagens paravam por aí.
- Harry, tem certeza de que está bem? Você está um pouco pálido.
- Não, não era para ter sido assim. – dizia Harry perturbado - Não. Está tudo errado.
- O que está errado? Harry? O que não era para ter acontecido? – perguntava Cho preocupada com o garoto.
- Eu preciso ver a Evie. – ele pensava alto. – Só ela pode me ajudar. Eu preciso saber como consertar isso.
Cho não conseguiu perguntar nada. Quem era Evie? Em que ela podia ajudar? Consertar o que? Do que Harry estava falando? Eram perguntas demais.
Enquanto a garota assistia a Harry pensando alto, Rony e Hermione adentraram a porta da enfermaria.
- Harry, é hora do almoço, resolvemos ver como você está e... – logo viram que Cho estava lá. – Oh, desculpe-nos. Nós voltaremos mais tarde, Cho.
- Não, não, tudo bem. Eu volto outro dia, acho que agora ele prefere falar com vocês. – disse ela. – Tchau, Harry.
Pensou em dar-lhe um beijo, mas achou que isso o transtornaria mais ainda, então afagou-lhe os cabelos e saiu do local, dizendo:
- Tchau, Rony. Tchau, Hermione.
Os dois se olharam confusos.
- Harry... nós realmente poderíamos voltar depois. – disse Mione embaraçada. - Vocês brigaram ou algo assim?
- Sim, nós brigamos no quinto ano, mas vocês não se lembram mais. – dizia Harry, olhando para o teto. – Só eu me lembro.
- O que você quer dizer com isso? – perguntava Rony.
O tom de Harry era extremamente deprimido.
- Eu tentei consertar, eu tentei, mas... deu errado. Eu posso ter conseguido trazê-lo de volta, mas... foi só ele. E Sirius? E Dumbledore? E nem Cedrico eu consegui trazer de volta direito. Está tudo errado, tudo errado!
Os olhares se repetiram.
- Harry, acho que você precisa... descansar um pouco. – disse Mione.
- É, eu também acho, você está falando coisas sem noção! – falou Rony.
Mione deu uma cotovelada no garoto e sussurrou:
- Rony, se não for para ajudar não atrapalhe.
- Está bem, Srta. Eu sei tudo o que o Harry quer ou não quer ouvir.
Eles estavam para começar uma discussão sussurrada, quando Harry interrompeu-os. Tivera uma idéia.
- Mione, Rony, vocês poderiam chamar o Neville aqui?
- Hã? – os dois foram pegos de surpresa. – Neville? Para fazer o que?
- Nada não, só uma idéia que eu tive.
E os olhares confusos começaram tornar-se costume.
- Idéia? – questionava Hermione atônita. - Para fazer o que?
- Ei, Mione, talvez ele não queira falar sobre isso. – disse Rony com o tom extremamente sarcástico, chegava a ser uma gargalhada tirando sarro de Hermione.
- Cale a boca, Rony!
Harry apertou os olhos, como se não quisesse que aquela idéia lhe fugisse à cabeça e exclamou:
- Dá para vocês pararem de brigar e irem chamar logo o Neville?!
- Ah, claro, Harry. – disseram sem mais perguntas.
O costumeiro olhar acompanhou-os até a porta da enfermaria. Primeiro as palavras sem sentido. Depois a idéia para fazer não sei o que. E agora mais essa de chamar Neville? O que estaria acontecendo?
A porta se abriu novamente. Neville estava lá.
- Oi, Harry. – disse ele. - Estava vindo visitá-lo e Mione e Rony, que estavam saindo, disseram-me que você estava à minha procura...
- Ah, sim. Eu preciso fazer uma pergunta a você.
- Pode fazer.
- Bem... vai parecer estranho, mas... você vai à St. Mungus este final de semana visitar seus pais?
- Vou sim. – respondeu. - Mas qual é a importância de eu estar indo para lá?
- Bem, eu... precisava visitar alguém também...
- Parente?
- Não...
- Harry, você sabe que é contra as regras e...
- Sim, não precisa repetir tudo o que a Profª. McGonagall falou, ela não entende, mas você vai entender, porque... – Harry cochicou. – É questão de vida ou morte.
- O que é tão importante assim, Harry?
- Eu preciso falar com a Diggory. É sobre o irmão dela e sobre... algo que ela havia me dito que pode salvá-lo.
- Harry, é difícil de engolir esta história...
O garoto suspirou profundamente e então disse:
- Você já sentiu como se você tivesse amaldiçoado a sua própria vida e a única forma de você recuperá-la é indo contra as regras?
Neville ficou pensativo por um tempo. A história que Harry estava lhe contando era confusa, mas o modo como ele estava proferindo aquelas últimas palavras... era tão profundo...
- Certo, Harry, você me convenceu. Ainda não engoli direito essa história de você precisar visitar a Evie, mas... eu posso te levar até lá, só não sei como.
- Bem... como você geralmente vai a St. Mungus?
- Profª. McGonagall sempre me manda junto com alguém, funcionário ou professor, como supervisor, nós vamos com as carruagens que usamos no início do ano para chegar lá.
- Hum... eu tenho uma idéia. A que horas vocês vão?
- Assim que eu acordo.
- Certo, quando você acordar, no fim de semana, acorde-me também. Eu irei com você.
- Mas como?
- Não se preocupe, está tudo sob controle. Eu tenho um plano.

(*) Nota da Autora: Frase original escrita por Annie Proulx no conto O Segredo de Brokeback Mountain (“If you can’t fix it, you gotta stand it” – Se você não pode consertar, precisa agüentar.). Achei que ela se encaixasse bem aqui, embora o contexto na fanfic seja infinitamente diferente do contexto no conto.

Continua...

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