Mude algo...
Costumam dizer que a forma do ambiente tende a obedecer ao seu estado de espírito. O caminho até o banheiro nunca fora tão confuso e distante. Tudo estava escuro e nebuloso embora fizesse um sol forte que penetrava pelos vidros das paredes nas escadas. Usaria aquela maldição e... O que precisava fazer? Precisava pensar com calma. Acharia uma solução. Sempre havia achado, agora não seria diferente.
Chegando ao banheiro, entrou em uma das cabines e pensou um pouco. Aquela era a oportunidade perfeita. Não havia mais ninguém lá dentro. Ninguém nunca desconfiaria. Potter rapidamente tirou o diário e a varinha do bolso das vestes. Só tinha um pensamento. Salvar Cedrico; faria isso. Sabia exatamente onde tinha errado. Procurou no diário o momento certo e...
- Chronos. – murmurou.
Se alguém tentasse impedi-lo, falharia, pois estava totalmente voltado para si, sem contato com o mundo exterior. Era impossível e agora a borboleta dourada já estava na ponta da varinha.
- “A última tarefa está para começar”.– Harry lia, em voz baixa, no diário. – “Graças à Deusa. Era uma tortura saber que meu irmão poderia morrer a qualquer instante. Desta vez estou mais calma, pois, caso aconteça algo de ruim no labirinto, os professores irão socorrer a pessoa (conforme me informou Profª. McGonagall depois de eu muito insistir) e também porque... eu falei com ele antes de todos irem ao campo de quadribol (e depois que papai e mamãe já haviam ido embora). Pedi desculpas por tudo que eu tinha feito de ruim para ele, por tudo que já havia pensado de ruim sobre ele, mas Ced simplesmente sorriu e disse”:
- “Evie, eu sempre soube que por trás dessa pessoa estranha havia um bom coração. E papai... Eu sei como ele é duro com você, mas... É típico dele mesmo, você também é especial, Evie. Não ligue muito para o que ele diz. Ele exagera de vez em quando. – ele sorriu uma última vez antes de virar-se – Eu tentarei ganhar esse torneio por você, está bem?”.
“Ced, de onde você veio? Como você pode ser tão bom?”.
A cabine do banheiro logo começou a balançar muito forte. O que estava acontecendo? O mundo estava acabando? Um terremoto? Por que tudo de repente começava a balançar feito... Asas de borboleta?!
Como se a borboleta houvesse encontrado uma flor, tudo parou repentinamente. Harry olhou para os lados. Aquilo era o... Campo de quadribol?! E... O labirinto?! Continuou olhando para os lados e viu Bagman, Fleur, Krum e... Cedrico?! Sim, Evie não era tão louca quanto imaginaram. Estava no passado. Mas não tinha tempo para pensar, precisava falar com Cedrico urgentemente, a última tarefa começaria em cinco minutos. Correu até o rapaz e perguntou:
- Cedrico, posso falar com você um minuto?
- Hã... Claro, Harry. – disse Cedrico enquanto Harry puxava-o para longe do campo auditivo de todos. – Algum problema?
- Cedrico, eu sei que vai parecer estranho, mas... – Harry chegou perto da orelha do rapaz e sussurrou. - Você está em perigo.
- Como assim, Harry? Do que você está falando? Todos nós estamos, não?
- Mas ninguém irá morrer... Só você.
- Como você sabe que eu...? Por que é que...? – Cedrico estava extremamente confuso.
- Eu sei, é confuso, mas... Eu não tenho tempo para explicar, logo a tarefa irá começar. – disse Harry. – Você vai precisar acreditar em mim, está bem? Venho em nome da sua irmã.
- Em nome da minha irmã? – ele olhou para o nada, um tanto atormentado. - Certo, mas... O que você quer dizer com eu vou morrer? – perguntou. – Eu vou morrer do que?
- Cedrico, lá dentro, alguém vai tentar matá-lo. – dizia Harry em tom de alerta. - Tome muito cuidado, preste atenção, não deixe que isso aconteça!
- Mas... – Cedrico tinha muitas perguntas em mente, mas deixou escapar só uma. – o que você espera que eu faça? – e depois mais outra. – Quem vai tentar me matar?
- Eu não tenho certeza do que você deve fazer. – Harry pensou um pouco. – A Taça! Salve-se, não se preocupe comigo, eu encontrarei um jeito de sair de lá.
- Harry, você está me dizendo que... – Cedrico interrompeu-se – Certo, certo, sem perguntas. Mas quem é o fulano de tal que vai me matar?
O garoto disse: ”Pedro Pettigew”, enquanto os alunos começavam a acomodar-se nas arquibancadas fazendo a maior algazarra. Também entravam os professores Moody, Minerva, Flitwick e Hagrid, todos com estrelas vermelhas e luminosas no chapéu (a da Hagrid nas costas do colete).
- Acho melhor irmos para lá. – disse Harry.
E os dois garotos foram para perto dos professores e outros competidores. Harry teve uma súbita vontade de gritar para todos ouvirem que Moody era uma farsa, na verdade era Bartô Crouch Jr, mas era necessário dar tempo ao tempo.
- Vamos patrulhar o lado externo do labirinto. Se estiverem em apuros, e quiserem ser socorridos, disparem faíscas vermelhas para o ar e um de nós irá buscá-los, entenderam? – dizia Minerva.
Todos balançaram a cabeça positivamente.
- Podem começar então! – disse Bagman.
- Boa sorte, Harry. – sussurrou Hagrid.
E a cena toda se repetia: os quatro saíram em direções diferentes... Exceto Cedrico que seguiu Harry.
- Harry, mas como ele poderá tentar me matar se... – Cedrico foi interrompido.
- Sr. Diggory, faça o favor de dirigir-se ao seu lugar. – disse Profª. Minerva. – E Sr. Potter, sem conversas, o Sr. Bagman está passando instruções.
- Sim, desculpe-nos, Profª. – desculpou-se Cedrico baixando a cabeça e dando meia-volta para chegar ao seu lugar.
Minerva fez o mesmo enquanto Bagman dizia:
- Então quando eu apitar, Harry e Cedrico! Três, dois, um...
Soou o apito e os dois entraram pelo labirinto, puxaram as varinhas e murmuraram: “Lumus”. E seguiram em linha reta. Enquanto andavam, Cedrico perguntou um tanto assustado:
- Harry, desculpe-me por perguntar de novo, mas... Quem você disse que vai me matar?
- Pedro Pettigrew.
- Mas... – Cedrico ficou ainda mais confuso. - Ele está morto, como irá me matar?
- Não, ele não está, está mais vivo e mais próximo de nós do que você imagina.
- Você quer dizer que ele reencarnou ou algo assim?
- Bem, você irá entender quando o vir, Cedrico. – disse Harry tentando encurtar a história - Não se preocupe.
- Certo.
Havia uma bifurcação à frente. Antes de pegar o caminho da direita, Cedrico perguntou um tanto apreensivo:
- Harry, por que você está fazendo isso por mim? Eu sei que a minha irmã tem algo a ver com isso, como você mesmo disse, mas... Você poderia simplesmente ter ignorado isso e não me ter dito nada.
- Eu me sentiria culpado se não o fizesse. – disse Harry. – Foi culpa minha o que aconteceu com você... – Harry e Cedrico ouviram novamente o apito de Bagman. – Bem, é melhor nos apressarmos. Krum vem aí! Até mais.
- É, até mais.
E os dois correram pelo labirinto em direções opostas. Harry sentia-se mais leve, desta vez tudo daria certo.
- Eu tinha virado à direita... – tentava se recordar o garoto, em voz baixa, sempre mantendo a varinha acima da cabeça. – E estava tudo deserto, certo.
Novamente ouviu o apito soar. Era a vez de Fleur entrar. Continuou andando pelo labirinto. Virou à esquerda, pois, se não estava enganado, sua varinha acusara o norte para a direita o norte, precisava ir para noroeste. Novamente caminho vazio. Virou à direita. Novamente estava livre de obstáculos, como já esperava. Ouviu um movimento atrás dele. Sabia que era Cedrico. Virou-se para trás.
- Os esplosivins de Hagrid! – ele dizia completamente abalado. – Estão enormes, escapei por um triz!
Antes de seguir caminho Cedrico tentou indagar algo.
- Harry, quando é que... Hã... Ah, nada não... – e desapareceu pela trilha.
Sabia o que o rapaz quis perguntar: “Quando é que eu vou morrer?” Ainda bem que ele não havia perguntado, seria difícil explicar. E difícil de se acreditar.
Prosseguiu seu caminho. Ao fazer uma curva viu um dementador deslizar em sua direção. Sabia que na verdade era um bicho-papão, lembrava-se claramente desta parte.
- Riddikulus! – gritou fazendo o bicho-papão desaparecer.
Seguiu o mesmo caminho que havia feito há 3 anos atrás. E tudo ocorrera da mesma forma: vira a névoa a sua frente; ouvira os gritos de Fleur no labirinto; entrara na névoa; o mundo virara de ponta cabeça; dera um passo e o mundo voltara ao normal; mais algumas trilhas, algumas davam em nada, outras desertas; encontrou um esplosivim em uma delas; usara o feitiço Impedimenta para parar o esplosivim e correr na direção oposta.
O que havia ocorrido depois disso? Não se lembrava. Entrou pela trilha da direita e era sem saída. A da esquerda também era sem saída. Usou o Feitiço dos Quatro Pontos, voltou e pegou uma trilha que o levasse a noroeste. O que acontecia depois? Não se lembrava, mas continuou andando em linha reta, até ouvir berros na trilha paralela à sua:
- Que é que você está fazendo? – era Cedrico.
Agora se lembrava. Krum estava sob efeito da Maldição Império e iria lançar a Maldição Crucio em Cedrico. Antes que a maldição fosse lançada, Harry usou o Feitiço Redutor na sebe, abrindo um buraquinho. Foi quando ouviu Cedrico:
- Estupefaça!
E continuava a ouvir Cedrico soltar o feitiço. Mas... Não era para aquilo ter acontecido. Lembrava-se perfeitamente que Krum estava amaldiçoado e... Repentinamente as palavras que Harry havia dito a Cedrico antes de eles entrarem começavam a ecoar em sua mente: “Alguém vai tentar matá-lo”.
- Foi você quem soltou um feitiço na Fleur, eu ouvi os gritos dela. Estupefaça! – dizia Cedrico com a varinha apontada para a cabeça de Krum. - Agora você está tentando me matar! Estupefaça! E agora você está tentando me matar! Estupefaça! – e continuamente repetia o feitiço “Estupefaça”.
Entrou apressado e com muito esforço pelo buraquinho aberto na seb, correu até Cedrico e puxou-lhe os punhos para trás e segurou-os com força. Mas era tarde, minutos antes ouvia-se um grito cheio de rancor que proferia claramente as palavras: “Avada Kedavra”.
- CEDRICO, NÃO!!! EU DISSE PEDRO PETTIGREW!!! Não era ele, Cedrico! Pare! Não era ele!
- Não... E-era... E-e-ele? – gaguejou Cedrico com o pânico estampado no rosto. – O que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz? – disse completamente abalado e caindo de joelhos.
Cedrico apanhou sua varinha e começou a disparar faíscas vermelhas sem parar.
- Não. Não! NÃO! – dizia o rapaz balançado a cabeça e andando de um lado para o outro. - O que foi que eu fiz? O que eu fui fazer? Não. Não! NÃO! Venham logo! Venham logo!
- Eu disse que era Pedro Pettigrew, Cedrico. – disse Harry deixando-se cair no chão de joelhos desconsolado com a mão no rosto. - Pedro Pettigrew.
- Pedro Pettigrew morreu. – gritava Cedrico cheio de rancor vindo na direção de Harry. – Está morto. Morto! Você me enganou direitinho, sabia? Você me enganou direitinho! E eu acreditei! Eu acreditei! Você fez isso... Só por causa daquela maldita Taça, Harry?
- Não! Eu nunca quis aquela Taça, Cedrico! Eu tentei ajudá-lo! Eu tentei, está bem?
Cedrico chegou para perto de Harry, levantou-o violentamente e encostou-o contra a sebe. Harry nunca havia visto o rapaz tão irritado como agora.
- Ajudar-me? É? Veja o quanto você fez por mim, Harry! – gritou apontando para Krum. - Muito, muito obrigado mesmo!
Nisso Profª McGonagall apareceu por lá.
- O que está havendo aqui? – disse olhando para baixo. – Sr. Krum! O que aconteceu por aqui? Alguém pode me explicar?
Harry sentiu uma leve tontura, fechou os olhos e ao abri-los estava novamente no banheiro. Rony balançando-o e chamando-o. A porta arrombada. O lugar estava lotado de pessoas, querendo ver o que aconteceu.
- Harry, Harry!!! Vejam, ele acordou! – dizia Rony. – Harry, eu entrei aqui e percebi que você estava aqui, mas estava sentado de um jeito estranho... Até que eu vi você caindo, então pedi para arrombarem a porta e então...
- Onde está o Cedrico? E o Krum?
As pessoas à sua volta afastaram-se assustadas murmurando: “Ele está falando de Krum... e Cedrico”.
- Harry, o que você quer dizer com isso? – disse Rony.
Imagens começavam a rolar na mente do garoto. Lembranças da Terceira Tarefa como havia ocorrido antes de Harry voltar no tempo e também alguns acontecimentos deste ano (como a vinda de Evie) e começaram a ser vistas de trás para frente. O que era aquilo? Lembranças voltando para trás?! Assim que chegaram ao momento em que Harry havia voltado no tempo, novas cenas vinham substituir aquelas lembranças retrógradas: a conversa com Cedrico, o labirinto, Cedrico enfeitiçando Krum, a chegada da Professora McGonagall, Cedrico admitindo que enfeitiçara Krum... Mas, isso havia acontecido? As cenas não paravam: Krum sendo levado para fora do labirinto junto com Cedrico e Harry, Harry sendo considerado o novo campeão Tribruxo mesmo sem ter chegado à Taça, Krum levado à enfermaria e Cedrico para falar com Bartô Crouch, Krum entrara em coma irreversível, Cedrico levado a Azkaban por assassinato, Prof. Moody levando Harry para a sua sala, a conversa – que parecia ligeiramente alterada - com professor Moody. Depois as lembranças avançavam muito rapidamente, até chegarem ao 7 º ano de Harry: Evie nunca havia voltado, a conversa sobre a maldição Chronos, o encontrão no Salão Principal. Nada fora real.
A cabeça de Potter começava a rodar. Que lembranças eram aquelas? O que significava aquilo? Não estava entendendo mais nada. Estava zonzo. Desmaiou.
Continua...
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